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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Diário de Lisboa. Portas com Cristas no CDS. Negrão substitui Santana doente na campanha do PSD

Carrinha do CDS foi bloqueada pela EMEL. Portas apareceu. Negrão, que teve o pior resultado do PSD em Lisboa, substitui Santana que está doente. Ferreira, da CDU, queixa-se da "manipulação mediática".

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Faltam três dias para o fim da campanha. O PSD madrugou esta quarta-feira para Teresa Leal Coelho andar de metro a hora de ponta e à tarde deveria contar com a presença de Pedro Santana Lopes, mas o ex-líder adoeceu e só deverá estar na campanha amanhã. Em contrapartida, houve uma arruada com Fernando Negrão, que tem no currículo o pior resultado de sempre do PSD em Lisboa: 15%. As comparações são inevitáveis. Assunção Cristas viajou de catamaran pelo Tejo, prometeu cartas de marinheiros para estudantes — viu a carrinha do partido multada pela EMEL — e à tarde recebeu a visita de Paulo Portas. Fernando Medina foi aos bairros populares de Alfama e à Graça encontrar moradores e desviar-se de turistas. João Ferreira, que se queixou da comunicação social de manhã, tem a companhia de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, no Bairro Alto. E Ricardo Robles, do Bloco, almoçou na cantina do Pólo Universitário da Ajuda com estudantes e professores.

Ontem o dia em Lisboa foi assim:

Diário de Lisboa. “Um dia pode até ser candidato a primeiro-ministro”, ouve Medina na rua

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PS. Medina nos bairros históricos em dia de acordo da CML com moradores

O apelo ao voto pelo candidato do PS vale até esticar-se até quem está no primeiro andar

A frase: “Hope you enjoy your travel”, Medina quando se cruzava com turistas, por Alfama.

A promessa: Alterar a lei das rendas para proteger moradores das zonas com mais dinâmica turística.

O que ouviu: “Mas estou lá com ratazanas e o tecto a cair”, ouviu o candidato socialista de uma senhora que está à espera de uma resposta para habitação municipal.

Graça e Alfama foram os dois bairros históricos que Fernando Medina escolheu para visitar na manhã do dia em que a câmara firmava 16 contratos de habitação para proteger os moradores da Rua dos Lagares, na Mouraria, que estavam em risco de despejo. Em tempo de campanha porque o acordo com o proprietário atirou para esta data, garante o autarca, . O tema é incontornável nesta zona da cidade, em que a atividade turística está a tomar muitos dos edifícios e deixar fora os locais. O candidato do PS e atual presidente da Câmara diz que prefere “ter estes desafios” do que os que tinha “há dez anos, que eram da desertificação e da degradação urbana” nesta zona da cidade.

Na Rua dos Lagares, número 25, a situação até chegou a público e a Câmara interveio com acordos para travar o despejo dos moradores do prédio que foi comprado por uma empresa que o quer converter em alojamento local. A promessa estava feita e os acordos estão a ser assinado durante esta quarta-feira, no gabinete da CML no Campo Grande. A caravana socialista não passou pela rua, mas ao Observador, Fernando Medina disse que estão a ser assinados 17 acordos, relativos a 16 agregados e um de um espaço não habitacional, o que envolve 40 pessoas.

O acordo garante que as pessoas possam continuar nas casas e também que sejam realizadas obras pelo proprietário, em contrapartida, os moradores não se opõem a que sejam feitos novos contratos, com prazos de 5 anos, e sem alteração do valor das rendas que constam nos contratos originais. Foi apresentada como uma vitória da câmara municipal em agosto, mas a resolução final chega agora, em plena campanha eleitoral, garante o candidato ao Observador. A vereadora da Habitação (recandidata na lista de Medina, pelo Movimento Cidadãos por Lisboa) explica que “no dia 4 de agosto foi assinado o acordo com os proprietários e esse acordo tinha timings”. “A data-limite para a assinatura era 24 de setembro, como calhava um domingo, combinámos com os moradores que seriam assinados hoje”.

