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Political Life In Kiev
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Condenar a guerra e condenar Putin não são exatamente sinónimos

NurPhoto via Getty Images

Condenar a guerra e condenar Putin não são exatamente sinónimos

NurPhoto via Getty Images

Com muito cuidado e sem referir o nome de Putin, oligarcas russos começam a condenar a guerra na Ucrânia. Quem são eles?

"Os meus pais são ucranianos e vivem em Lviv", disse Fridman, oligarca russo que pediu o fim do derramamento de sangue. Deripaska exigiu o fim do capitalismo de Estado. Putin perde apoiantes?

Oligarca: membro ou apoiante de uma oligarquia, sistema político em que um reduzido número de pessoas governa. Oligarcas russos: grupo de multimilionários que ganharam destaque no país depois da queda da União Soviética, em 1991, através de negócios com o Estado, apoiando o Governo russo e defendendo os seus próprios interesses acima de qualquer outra coisa.

Oligarcas na era de Putin: russos extremamente ricos, controlados pelo Kremlin, e que não se opõem às políticas do Presidente. Esta elite russa, de que Roman Abramovich é uma das caras mais conhecidas na Europa, está, ainda que a conta-gotas e com muitas pinças, a retirar o seu apoio a Vladimir Putin. Entre os críticos à invasão da Ucrânia, estão vários dos homens mais ricos do país, incluindo alguns dos que foram alvo de sanções da União Europeia ou dos Estados Unidos, como Mikhail Fridman, ou homens próximos do Presidente russo, como Oleg Deripaska.

Mas, atenção: as palavras passam mais por pedir o fim do derramamento de sangue do que por um apontar de dedo direto ao líder do Kremlin. Na maioria das declarações, o nome de Putin não é sequer mencionado. Condenar a guerra e condenar Putin não têm sido exatamente sinónimos.

“Acho que muitos oligarcas russos, incluindo Roman Abramovich, estão a tentar ser gentis com os dois lados”, disse Mikhail Khodorkovsky, citado pela Associated Press. Em tempos idos, chegou a ser o homem mais rico da Rússia, quando liderava a gigante petrolífera Yukos. A sua oposição a Putin — chegou a dizer-se que seria adversário do presidente na corrida ao Kremlin — acabou quando foi condenado, em 2003, a dez anos de cadeia por corrupção. Prisão, exílio ou assassinatos por explicar têm sido o destino de alguns oligarcas e multimilionários russos que se opuseram às políticas do Governo.

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Khodorkovsky acredita que de pouco servirá o que os oligarcas dizem, já que só no limite o Presidente russo mudará de posição. “Na realidade, Putin estará inclinado a negociar apenas se as forças de defesa da Ucrânia e a sua sociedade o forçarem a fazê-lo.”

A força da sociedade russa de pouco tem valido. Os números mais recentes, divulgados por Alexei Navalny, um dos principais opositores de Putin, apontam para 6.824 pessoas detidas na Rússia por protestarem contra a guerra. As principais críticas têm chegado de nomes da cultura russa, e até deputados da Duma já se juntaram ao coro. Agora, talvez os oligarcas russos consigam dar o tom grave de um baixo ao conjunto onde só se ouviam tenores e barítonos.

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Mikhail Fridman foi um dos oligarcas russos alvo de sanções da União Europeia

Mikhail Japaridze/TASS

Mikhail Fridman

Oligarca russo, nasceu na Ucrânia, em Lviv. Tem também cidadania israelita. A sua fortuna está avaliada em 12,8 mil milhões de dólares pela Forbes (11,5 mil milhões de euros).

“Não faço declarações políticas.” Mikhail Fridman, um dos fundadores do maior banco privado da Rússia, o Alfa Bank, prefere envolver-se em negócios. Mas, embora tenha escrito esta frase numa carta aos seus funcionários da LetterOne, empresa de investimentos, acabou por tomar partido contra a invasão russa no domingo passado. Na terça-feira, renunciou ao conselho de administração do fundo que detém 77,7% do Dia que, por sua vez, é dona da cadeia de supermercados Minipreço (e já veio garantir que o milionário não tem controlo sobre a empresa). Fridman foi um dos oligarcas russos sancionado por Bruxelas. No seu caso, pela ligação ao Alfa Group e ao Alfa Bank.

“Nasci no oeste da Ucrânia e vivi lá até os 17 anos. Os meus pais são cidadãos ucranianos e moram em Lviv, a minha cidade favorita”, escreveu Fridman, que também têm cidadania israelita. “Também passei grande parte da minha vida como cidadão da Rússia, a construir e a desenvolver negócios. Estou profundamente ligado aos povos ucraniano e russo e vejo o conflito atual como uma tragédia para ambos.”

