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Apadrinhada pela Anacom (a presidente Sandra Maximiano esteve presente no lançamento da Digi), apoiada por vários deputados da Iniciativa Liberal nas redes sociais (com alguns a partilhar preços e Carlos Guimarães Pinto a expressar: “já percebemos a vantagem da concorrência no sector das telecomunicações. Agora é experimentar no sector do transporte ferroviário”), a Digi lançou esta semana o seu serviço em Portugal.

A empresa, conhecida pelos preços baixos, apresentou a sua oferta, que ainda tem limitações. Numa apresentação em inglês com os três responsáveis da Digi Portugal, Valentin Popoviciu, Marius Varzaru e Emil Grecu explicaram as pretensões da empresa, que assume dificuldades na implementação do projeto, quer pelos contratos difíceis de concretizar na área de conteúdos, mas também no acesso a empresas como a Metro de Lisboa para instalar rede.

E, com isso, apesar de jogar pelo preço, o serviço tem ainda limitações.

O que é a Digi?

A Digi é uma operadora de telecomunicações romena que tem serviços lançados no seu país de origem, mas também em Espanha, em Itália e em breve lançará a sua operação na Bélgica. Em Portugal iniciou oficialmente operações esta terça-feira, 5 de novembro. A Digi é uma companhia fundada em 1992 por um grupo de investidores, onde se encontrava Zoltán Teszári, que é hoje o principal acionista da Digi. Tem 54 anos e em 2022 a Forbes considerou-o o quinto homem mais rico da Roménia, com uma fortuna avaliada em 800 milhões de dólares. Tem cerca de 60% da Digi, estando 35% do capital disperso em bolsa. A empresa tem um balanço de 3,4 mil milhões de euros, tendo um passivo de 2,6 mil milhões. Os responsáveis garantem que boa parte do investimento é feito com capitais próprios. Entre 2007 e 2023 a Digi diz ter investido 3,8 mil milhões de euros.

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Segundo a própria empresa, a sua rede cobre, neste momento, 22 milhões de casas e tem 25,5 milhões de serviços contratados. E conta com 22 mil trabalhadores. Em 2023, atingiu um total de receitas de 1,69 mil milhões de euros.

Como chegou a Portugal?

A Digi já se encontrava no mercado espanhol desde 2008, com serviços de internet fixa, tendo avançado depois para os serviços móveis num contrato de operador móvel virtual (ou seja, sem rede própria, utilizando a rede de terceiros) com a Telefónica. Foi expandindo a operação e conta com cerca de 5,7 milhões de clientes. Foi sempre vista em Espanha como a operadora dos preços baixos. Até que com o leilão para a rede de 5G em Portugal, a Digi garantiu licenças nesse concurso. Foi isso que determinou a obrigatoriedade de ter de lançar o serviço em novembro deste ano. No leilão, a Digi investiu 67,3 milhões de euros e a Nowo 70 milhões.

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Mais tarde, a Digi consegue comprar a Nowo por 150 milhões de euros, depois de a Autoridade da Concorrência ter chumbado a compra da Nowo pela Vodafone.

Com essa compra, a Digi passa a ter clientes, rede, lojas e contratos em Portugal. No total, a empresa diz que já investiu em Portugal 400 milhões de euros, incluindo a compra da Nowo.Tem 800 trabalhadores. E promete estar no mercado português para durar. “Estamos aqui para o longo prazo”, declarou a empresa.

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Como fica agora o mercado de telecomunicações?

Fica, na mesma, com quatro operadores, mas o quarto operador ganha nova relevância. À Nos, Meo e Vodafone junta-se agora a Digi. A Nowo já era o quarto operador, mas tinha pouca quota de mercado e uma presença reduzida. Não obstante, a Autoridade da Concorrência chumbou a sua compra pela Vodafone porque lhe atribua importância, nomeadamente em algumas regiões, considerando que havia o chamado ‘efeito Nowo’, ou seja, onde a Nowo estava presente os preços eram mais baixos, considerou a Concorrência.

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Segundo a Concorrência, o mercado tem um grau significativo de coordenação entre os três principais operadores, o que resulta, nas suas análises, a preços de telecomunicações mais elevados (estima em 21%), “o que corresponde a uma perda de excedente do consumidor e de bem-estar social na ordem, respetivamente, dos 349 milhões e 90 milhões por ano”.

Por outro lado, a Nowo não tinha uma rede móvel própria. Agora a Digi, que tem licenças de 5G, vai garantir essa rede própria.

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O anterior presidente da Anacom, João Cadete de Matos, referiu-se várias vezes à Digi como sendo o botão que iria fomentar a concorrência em Portugal e fazer descer os preços: “Os preços vão baixar, porque vai haver concorrência, porque estão muito elevados, isso vai acontecer no próximo ano”.

