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Sam Altman voltou à OpenAI, após cinco dias atribulados. O seu despedimento foi comparado ao de Steve Jobs, que demorou 12 anos a voltar à Apple

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Sam Altman voltou à OpenAI, após cinco dias atribulados. O seu despedimento foi comparado ao de Steve Jobs, que demorou 12 anos a voltar à Apple

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Cinco dias para sair, regressar e garantir mudanças. O golpe que dá mais força a Altman e à Microsoft na OpenAI

Em cinco dias, Sam Altman passou de uma demissão por falta de confiança a uma receção calorosa na empresa da qual foi despedido. Mas é ponto assente que alguma coisa muda para nada ficar como dantes.

A série “Succession”, com a atribulada sucessão na liderança do conglomerado da família Roy, pode ter acabado em maio, mas o tumulto na OpenAI começa a ser visto como uma espécia de “spin-off” da vida real. “É como o ‘Succession’ para a geração do TikTok”, resumiu Alex Webb, jornalista da Bloomberg.

Só que, na OpenAI, não há um império para gerir e não se passam anos, apenas dias. Depois da surpresa do despedimento de sexta-feira, ao fim de cinco dias Sam Altman e Greg Brockman, que se demitiu em jeito de solidariedade, voltam à companhia que ajudaram a fundar. Altman, que foi afastado por uma argumentada “quebra de comunicação” com o conselho de administração, deixa assim cair o convite da Microsoft e regressa “à sua casa” para ser CEO. O afastamento induzido por quatro membros do conselho de administração, que compunham a maioria, passou a ser visto por alguns dos analistas como “um golpe falhado”.

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A sucedida negociação para o regresso foi partilhada nas redes sociais, onde a novela foi sendo acompanhada. “Chegámos a um acordo de princípio para que o Sam Altman regresse à OpenAI como CEO, com um novo ‘board’ inicial composto por Bret Taylor, Larry Summers e Adam D’Angelo”, anunciou-se.

“Adoro a OpenAI e tudo o que fizemos nos últimos dias tem servido como uma forma de manter a equipa e a sua missão juntas”, comentou Sam Altman, após a notícia do seu regresso se tornar pública. Explicou que, no domingo à noite, quando decidiu ir para a Microsoft, “era claro que esse era o melhor caminho” para si e para a equipa. Agora, com “um novo conselho de administração e com o apoio de Satya [Nadella, CEO da Microsoft]”, diz estar ansioso para “regressar à OpenAI e construir mais sobre a parceria forte com a Microsoft”.

Porém, o facto de os dois co-fundadores afastados regressarem não quer dizer que fique tudo na mesma, a começar pelo conselho de administração. Além de novas caras, também é esperado que a “casa” seja arrumada para ter uma liderança mais estável e melhor governança, algo que a Microsoft, principal investidora da startup, já tinha pedido.

Depois do regresso, como é que se arruma a casa?

O co-fundador e CEO volta à empresa, mas haverá coisas a mudar, pelo menos tendo em conta a comunicação feita pela OpenAI quando anunciou o regresso de Altman. Na mensagem diz-se que “ainda estamos a colaborar para acertar pormenores”, mas há já a certeza de que vão chegar mudanças no conselho de administração, onde começou o tumulto dos últimos dias.

Anunciou-se a entrada de dois perfis. Sam Altman vai responder a Larry Summers, antigo secretário do Tesouro dos EUA, e a Bret Taylor, ex-CEO da tecnológica Salesforce, ambos com percursos mais ligados à área empresarial. De acordo com informações avançadas pela imprensa internacional, é expectável que Sam Altman e Greg Brockman não recuperem, pelo menos para já, lugar na mesa do conselho. De qualquer forma, Brockman fez questão de mostrar que estava mesmo de volta: “De regresso à OpenAI e a voltar à escrita de código esta noite.”

Por agora, também não é clara a composição global do conselho de administração, já que foi apenas anunciado uma equipa inicial — uma espécie de órgão de transição. Segundo a Bloomberg, que cita fontes anónimas, é esperado que três dos quatro membros que estiveram envolvidos no afastamento de Altman não regressem – Ilya Sutskever (que depois disse estar “profundamente arrependido” das suas ações), a empreendedora tecnológica Tasha McCauley e Helen Toner, do Centro de Segurança e Tecnologia Emergentes da universidade de Georgetown. Só Adam D’Angelo, da plataforma Quora, é que se vai manter.

Mas esta não deverá ser a composição final do ‘board’. Ainda não haverá unanimidade em relação à dimensão mas, segundo a Bloomberg, deverá passar de seis para nove membros. A composição do conselho terá sido mesmo um dos principais pontos de discórdia nas negociações para o regresso de Altman. O co-fundador da OpenAI queria estar presente neste órgão de governação, mas acabou por ceder para que as discussões chegassem a bom porto.

