O tema da Justiça arrancou os três debates desta quarta-feira, a reboque das medidas para o caso da Madeira. No último frente a frente da noite, Paulo Raimundo disse que “há uma perceção de falta de confiança na Justiça”, e por isso o secretário-geral do PCP que quer reforçar “meios e recursos”. Já Rui Rocha Rocha alertou que a “corrupção é injusta e retira dinheiro aos portugueses”, mas recusou a “intromissão do poder político” na Justiça.
O líder da Iniciativa Liberal e o secretário-geral do PCP falaram depois de produtividade e salários, dos lucros dos privados e do SNS e da Saúde. Divergindo em todos esses temas, como era de esperar.
Antes, no aceso debate entre Pedro Nuno Santos e André Ventura, o líder do PS considerou que a “Justiça está a funcionar”, apontando as “muitas medidas” já adotadas “nos últimos anos”, e o responsável do Chega respondeu que o programa do PS para a Justiça “é como o Melhoral, não faz bem nem faz mal”. Foi o primeiro ataque, de muitos, ao longo de mais um frente a frente com prolongamento. Pedro Nuno Santos lembrou que André Ventura foi condenado por difamação, e o líder do Chega falou dos casos José Sócrates, Manuel Pinho e Ricardo Salgado.
Depois André Ventura acusou Pedro Nuno Santos de ser o “rosto do maior falhanço do governo”, no SNS, enquanto o líder do PS disse que o Chega tem a “mesma receita de IL e da AD”, apontando a entrega da Saúde aos privados. E atacou Ventura pelo seu passado, a ligação ao PSD, e de só ter aderido “à ideologia da moda para ver se consegue subir no sistema”, deixando o líder do Chega sem esclarecer a “garantia total” de que direita estará no governo mesmo sem Montenegro.
No frente a frente entre o porta-voz do Livre e a do PAN, que começou poucos minutos depois de se saber que os três arguidos detidos há 21 dias por suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais na Madeira, que levaram à queda do governo regional, tinham sido libertados apenas com Termo de Identidade e Residência, ambos defenderam uma grande reforma para a Justiça. Aliás, em relação à Madeira e às consequências políticas do processo, Inês Sousa Real afirmou que o PAN teve uma atitude “responsável” e de “credibilidade” ao exigir o afastamento de Miguel Albuquerque do governo regional. Mas Rui Tavares acusou o PAN de “incoerência” no apoio ao Governo do PSD na Madeira, devido “ao historial de massacres de animais”, ao que Sousa Real respondeu que os madeirenses não têm de estar “reféns” e que para os animais é indiferente se se é de esquerda ou de direita, porque o seu partido defende “causas” e houve projetos suspensos por ação do PAN. E atacou o porta-voz do Livre por não os ter acompanhado na revisão extraordinária da Constituição”.
Livre e PAN mostraram ideias diferentes sobre a exploração do lítio e Rui Tavares avançou para a criação de uma entidade pública para a exploração do hidrogénio.
Rui Rocha (IL) e Paulo Raimundo terminam os debates às 22h00 na RTP1.
Já esta quinta-feira há apenas um debate, entre Rui Rocha (IL) e Mariana Mortágua (Bloco). É às 18h00, na CNN. Pode ver o calendário completo de todos os debates neste gráfico.
Quem ganhou cada um dos debates? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos por cada um dos frente-a-frente. E explicar porquê. A soma vai surgindo a cada dia, no gráfico inicial.
Rui Rocha (IL)-Paulo Raimundo (PCP)
Ana Sanlez — Passar de um debate entre Pedro Nuno Santos e André Ventura para um frente a frente entre Rui Rocha e Paulo Raimundo é como passar de uma linha de alta velocidade para um comboio a vapor. Não foi o debate mais entusiasmante nem o mais útil. A Iniciativa Liberal e o PCP têm visões diferentes do mundo. Para Paulo Raimundo os privados são o papão, os grupos económicos são a causa de todos os males do mundo e o Estado é a salvação. Para Rui Rocha qualquer vestígio de Estado é Estado a mais, os impostos são para baixar ou para acabar e os privados têm a fórmula mágica do crescimento económico. Estes dois homens não estariam de acordo sobre a cor do céu num dia de sol. Rui Rocha deixou cair o slogan inicial e isso foi bom.
