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O PSD vai vender o que aconteceu em Espanha como exemplo acabado do que pode acontecer em Portugal se não tiverem um resultado expressivo
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O PSD vai vender o que aconteceu em Espanha como exemplo acabado do que pode acontecer em Portugal se não tiverem um resultado expressivo

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O PSD vai vender o que aconteceu em Espanha como exemplo acabado do que pode acontecer em Portugal se não tiverem um resultado expressivo

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Choque espanhol obriga PSD e Chega a repensar estratégias

Surpreendente desfecho em Espanha é visto como lição para PSD e Chega. Montenegro pode usar vitória-derrota de Feijóo para intensificar apelo ao voto útil. Ventura tentado a radicalizar o discurso.

Um amargo de boca e um aviso sério. As direções de PSD e Chega depositavam enormes expectativas nas eleições espanholas deste domingo, mas a corrida às urnas acabou por trazer o pior dos mundos para Luís Montenegro e André Ventura. O PP ganhou, mas, aparentemente, de nada lhe valerá; o Vox perdeu a bom perder (menos 19 deputados) e ficou arredado do poder; e o PSOE, apesar de ter ficado em segundo lugar, parece ser o único com reais possibilidades de formar governo. Cá, como lá, voltou a ganhar força o debate que dominou as últimas legislativas: o risco de alianças entre o centro-direita e a direita radical parece ser um seguro de vida para a esquerda; a ambiguidade do PSD em relação ao Chega pode dar a Montenegro o mesmo destino de Rui Rio (2022) e de Alberto Feijóo; e a armadilha do voto útil pode levar Ventura a repetir a experiência amarga de Santiago Abascal.

Cientes disso mesmo, um e outro partido tentam agora fazer a contenção de danos possível. Os sociais-democratas vão traçando uma distância de segurança em relação a Espanha, animando-se com a conquista objetiva de Feijóo, falando nos tais “ventos de mudança” e esforçando-se para servir o copo meio-cheio: o desfecho não foi, de todo, o esperado; mas a vitória por poucochinho do PP, além de ter dado um sinal inequívoco de que é possível ganhar aos socialistas, vai servir para carregar no apelo ao voto útil à direita e de antídoto contra todo o tipo de experimentalismos eleitorais. Por outras palavras, o PSD vai vender o que aconteceu em Espanha como exemplo acabado do que pode acontecer em Portugal se os sociais-democratas não tiverem um resultado expressivo.

De resto, há muito que é essa a tese dominante no núcleo duro de Montenegro, que continua sem dizer taxativamente se fará ou não algum tipo de acordo com Ventura e em que circunstâncias. Publicamente, o líder social-democrata tem repetido à exaustão que vai esclarecer a questão das alianças à direita durante a próxima campanha eleitoral. Essencialmente, o PSD acredita que a pressão do voto útil esvaziará o balão de Ventura e, quando as legislativas estiverem ao virar da esquina, tudo fará para carregar no discurso de que um voto no Chega é um voto desperdiçado.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a forma como a direita em Portugal está a olhar para eleições espanholas.

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Como as direitas portuguesas olham para Espanha?

Ora, o que aconteceu agora mesmo em Espanha é entendido como mais um sinal da importância de insistir nessa estratégia: o PP, que conseguiu ganhar 47 deputados e viu o Vox perder 19, vai servir de cobaia para lembrar ao eleitorado que pretende penalizar o PS o que pode acontecer caso não se mobilize em torno dos sociais-democratas — nada mais do que morrer na praia e permitir a continuidade do PS e da esquerda no poder. De resto, foi isso mesmo que sugeriu António Leitão Amaro, em declarações ao Observador, esta segunda-feira: é preciso olhar para as eleições, sobretudo depois de 2015 e depois da ‘geringonça’, como uma disputa exclusivamente entre PS e PSD.

“A grande lição que se retira é que, quando se chega ao momento de votar e da campanha eleitoral, deve haver clareza para os cenários pós-eleitorais. [Além disso], é cada vez mais importante votar em quer que se ganhe. [Caso contrário], os eleitores arriscam-se a estar sujeitos ao impasse e à tal chantagem de partidos muito mais pequenos, com uma força desproporcional”, argumentou o vice-presidente do PSD.

