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ANA MARTINGO/OBSERVADOR

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Como as tropas russas avançam na Ucrânia

Rússia diz que tomou Kherson, importante cidade portuária, mas Ucrânia rejeita. Entretanto, a coluna militar avança até Kiev, mas com resistência no aeroporto de Gostomel. No sul também há avanços.

Ao mesmo tempo que a Rússia intensifica bombardeamentos em cidades-chave como Kharkiv, Mariupol e Kiev, a extensa coluna militar russa (terá mais de 60 quilómetros, possivelmente contando com espaçamentos preventivos para qualquer resposta aérea ucraniana) prossegue até à capital, que estará a cerca de 30 quilómetros. Mas o aeroporto de Gostomel, que está há dias a ser bombardeado, é ponto de resistência das tropas ucranianas.

As forças russas têm ainda a mira outra cidade estratégica: Mariupol, no sul da Ucrânia, que está atualmente segundo as autoridades da Rússia sob controlo de Moscovo — e que une duas zonas que já estão em mãos russas, Donbass e a Crimeia. O foco está também em Kherson, uma importante cidade portuária que a Rússia garante já controlar — uma informação que a Ucrânia recusa: “O nosso lado continua a defender”.

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Kherson

Grande parte da atenção das forças militares ucranianas tem estado em Kherson, uma importante cidade portuária, junto ao mar Negro, a noroeste da Crimeia, com cerca de 300 mil habitantes (antes da guerra). Aí, os confrontos têm-se prolongado nas últimas horas.

Na manhã desta quarta-feira, o ministério da Defesa russo anunciou que tinha tomado controlo da cidade, uma informação que a Ucrânia veio desmentir horas depois. Embora o lado ucraniano tenha começado por adiantar que o porto e a estação de comboios da cidade estavam sob controlo das tropas russas, que instalaram checkpoints em torno dos vários acessos a Kherson, o autarca da cidade, Igor Kolykhayev, contrariou a versão russa de que a Ucrânia tenha perdido a cidade. Reconhecendo que Kherson está“totalmente cercada” por militares russos, frisou que se mantém nas mãos ucranianas.

A mesma ideia foi confirmada pelo conselheiro do presidente ucraniano, Oleksiy Arestovych, que assegurou: “A cidade ainda não caiu, o nosso lado continua a defender”. Os confrontos continuam.

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Kiev

A extensa coluna militar russa que está há dias a avançar para Kiev, com o objetivo de cercar a cidade e tomar controlo do regime, estará a cerca de 30 quilómetros da capital, de acordo com informações reveladas pelos serviços de inteligência do Reino Unido. O contingente de camiões blindados partiu de Ivankiv, a mais de 60 quilómetros a noroeste de Kiev e estará perto da zona do aeroporto de Gostomel, que é há dias bombardeado pelas tropas russas (mas permanece em mãos ucranianas).

Aliás, logo na quinta-feira, no primeiro dia do conflito, as tropas russas chegaram mesmo a controlar o aeroporto. É neste contexto que vários governos em todo o mundo têm apelado aos cidadãos para que deixem a capital, que também ela tem sido alvo de bombardeamentos. Na terça-feira, o alvo foi a torre de televisão da cidade, num ataque que causou cinco mortes e cinco feridos.

Segundo o El País, que cita o Instituto para o Estudo da Guerra (IWS, na sigla original), um think tank norte-americano dedicado a estudos nas áreas de defesa e relações externas, as tropas russas poderão estar a preparar um cerco a Kiev em três direções.

Por um lado, as forças militares podem cercar a capital a norte; a oeste — a partir da tal coluna militar —; e/ou a leste, caso partam dos territórios já conquistados perto de Chernihiv, que podem encontrar-se com as forças que avançam desde Sumy, junto à fronteira nordeste com a Rússia.

Kharkiv

Outro dos focos de confronto tem sido Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia (antes da guerra, tinha cerca de 1,4 milhões de habitantes), muito próxima da fronteira com a Rússia. As tropas russas conseguiram entrar na cidade, segundo foi anunciado na madrugada de terça para quarta-feira, depois de vários dias de cerco e de ataques com bombardeamentos. Kharkiv é agora alvo de uma luta pelo poder, que para já continua no lado ucraniano. Mas os confrontos têm-se intensificado e a noite passada resultou em 21 mortes e mais de uma centena de feridos em combates.