A arruada que fez pelos bairros históricos, esta manhã, ficou marcada pelo entra e sai de estabelecimentos comerciais e também pelo pedido de uma moradora, praticamente no começo da ação de campanha. Queria uma casa e queixava-se da “presidenta” da Junta de Freguesia de São Vicente, a socialista Natalina Moura, que estava mesmo ao lado do candidato do PS. Medina esteve alguns minutos a ouvir o caso da senhora que, depois de ter sido vítima de violência doméstica, saiu da casa que lhe tinha sido atribuída pela câmara. Passou a viver noutra, onde cuidava de uma senhora de idade que entretanto morreu. E mantém-se nessa morada. “Mas não a tiraram de casa”, concluiu o socialista quando finalmente percebeu a história. “Mas estou lá com ratazanas e o teto a cair”, atirou a senhora que acusa a presidente da Junta de estar há meses sem lhe dar resposta. O candidato e presidente prometeu “ver isso”, ao mesmo tempo que a interlocutora lhe dizia: “Eu não digo mal do senhor”. “Mas até pode dizer, não tem problema nenhum”.

De resto, não ouviu grandes pedidos e, ao lado do ator Ricardo Carriço, até chegou a ser menos ele o alvo da atenção de quem passava ou estava à porta dos cafés. A abrir a arruada ia, mais uma vez, a banda que se fez ouvir mais forte quando entrou pelas ruelas de Alfama. Aí Medina teve sobretudo turistas pela frente a quem também distribuía rosas vermelhas, cumprimentos e um incentivo sempre igual: Hope you enjoy your travel. Pelo caminho ia apontando o outro lado do negócio turístico que também é aproveitado pelos locais, como o caso da banca da Arminda de Alfama, que vende copos de ginjinha a quem passa. O candidato anotou a ideia de negócio, mas não se aventurou na bebida. A vendedora gritava “Não vejo ninguém a comprar nada. Têm diabetes!”.

Ali é onde os adversários, sobretudo a CDU, têm apontado mais o dedo ao socialista, falando no “negócio da especulação imobiliária” que está a afastar os moradores dos bairros. Mas o candidato do PS atira para a lei das rendas — de Assunção Cristas — a responsabilidade pelo que se está a passar naquela zona da cidade, dizendo que “a Câmara não tem qualquer competência em matéria de arrendamento”. Afirma também não poder “exercer direito de preferência em todas as aquisições que acontecem na cidade”, por falta de capacidade financeira.

Mas também explica que “a dinâmica de grande saída de população que estes bairros sofreram foi nas décadas de 80 e 90“. E prefere fixar-se na metade cheia do copo: “Há quatro anos se aqui viesse, grande parte das casas estavam por reabilitar. Há dez anos, cerca de 40% da casas em Alfama estavam devolutas. Hoje, graças ao dinamismo na atividade económica, vimos hoje Alfama a ser reabilitada reocupada” e “a ter novo comércio”, diz o presidente da câmara e candidato do PS.

CDS. Portas pede “a quem não é de esquerda, ou à esquerda desiludida”, que vote Assunção Cristas

A frase: “No CDS os galões ganham-se no terreno. Saber quem fica em primeiro, segundo ou terceiro lugar, só os eleitores vão dizer, mas eu acho que a Assunção está bem posicionada. Parece-me…”. Paulo Portas comentando o facto de não comentar sondagens.

A promessa: Todos os alunos do básico ao 12º ano devem ter a possibilidade de praticar um desporto náutico, da vela ao remo ou canoagem. Juntas de freguesia e câmara devem também dar condições para que os alunos tenham a hipótese de terminar a escolaridade obrigatória com carta de marinheiro.

O que ouviu: “Não esperem de mim qualquer interferência na vida do partido, os presidentes eleitos precisam de ter o caminho livre”, disse Portas. Assunção Cristas respirou de alívio.