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Fridman lembrou que tem responsabilidades para com milhares de funcionários em ambos os países. “Estou convencido, porém, de que a guerra nunca pode ser a resposta”, acrescentou, dizendo que o conflito prejudicará duas nações que são irmãs há centenas de anos. “Embora uma solução pareça assustadoramente distante, só me posso juntar àqueles cujo desejo fervoroso é que o derramamento de sangue termine.” Mas estará Fridman disposto a condenar Putin em público, dizendo claramente o nome do Presidente? Isso, disse ele numa conferência de imprensa na terça-feira, seria perigoso para os funcionários das suas empresas.

Em 2017, segundo o ranking da Forbes, Mikhail Fridman era o sétimo homem mais rico da Rússia.

President Putin meets with Russian businessmen

Oleg Deripaska perdeu parte da sua fortuna com a queda dos mercados

TASS via Getty Images

Oleg Deripaska

É o rei do alumínio na Rússia. Nasceu em 1968 quando o país era União Soviética. Self made man, criado pela avó no campo, começou a trabalhar aos 11 anos como aprendiz de eletricista. A Forbes avalia a sua fortuna em 3,1 mil milhões de dólares (2,79 mil milhões de euros).

Aquele que chegou a ser o homem mais rico da Rússia (mas que perdeu fortuna depois de 2008 e da queda dos mercados) tomou uma posição que atinge Putin, de quem se sabe ser próximo (apesar de alguns desentendimentos), e pediu o fim do “capitalismo de Estado” no país. “Há uma verdadeira crise e precisamos de verdadeiros gestores de crise. É absolutamente necessário mudar a política económica e acabar com este capitalismo de Estado”, escreveu o fundador do gigante de alumínio Rusal no Telegram, na segunda-feira.

No domingo, na mesma rede, tinha defendido que a “paz é muito importante” e que as negociações têm de começar o mais rápido possível.

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Alexei Mordashov é o homem mais rico do país

Vladimir Smirnov/TASS

Alexei Mordashov

Filho de trabalhadores siderúrgicos, é o homem mais rico do país, com uma fortuna de 29,1 mil milhões de dólares (26,1 mil milhões de euros). Detém a agência de viagens Tui, a maior operadora de turismo na Europa, e é CEO da Severstal, a maior companhia russa de aço.

Tal como os outros multimilionários russos, Alexei Mordashov fez declarações públicas inéditas, condenado o banho de sangue na Ucrânia, sem nunca falar no nome de Vladimir Putin. “Nunca estive perto da política e sempre me concentrei na construção de valor económico nas empresas para as quais trabalhei”, escreveu, questionando o motivo de ser alvo de sanções de Bruxelas. “Não tenho absolutamente nada a ver com a atual tensão geopolítica e não entendo por que razão a UE me impôs sanções”, defendeu, sublinhando que isso não irá contribuir “para a solução do terrível conflito na Ucrânia”. As suas declarações foram feitas à agência de notícias estatal russa TASS, na segunda-feira.

“O que está a acontecer na Ucrânia é uma tragédia para duas nações irmãs. É terrível que ucranianos e russos estejam a morrer, as pessoas a passar por dificuldades e a economia a entrar em colapso”, acrescentou o empresário. “Temos de fazer tudo o que for necessário para encontrar uma saída para este conflito num futuro próximo e parar o banho de sangue para ajudar as pessoas afetadas a reconstruir as suas vidas.”

Os seus investimentos não se limitam ao turismo. Tem ligações ao Banco Rossiya, que a UE vê como o “banco pessoal” de altos funcionários russos que beneficiaram financeiramente com a anexação da Crimeia. Os 27 também acreditam que os negócios da imprensa de Mordashov contribuíram para desestabilizar a Ucrânia.

Finopolis 2017 forum of innovative financial technologies in Sochi

Oleg Tinkov tem estado a travar uma batalha contra o cancro

TASS via Getty Images

Oleg Tinkov

A 1 de março, um dos homens mais ricos da Rússia ficou sem o seu estatuto de multimilionário, depois de ter perdido mais de 5 mil milhões de dólares. As ações do seu banco digital já caíram mais de 90% devido às sanções. A sua fortuna é agora de cerca de 800 milhões de dólares, segundo a Forbes.

“Somos contra esta guerra.” Na sua conta oficial de Instagram, Oleg Tinkov partilha uma imagem sua, acompanhado da família, a condenar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Na sua fundação, escreve, estão a tentar salvar pessoas com cancro no sangue. “Compramos equipamentos, treinamos enfermeiros e ajudamos a construir centros de transplantes”, diz, lembrando que ele próprio enfrentou a morte por duas vezes. “Nos últimos dois anos, convenci-me de como a vida é frágil. E é única. Agora, na Ucrânia, há pessoas inocentes a morrer todos os dias, isso é impensável e inaceitável. Os Estados deveriam gastar dinheiro no tratamento de pessoas, em pesquisas para derrotar o cancro, e não em guerra.”