Alexandra Machado — Têm sido, e são, os dois líderes com menos à vontade para estes debates e, por isso, o frente a frente não era esperado com grandes expectativas. Até porque são duas visões do país e da economia antagónicas e não ficaram dúvidas (se as houvesse). Um único elo comum. Os temas não se têm distinguido muito de debate para debate, e invariavelmente este caiu na Saúde, nos impostos, nos salários – já se pediam novos temas…. Esta quarta-feira teve um acrescento, depois do juiz de instrução ter libertado sem medidas de coação três arguidos que estavam detidos para interrogatório, indiciados de vários crimes pelo Ministério Público, há 21 dias. Confrontados com este caso, nem Paulo Raimundo, nem Rui Rocha foram assertivos no que pensam sobre a reforma da justiça, acabando por responder com lateralidades. Foi um debate que não aqueceu nem arrefeceu e, claro, manteve-se dentro do tempo – a RTP só prolongou os debates em que esteve André Ventura, tal como esta quarta-feira aconteceu na CNN…. Quanto ao debate entre dois lados opostos, comunistas e liberais, a última pergunta acabou por ser a mais interessante. Estão os respetivos lugares também a votos dia 10 de março? Paulo Raimundo nunca poderia assumir o que acontecerá, não está nas suas mãos; Rui Rocha assumiu-se liberal, o que o levou a garantir que a liderança vai a votos. “Sou liberal, adoro concorrência”…. Não foi isso que o partido de Rui Rocha mostrou em tempos recentes.
Pedro Jorge Castro — Havia o risco de Rui Rocha se deixar embalar pela jóia de adversário que tinha à sua frente e ainda lhe cravar Entradas Permanentes para o próximo Festival do Avante. Mas, em tom cordato, foi desmontando as propostas do PCP, mostrando o seu irrealismo, com perguntas simples sobre custos da nacionalização de vários setores, por exemplo. Também foi eficaz na questão dos aumentos salariais, na defesa das PPP na Saúde e a mostrar como seria ridículo o Estado não comprar medicamentos a privados para passar a produzi-los. Tem pouco carisma, mas foi suficiente para apontar um mundo a cores, em contraponto com o país a preto e branco sonhado pelo seu adversário. O líder comunista deixou finalmente de usar a expressão “questão grossa”, mas acabou a dizer que “a questão central não é como o Paulo Raimundo se vai safar.” Pois não: a questão central é se o PCP vai sobreviver com um líder tão fraco. Simpático, mas fraco: não foi feito para isto.
Miguel Santos Carrapatoso — Um frente a frente estranhamente positivo atendendo à inexistência de vasos comunicantes entre os dois. Mas Paulo Raimundo e Rui Rocha foram a jogo e trocaram argumentos sem caírem naquela tentação juvenil de vender caricaturas um do outro. Os dois têm projetos de país impossíveis (ou indesejáveis, dependendo da perspetiva) para o Portugal de 2024. Ainda assim, Raimundo, que, manifestamente, não se consegue adaptar a este tipo de formato, acabou por ser o menos convincente: não explicou como é que sobe salários por decreto, não quantificou o preço das nacionalizações que deseja fazer e não conseguiu dar uma resposta sólida sobre o Serviço Nacional de Saúde. Rui Rocha, que está a melhorar muito de debate para a debate, teve pela frente o adversário mais fácil desta temporada.
Ricardo Conceição — Alguém ganhou ou perdeu votos? Não. Foi interessante? Sim, muito. Duas visões políticas para o país num confronto rico e civilizado. Rui Rocha e Paulo Raimundo coincidem nos diagnósticos de alguns dos problemas, mas são completamente antagónicos nas terapêuticas. Foi um debate sobre política, sobre caminhos políticos e isso enriquece a democracia. Este terá sido o debate que melhor correu a Paulo Raimundo, no entanto, o secretário-geral do PCP continua a titubear no momento de apresentar as ideias e sobretudo quando confrontado com perguntas difíceis. Rui Rocha está bem preparado, estuda os adversários e não hesita na hora de apresentar as ideias da Iniciativa Liberal. Um debate esclarecedor e muito rico do ponto de vista ideológico.
