O antigo presidente da Iniciativa Liberal diz que é “absolutamente improvável” voltar a ser líder do partido, mesmo que não diga “nunca”. Em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, Carlos Guimarães Pinto diz que João Cotrim Figueiredo seria um “bom candidato às eleições Europeias”, mas que “haverá outros nomes se o João não quiser“.
Carlos Guimarães Pinto acredita que António Mendonça Mendes terá cada vez “mais vergonha” de não fugir à pergunta sobre ter sugerido a intervenção do SIS a João Galamba. O deputado e coordenador da IL na comissão de Economia diz que Pedro Nuno Santos tem de explicar, na próxima terça-feira, a decisão de injetar 3,2 mil milhões de euros na TAP.
[Ouça aqui o episódio da Vichyssoise desta semana:]
“É indispensável uma comissão inquérito às secretas”
A IL chamou potestativamente o secretário de Estado António Mendonça Mendes à Comissão de Assuntos Constitucionais. O que é que a IL acredita que o governante vai dizer? Desmentir Galamba? Envolver ainda mais o primeiro-ministro?
Esperamos que o secretário de Estado Adjunto responda ao que rejeitou responder até agora. Quanto mais oportunidades tiver para responder ao que tem rejeitado responder, mais vergonha terá de o fazer.
António Costa já respondeu às questões da IL e do PSD. As respostas dadas são suficientes para afastar uma comissão de inquérito às secretas?
É indispensável porque todas as suspeitas que existem são sobre o regime democrático em si. Quando temos secretas que podem ou não estar ao serviço de um Governo em particular, isso é uma ameaça à própria democracia. Independentemente das questões políticas, eu espero que não seja isso. Isso seria demasiado grave para o país. Espero bem que as explicações apareçam e sejam coerentes, porque se concluir o contrário é muito grave para o país.
Mas porque acha que não apareceram até agora?
Precisamente por isso ser estranho é que se calhar era importante haver comissão parlamentar de inquérito.
Era diferente Mendonça Mendes ser ouvido numa comissão parlamentar de inquérito (CPI) do que ser ouvido na primeira comissão?
Sim, as dinâmicas são diferentes e até o estatuto legal. Se assim não fosse, só existiam audições nas comissões regulares. E isso pode ser uma forma de termos toda a verdade, até pelo conjunto de documentos que podem ser pedidos por uma comissão parlamentar de inquérito, que não podem ser pedidos por uma comissão normal, acreditamos que podemos chegar mais perto da verdade.
A IL acredita que o PSD vai viabilizar a comissão de inquérito às secretas?
Não vejo nenhuma razão para o PSD não viabilizar isso, é do interesse de todos os partidos, da democracia.
Mas não estão titubeantes em avançar?
Isso é o PSD… [Risos]
Mas no final do dia vão avançar?
Quero acreditar que sim.
“A TAP gastou nos últimos mil dias 500 mil euros a cada quatro horas”
Na terça-feira, Pedro Nuno Santos será ouvido na Comissão de Economia. Qual é a pergunta mais importante que falta fazer ao antigo ministro das Infraestruturas?
Tenho a infelicidade de não poder estar nesse dia, porque ia ser bastante interessante, mas vou estar na África do Sul numa viagem parlamentar. A minha posição sobre a TAP é bastante conhecida, o principal problema da TAP, a principal decisão política que devia ter sido escrutinada, é a de injetar os 3,2 mil milhões de euros. Os 500 mil euros que deram aso a esta CPI são relevantes porque mostram uma certa forma de gerir a coisa pública por parte do PS, mas a TAP gastou nos últimos mil dias 500 mil euros a cada quatro horas. Gostava que o ministro Pedro Nuno Santos explicasse bem porque é que injetou 3,2 mil milhões e porque é que depois disso geriu a TAP da forma que foi gerida. Isso para mim é o mais importante. O que vai ser questionado é que tipo de intervenção teve, porque é que rejeitou ter tido esse tipo de intervenção na aprovação da indemnização a Alexandra Reis. E porque é que o Ministério não tinha o plano e reestruturação no seu arquivo.
