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Costa falou ao país às 20h52, depois de horas de dúvidas sobre a decisão que iria tomar
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Costa falou ao país às 20h52, depois de horas de dúvidas sobre a decisão que iria tomar

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Costa falou ao país às 20h52, depois de horas de dúvidas sobre a decisão que iria tomar

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Costa viu “provas” e Galamba só teve a certeza que não caía pela televisão. O dia em que São Bento comprou uma guerra com Belém

À saída de Belém, ao fim do dia, o desfecho estava para ser outro. Mas Costa acabou a manter Galamba, contra Marcelo que só lhe tinha pedido essa saída. As horas de mais uma crise.

Foram horas de autêntico suspense as que se viveram esta terça-feira, à espera de um desfecho que parecia previsível e, afinal, não se confirmou: no final do dia, António Costa escolheu segurar um fragilizado João Galamba, contra todas as expectativas e a maioria das opiniões que foi ouvindo durante dia — e a quem foi dando sinais de ter dúvidas. Mais: fê-lo contra a opinião declarada do próprio Presidente da República, assumindo assim o choque frontal contra Belém, onde tinha estado horas antes para ouvir Marcelo Rebelo de Sousa defender a demissão.

Costa, que terá começado o dia a ver as “provas” que Galamba tinha para lhe mostrar sobre o caso que ameaçava valer-lhe a demissão, foi sempre dando sinais a quem foi ouvindo durante o dia que não estava seguro da demissão. Depois de ouvir Marcelo, chegou a parecer que não teria mesmo alternativa a despedir Galamba, que até emitiu uma nota pública a anunciar a sua demissão – com um pormenor que revelaria que a história era mais complexa do que parecia.

O primeiro-ministro mudou de ideias: numa bomba política que só foi confirmada aos ouvidos de Galamba ao mesmo tempo que aos dos portugueses – pela televisão –, decidiu comprar a guerra com Belém e segurar, “em consciência”, o ministro que considera inocente. A responsabilidade, assegurou, é sua e só sua: Galamba fica no Governo com a proteção do primeiro-ministro e o ceticismo do Presidente da República. O Observador revela a fita do tempo — com base em relatos de várias fontes do Governo e do PS — de um dia que incluiu suspense, telefonemas decisivos, movimentações inesperadas e, no final, uma surpresa.

Sábado, 29 de abril. Uma substituição, sem exigências de remodelação maior

Logo no sábado, o Presidente da República fala com o primeiro-ministro. Quer conhecer a avaliação política que António Costa, que estava no estrangeiro, faz do caso que rebentou publicamente na sexta-feira ao início da tarde. E também dizer-lhe, desde logo, que defende o afastamento do ministro pelo desgaste que imprimirá ao Governo a partir dali. Não sugeriu uma remodelação mais alargada, circunscrevendo a conversa (esta e todas as posteriores) ao caso concreto das Infraestruturas. Costa pediu-lhe tempo, para regressar a Lisboa e poder falar cara a cara com Galamba. Marcelo não colocou pressão de tempo, ao que sabe o Observador, deixando até em aberto a possibilidade de voltarem ao assunto apenas na próxima reunião semanal entre os dois.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Segunda-feira, 1 de maio. As primeiras explicações

19h54
Depois de o sempre reativo Presidente da República ter recusado comentar aos jornalistas o episódio do Ministério das Infraestruturas sem antes falar com o primeiro-ministro, soaram as campainhas de alerta no Governo. Por esta altura soube-se, através de uma notícia do Observador, que Presidente e primeiro-ministro já tinham falado. No PS circulava alguma apreensão com o caso e aguardava-se o regresso do primeiro-ministro para perceber o rumo da situação. A pressão para um afastamento de Galamba ia em crescendo, com o espaço de comentário político televisivo exclusivamente debruçado sobre o episódio nas Infraestruturas durante o fim de semana prolongado. As perguntas avolumavam-se e beliscavam diretamente António Costa, com as dúvidas sobre ter sido accionado o SIS, serviço que pertence ao Sistema de Informações da República Portuguesa, tutelado pelo primeiro-ministro.