E, com a estimativa de que a Microsoft é detentora de 49% da OpenAI, onde já investiu pelo menos 11 mil milhões de dólares, também será de esperar que a tecnológica queira um lugar à mesa, nem que seja como observadora. Numa entrevista no início da semana, Satya Nadella, o CEO da tecnológica, deu um claro voto de confiança a Altman, explicando que estavam disponíveis para trabalhar com o empreendedor, independentemente do lugar onde esteja. Mas se fez o elogio a Altman, também criticou o ‘board’ da OpenAI, considerando que “as surpresas [as de demitirem Altman] são más” e que não estava interessado em voltar a ser surpreendido com mais dores de cabeça na empresa onde assenta uma parte da estratégia de IA da Microsoft. Depois da crise, a Microsoft poderá acabar por conseguir ficar representada com um ou mais lugares no conselho, escreve a Bloomberg.

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Numa publicação no antigo Twitter, já após o anúncio da recontratação, Nadella demonstrou que vê com bons olhos as “mudanças no ‘board’ da OpenAI”, apontando como “um primeiro passo essencial para um caminho mais estável, mais informado e com governança eficaz”.

Sam Altman pode ter perdido o lugar no conselho de administração, mas tornou-se claro que não conta apenas com a confiança da Microsoft. Pouco tempo após se tornar público o despedimento, alguns investidores da OpenAI pressionaram o conselho para que Sam Altman regressasse, ameaçando mesmo com ações em tribunal. Afinal, tinham sido apanhados de surpresa com a súbita demissão de um CEO que tinha conseguido multiplicar o investimento que tinham feito.

Além dos investidores, Altman também regressa com o apreço da quase totalidade dos funcionários. O que começou como uma carta de 12 executivos a pedir a demissão do ‘board’ e a recontratação de Altman e Brockman transformou-se num movimento em que 747 dos 770 funcionários ameaçaram demitir-se, para seguirem Altman. O que, a acontecer, deixaria a OpenAI reduzida praticamente a uma sombra do que era antes do início do terramoto.

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O ChatGPT foi disponibilizado ao público há um ano e catapultou a OpenAI para o pelotão da frente da IA

NurPhoto via Getty Images

“Doomers” contra “boomers” explica o que se passou na OpenAI?

Até aqui, o conselho de administração da OpenAI não deu mais informação sobre as razões para o despedimento de Altman. Oficialmente, apenas foi justificado pela “quebra nas comunicações” e suspeitas de falta de franqueza do CEO com os membros do conselho. Porém, algumas fontes falam de confrontos nos bastidores, nomeadamente em relação à velocidade a que a tecnologia está a ser desenvolvida. Tornou-se claro que havia visões diferentes em relação à filosofia na OpenAI, que é o braço virado para o lucro de uma casa-mãe que continua a ser uma organização sem fins lucrativos, com a missão de “desenvolver IA para o bem da humanidade”.

Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico, acompanha há muitos anos o tema da inteligência artificial, e nota que a “original estrutura de governo da OpenAI e a existência de divergências no que respeita às direções estratégicas de desenvolvimento da empresa” podem explicar a crise dos últimos dias. “A estrutura de governo leva a que as decisões sobre o futuro da empresa sejam tomadas não por investidores mas por um conselho que tem como missão representar ‘os interesses da humanidade’, definidos de uma forma bastante difusa, e não os dos investidores”, explica ao Observador.

Enquanto Altman quer avançar cada vez mais depressa – só este ano a OpenAI já apresentou duas versões do seu modelo de linguagem –, Sutskever, diretor de investigação de IA, tem uma posição mais moderada. “As divergências no que respeita às direções estratégicas de desenvolvimento parecem prender-se também com a velocidade a que as tecnologias devem ser desenvolvidas, e o tipo de salvaguardas que devem ser adotadas face a eventuais riscos causados pela inteligência artificial”, complementa Oliveira.

Em resumo: os mais conservadores, “conhecidos como ‘doomers’, têm advogado um desenvolvimento mais cauteloso enquanto os mais dinâmicos, entre os quais se contam o próprio Sam Altman, conhecidos como ‘boomers’, defendem um desenvolvimento mais rápido e agressivo”.

Independentemente das consequências destas decisões, Arlindo Oliveira acredita que haverá, “razoavelmente, pouco impacto no desenvolvimento a médio prazo das tecnologias de inteligência artificial, dado que a tecnologia é pública e conhecida, dominada por muitas empresas e passível de ser desenvolvida por um grande número de agentes num prazo relativamente curto”.