Paulo Portas veio de Luanda, Angola, e ficou pacientemente à espera da sua sucessora n’A Mexicana. A arruada do CDS tinha partido do café…Luanda, na Avenida Estados Unidos da América, mas qualquer analogia entre os nomes dos cafés e a vida profissional do ex-líder do CDS, que é consultor da Mota-Engil para o mercado da América Latina, é pura coincidência. A combinação era essa: Paulo Portas não se juntaria ao grupo que desceu toda a Avenida de Roma a fazer barulho e a distribuir beijos e abraços (coisa que se habituou a fazer, e a fazer bem), mas beberia um café com a candidata do CDS a Lisboa e, claro, apareceria nas televisões a apoiá-la. O grande abraço que deram quando se viram, de resto, ficaria certamente registado por todas as objetivas.

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“Os presidentes eleitos precisam de ter o caminho livre”, diria depois Paulo Portas já com Assunção Cristas ao lado, os dois no meio de uma bolha apertada de jornalistas. O compromisso era esse desde o início. Quando abandonou a liderança do partido, ao fim de 16 anos, Portas garantiu que não iria interferir na vida do partido, mas também prometeu, lembra agora, que “na altura das eleições, apesar de ter uma vida profissional muito ocupada”, arranjaria “sempre um momento para dar apoio” à sua “líder”, à sua “bandeira” e à sua “gente”.

Foi o que fez esta quarta-feira, naquele café da Avenida de Roma. “O que eu quero dizer à nossa gente é que Assunção Cristas fez uma campanha inteligente, preparou-se com tempo, fez campanha de proximidade e de terreno. E eu acho que, para quem não é de esquerda e, porventura, para gente de esquerda desiludida, a dra. Assunção Cristas é a melhor opção no próximo domingo”, disse, pedindo aos eleitores “que não se deixem tentar pela abstenção”. Incluindo os “indignados”.

Portas não tocou no tema PSD, nem na eventualidade de Cristas poder vir a ficar à frente de Teresa Leal Coelho, nem no não-apoio de Passos à candidatura do CDS em Lisboa. Mas os elogios a Assunção Cristas foram muitos, e a comparação com a candidatura de Teresa Leal Coelho ficou nas entrelinhas. “A Assunção arriscou muito ao ser candidata da maior autarquia, de um sinal de coragem, foi para o terreno, fez o trabalho de casa e se as pessoas compararem as candidaturas, a dela é a melhor, é a mais bem preparada”, disse. E continuou: “Devem dar o benefício da dúvida a quem mais trabalhou para merecer o voto”. Ou seja, uma trabalhou mais do que a outra. A comparação não inclui Fernando Medina.

O abraço inicial foi aparatoso mas o encontro foi fugaz. Sentaram-se ambos à mesa do café, com João Gonçalves Pereira (número 2 de Cristas), Telmo Correia (ex-candidato à câmara de Lisboa) e Carmona Rodrigues (ex-presidente da câmara, do PSD, que é mandatário da candidatura da líder do CDS), pediram café e água, e posaram para as fotografias. Estava cumprida a tarefa.

Para trás, Cristas deixou um rasto barulhento na Avenida de Roma, tendo feito precisamente o mesmo trajeto (mas em sentido inverso) que, na terça-feira, Teresa Leal Coelho tinha feito com Marques Mendes. Se o objetivo fosse comparar os dois em número de pessoas e em decibéis, a vitória seria clara para os azuis e brancos. Mas não é assim que se medem os votos.

Em todo o caso, e apesar de na campanha de Assunção Cristas ninguém querer comentar sondagens nem entrar em comparações com a campanha do PSD (estratégia que Paulo Portas aprova, dizendo que a “dra. Assunção fez bem em não se posicionar nesse tipo de avaliações”), houve quem na comitiva não tivesse resistido a perguntar ao Observador, que esteve nas duas iniciativas, qual tinha sido a diferença da mancha de gente do PSD em relação à do CDS. “Foi para aí menos de um terço, não?”