20h56
As primeiras declarações do primeiro-ministro sobre o assunto chegam em resposta a perguntas do Observador sobre a intervenção do SIS neste processo, nomeadamente na recuperação do computador que o adjunto demitido do Ministério das Infraestruturas tinha levado na altura em que foi demitido. É aqui que surge a primeira validação da ação do ministro Galamba pelo chefe do Governo. O gabinete do primeiro-ministro dizia que Costa não tinha sido informado da intervenção do SIS, mas também não tinha de ser. Defendia que Galamba tinha agido “e bem” e colocava a intervenção dos serviços de informação no quadro da lei – embora sem nunca detalhar que pontos da lei. A resposta era conjunta às várias perguntas enviadas pelo Observador, mas permitia perceber que Costa não condenava as ações do seu ministro.

Costa diz que não foi informado, mas valida Galamba: “Deu – e bem – alerta pelo roubo do computador” do ministério

23h00
O primeiro-ministro chega ao aeroporto de Lisboa e fala à RTP. Confirma a leitura anterior e defende Galamba, embora também diga que o que se passou nas Infraestruturas “é inadmissível” e dispare com uma frase que deixa meio mundo — e socialistas também – a verem, apesar de toda a defesa, a porta de saída aberta para Galamba: “Há uma outra dimensão que tem a ver com o que tem de ser a atitude do Governo na governação, que tem de ser exemplar na credibilidade das instituições e que foi afetado.” Nesta fase, segundo apurou o Observador, o primeiro-ministro estava  inclinado para a demissão do ministro, alinhado com a expectativa do Presidente da República. Mas o dia seguinte seria decisivo.

Terça-feira, 2 de maio. O volte face de última hora que Galamba viu pela televisão

01h10
No site do Expresso surgem mais detalhes da conversa telefónica entre Costa e Marcelo, avançada pelo Observador, reforçando que o Presidente transmitira ao primeiro-ministro que João Galamba já não teria condições para continuar no Governo: a expectativa de Belém era mesmo que o ministro não resistisse à conversa com Costa. Por Marcelo, a sentença de Galamba estava escrita. A necessidade de resolver o assunto acelerou a partir daqui, com o dia a arrancar com a pressão de Belém sobre São Bento em níveis máximos.

10h00
Por esta hora arrancava a reunião que juntou – seis dias depois dos incidentes no Ministério – João Galamba e António Costa em São Bento. O ministro chegou uns minutos antes do líder do Governo para falarem “olhos nos olhos”, como Costa contaria depois – ao telefone não seria a mesma coisa, tinha já justificado na noite anterior à porta do aeroporto quando disse que “há coisas que não se tratam no estrangeiro“.

João Galamba tomou posse em janeiro, para substituir Pedro Nuno Santos nas Infraestruturas

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11h50
Cerca de uma hora e meia depois, Galamba está de saída de São Bento. Até aqui os dois “falam cara a cara” sobre o assunto e “preparam todas as explicações”, conta fonte do Executivo. Ao que o Observador apurou, o ministro terá apresentado mensagens, notas, documentos ao primeiro-ministro para tentar provar que tinha agido com rigor. Foi, assim, neste momento que Costa teve as tais “provas evidentes” que diria depois ter para formar a sua convicção de que Galamba está inocente, ou seja, que não tentou mentir ao Parlamento nem ordenar ao seu antigo adjunto que o fizesse. Isto depois de uma série de dias em que se multiplicaram na imprensa mensagens de Whatsapp e e-mails trocados entre João Galamba e Frederico Pinheiro, algumas a reforçar a convicção de que o ministro não conheceria a existência das notas do ex-adjunto sobre a reunião com a ex-CEO da TAP e outras, reveladas pelo ex-adjunto, em sentido contrário. Há dias que nos corredores do Governo se garantia que a versão que corria no Executivo tinha sido sempre que esses apontamentos não existiam, e haveria comunicações nesse sentido.

O ministro saiu de São Bento sem certezas sobre o seu futuro. O primeiro-ministro terá pedido um tempo para ponderar o que fazer.   Entre os seus mais próximos, naquelas horas, apontava-se este hábito de Costa maturar as ideias mais isoladamente. “Está a pensar”, comentava um socialista com o Observador. Galamba seguiu para o seu Ministério, situado no Campo Pequeno, e por lá ficou o dia todo sem que o seu gabinete tivesse dado qualquer informação sobre o que se passara durante a manhã, na reunião com Costa.

