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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Costa desvia rota de Sócrates e Tancos com furacão dos Açores

Socialista numa Almada sem chama e com Sócrates a surgir como tema. Costa desviou-se, dizendo que o único tema fora da campanha que lhe interessa é outro furacão... o dos Açores.

Artigo em atualização ao longo do dia

As últimas autárquicas trouxeram Almada ao sapatinho de António Costa, uma vitória algo inesperada dada a hegemonia comunista na autarquia desde o 25 de abril, mas a relação recente não parece ter muita chama. A arruada dessa tarde cumpriu os mínimos, para o PS, mas serviu, pelo menos, para o socialista responder às perguntas dos jornalistas, desviando sempre a rota dos temas quentes, já que o “único tema” que lhe interessa fora da campanha é o furacão dos Açores.

José Sócrates foi — pela sua detenção em 2014 — um furacão para o PS, nomeadamente para António Costa que nesse mesmo fim-de-semana ia a votos para a eleição como líder do partido. Agora, quando questionado sobre o artigo onde o ex-líder do PS vê na acusação de Tancos uma “ilegítima motivação política”, Costa desvia para o furacão. “Esse é um tema fora da minha campanha e fora da campanha o único tema que me preocupa é que, neste momento, há um furacão muito ameaçador e é dever da República manifestar toda a solidariedade com os Açores”.

Sócrates: caso Tancos teve “evidente e ilegítima motivação política”

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Desvio feito, a meio da Rua Cândido dos Reis, ponto de encontro desta arruada onde chegou a estar montado um pequeno palco, no fim da rua — habitualmente onde o líder sobe nas arruadas mais intensas (foi assim em Santa Catarina) para falar a quem ali se junta — que foi desmontado, por ordem da diretora de campanha Ana Catarina Mendes, quando o líder socialista se aproximava do local. O ambiente não ia muito além do séquito socialista que costuma juntar-se a estas ações de campanha, com bandeiras, para o acompanhar no passeio.

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A relação não vai tão quente como aquela que nos últimos dias parece reinar entre PS e Presidência com teorias de conspiração a correrem de parte a parte sobre a acusação do caso Tancos. Mas Costa garante que não há problemas com Belém. “As relações institucionais deste Governo são sempre construtivas positivas”, garantiu o socialista quando questionado sobre o estado da relação com Marcelo. “Foi o Governo que melhores pontes conseguiu estabelecer”, reforçou ainda garantindo que a relação São Bento/Belém “nunca mudou e nem poderá mudar. A última coisa que os portugueses desejam é um conflito institucional e a melhor forma de garantir isso é dar força ao PS”. Um desejo ou um aviso para a relação futura? Certo é que na segunda-feira, em entrevista à RTP, o socialista disse que ia ” procurar esquecer tudo o que de lamentável tem acontecido nos últimos dias nesta matéria” referindo a existência de “intrigas” que, frisou, “envolvem até o Presidente da República e são absolutamente lamentáveis”.

Centeno entra na campanha para tentar desviar PSD de Tancos

Durante a manhã, exatamente à mesma hora que António Costa se preparava para falar, em Lisboa, depois de uma reunião com a Associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal (AHRESP), a pouco mais de 2 km, na sede do PS, Mário Centeno apresentava o golpe do dia da campanha socialista: atacar as contas do programa eleitoral do PSD. Centeno tentava tomar a dianteira daquela que já é conhecida pela luta de Centenos e acusava o PSD de ter feito previsões macroeconómicas, em julho, que são “materialmente impossíveis” e há “4,750 milhões de euros” por explicar. Só recusa é debater com o Centeno de Rio (foi o próprio que se referiu assim ao seu porta-voz para as finanças), por este não ser candidato nestas legislativas. Lança antes o desafio a Rio.

Costa deixava, assim, para o ministro das Finanças, ali na qualidade de candidato a deputado pelo PS, as contas de um argumento político usado por Mário Centeno logo no comício de abertura da campanha oficial, na terça-feira em Lisboa, ao falar de “promessas vãs e irrealistas” quando se referia aos programas dos adversários nestes eleições. Agora fez as contas e durante uma conferência de imprensa na sede do partido, Centeno garantiu que as contas do PSD estão mal feitas, significariam “o regresso aos [orçamentos] retificativos — porque este cenário tem de ser retificado — e aos défices excessivos — porque a economia, perante a incerteza destes cenários, vai entrar em dificuldades”. Resultado, segundo Centeno: “Pelo menos 4.750 milhões de euros no éter destas contas, que é necessário explicar”.

O candidato socialista garante que, na proposta do PSD, “a receita cresce desproporcionadamente face ao crescimento da economia” e que há “muitas promessas sobre investimento público, sobre a evolução dos salários públicos e prestações sociais que não casam com a despesa do cenário económico do PSD“. Para Centeno, são “promessas vãs face à dimensão financeira projetada” pelos sociais-democratas.