CDS. Cristas vai de barco propor carta de marinheiro no currículo escolar, e… é bloqueada pela EMEL

Se campanha sem incidentes não tem graça ,esta quarta-feira aconteceu um tão divertido como irónico. A meio da tarde, uma surpresa começou a circular nas redes sociais: a carrinha do CDS que anda pela cidade a fazer publicidade à candidatura de Assunção Cristas tinha sido bloqueada pela EMEL. Segundo fonte da campanha, os fiscais atuaram ao fim da manhã, pelas 12h, na Avenida D.Carlos I, por a viatura estar estacionada em cima de um passeio. Tudo isto um dia depois de Cristas ter andado numa ação de campanha a distribuir folhetos e a propor “borlas” na EMEL aos residentes…

Questionada sobre o incidente, que serviu de mote para inúmeras piadas na internet, Assunção Cristas viria a dizer que “aparentemente a carrinha contratada pelo CDS estava provisoriamente mal estacionada”. Multa paga, caso arrumado. O problema é a EMEL caçar multas aos moradores, diria depois, dando um exemplo fresco do que uma comerciante lhe tinha dito minutos antes na Avenida de Roma: “Na primeira loja que entrei aqui na Avenida de Roma, a dona da loja disse que o comércio local estava morto porque não há lugar para estacionar, e mesmo os clientes que param por 10 minutos para comprar flores acabam multados”.

De manhã, a líder do CDS tinha começado a campanha num lugar onde não há rodas nem bloqueadores: no rio Tejo.

Primeiro, um tanque para simular remo, onde a equipa do CDS esteve “afinada e sincronizada, a trabalhar no mesmo sentido”. Depois, um catamaran que levou a comitiva desde a doca de Santo Amaro à doca de Pedrouços. A oportunidade era para falar de mar e rio, mas os jornalistas querem saber de cenários eleitorais e pós-eleitorais. Só que Assunção Cristas não fala de Teresa Leal Coelho, nem sequer admite o dissabor que será ficar em terceiro lugar no domingo, depois de algumas sondagens a estarem a colocar à frente do PSD.

“Não darei outra resposta, porque esta é a resposta certa. Se dou a resposta certa não vou dar outra qualquer. O meu foco é Fernando Medina”, diz, depois de muita insistência no facto de nunca fazer comentários sobre o taco-a-taco aparente entre as candidatas do PSD e do CDS. Sobre sondagens, nem quer falar: o CDS está “vacinado” contra elas. “Na rua sinto um grande acolhimento e, de resto, não valorizamos sondagens, nem quando são aparentemente melhores ou piores, estamos vacinados contra sondagens”, diz.

Mas no dia mundial do Turismo, a ex-ministra do Mar (e da Agricultura e do Ambiente) quis destacar as suas propostas para aproveitar o Tejo e o mar que serve a cidade de Lisboa. Uma delas passa por fazer com que “os alunos e crianças não fiquem na margem e entrem dentro do rio e do mar”. Como? Primeiro, integrando no desporto escolar o acesso a desportos náuticos como o remo, vela ou canoagem. Depois, criando as condições, através de ação da câmara e de protocolos, para que os jovens cheguem aos 12º ano com a carta de marinheiro tirada.

Não é demasiado ambicioso? “Não é um objetivo para um ano, é para iniciar com quem está agora a começar a escolaridade”, diz, explicando que as “escolas devem organizar-se em conjunto com associações dos vários desportos, e as câmaras e juntas devem apoiar, estabelecendo protocolos para que não seja caro fazer carta de marinheiro”. Objetivo: “Criar uma geração oceânica” para que “muitos destes jovens possam progredir e encontrar na área do mar uma área interessante para desenvolver as suas atividades”. Porque o mar, disse, “é uma economia de futuro”.

Os projetos da candidata do CDS neste âmbito passam ainda por requalificar o antigo edifício da Docapesca, com recurso a financiamento privado, na doca de Pedrouços, e construir ali uma autêntica “cidade do mar”, chamando empresas, investigadores e startups ligadas ao mar. “Lisboa deve ser o sítio onde tudo acontece na área da economia azul”, diz.

O passeio terminou com uma visita ao local da Volvo Ocean Race, na doca de Pedrouços, e com a candidata a subir ao local onde os barcos são minuciosamente preparados. À tarde espera-a um lanche animado: Paulo Portas já confirmou, e juntar-se-á à comitiva do CDS para um café com a sua sucessora. O ex-líder não irá, contudo, participar em qualquer passeio pelas ruas. Apenas um café dentro de portas. Literalmente.