Pedro Nuno Santos (PS)-André Ventura (Chega)
Ana Sanlez — Um dos debates mais esperados desta caminhada até 10 de março e que foi tudo aquilo que à partida se esperava: muito (mesmo muito) barulho para quase nada. Pedro Nuno Santos tinha um peso colossal às costas: o de derrotar Ventura sem cair numa luta na lama, manter a postura de candidato a primeiro-ministro e não beneficiar a AD. O líder do PS começou morno, para não dizer apático, até acabar indignado e a gritar “eu não sou frouxo”. O que, por um lado, mostra que Ventura conseguiu aquele que é sempre um dos principais objetivos, que é tirar o opositor do sério. Sendo esse opositor Pedro Nuno Santos, ódio de estimação, esse seria mesmo o foco principal. Por isso até foi de estranhar ter guardado a referência à TAP tão para o fim. Ventura voltou a misturar alhos e bugalhos e a fazer referências avulsas, um Sócrates aqui, um Manuel Pinho acolá, como bom pica miolos que é. Pedro Nuno Santos conseguiu medianamente desmontar as falácias e incongruências do programa do Chega, mas não esteve bem no tema da saúde. Mais um debate com André Ventura que foi muito além do tempo pré-definido.
Filomena Martins — Ao tentar não cair na tentação de escorregar na estratégia já conhecida de André Ventura, Pedro Nuno Santos começou demasiado amordaçado no papel do eu estou aqui como um futuro possível primeiro-ministro. O tema da Justiça e da corrupção é onde a retórica de Ventura mais flui e quando Pedro Nuno respondeu que a “Justiça está a funcionar” — não deve ter havido quem não tenha tido vontade de rir. Mesmo na Saúde, Pedro Nuno não conseguiu sair da ideia ideológica de melhorar o SNS e viu André Ventura atirar-lhe com o dinheiro gasto pelos governos em que esteve e que só deixaram o sistema chegar onde está. Só quando Ventura se começou a aventurar por números, baralhando-se todo, é que Pedro Nuno Santos percebeu que tinha de ir para o ringue. Já levara com os rótulos de ministro trapalhadas, candidato amnésia, gestor por WhatsAPP e de ter um programa Melhoral. Já tinha visto Ventura puxar de José Sócrates, Manuel Pinho e Ricardo Salgado. Lembrou-lhe então o caso de difamação em que foi condenado (e recorreu), o seu passado no PSD (usando até a cor da gravata laranja que levava), o facto de agora nem o único parceiro que tem o levar a sério e descontruiu várias das medidas do Chega. Ia atrasado (Montenegro e Mortágua entraram logo ao ataque). Estava a correr atrás do prejuízo. Ainda se irritou com o “frouxo”. Mas valeu-lhe o golpe no prolongamento, que o debate já ia muito para além do tempo (tem sido sempre assim com o líder do Chega): obrigar André Ventura a esclarecer a declaração em que disse que se a direita fosse maioritária haveria um governo de direita, com ou sem Montenegro…
Pedro Jorge Castro — Ventura falou muito do Melhoral, mas Pedro Nuno parece ter tomado um Xanax, que o adormeceu excessivamente e o deixou sem reflexos rápidos, como se fosse afinal um falso lento. A reação imediata quando o líder do Chega classificou o programa do PS como o do Melhoral foi: “É como o vosso”. Deixou Ventura queixar-se várias vezes das interrupções. Levou tareia fácil nos casos de Sócrates, Pinho e Salgado; na Saúde, na governação por Whatsapp e na habitação. Só no fim, quando passou o efeito do calmante, é que Pedro Nuno ganhou ascendente, a descredibilizar as propostas de Ventura, a lembrar o seu passado no PSD e a entalar o adversário com as garantias que lhe terão sido dadas sobre a governação. Mas era tarde. E teve de dizer que não era frouxo. Ventura teve o melhor debate desta campanha. Pedro Nuno saiu-se pior do que Mortágua contra o mesmo adversário: não preparou nem geriu bem isto — hesitou entre a elevação e a combatividade e ficou a meio.