As horas seguintes foram de total vazio de informação, o que estava a deixar os vários gabinetes ministeriais   e socialistas à beira de um ataque de nervos, com toda a incerteza. Alguns mesmo com dúvidas sobre se a questão se resumiria ao Ministério de Galamba, ou se  poderia significar uma remodelação mais profunda — que acabou por nunca estar em cima da mesa neste processo, segundo apurou o Observador.

Nesta espera interminável – que se estenderia até às 20:52 nessa noite –, António Costa ouviu uma esmagadora maioria de opiniões favoráveis ao afastamento do ministro, todas apoiadas no mesmo argumento: o peso insuportável deste caso, num Ministério importante e numa altura de enorme desgaste político do Executivo — algo insólito quando a maioria absoluta tem um ano de existência. Entre o seu núcleo duro, a opinião não era unânime, mas era claramente maioritária. No entanto, as conversas discretas tidas  em São Bento, não envolveram só o seu núcleo político, os conselheiros mais próximos, de dentro e de fora do Governo. O primeiro-ministro, segundo sabe o Observador, fez vários contactos nos setores tutelados pelo ministro e foi recolhendo impressões favoráveis ao ministro das Infraestruturas. Essa auscultação diversificada seria feita até à última (ver mais abaixo).

O Governo podia pedir ao SIS para recuperar o computador do ex-adjunto de João Galamba? Um “não” e outras 7 respostas

16h45
As entradas e saídas de São Bento estavam controladas pelas câmaras televisivas colocadas frente ao portão da entrada e saída de carros. Foi por ali que se viu entrar e sair Galamba, mas mais ninguém. Costa tentou que as conversas fossem o mais discretas possível, por isso foi com surpresa que, por esta hora, os jornalistas viram sair da residência oficial do primeiro-ministro vários carros, praticamente em fila, com os membros do Governo que fazem parte do núcleo político de Costa. Para não serem filmados, os ministros tinham entrado por um portão lateral, pelo que ninguém percebeu que lá estavam.

Nesse elenco fizeram parte Duarte Cordeiro (Ambiente), Mariana Vieira da Silva (Presidência), Pedro Adão e Silva (Cultura) e Fernando Medina (Finanças). Também esteve o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes. Não estiveram, no entanto, outros elementos que fazem parte do núcleo duro de Costa mas não do Governo, como o presidente do PS, Carlos César – um dos mais próximos conselheiros de Costa, que no fim de semana aconselhava o primeiro-ministro, numa entrevista ao Público, a avançar para uma remodelação no Governo, embora dizendo não ver motivos para demitir João Galamba.

16h49
O primeiro-ministro sai, finalmente, de São Bento e só nessa altura se sabe que vai a caminho de Belém: tem uma reunião com o Presidente da República marcada para as 17h. A expectativa cresce mas continua sem se registar qualquer fuga de informação sobre os resultados da reunião entre Costa e Galamba, ou do encontro do núcleo duro. Durante o encontro a dois, Belém vai informando os jornalistas de que Marcelo promulgou diplomas vários (um “assegura o acesso às campanhas de publicidade institucional do Estado aos órgãos de comunicação social direcionados às comunidades portuguesas no estrangeiro”, outro para aprovar apoios ao setor agrícola e pecuário e ao setor das pescas e aquicultura). Lá dentro, a conversa alonga-se –indiciando que poderia ter mais conteúdo do que o rápido anúncio de uma demissão.

António Costa surpreendia Marcelo com a sua avaliação, depois de uma manhã e início de tarde de contactos vários: não via razões para demitir João Galamba. Para o primeiro-ministro, as provas apresentadas por Galamba teriam sido suficientes para convencê-lo de que não tinha agido de forma condenável, no entanto, a questão institucional ainda pesava. O Presidente da República mantinha-se inamovível na sua posição e Costa acabou por sair de Belém, segundo apurou o Observador, considerando não ter outra saída que não fosse afastar Galamba.

Ouça aqui o mais recente episódio do podcast “A História do Dia” sobre a crise política.

Galamba fica e Marcelo discorda. O que vai fazer?

18h45
À saída de Belém, o primeiro-ministro faz um compasso de espera antes de entrar no carro, num pormenor que destoava da discrição mantida toda a manhã: fez questão de fazer um telefonema à vista das câmaras de televisão, no Pátio das Damas ainda em Belém. Os seguranças e o seu chefe de gabinete tiveram de esperar antes que se dirigisse ao carro e entrasse para seguir caminho.