PSD. Com Santana doente, Leal Coelho teve Negrão como convidado, o pior candidato de sempre

A frase: “Os tempos mudam tudo. A história não se repete”, disse Fernando Negrão, que teve o pior resultado de sempre do PSD em Lisboa.

A promessa: Extensão da linha vermelha a partir de São Sebastião, com estações em Campolide, Amoreiras, Campo de Ourique, Prazeres, Alvito, Santo Amaro, Pólo Universitário da Ajuda, Alto do Restelo, Restelo e Algés, cobrindo a zona ocidental da cidade “que tem sido totalmente esquecida pela rede de transportes públicos”.

O que ouviu: “Estou muito bêbedo, mas respeito-a muito. Vou votar PSD, em Leiria, mas quero que a senhora ganhe em Lisboa.”

Teresa Leal Coelho pode queixar-se da sorte. Depois de Morais Sarmento ter faltado a uma ação, Pedro Santana Lopes adoeceu. O dia era para ter sido marcado por um encontro com a “alma do PSD” no rooftop (nome que se dá aos terraços na Lisboa pós-vaga de turismo) do Hotel Mundial, mas acabou no rés-do-chão do mesmo hotel com Fernando Negrão.

Para uma candidatura que as sondagens apontam mínimos históricos de 15%, a escolha de Negrão para tapar o buraco na agenda deixado por Santana Lopes é preenchido pelo candidato cuja performance não deixa saudades no partido. Em 2007, o atual deputado do PSD foi escolhido por Marques Mendes, que então liderava o partido, para a corrida à capital e teve o pior resultado de sempre do PSD em Lisboa: 15,74%. Na sequência desse score, Mendes perdeu a liderança do partido para Luís Filipe Menezes.

Por ironia ou azar, até a percentagem de Negrão, a pior de sempre, está na casa dos 15%, a mesma de Teresa Leal Coelho nas sondagens. Ambos, quando param para falar aos jornalistas no meio da arruada, já no Largo de S.Domingos, desvalorizam a comparação. Que era óbvia a partir do momento que o antigo candidato à câmara foi convidado. O antigo candidato explica que foi dar o seu apoio a Teresa Leal Coelho e que não acredita que sejam batidos os seus mínimos históricos, já que “os tempos mudam tudo” e a “história não se repete”. “Estamos todos muito confiantes”, acrescenta, numa declaração quase telegráfica.

É certo que a história não se repete. Mas, em 2007, Fernando Negrão também se candidatou sem o apoio do CDS (tal como agora), Carmona ficou em segundo (e agora é mandatário de Assunção Cristas, que as sondagens apontam estar em segundo) e há um candidato do PS forte que vai a votos pela primeira vez em Lisboa como presidente (embora Medina já seja presidente e Costa viesse do Governo).

Teresa Leal Coelho também desvaloriza, lembrando que fez parte da lista de vereação de Fernando Negrão nessa altura com “muita honra”. Recorda que, na altura, foi uma “campanha extraordinária”, que se realizou em “circunstâncias muito difíceis”, já que “havia dois candidatos da mesma área política e eram os dois do PSD”. Contexto que não existe agora.

Na rua, Teresa bem tenta interagir, mas a dinâmica não é a melhor. Chegou a correr atrás de um eleitor para lhe dar um folheto e pedir-lhe que votasse. Ele lá parou. Mas tudo muito forçado. Os gritos da jota, vão-se esbatendo a cada passo, a cada virar de esquina. O mais entusiasta apoiante da vice-presidente do PSD foi um estudante bêbedo no Rossio e, mesmo esse, vota em Leiria. “Voto no PSD, mas voto em Leiria. Ainda assim espero que a senhora ganho. Estou muito bêbedo, mas respeito-a muito”. Os estudantes ainda gritaram pelo PSD e pela “Teresa Leal Coelho”, mas o tom não era sóbrio.

Nem o momento de declarações aos jornalistas correu bem. Na zona mais cómoda estavam mais estudantes, em praxe. Um deles mandou um impropério enquanto Teresa Leal Coelho falava para as televisões, rádios e jornais. De resto, a candidata lá foi repetindo o que tem dito dia após dia: que Lisboa pode ter 900 mil habitantes e que há lisboetas que em 2017 não têm casa de banho em casa.