Tudo isso se vai sobrepor às questões da gestão da TAP?
Tem sido essa a questão. Tenho uma perspetiva um bocadinho mais ideológica sobre esta questão. Desde 2020 que tenho escrito em oposição à injeção que foi feita da TAP, à forma como foi feita e essa para mim é a questão fundamental que fica para o futuro. Em todos esses casos, o caso Alexandra Reis e do ex-assessor podia não ter acontecido. E, mesmo assim, injetar os 3,2 mil milhões continuariam a ser um erro. É por isso que tenho alguma preocupação quando há demasiado desvio em relação à questão fundamental. Porque amanhã vão cometer o principal erro novamente, mas dizendo que agora vão gerir bem. A comissão de inquérito tem sido importante para perceber como o PS gere a coisa pública. Estende-se a todas as outras empresas públicas. As conclusões teriam sido iguais quer estivéssemos a fazer uma CPI À TAP, às infraestruturas de Portugal, à CP, porque tudo é gerido desta forma. E acaba-se por desviar a atenção do erro político e económico fundamental que é a forma como foi injetado dinheiro na TAP.
“O PSD considera que o seu líder é Montenegro e será com ele que iremos negociar”
A IL mostrou estar disponível para construir uma alternativa ao lado do PSD. Isto diminuirá o voto útil?
A IL tem uma identidade muito especial. Obviamente sofreríamos com o voto útil, nem tenho grandes dúvidas sobre isso. Já sofremos no passado. Mas fomos construindo, ao longo dos anos, uma identidade muito específica. Se estiver aqui e perguntar que partido vos vem à cabeça quando usar uma palavra ou expressão, julgo que não será muito difícil. Se disser animais, que partido vos vem á cabeça logo?
PAN.
Se vos disser sindicatos.
PCP.
Se eu vos disser redução de impostos.
Quer que digamos IL? Não vamos dizer.
As pessoas sentem a redução de impostos, a redução da democracia. Há uma identidade que foi muito clara, as pessoas que sentem o excesso do peso da burocracia e do excesso de Estado na sua vida sabem que têm ali um partido. Se vos perguntar isso em relação a outro partido: que expressão é que eu teria de usar para responderem PSD? A IL foi capaz de construir uma identidade muito específica que nos ajuda a estarmos protegidos da questão do voto útil. Se estamos completamente protegidos? Não, não estamos. Ninguém está. Nenhum dos partidos, tirando PS e PSD, está protegido disso, como vimos com o Bloco de Esquerda e PCP, mas quanto mais forte é a identidade, quanto mais nos conseguimos impor…
Acha que consegue segurar o voto mais facilmente com essa identidade?
Havendo identidade, claro que sim.
Luís Montenegro é a pessoa certa para liderar uma solução à direita?
Isso é uma questão para o PSD e depois para os eleitores como um todo.
Não é na medida em que a IL também fazia parte dessa solução, é nessa perspetiva.
A nossa solução é com o PSD, o PSD considera que o seu líder é Luís Montenegro e será com Luís Montenegro que iremos negociar.
Não acha que há figuras mais fácil ou mais difíceis para aceitarem o vosso programa?
Não me meto na vida interna do meu partido, quanto mais na do PSD.
Mas é mais fácil federar a direita no pós-eleições com Luís Montenegro do que era com Rui Rio?
Não sei, nós mostrámos abertura até com Rui Rio que politicamente esticou demasiado os braços, era politicamente muito próximo de uns, mas depois abria… deixo isso para o PSD. O PSD faz as suas escolhas e nós fazemos as nossas.
O facto de o PSD não dizer taxativamente que não faz acordos com o Chega não preocupa a IL, que já disse claramente que não os fará?
Quando foram lançadas as eleições internas na IL e marcados debates vi isso como algo bastante positivo porque finalmente íamos ter o tempo de antena que não tínhamos, íamos ter candidatos a discutir as ideias do partido, que isso ia levar as ideias mais longe… nunca mais me esqueço que, no primeiro debate que tiveram aqui no Observador, o título de destaque não tinha o nome da IL, tinha o nome de outro partido. Acho que se dá demasiada importância a quem tem pouco a acrescentar ao país, não vou alimentar isso.