Miguel Santos Carrapatoso — Um debate a dois tempos e, por isso, equilibrado. Ao contrário do que tem sido habitual, André Ventura apareceu mais sólido nas questões programáticas e o tema do dia – a Madeira – favoreceu-o. Pedro Nuno Santos dizer que a Justiça “funciona” é de quem vive em Marte. Tanto que acabou por concordar com Ventura quando disse que era inaceitável haver um antigo primeiro-ministro à espera de ser julgado há dez anos – e é. No tema da corrupção, Ventura continua a fingir que quer muito combatê-la, mas não consegue ir para lá da demagogia. Infelizmente para o PS, Pedro Nuno não tinha grande coisa de útil a dizer. Na Saúde, Pedro Nuno apresentou uma medida – obrigar médicos a período de dedicação ao SNS após a especialidade – e, esta noite, depois das críticas, veio sublinhar que é só para tentar negociar. Ventura, que repete a fórmula das PPP como Santo Graal para a Saúde, disfarçou as insuficiências do Chega. Sobre as forças de segurança, o melhor que o socialista conseguiu foi ir buscar as manifestações contra o governo de Pedro Passos Coelho para lembrar o passado de Ventura como social-democrata. A balança só começou a pender para o lado de Pedro Nuno quando o tema foi o acesso à habitação, onde André Ventura não tem uma proposta digna desse nome – aliás, pelo contrário, uma vez que defende o regresso dos vistos gold e do regime de não residentes — e na parte fiscal, onde o líder do Chega se limita a dizer que quer baixar tudo sem apresentar uma única conta. Saído do estado de apatia, Pedro Nuno lá conseguiu explicar como é que Ventura, o tal candidato antissistema, tem propostas absolutamente irrealistas e que, na ânsia de pertencer ao sistema, representa o pior que o sistema tem: aquele que permite a quem tem responsabilidades políticas vender falsas promessas para ganhar votos. Foi o suficiente para inverter a derrota clamorosa que se estava a desenhar. Pedro Nuno tinha obrigação de ficar por cima neste embate – como conseguiram Luís Montenegro e Mariana Mortágua. Não conseguiu.
Ricardo Conceição — Pedro Nuno Santos não hesitou em dizer que o seu oponente mente e em vários momentos conseguiu encostar André Ventura à parede. Mas o líder do Chega nunca foi ao chão, se me é permitida a analogia com o boxe. A luta política deve ser sempre travada com as ideias e nunca com os punhos ou com os golpes baixos do insulto. André Ventura foi eficaz para o seu eleitorado e apresentou-se de gravata laranja vivo. Quis dizer ao centro-direita que ele é a verdadeira laranja e não Montenegro. Mas depois deita a gravata a perder quando não resiste em apelidar de “frouxo” o seu adversário ou de “ministro trapalhadas”. Ventura não consegue evitar baixar o nível para chegar a tudo e a todos, mesmo que isso signifique desperdiçar o potencial político dos erros cometidos pelo secretário-geral do PS. Pedro Nuno Santos, que não tem medidas de fundo para apresentar no campo da Justiça, por exemplo, conseguiu ser igual a si próprio sem nunca cair na armadilha arruaceira de Ventura. Esteve melhor e venceu.
Rui Tavares (Livre)-Inês Sousa Real (PAN)
Ana Sanlez — No primeiro de três debates do Dia de São Valentim, não houve muito amor no ar entre Inês Sousa Real e Rui Tavares. Disputam exatamente o mesmo eleitorado e apesar de concordarem em quase tudo, em teoria, pareceu que nenhum dos dois se importaria muito que o outro fosse borda fora (Rui Tavares quase conseguiu ser convincente quando “convidou” o PAN para uma possível futura eco-geringonça). Os dois partidos têm beneficiado de moderadores que muitas vezes têm trazido os seus temas bandeira (ambiente, proteção dos animais, etc.) para o centro dos debates, independentemente do oponente. Pelo menos hoje isso fez sentido. Os espectadores puderam aprender sobre o potencial do grafeno, das baterias de sódio e sobre a extinção do lobo ibérico, da cabra das Desertas e dos veados da Lousã. Na luta por ver quem é mais ambientalista, Rui Tavares acabou por ser mais convincente (e sensato) quando falou da incoerência do PAN no apoio ao PSD Madeira e no facto de o partido de Sousa Real “ir atrás de títulos de jornal” em certas causas, como o Data Center de Sines, e pedir logo a suspensão dos investimentos sem os reavaliar.
Alexandra Machado — Um debate que provocou danos a quem diz ser a mais ecologista do Parlamento. Inês Sousa Real tem usado, nos vários debates, os mesmos argumentos e traz à baila os mesmos temas, seja quando está frente-a-frente com a direita, seja quando está com a esquerda. Rui Tavares chegou e sobrou para a porta-voz do PAN, e encurralou-a com o tema da Madeira – acusou o PAN de incoerência com o acordo (com PSD) que fez, disse Sousa Real, porque na Madeira não há touradas. Mas houve, segundo atirou Rui Tavares, “massacres das cabras das desertas” por um governo “que se vai apoiar, embora não se tenha dito na campanha que se ia apoiar”. Um ko para Inês Sousa Real. E não foi o único neste debate muito pouco ecofriendly. Concordaram, no entanto, na resposta a Pedro Nuno Santos na contestação ao apelo ao voto útil. Ambos já debateram com o líder do PS mas foi já nos pós-debates que a resposta chegou. Tavares repetiu a ideia de que o voto no PS nem serve para implementar as ideias do PS e Sousa Real assumiu que o PS defraudou a confiança dos seus eleitores. Livre e PAN continuam a enumerar medidas que acabaram implementadas por sua sugestão para argumentarem que fazem a diferença.