É nesta altura que, sabe o Observador, entra em contacto com João Galamba, à espera daquele telefonema desde o final da manhã. Não havia solução e o ministro tem de escrever uma carta a pedir a demissão. Isto explica que, na nota de demissão de Galamba (ver abaixo), aparecesse que o pedido só tinha sido dirigido a Costa ao final do dia, apesar da conversa entre os dois ter decorrido logo de manhã.

O caminho que levaria Costa de Belém de regresso até São Bento seria rápido, àquela hora qualquer GPS marcava 20 minutos a separar os dois pontos no mapa de Lisboa. Mas Costa demora-se bastante mais, dando indícios de que fez alguma paragem pelo meio, e só é visto a entrar em São Bento exatamente uma hora depois de acabar de falar com Marcelo. Neste intervalo, o primeiro-ministro aproveitou mesmo, de acordo com o que apurou o Observador, para mais contactos com os setores tutelados por Galamba, que o cerco de comunicação social a São Bento não permitiam que fosse feito de forma discreta, como se pretendia no gabinete.

19h30
Pouco antes da chegada de Costa a São Bento, é a vez de João Galamba se movimentar: sai do Ministério das Infraestruturas e, adensando a especulação – e reforçando as teorias que apontam para uma remodelação – o carro em que parte da garagem do Ministério, no lugar do pendura, não é o carro oficial do Estado que utilizara da parte da manhã, na altura conduzido por um motorista.

19h46
O primeiro-ministro chega finalmente a São Bento e não mostra ir convencido do que tinha acabado de acertar com o próprio ministro. Costa mantinha dúvidas sobre o afastamento de alguém que considerava não ter responsabilidade pelo que se passou no Ministério e que havia de dizer mais tarde que nem quereria no Governo se tivesse mantido o adjunto que estava na origem de toda a polémica. O sentimento era de estar a beneficiar o infrator, ao demitir o ministro, em vez de isolar responsabilidades no ex-adjunto Frederico Pinheiro, que saiu com agressões e levando um computador do Governo com ele. E as conversas com o setor tinham acrescentado um dado: o trabalho no campo estava a seguir bem e receava-se que isso pudesse ser deitado a perder, tendo de voltar ao zero depois de um recomeço tão recente — Galamba só está no Ministério desde janeiro, depois da saída de Pedro Nuno Santos da mesma pasta. As reservas de Costa aos que, durante o dia, mais tinham defendido a demissão de Galamba, ficavam cada vez mais notórias. E foi aqui que virou o jogo – havia de alegar mais tarde que o fizera por uma questão de “boa consciência”.

20h17
Às caixas de e-mail dos jornalistas chega finalmente a informação que publicamente parecia, a essa hora, trazer o desfecho final do caso: João Galamba apresentara oficialmente a demissão a António Costa. Fazia-o recusando ter culpas concretas nos episódios bizarros que se foram sucedendo no Ministério das Infraestruturas, mas reconhecendo que, “no atual quadro de perceção criado na opinião pública”, tinha de se demitir “em prol da necessária tranquilidade institucional”.

Galamba mantinha assim a sua versão – não fizera nada de errado, não procurara “ocultar qualquer facto ou documento”, não agira “em desconformidade com a lei”, como o próprio Costa “reconhecera” – mas defendia que, numa altura em que “o ruído se sobrepõe aos factos”, era mais importante “preservar a dignidade e imagem das instituições”, assim como a sua, a da sua família e elementos do seu gabinete. Galamba parecia fechar o assunto com os agradecimentos finais a Costa e às pessoas com quem trabalhou e as desculpas dirigidas aos elementos da sua equipa, que “mesmo sob agressão tudo fizeram para proteger os interesses do Estado” e viram a sua “dignidade afetada”.

Mas um pormenor muito relevante escondia-se logo no início do comunicado: Galamba dizia ter apresentado “agora mesmo” o pedido de demissão. A decisão não tinha saído fechada da conversa com António Costa, nem no encontro entre o primeiro-ministro e o Presidente da República.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

20h25
Depois de muitas horas sem qualquer notícia a propósito das intenções de António Costa, os jornalistas são informados de que o primeiro-ministro pretende fazer uma declaração daí a vinte minutos. Nesta altura, Costa tinha já decidido não demitir Galamba e informado o Presidente da República sobre o assunto – o que fica claro quando uma nota do Presidente é publicada com o primeiro-ministro ainda a falar em São Bento.