A sorte não está com Teresa. Sexta-feira volta a ser dia de Euromilhões e Santana Lopes irá, finalmente, à campanha de Teresa. Talvez dessa vez, ao contrário desta quarta-feira, lhe saia a sorte grande. Com o patrocínio do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

PSD. Teresa vai de metro como lata em sardinha: “É preciso tirar um doutoramento”

Passava pouco das 8h e faltava 1 minuto e meio para o metro chegar. Nada mau. O metro chega e…oops, não dá para entrar. A última pessoa que conseguiu entrar na carruagem já ia ficando sem pés, quase entalados nas portas. É melhor esperar pelo próximo. Esta quarta-feira, quem madrugou foi Teresa Leal Coelho. A candidata do PSD a Lisboa foi fazer uma viagem de metro desde Entrecampos até ao Rato, pela linha amarela, em plena hora de ponta. “É verdade, parecemos sardinhas em lata. Nós não estamos aqui com o horário contado mas as pessoas que apanham o metro têm os minutos contados para irem trabalhar, e muitas vezes têm de esperar pelo segundo metro, como nós, para conseguirem entrar”, diz Teresa Leal Coelho, já dentro da carruagem, agarrada a um apoio superior do metro.

O objetivo era “chamar a atenção para as condições em que as pessoas todos os dias vão trabalhar”. De facto, assim foi. “Carruagens apinhadas, atrasos sistemáticos, e falta articulação e coordenação entre os transportes, sobretudo entre o metro, a Carris e a Transtejo”, diz a candidata, sublinhando que cada um é gerido de sua maneira, o metro está nas mãos do Governo, a Carris nas mãos da câmara. “Quase é preciso tirar um doutoramento para se perceber qual é a melhor forma de conjugar os transportes para se chegar onde se quer”, diz.

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Para a candidata do PSD, que defende a concessão do metro a privados “por períodos não muito longos, de 8 a 9 anos”, o investimento da desejada expansão do metro até Belém e Algés, deve caber a privados. Porque os custos, diz, são elevados: “Um quilómetro de metro custa entre 65 a 70 milhões de euros, e em média cada estação custa cerca de 40 milhões”, por isso só faz sentido equacionar o alargamento quando houver “condições de sustentabilidade”. E não há, ainda.

O projeto do governo socialista, e de Fernando Medina, passa pelo alargamento através de uma linha circular, do Rato à Estrela e a Santos, juntando com o Cais do Sodré. O que, para Teresa Leal Coelho não faz sentido, porque não é aí que está o grosso das pessoas. Segundo Luís Newton, atual presidente da junta da Estrela, do PSD, e recandidato ao cargo, “um terço da cidade ainda não tem metro, o que dá um total de 110 mil habitantes sem metro”. É a esses que o PSD quer dar resposta.

Luís Newton defende a expansão da linha pela Estrela, passando por Alcântara, Ajuda e Belém, lembrando que todos concordaram com este alargamento, mas que o PS foi o único que votou contra na Assembleia Municipal. Mas apenas, disse, porque está “condicionado pelas opções governamentais”. “Arrisco-me a dizer que o PS também defende esta proposta, mas está condicionado”, afirmou, acrescentando que o presidente da câmara, Fernando Medina, “foi completamente atropelado neste processo”. Pelo Governo, do mesmo partido, leia-se.

Sempre em pé, na carruagem, entre encontrões e tentativas de equilíbrio, Teresa Leal Coelho disse que é com base em fundos comunitários que o projeto deve ser financiado. Mas sempre com uma “visão integrada” entre Lisboa e o resto do país. “Não podemos esgotar os fundos comunitários em Lisboa, somos a capital mas temos de ter uma visão integrada do país também”, disse. Chegados ao Rato, a candidata despediu-se apressadamente. Afinal, tinha horário, e já estava atrasada para ir dar uma aula de Direito Administrativo Internacional. É que, entre a azáfama da campanha, Teresa Leal Coelho não tem faltado a nenhuma aula. E os alunos apoiam-na? “Muito!”.