A ideia de que o eleitorado do PSD deve aprender com a vitória-derrota de Feijóo é o copo meio-cheio que os sociais-democratas vão servindo, claro. Todavia, este resultado não estava, de todo, nos planos do partido – nem da grande maioria dos analistas espanhóis, em boa verdade. Tal como explicava aqui o Observador, a seguir às eleições autonómicas e regionais a 28 de maio, um cartão alaranjado a Pedro Sánchez, os sociais-democratas convenceram-se de que uma eventual aliança ganhadora entre PP e o Vox – cenário que não se concretizou – poderia servir de laboratório a Luís Montenegro.

A normalização dessa aliança serviria para desarmadilhar o debate sobre qualquer eventual acordo entre o PSD e o Chega no futuro ou, no limite, se corresse francamente mal em Espanha, para apresentar essa experiência como um cenário a evitar em Portugal, alimentando o tal apelo ao voto útil à direita. Ora, não aconteceu nem uma coisa, nem outra, e provocou duas consequências indesejadas: voltou a trazer a pressão política e mediática para que o PSD esclarecesse de uma vez por todas o que fará com o Chega; e demonstrou – mais uma vez – que a estratégia de acenar com o papão da direita radical – usada por Costa contra Rio e por Sánchez contra Feijóo – produz resultados e mobiliza o eleitorado de esquerda.

Ao longo da campanha espanhola, sobretudo na reta final, Feijóo foi reforçando o apelo ao voto útil à direita, dizendo que queria condições para governar sem o Vox (não afastando por completo essa hipótese) e que estaria disposto a viabilizar um governo do PSOE se o PP ficasse em segundo lugar e se Sánchez prometesse o mesmo no cenário inverso — tal como Montenegro tem feito ao longo dos últimos meses. Porém, isso acontecia ao mesmo tempo que o PP fechava várias acordos regionais e municipais com o Vox, sinais equívocos que, porventura, terão impedido os populares de terem o resultado que desejavam.

É isso mesmo que vai sendo refletido em Espanha. No editorial do jornal conservador ABC, insuspeito de nutrir grandes simpatias por Sánchez, a propósito dos resultados eleitorais, reconhecia-se que a estratégia de Sánchez de convocar eleições para um período em que PP e Vox iam assinando acordos regionais e autárquicos para governar, ao mesmo tempo que Feijóo ia mantendo um discurso ziguezagueante em relação a Abascal, não ajudou a causa do PP. Pelo contrário.

Também se recordava que os resultados do Vox foram particularmente negativos nas regiões onde PP-Vox já governam ou fizeram pactos para governar, algo que pode ter motivado mobilização do voto da esquerda. E ainda se deixava outro recado para o PP, que encontra algum eco nas críticas que se vão fazendo ao PSD: uma “estratégia obsessivamente centrada no anti-sanchismo não tem sido suficiente”; é preciso apresentar uma alternativa clara ao socialismo que mobilize verdadeiramente o eleitorado.

Ainda que se vá insistindo que qualquer comparação entre a política espanhola e a portuguesa é abusiva – “não se pode pegar na política espanhola e transportá-la para a portuguesa”, defendeu ao Observador Paulo Rangel, também ele vice-presidente do partido, logo na noite de domingo – a verdade é que o que aconteceu em Espanha pode precipitar internamente a estratégia social-democrata de apelo ao voto útil. O mesmo Leitão Amaro salvaguardava em declarações ao Observador que, apesar de se exigir clareza no momento das eleições, “não é preciso haver cenários pós-eleitorais a três anos” das mesmas. Exatamente o mesmo que vem dizendo Montenegro. Mas isso não quer dizer que, perante as lições de Espanha, não existam ajustes a fazer na estratégia em relação ao Chega.

Olhando para as sondagens portuguesas que foram sendo divulgadas, existem já alguns sinais de que houve uma transferência relevante de intenções de voto do PS para o PSD sem que Montenegro tenha dito, preto no branco, que não fará acordos com Ventura. Para o PSD, o eleitorado moderado já terá percebido o essencial da mensagem de demarcação face ao Chega e estará já disposto a dar um voto de confiança aos sociais-democratas. É preciso aguentar essa narrativa e conquistar o resto do eleitorado que não está ainda mobilizado para votar no PSD. A experiência de Feijóo, devidamente aproveitada como aviso à família não socialista, pode fazer inclinar definitivamente a balança. Sem nunca ostracizar o eleitorado do Chega, é preciso começar a dizer com maior clareza que um voto em Ventura não vale de nada.