Em Belém mantinha-se o desejo de afastamento do ministro, mas também o conhecimento da Constituição, que Marcelo sublinharia na tal nota: não poderia exonerar um ministro, mesmo que discordasse da sua manutenção no cargo. Essa é uma prerrogativa do primeiro-ministro. Costa parte para a declaração, segundo apurou e o Observador, sabendo que Marcelo ia tornar pública a sua discordância com a decisão.

Galamba, já longe do Ministério, não teve a certeza que o seu pedido de demissão tinha sido recusado até ouvir o primeiro-ministro dizê-lo na televisão, numa declaração transmitida em direto.

20h52
Sete minutos depois da hora marcada, Costa desce as escadas de São Bento e posiciona-se diante do microfone através do qual falará ao país. Começa por pedir desculpas aos portugueses pelos episódios “deploráveis” que aconteceram nas Infraestruturas. E, a seguir, solta a bomba política que apanha todos de surpresa: não vai aceitar a demissão de João Galamba.

Costa demora-se nas explicações: diz que é uma questão de “consciência”; que teve provas de que Galamba não está a mentir nem fez nada de errado (idem aspas para o SIS, com cuja diretora também conversou, acrescenta); que foi um excelente secretário de Estado e será um excelente ministro; que não ficaria confortável se, para agradar a comentadores e “agentes políticos”, demitisse um ministro sem estar convicto dessa decisão. Não explica o timing da decisão: questionado sobre a razão para a demissão só ter chegado ao fim do dia, diz apenas que as coisas acontecem quando têm de acontecer, recusando revelar mais.

Mas coloca-se em posição de combate: pela declaração fica evidente que Marcelo Rebelo de Sousa discordou frontalmente da decisão de Costa, mas o primeiro-ministro autoresponsabiliza-se uma e outra vez, lembrando que o poder de escolher ministros é seu e que a decisão de manter Galamba – que, concede, foi tomada numa posição de isolamento e comporta riscos – é sua: “Minha, só minha, exclusivamente minha”. Até reconhece que vai “desiludir” muitas pessoas, incluindo “talvez a maioria” dos portugueses, mas decide dar “primazia” à sua própria consciência. E recusa tomar decisões “ao sabor da maré” – e, pelos vistos, ao sabor da vontade de Marcelo, entrando em choque frontal com o Presidente que agita há meses a ameaça da dissolução da Assembleia da República.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

21h26
O choque entre São Bento e Belém já era evidente pela forma seca como Costa diz simplesmente que “informou” Marcelo da decisão, depois de ser questionado sobre se o Presidente concordaria com ela. Mas mais evidente fica quando, ainda durante as declarações do primeiro-ministro – Costa está nesta altura a responder à última questão, sobre a reprivatização da TAP – o Presidente emite uma nota sobre o assunto, sobre a qual os jornalistas ainda tentam questionar o primeiro-ministro (em vão).

Em três frases, Marcelo deixa clara a sua opinião sobre o filme dos acontecimentos: primeiro, lembra que o próprio Galamba apresentou a demissão “invocando razões de peso relacionadas com a perceção dos cidadãos quanto às instituições públicas”, argumentos com que Marcelo estaria de acordo. Depois, constata que Costa decidiu não “submeter” esse pedido ao Presidente por uma questão de consciência, com um remoque: o próprio Costa, faz questão de recordar, considerou a situação “deplorável”.

E, por fim, Marcelo lembra que não tem poder para exonerar ministros, uma vez que esse é exclusivo de Costa, mas deixa claro que se pudesse tê-lo-ia feito: o Presidente, lê-se na nota, “discorda da posição” do primeiro-ministro “quando à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem”. A conclusão fica, do lado de Marcelo, evidente: o Presidente considera que Costa leu mal a situação e pôs em xeque a imagem das instituições políticas. Além, é claro, de o ter desafiado após vários dias de pressão para demitir João Galamba, um ministro que – como Costa reconheceu – seria bastante mais fácil demitir do que segurar. Por esta hora já começavam a multiplicar-se as reações incrédulas dos partidos e comentadores à decisão-surpresa do primeiro-ministro. Em Belém, a surpresa – e o desagrado – não seria muito diferente.

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