Sempre que se fazem contas de resultados de sondagens, por exemplo, é frequente perceber-se se a direita [PSD, IL e Chega] têm votos suficientes para criar uma alternativa. Não acha que a IL pode perder eleitores por haver a ideia de que uma solução à direita também tem o Chega?
Essa questão já foi falada e discutida tantas vezes. Repito: dá-se demasiada importância a quem não tem nada a acrescentar ao país.
Apesar de a resposta da IL ser a de recusar um acordo com um Chega, a do PSD não é igual. A IL está ou não confortável com o facto de o PSD não ter a mesma posição?
Dá-se demasiada importância a quem não tem nada para acrescentar ao país. A pergunta já foi feita das mais diversas formas e respondida e eu gostava de falar de soluções para o país.
“O PS já não vê na palavra liberal um insulto”
Augusto Santos Silva disse que a “expressão mais forte” do liberalismo em Portugal é o PS. Diz que o liberalismo político clássico é a social-democracia. Concorda? Qual é o tipo de liberalismo é o da IL?
Uma das maiores provas de sucesso da IL é o de influenciar com as suas ideias a sociedade como um todo. Há dez anos ninguém se diria liberal, era um insulto, tirando algumas franjas do PSD e do CDS. Num congresso do PSD usou-se mesmo liberal como um insulto, o célebre “sulista, elitista e liberal”. Um dos indicadores de sucesso da IL é o facto de hoje haver muita gente que se diz liberal, até dentro do próprio PS muita gente que veio ao encontro das nossas ideias, que já fala da importância do crescimento, da questão do IRS ser demasiado elevado para os rendimentos mais baixo… Essas declarações de Augusto Santos Silva são mais uma prova do impacto que a IL teve e do movimento liberal como um todo.
O PS quer os votos dos liberais também?
O PS já não vê na palavra liberal um insulto e já não a usa como um insulto porque houve todo um trabalho de comunicação e divulgação de ideias. E sabe que hoje o país não vê na palavra liberal um insulto. É um sinal de sucesso. É exatamente o oposto do que acontece com o outro partido [Chega], que tudo aquilo que toca se torna tóxico. Connosco foi exatamente o oposto, tivemos uma capacidade imensa de colocar assuntos na esfera pública que faz com que hoje muitas pessoas, até fora da nossa área política, sintam necessidade de se defender e de vir falar desses assuntos…
Já agora: e um acordo futuro com o PS? Uma coisa à Macron, com liberais e socialistas.
Com este PS está completamente fora de hipótese.
Com este PS?
Com este PS, com um PS que é herdeiro de Costa, acho que não há qualquer perspetiva de isso vir a acontecer nos nossos tempos de vida porque infelizmente o PS é isto que é.
Numa entrevista ao Observador disse que fez a sua parte na política interna da IL e cito-o: “Acho que a fiz bem porque entreguei um partido unido na altura.” O unido na altura é porque já não está agora, é isso?
O partido tem várias fases. Não gosto de falar de política interna porque é um assunto, acima de tudo, enfadonho porque, quando se fala das disputas externas estamos a falar de disputas ideológicas. Quando se fala de política interna as disputas acabam por ser muito enfadonhas porque nem são muito ideológicas, às vezes disfarça-se de ideologia aquilo que são disputas pessoais. E, sim, o partido evoluiu, cresceu. Hoje tem eleições internas disputadas, algo que não acontece noutros partidos. Entre os partidos que não o PS e o PSD, a IL foi o único que, na sua mudança de liderança, teve umas eleições disputadas, com debates. Vocês lembram-se de algum debate para as eleições internas do PCP? Do BE? Lembram-se de algum debate do Chega?
Tivemos aqui do PAN.
Pronto, parabéns por isso. O PAN teve essa capacidade. Mas entre aqueles partidos de média dimensão fomos os únicos. Estamos ali num mar de micro-autocracias que são os outros médios partidos e nós temos uma disputa interna interessante.