Tinkov já deteve uma das maiores fortunas da Rússia e, embora não seja apontado como um dos oligarcas com maior influência no Kremlin — ele próprio não se considera um —, durante os anos de liderança de Putin ganhou milhares de milhões com negócios na hotelaria, acabando por criar um cartão de crédito, fundando mais tarde um banco digital com o seu nome, mas com uma terminação diferente (Tinkoff). As sanções já o fizeram perder mais de 5 mil milhões de dólares da sua fortuna pessoal e o estatuto de multimilionário.

Nos Estados Unidos, em 2021, depois de um conflito com a autoridade tributária, deu-se como culpado de fraude fiscal.

Evgeny Lebedev And Aidan Barclay Appear At the Leveson Inquiry

Evgeny Lebedev é filho de Alexander Lebedev, dono do Novaya Gazeta, jornal conhecido por expor a corrupção do país

Getty Images

Evgeny Lebedev

Filho do oligarca Alexander Lebedev, um antigo agente da KGB, Evgeny foi viver para Londres aos 8 anos de idade e tornou-se magnata da comunicação social. Sem estatuto de multimilionário, não está na lista da Forbes.

“Presidente Putin, por favor, pare esta guerra.” A frase foi manchete do jornal britânico Evening Standard, a 28 de fevereiro, propriedade de Evgeny Lebedev, filho de um antigo agente do KGB e oligarca russo, Alexander Lebedev, e que é também um dos acionistas do Novaya Gazeta, jornal independente russo, forte opositor das políticas de Putin.

Oligarca dos media residente em Londres pede a Putin para terminar guerra

Evgeny, que está no Reino Unido desde criança e tem dupla nacionalidade, recusa ver-se como um oligarca — pessoas que define como “movidas por dinheiro e nada mais”, sem educação ou compreensão estética. Para além de ser empresário da comunicação social (também é dono do The Independent), foi nomeado pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson para a Câmara dos Lordes, a câmara alta do parlamento britânico, em 2020.

Na capa do Evening Standard, o empresário assinou uma mensagem dirigida a Putin:

“Nesta página estão os minutos finais de uma criança de seis anos fatalmente ferida por bombas que atingiram o seu prédio de apartamentos em Mariupol no domingo…. Outras crianças e outras famílias estão sofrendo destinos semelhantes em toda a Ucrânia. Como cidadão russo, imploro-lhe que impeça os russos de matar os seus irmãos e irmãs ucranianos. Como cidadão britânico, peço-lhe que salve a Europa da guerra. Como patriota russo, peço que evite que mais jovens soldados russos morram desnecessariamente. Como cidadão do mundo, peço que salve o mundo da aniquilação.”

Manchester City v Chelsea FC - UEFA Champions League Final

Roman Abramovich tomou a decisão de vender o Chelsea, clube britânico

UEFA via Getty Images

Roman Abramovich

Já foi o homem mais rico da Rússia, hoje a sua fortuna está avaliada em 12,5 mil milhões de dólares pela Forbes. Dono do Chelsea, acabou por colocar o clube britânico à venda nesta quarta-feira.

A pedido da Ucrânia, e não da Rússia, Roman Abramovich viajou para a Bielorússia para ajudar nas negociações entre os dois países. Embora não tenha levantado a voz para criticar Putin, o seu porta-voz frisou que o empresário está a “ajudar” a restabelecer a paz. “Considerando o que está em jogo, pedimos a compreensão por não comentarmos nem a situação em si nem o seu envolvimento”, acrescentou a mesma fonte.

Esta quarta-feira, pensando no melhor interesse do clube britânico de que é proprietário, pôs o Chelsea à venda. “Além disso, instruí a minha equipa para desenvolver uma fundação de caridade para fazer reverter o dinheiro. A fundação será para benefício de todas as vítimas da guerra na Ucrânia. Isso inclui dar fundos que são críticos para suprir as necessidades mais urgentes e imediatas das vítimas, bem como ajudar a longo prazo no trabalho de recuperação”, acrescentou ainda o russo.

Das negociações da paz para as negociações da venda: Abramovich deixa Chelsea e lucros revertem para vítimas da guerra na Ucrânia

Já a sua filha de 27 anos, Sofia Abramovich, terá atacado diretamente o Presidente russo. “A Rússia quer guerra com a Ucrânia”, escreveu nas redes sociais, segundo vários jornais internacionais. Mas a palavra “Rússia” surge riscada, com “Putin” a substitui-la. “A maior e mais bem sucedida mentira da propaganda do Kremlin é que a maioria dos russos apoia Putin.” Na conta oficial de Sofia, a publicação não está visível e o Observador não conseguiu verificar a veracidade desta notícia, amplamente difundida.

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