Já antes, terça-feira foi um dia marcado por ataques do lado russo, que segundo o presidente da câmara municipal, Oleh Sinehubov, foram repelidos pelas tropas ucranianas. Os ataques atingiram a praça central de Kharkiv, que ficou repleta de destroços, e a sede da administração local, causando pelo menos 10 mortos e duas dezenas de feridos (que somam às dezenas de mortes de segunda-feira, nomeadamente na sequência de um ataque com rockets nos arredores da cidade, que destruíram vários apartamentos).

Em Kharkiv, foram ainda atingidos um hospital militar e, já esta quarta-feira, um edifício da polícia, a Universidade de Kharkiv e o edifício da Câmara Municipal, que foi o alvo de um míssil de cruzeiro. A Rússia, no entanto, recusa ter atingido alvos não militares.

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Mariupol

As forças russas têm ainda a mira em Mariupol, no sul da Ucrânia, que está atualmente, segundo as autoridades da Rússia, sob controlo de Moscovo. Mariupol é uma cidade estratégica no sentido em que une duas zonas que já estão em mãos russas, Donbass e a Crimeia. Os bombardeamentos já causaram, pelo menos, 128 feridos, que segundo o presidente da Câmara, Vadym Boychenko, estão a receber tratamento em hospitais da região.

Mariupol tem estado sob fogo desde o início do conflito e com o intensificar dos bombardeamentos, apressa-se a tentativa de retirada da população. O processo está, porém, segundo acusa o autarca Vadym Boichenko, a ser travado pelas tropas russas, que estarão a “ativamente a impedir” a saída de civis. De acordo com a Sky News, Boichenko afirmou também que, nas últimas 14 horas, Mariupol foi alvo de constantes ataques e que há “vários mortos”. O autarca adiantou ainda que não há abastecimento de água na cidade.

Chernihiv

Os serviços de inteligência do Reino Unido indicam que além de Kharkiv, Kiev e Mariupol, o outro alvo principal das tropas russas é, neste momento, Chernihiv, uma cidade localizada a cerca de 150 quilómetros a norte de Kiev. Nas últimas horas, o exército da Rússia intensificou os bombardeamentos na cidade.

Zhytomyr

Também Zhytomyr, cidade localizada a 120 quilómetros a noroeste de Kiev, foi alvo de vários bombardeamentos durante a noite de terça para quarta-feira. Segundo as autoridades ucranianas foram mesmo destruídas várias casas e uma maternidade. Pelo menos quatro pessoas morreram, das quais uma criança.

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Okhtyrka

Okhtyrka, localizada entre Kharkiv e Kiev, foi palco de um bombardeamento, numa base militar, que matou mais de 70 soldados ucranianos e um número indeterminado de civis, na terça-feira. A informação foi avançada pelo chefe da região, Dmytro Zhyvytskyy, na rede social Telegram.

Territórios sob controlo russo

Berdyansk

Sob controlo russo está já Berdyansk, uma cidade portuária com cerca de 100 mil habitantes (antes do início da guerra), que está perto de Mariupol (a cerca de 80 quilómetros) e de Donetsk (200 quilómetros a sul da região controlada por separatistas).

Makariv

As tropas russas tomaram novamente a região de Makariv, perto de Kiev (a cerca de 60 quilómetros), segundo avançou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, o tenente-general Valery Zaluzhny no Facebook, esta quarta-feira.

Centrais nucleares de Zaporíjia e Chernobyl

Esta quarta-feira ficou também a saber-se que as forças russas controlam a central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa e uma das maiores do mundo, depois de chegarem a Chernobyl. A central é responsável por quase metade da energia gerada na Ucrânia e seis dos 15 reatores nucleares em funcionamento na Ucrânia ficam em Zaporíjia.

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Esta é a segunda central nuclear conquistada pela Rússia na Ucrânia, depois de Chernobyl, onde os níveis de radiação aumentaram ligeiramente. A Inspeção Estatal de Regulação Nuclear da Ucrânia garante, porém, que as centrais estão a funcionar com normalidade.

Melitopol

A Rússia diz ainda ter capturado a cidade de Melitopol, no sul do país, que tem sido alvo de diversos bombardeamentos, e as aldeias de Bakhmutovka e Grechishkino.

Donbass e Crimeia

Além da Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia, os militares russos estão ainda presentes nas regiões separatistas de Lugansk e Donestsk (que, juntas, formam a região de Donbass, no leste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia), onde têm ocorrido alguns dos episódios mais sangrentos do conflito. Na última sexta-feira, por exemplo, o exército ucraniano diz que quatro pessoas morreram e dez ficaram feridas na sequência de um bombardeamento a um hospital em Vuhledar, na região de Donetsk. Entre os feridos estão seis médicos.

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