CDU. Ferreira reclama o pódio e critica atenção mediática a CDS e Bloco

A frase: “Há forças que têm metade da representação da CDU na CML [CDS] que têm mais do dobro da cobertura mediática. Há forças que não têm representação na CML [Bloco de Esquerda] que estão a ter nesta campanha uma cobertura mediática maior do que a CDU.”

A promessa: Continuar a defender o comércio tradicional na autarquia como fez ao longo dos últimos quatro anos.

O que ouviu: “Falei-lhe em trabalho e já está a mudar de conversa? Há aqui muito trabalho”.

Mal entrou no Mercado da Ajuda, João Ferreira já ia com ela fisgada: denunciar que a CDU tem sido prejudicada pela comunicação social. Numa das bancas de fruta, a vendedora Isabel Santos, começa por dizer: “O nosso partido é o melhor, é pequeno mas é o melhor”. O candidato da CDU conseguiu o pretexto que precisava para indiretas à comunicação social: “Não somos pequenos, não. Somos a terceira força política em Lisboa, mas estes senhores da televisão [aponta para a câmara da RTP] não devem ligar a isso. Estão mais interessados em outros mais pequenos”.

O candidato da CDU vai tendo boa recetividade nas bancas, até que, na zona do peixe, encontra uma vendedora mais arisca. “Querem trabalhar? Há aqui muito trabalho”, questiona. João Ferreira tenta justificar porque não ajuda a amanhar peixe, dizendo que está “a lutar para que lute com mais condições e tenha mais clientes”. Ouve de resposta: “Mudou logo a conversa assim que falei em trabalho, venha para o lado de cá, há muito trabalho”.

Mais à frente, noutra banca do peixe, tudo corre melhor. “A CDU é dos nossos. É dos pobres. Não é dos de barriga cheia”, ouve o candidato. Que responde: “Tem razão minha senhora, precisamos de ganhar força. Tem de ir votar no dia 1 de outubro.” Vai lembrando que, como vereador, tentou que nos tempos da crise os vendedores dos mercados pagassem rendas mais baixas. A vendedora vai dando a ideia de como revitalizar o mercado (que é dividido numa zona alimentar e outra de feira): “É preciso os ciganos terem ali mais coisas, mais roupa. Não têm ali quase nada. Os ciganos trazem muita gente aqui”.

Outros comerciantes vão conhecendo Joaquim Granadeiro, último presidente da junta da Ajuda da CDU. “É graças a si que tenho esta banca“, diz um deles. João Ferreira vai aproveitando a popularidade do ex-autarca. E houve conselhos que avisa que não vai aplicar, quando um vendedor lhe diz que “para ganhar tem de fazer excursões e grandes almoçaradas, senão nunca ganha”. João Ferreira explica que é “importante” esse tipo de lazer, mas há coisas mais prioritárias.

A uma senhora que não sabe ler, João Ferreira detém-se mais tempo. Dá uma pequena cartolina que ensina a votar. Pede-lhe que vote CDU e insiste para deixar o panfleto: “Pelo menos vê as carinhas dos nossos candidatos”.

A ação foi rápida e terminou como no início. Com críticas à cobertura mediática, lembrando, mesmo que não tenha sido essa a pergunta, que se vivem “tempos de manipulação mediática que tentam esconder esse facto, mas a CDU é em Lisboa a terceira força política”. E deixou ainda críticas à importância que é dada a CDS e BE:

Há forças que têm metade da representação da CDU na CML [CDS] que têm mais do dobro da cobertura mediática. Há forças que não têm representação na CML [Bloco de Esquerda] que estão a ter nesta campanha uma cobertura mediática maior do que a CDU.”

Mas João Ferreira não quer ser queixinhas (“não entenda isto como uma queixa”), nem arranjar desculpas se as coisas correrem menos bem: “Nós nunca deixámos nas mãos de outros a construção desse resultado. Pese embora esta pouca atenção da comunicação social, sentimos a recetividade por parte da população da cidade.