Filomena Martins — Entraram caçadas a veados, raposas mortas à paulada e cabras das Selvagens.
E, claro, as inevitáveis touradas.
Entraram os animais madeirenses massacrados, mas que não conhecem ideologias.
E muitas justificações (de Inês Sousa Real).
Entraram desacordos sobre o lítio por causa do lobo ibérico.
E tudo mais foram pequenos nadas.
Em termos ecológicos houve pequenas divergências dentro da grande convergência do Livre e do PAN. Rui Tavares e Inês Sousa Real também estiveram unidos para recusar a “chantagem do voto útil” do PS. Pelo que a maior utilidade deste frente a frente foi ter trazido, pela primeira vez, e em força, o tema da Justiça para cima da mesa (que tem parecido um tabu político). Com os arguidos detidos da Madeira acabadinhos de serem libertados, Rui Tavares pediu um grande debate nacional e falou em crises de regime. Sousa Real é pela aposta em mais meios, mas defendeu as investigações em curso que suspenderam projetos contra o ambiente, entre eles o Data Center de Sines e dois na Madeira. E foi aqui que Rui Tavares a atacou com a aliança a Albuquerque e ela se defendeu com os animais sem partidos. Começou então o duelo de quem defende mais os bichos e o ambiente, numa eco-geringonça que parecia uma roda de hamsters.
Helena Matos — O lobo ibérico e a cabra das Desertas atravessaram este debate e deixaram bem visível o rasto da demagogia e da ignorância de Inês Sousa Real. Ficou bem patente que Inês Sousa Real se limitava a repetir slogans sobre o risco do habitat do lobo, caso o lítio fosse explorado em escombreiras como defendia Rui Tavares e mais ainda ficou sem pé quando Rui Tavares trouxe à discussão a extinção da cabra das Desertas. A líder do PAN está para a defesa do ambiente como Gonçalo da Câmara Pereira está para a defesa dos valores do PPM de Gonçalo Ribeiro Teles: pegaram numa sigla e utilizam-na. Hoje esse expediente ficou bem patente no caso de Sousa Real (no de Câmara Pereira nem foi preciso tanto tempo). Neste debate Rui Tavares estava muito melhor documentado sobre a exploração do lítio ou do hidrogénio (que depois defenda que tal aconteça em grandes empresas públicas é outra conversa) do que a líder do PAN cujo objectivo se esgota na suspensão de projectos. Da Madeira a Lisboa, de um teleférico à exploração de lítio, tudo politicamente é justificado pela líder do PAN se os projectos forem suspensos. Não fosse aquela monomania de Rui Tavares em torno do projecto do grafeno desenvolvido no Técnico que a Galp não quis apoiar e que o líder do Livre já contara noutro debate para justificar a sua opção pelas empresas públicas e até se podia dizer que Rui Tavares arrasou. Nos outros assuntos tratados neste debate que até começou por se focar na Justiça a desproporção entre Rui Tavares e Sousa Real foi também patente, mas eu nestas coisas sou mesmo ambientalista: o lobo e a cabra decidiram este debate entre os humanos que nos têm feito companhia como deputados únicos.
Ricardo Conceição — PAN e Livre estão disponíveis para uma eco-geringonça, é isto. Podemos passar ao próximo debate. O encontro entre Inês Sousa Real e Rui Tavares teve pouca história e até foi aborrecido. Ambos cumpriram a missão. PAN e Livre estão unidos no combate ao apelo ao voto útil no PS e por isso, desfiam um interminável rol de medidas que conseguiram fazer aprovar na legislatura que agora finda. Houve um momento de maior tensão quando se falou na rota do Lobo Ibérico e no “massacre” das Cabras das Desertas, segundo Rui Tavares. Inês Sousa Real, líder do PAN, partido que “casou” e se “separou” de Albuquerque na Madeira, não chegou a explicar o que pensava da alegada matança de gado caprino nas ilhas inabitadas, que se vêm do Funchal. Venha o próximo debate, por favor.
Pode ver aqui as notas do debate desta segunda-feira e terça-feira.
Pode ver aqui as notas dos debates da primeira semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.