“Com menos PIB, o PSD promete uma receita que é 10% superior”, lamentou Centeno. “Alinhando a receita com o crescimento económico da média de instituições independentes, faltam 3.900 milhões de euros e, mesmo com o crescimento irrealista, a receita total do PSD está sobrevalorizada em 2 mil milhões de euros”, acusou ainda.

Já do lado da despesa proposta por Rui Rio, o candidato socialista entende que “está subfinanciada em 2.750 milhões de euros”. Depois do último frente-a-frente entre Costa e Rio, o líder do PSD  tinha desafiado o ministro e candidato do PS a aceitar um debate com o porta-voz do PSD para as questões financeiras, Joaquim Sarmento, mas Centeno responde que só debate neste contexto com outros candidatos, coisa que Sarmento não é.

“Quando nos apresentamos a eleições, apresentamo-nos como candidatos a deputados e, portanto, se houver algum candidato a deputado do PSD, em particular o dr. Rui Rio, que queira debater estas questões comigo, não terei nenhuma dificuldade em fazê-lo”, disse Mário Centeno, que depois ajustou a declaração: “Em eleições, os líderes debatem com os líderes, os candidatos debatem com candidatos”.

O PSD previu em julho um crescimento de 1,6% em 2019 e 2,0% em 2020 se os sociais-democratas governarem. Nos anos seguintes, o crescimento teria uma aceleração adicional, para 2,2% em 2021, 2,4% em 2022 e 2,7% em 2023. Os sociais-democratas partiram do cenário base para 2019 elaborado pelo Conselho das Finanças Públicas (+1,6%) e aplicou para os anos seguintes o efeito das medidas que pretende aplicar se tiverem a maioria na próxima legislatura.

Questionado porque é que, ao contrário de 2015, o PS não aponta desta vez um cenário macroeconómico detalhado, Mário Centeno responde que não há alterações na tendência, que já estava presente no Programa de Estabilidade para 2019-2023. O documento enviado pelo Governo para Bruxelas em abril prevê um crescimento económico de 2,1% em 2018 (acabaria por ficar em 2,4% após a revisão do INE), 1,9% em 2019 e 2020, 2,0% em 2021 e 2022, e 2,1% em 2023.

A conferência de imprensa de Mário Centeno surge dias depois da revisão das contas feita pelo INE, que adicionou sete décimas ao PIB de 2017 (para 3,5%) e três décimas ao de 2018 (para 2,4%).

Costa leva caderno de encargos da AHRESP com uma questão que “preocupa particularmente”

Pela mesma hora, António Costa passava por uma reunião da AHRESP onde recolheu o “caderno de encargos” da associação para a próxima legislatura. O líder socialista, que estava acompanhado do ministro da Economia Pedro Siza Vieira (que não é candidato a deputado nestas legislativas) conteve-se sem falar uma única vez da baixa do IVA da restauração — uma bandeira que agita sempre que fala do setor –, ainda assim não deixou de sublinhar que este é “um dos mais importantes parceiros económicos” e o setor “deu um contributo decisivo para a recuperação da economia do país”. Ao encontro foi acompanhado por Pedro Siza Vieira, que colaborou na elaboração do programa do PS na área da economia, ele que no Governo é ministro desta área.

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O candidato socialista prevê, por isso mesmo, que este se mantenha um “setor fundamental para o futuro da economia” e promete “trabalhar muito intensamente” com os representantes da restauração, nomeadamente sobre uma questão que “preocupa particularmente” que é a “do arrendamento e a necessidade de assegurar uma posição de equilíbrio contratual que garanta a não desvalorização do património, mas também a estabilidade dos arrendamentos comerciais“. Costa fala mesmo na necessidade dar conforto aos inquilinos para que não andem “permanentemente com o credo na boca porque não sabem o dia amanhã”. É preciso, diz, que  “o mercado fique livre para especulação”. Num encontro com representantes do comércio e serviços, antes da campanha começar, Costa já tinha prometido intervir nesta área se ela não se auto-regular.

Costa diz ser um “capitão feliz” com dois “pontas de lança” e um “armador de jogo”

Isto além da preocupação com atualização dos salários num setor onde “ainda têm um peso muito importante os trabalhadores com salário mínimo”. E a ideia do socialista passa por “encontrar um acordo para a próxima legislatura que permita a atualização salarial programa”. Aliás, Costa dá mesmo o exemplo do que “correu muito bem” da anterior legislatura em matéria de salário mínimo, que foi “ter tudo definido quanto ao valor”, isto “permitiu previsibilidade” e “essa tem de ser seguramente uma prioridade. Temos de saber o mais cedo possível qual será o salário mínimo para 2020, 2021, 2022 e 2023”.

Esta tarde, o líder socialista passará por Almada e terminará o dia em Coimbra com um comício onde estará presente o histórico socialista Manuel Alegre. Nesse comício, além dos dirigentes socialistas locais, discursará também a cabeça de lista pelo distrito, Marta Temido (que é ministra da Saúde).

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