“Acho bastante improvável voltar a ser líder”
Pode dizer-nos aqui que nunca mais, nem que John Locke desça tarde, que nunca mais vai ser líder da Iniciativa Liberal?
Acho bastante improvável. As circunstâncias que me levaram a isso, que foi em 2018 termos um partido com algumas dezenas de pessoas na Convenção que eu fui eleito eram à volta de 90 pessoas, que eram basicamente as pessoas que estavam ativamente no partido. Numa altura desesperada do partido. Já disse que não tenho algumas das características que fazem um bom presidente. E, acima de tudo, faço muito melhor o meu papel na divulgação do liberalismo não tendo esse tipo de responsabilidades. Na altura o partido a melhor pessoa que encontrou foi um tipo desconhecido e gago que estava por ali, não propriamente com a melhor imagem e felizmente hoje não faltam pessoas que têm outro tipo de características e têm ambição porque o partido está numa fase diferente. Não digo nunca, mas acho que é extraordinariamente improvável. Estou afastado da vida interna do partido desde 2019, portanto nem sequer teria equipa. Nem sequer sei o que isso é.
Apesar de estar afastado, certamente não ignora tudo aquilo que acontece pelo menos no seio interno do partido…
…eu tento…
No pós-Convenção o discurso final de Rui Rocha foi no sentido da união, mas já houve saídas de vários membros, com destaque para Paulo Carmona que fez parte da Comissão Executiva, ultimatos a conselheiros devido a uma fuga de informação e até João Cotrim Figueiredo a admitir estar “indignado”. Como ex-presidente, revê-se neste partido em guerra interna?
Além de achar as guerras internas enfadonhas, há outro motivo pelo qual não gosto muito de falar das questões internas. Quando assumi a presidência do partido ninguém conhecia aquilo, o partido estava condenado a ser mais um desses projetos falhados como o Volt, o Aliança, há um enorme cemitério de pequenos partidos no País, e ali, no espaço de um ano, fizemos uma coisa fantástica que foi essencial para lançar o liberalismo no País.
Prefere um partido em guerra interna do que um cemitério onde esteja a IL?
Prefiro um partido em guerra interna do que um partido morto, isso é evidente. Mas o que ia dizer é que a minha ligação ao partido decorre daquilo que acho que o País precisa: cada vez mais liberalismo. Aquele momento em que entrámos no Parlamento e o partido se transformou num partido a sério, porque passou a ter atenção mediática, foi dos dias mais felizes da minha vida. E eu posso discordar de coisas do partido, às vezes até me sentir mal com certas decisões ou com a forma como me tratam, mas nunca irei publicamente dizer ou fazer algo que prejudique o partido, que teve um impacto tão grande no país, na forma como as pessoas veem a minha ideologia, que é o liberalismo.
Vêm aí as Europeias. João Cotrim Figueiredo seria um bom candidato?
Seria um bom candidato. Nós teríamos outro se o João não quiser. Estou longe dos centros de poder do partido, portanto a decisão não vai ser minha, vou sabê-lo certamente pela imprensa como sei muitas outras. Não vou fazer parte desse processo de decisão, mas o João seria um bom candidato e teríamos outros.
“Para ir ao Zé da Banana, na praia de Paramos parece que o Pedro Nuno Santos é um tipo mais divertido”
Vamos agora ao Carne ou Peixe. Quem levava a passar um dia na praia de Paramos, em Espinho: Pedro Nuno Santos ou João Galamba?
Para ir ao Zé da Banana, na praia de Paramos parece que o Pedro Nuno Santos é um tipo mais divertido. Conheço o João Galamba há muito mais tempo, mas se calhar levava o Pedro Nuno…
A quem entregava a conta do Twitter por um dia: Rui Rocha ou Carla Castro?
A absolutamente ninguém, até para não verem as DM [mensagens diretas]. Ainda iam lá às DM, prefiro passar fome.
Quem convidava para assistir a um festival no Porto: Pedro Passos Coelho ou Luís Montenegro?
Pedro Passos Coelho deve estar com mais tempo.
Quem gostava de ver num debate do instituto Mais Liberdade: Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo?
Nenhum. Aqui prefiro passar fome outra vez.