Satya Nadella tem-se desdobrado em entrevistas e declarações a assegurar que a parceria com a OpenAI continuava de boa saúde, mesmo com o turbilhão na startup

Brian Smale

A Microsoft sai ou não vencedora desta batalha?

A semana começou com a notícia de que, se Sam Altman estava desempregado, a Microsoft estava disponível para contratar a cara do “boom” da inteligência artificial, desencadeado pelo lançamento do ChatGPT. Ao lado de Greg Brockman, havia espaço na Microsoft para Sam Altman liderar um laboratório de investigação avançada em IA. Pelas declarações de Satya Nadella, Altman até teria o título de CEO, habitualmente reservado apenas a quem tem áreas de negócios relevantes – Phil Spencer, por exemplo, é o CEO da Microsoft Gaming, braço que inclui o negócio da consola Xbox.

Os analistas elogiaram a rápida capacidade de resposta do CEO da Microsoft, chegando mesmo a eleger a tecnológica como a “vencedora” desta montanha-russa de acontecimentos. Esta quarta-feira, depois de ser conhecida a notícia de que Altman ia regressar à OpenAI, o analista Dan Ives, da WedBush, partilhou uma nota aos investidores onde considerou que a Microsoft teve “um final de Cinderela”.

“Os agora infames membros do conselho de administração estão finalmente fora após o golpe falhado. E, na essência, a OpenAI fica virtualmente a mesma do que antes da novela ter começado”, diz o analista, considerando, no entanto, que a tecnológica terá agora “uma governança muito mais forte, o que é um ponto-chave.”

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Neste final feliz, como diz Ives, a relação entre a Microsoft e a OpenAI “ficará ainda mais firme, já que Redmond [onde fica a sede da Microsoft] e Nadella foram o alicerce do apoio a Altman e à OpenAI durante quase uma semana de saga”.

"Os agora infames membros do conselho de administração estão finalmente fora após o golpe falhado e, na essência, a OpenAI fica virtualmente a mesma que antes da novela ter começado”, explica o analista Dan Ives. Mas destaca também que a OpenAI “irá ter agora em ação uma governança muito mais forte, o que é um ponto-chave.”

Na segunda-feira, Dan Ives já criticava o ‘board’ da OpenAI, dizendo que “pensavam estar a ganhar na mesa de poker dos miúdos” até aparecerem os adultos – nesta analogia, a Microsoft. O analista explica que a tecnológica “teve de fazer uma jogada de mestre de xadrez para conseguir” pôr fim a “um pesadelo saído da ‘Twilight Zone’”.

A notícia do regresso do CEO à OpenAI foi conhecida antes do Dia de Ação de Graças, nos EUA. Na véspera de um dos principais feriados norte-americanos, Satya Nadella usou o X para agradecer a quem, nos últimos cinco dias, se aguentou perante a turbulência. “Nestes últimos cinco dias, vi pessoas na OpenAI a manterem a calma e a determinação de continuarem a sua missão de servir clientes e parceiros, chegando-se à frente para ajudar de qualquer forma” No fim, deixou um agradecimento “pela vontade de avançar de forma segura e responsável na IA, distribuindo os benefícios por toda a humanidade”.

Quem são as novas caras no conselho de administração?

Larry Summers e Bret Taylor são os novos membros do conselho de administração. Os analistas referem que, devido à experiência, são nomes com capacidade para agradar aos investidores, mais até do que os antecessores.

Summers foi secretário do Tesouro dos EUA e, antes disso, tinha sido vice-presidente para o desenvolvimento económico e economista-chefe do Banco Mundial. É também um académico de Harvard, uma das instituições de ensino mais prestigiadas dos EUA.

Larry Summers é economista e tem assento no 'board' de várias startups, incluindo a Block, de Jack Dorsey

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O norte-americano, que integrou as administrações democratas de Clinton e de Obama, foi o principal mentor de Sheryl Sandberg, a executiva que durante anos foi o braço direito de Mark Zuckerberg no Facebook. O economista tem assento nos conselhos de várias startups, como o da Block, criada por Jack Dorsey (ex-CEO do Twitter), e o da Skillsoft Corp, sendo ainda administrador da capital de risco Andreessen Horowitz.

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Bret Taylor, antigo CEO da tecnológica Salesforce, vai desempenhar a função de presidente do conselho de administração da OpenAI, assumindo assim a função que, até à passada sexta-feira, pertencia a Greg Brockman. É um executivo conhecido em Silicon Valley e está atualmente no conselho da Shopify.

Taylor terá assumido um papel de relevo nas negociações desta semana. Há praticamente um ano teve a atribulada função de estar no conselho do Twitter durante os meses em que foi discutida a venda da rede social a Elon Musk.

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