Feijóo venceu, mas dificilmente conseguirá formar governo em Espanha

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Chega aponta culpas ao PP e cava trincheiras

Se Montenegro ainda se pode agarrar à vitória de Feijóo para vender a imagem dos tais “ventos de mudança”, Ventura não teve alternativa a não ser assumir as dores de Abascal. “Não foi a noite que queríamos”, assumiu, no Twitter, o líder do Chega, que foi a Madrid para assistir à noite eleitoral ao lado do presidente do Vox. Esta segunda-feira, em declarações ao Observador, Diogo Pacheco Amorim foi ainda mais longe. “É evidente que houve uma derrota”, atribuindo as razões do desaire em larga medida ao peso do voto útil. “O Vox perdeu 600 mil votos, seguramente para o PP”, lamentou o deputado do Chega.

De todo em todo, Pacheco Amorim esforçou-se por apontar baterias a Feijóo. “O grande derrotado foi o PP, que fica incapacitado [de governar]. Havia uma vaga de fundo que queria correr com o PSOE e Feijóo não conseguiu surfar essa onda. A campanha eleitoral do PP não terá sido a mais indicada porque foi canibalizar o espaço da direita. O caminho deve ser o jogo de soma positiva: o centro-direita deve deixar a direita a cobrir o eleitorado da direita e lutar pelos votos do centro”, argumentou Pacheco Amorim.

Em privado, os dirigentes do Chega, tal como os do PSD, olham para o que aconteceu em Espanha como uma oportunidade perdida. “Um bom resultado do Vox dava um empurrão à direita, não só em Espanha, mas também em Portugal. Era mais um sinal. É óbvio que um bom resultado tinha sido positivo para nós”, assume-se no partido de Ventura, antes de se encontrar algumas explicações para o pesadelo do partido irmão: a sequência de eleições prejudicou Abascal; os resultados do Vox talvez estivessem inflacionados e esta é, na verdade, a dimensão real do partido; e, claro, houve uma dificuldade objetiva em anular o efeito do voto útil à direita.

Seja como for, ninguém no Chega se esforça por esconder que é preciso retirar lições sobre o que aconteceu em Espanha — até porque é para todos evidente que o PSD vai repetir a mesma estratégia do PP em Espanha. O que é preciso, por isso mesmo, é aprender com os erros do Vox e apontar baterias ao PSD, sem titubear.

“Quando se começa a sair da linha normal do partido — a tentar aproximar-se dos moderados e a piscar o olho a uma direita mais ao centro – acaba por se desiludir o eleitorado base. A moderação é boa, mas podemos correr o risco de não conseguir e perdemos a nossa base eleitoral”, reconhece-se no partido. “No fundo, foi o que aconteceu quando tentámos moderar e veio Montenegro dizer que não fazia nada connosco.”

Essa experiência não vai ser repetida, garante-se. No futuro, os resultados do Vox em Espanha vão ajudar a consolidar as convicções do Chega: é preciso manter o rumo, não esquecer as bandeiras do partido e, apesar dos apelos tímidos do PSD e de Marcelo Rebelo de Sousa, evitar escorregar na casca de banana da “moderação” — só um Chega inamovível pode segurar a base do partido e mantê-lo incontornável em qualquer solução à direita.

“O PSD vai sempre defender que voto útil é o que importa mais e que votar em nós não importa, usando o exemplo de Espanha; nós vamos dizer que o voto em nós é a única forma de mudar alguma coisa”, resume um dirigente do Chega. Resta saber qual destas estratégias – de Montenegro ou de Ventura – sairá vencedora – se é que alguma delas sairá. Se se repetir o que aconteceu em Espanha, o PS continuará a ter a chave do desbloqueio parlamentar.

André Ventura assumiu que esperava outro resultado do seu partido-irmão, o Vox

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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