A dois dias do final da campanha, João Ferreira admite aceitar pelouros de outras forças (bem como atribuir esses pelouros, casos seja eleito presidente). O candidato da CDU explica que a coligação que une PCP e PEV tem “uma conceção do poder local plural, democrática, aberta: onde somos maioria temos por hábito atribuir pelouros a outras forças. Há situações em que não somos maioria e assumimos responsabilidades no executivo, sempre que consideramos que estão reunidas as condições para desenvolver um trabalho em prol da população. Em Lisboa não é diferente.”

Sobre se isso significaria aceitar pelouros de Fernando Medina, João Ferreira explica que a “discussão, neste momento, não é de mercearia em torno de pelouros” que possam ou não estar dispostos a aceitar, mas sim de “políticas para cidade: o que fazer na cidade em termos de habitação, de trânsito, de transporte público, de espaços verdes, de cultura, de desporto. É para essa discussão que estamos disponíveis.”

Já à saída do mercado João Ferreira ainda sorriu ao ouvir um vendedor a gritar do outro lado do mercado: “A CDU é o partido mais sério”.

“Gosto de ouvir o vosso grupo, gosto de ouvir a Catarina”

Robles almoçou na cantina do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, no Pólo Universitário da Ajuda.

A frase: “Medina insiste em dar a receita da taxa turística para ser gerida pelos hóteis”, atira Robles

A promessa: “Queremos investir os milhões da taxa turística em compra de património para ter rendas a custos contolados”

O que ouviu: “Se houver geringonça na Câmara por favor façam metro até à zona Ocidental da cidade” , pediu-lhe um estudante na rua.

Catarina Martins vai estar na quinta-feira ao lado de Ricardo Robles, mas pelas Avenidas Novas a sua falta foi notada por quem passava pelo candidato do Bloco à Câmara de Lisboa e também por Francisco Louçã. “Ela anda por aí, pelo país, também em campanha”, respondia Louçã. Em Lisboa estavam os dois e o candidato aproveitou o dia Mundial do Turismo para criticar Fernando Medina.

Para Robles, a “discussão fundamental” com o socialista é sobre a taxa turística: “São 15 milhões de receita do ano passado e Fernando Medina insiste em querer dar essa receita para ser gerida pelos donos dos hotéis”. A sua proposta passa por “investir esses milhões na aquisição de património para ter casas com rendas a custos controlados”. E isto porque, segundo o bloquista, “parte da pressão” criada pelo turismo sobre a cidade “reflete-se na habitação”.

Nas Avenidas Novas as pessoas vão saindo do trabalho e dão de caras com Ricardo Robles, mas é sempre Louçã que é mais facilmente reconhecido. Uma senhora para — “Olá senhor doutor, como está?” — e conta-lhe que tem um filho que é aluno na faculdade onde o ex-líder do Bloco leciona. Depois pergunta-lhe por Catarina Martins. Mais uns passos e o dono da padaria surge à porta para falar, mais uma vez com Louçã que chama Ricardo Robles que quer apresentar ao senhor. Na despedida, a líder do Bloco volta a ser lembrada: “Gosto de ouvir o vosso grupo e gosto de ouvir a Catarina”. Louçã ri-se: “Já me tinha estado aqui a falar nela, gosta muito da Catarina”.

Minutos antes, Ricardo Robles tinha estado a ouvir um jovem estudante fazer-lhe “um pedido especial”: “Se houver geringonça na Câmara por favor façam metro até à zona Ocidental da cidade”. Robles admirava-se, enquanto o rapaz ia dizendo que tinha ouvido propostas políticas nesse sentido: “Estás muito bem informado”. “Tem de ser, estou a estudar jornalismo”, dizia João Maria. Mas Robles acabou por admitir que a solução “ainda vai demorar tempo” e remeteu para o que já tinha dito ao almoço, numa iniciativa no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), no Pólo Universitário da Ajuda.

Por lá, o candidato falou precisamente na necessidade de “expansão do metro para a zona ocidental da cidade, que está mal servida de transportes”. Citado pela Lusa, Robles disse que isso “beneficiava muito a cidade, quem cá vive, quem cá estuda”, referindo-se àquele pólo universitário em concreto.

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