Os operadores instalados, Nos, Meo e Vodafone, têm contestado essa visão, afirmando que há concorrência no mercado e que os preços não são elevados. Certo é que nos últimos tempos, os três operadores têm reforçado o contacto com os clientes e até fizeram novas ofertas.

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Na apresentação de segunda-feira, a Digi reforçou a ideia de preços elevados em Portugal e, por isso, disse pretender combatê-los.

No dia de lançamento oficial da Digi, o presidente da Nos, Miguel Almeida, referiu-se à Digi, numa entrevista ao Jornal de Negócios, como um operador no qual, no seu entender, reina a opacidade. E disse que, se no imediato os preços até podem baixar, o “a entrada desse ‘player’ tem consequências terríveis para o país a médio e longo prazo porque vai pôr em causa o investimento sustentável do setor”.

A esta crítica, a Digi respondeu que o que interessa à empresa é “o que fazemos pelos consumidores” e vê-se “no que apresentamos hoje se há opacidade ou não”.

A última vez que um operador entrou em Portugal, com rede própria, foi a Optimus, que hoje é Nos. Mais tarde chegou a estar planeada a entrada da Oniway, que acabou comprada pelos três operadores históricos. Mas quando a Optimus entrou, em 1998, criou o programa Pioneiros, em que prometia aos clientes chamadas de baixo custo, 5 escudos (0,025 euros) por minuto entre os clientes da operadora.

Que serviços oferece a Digi em Portugal?

Neste momento, a Digi tem uma oferta de internet fixa, voz fixa, internet móvel, voz móvel, televisão, admitindo, ainda, ter limitações. E promete para breve um serviço de armazenamento de dados na nuvem; um centro wifi (mesh) e uma aplicação de televisão para os dispositivos móveis.

Há período de fidelização?

A Digi garante que não estabelecerá períodos de fidelização na maior parte dos serviços, exceto na internet fixa. Garante que na televisão não terá fidelização, mas o que é certo é que para ter o serviço de televisão a empresa obriga a ter um serviço de internet fixa. O que acaba por determinar uma fidelização de três meses que é o mínimo aplicado no serviço de internet fixa.

Há pacotes pré-definidos ou é possível escolher que serviços se quer?

A premissa da Digi em Portugal passa pela “liberdade de escolha” — ou seja, não há pacotes de serviços pré-definidos e é o cliente quem escolhe que serviços quer ter. No site, está disponível um configurador para que se possa perceber quanto custa um pacote de serviços combinados, por exemplo, com internet fixa, televisão e serviço móvel.

Nos pacotes combinados, as mensalidades arrancam nos 27 euros se quiser a oferta completa, com quatro serviços: internet fixa com uma velocidade de 1 gigabit por segundo (gbps), televisão (60 canais), telemóvel (50 GB de dados) e telefone fixo (chamadas ilimitadas para números Digi mas cobradas a um cêntimo por minuto para outros operadores). Se se dispensar o serviço de telefone fixo, é possível ir até uma mensalidade de 26 euros.

Há a limitação de ter de adicionar um serviço de internet fixa se se quiser o acesso ao serviço de televisão.

Qual é a oferta de internet fixa? E há cobertura?

A empresa está a expandir a rede. Disponibiliza uma pesquisa para verificar a cobertura em cada residência. Para já a oferta é de 1 gbps, prometendo para este ano ainda a oferta de 10 gbps.

Quais são as opções no telemóvel? 

A operadora entra em Portugal com duas opções no serviço móvel: um serviço apresentado como ilimitado, com chamadas e dados móveis sem limitações, ou outras quatro opções com diferentes quantidades de dados móveis.

No serviço ilimitado, que inclui a ligação 5G, os preços arrancam nos sete euros por mês se só tiver um número de telefone. Se tiver dois números, a mensalidade baixa para seis euros por mês por cada número e cinco euros para três números. Ou seja, uma mensalidade de 15 euros/mês para três números de telemóvel.

O serviço é ilimitado no que toca a chamadas nacionais, sem limite de minutos; já as chamadas para destinos internacionais são cobradas com “tarifas por minuto económicas”, é possível ler no site (pode consultar o tarifário internacional aqui). As letras pequenas dão mais algumas informações sobre os dados móveis: se gastar mais de 200 GB passará a navegar a uma velocidade ajustada de 2 Mbps. Também há limites nos SMS: o tarifário ilimitado tem 1000 SMS gratuitos para números Digi, que são cobrados a 2 cêntimos (já com IVA) para outras redes.

As restantes opções de tarifários móveis diferem pela quantidade de dados móveis e chamadas ilimitadas nacionais:

  • 50 GB de dados acumuláveis — 4 euros/mês;
  • 100 GB de dados acumuláveis — 5 euros/mês;
  • 150 GB de dados acumuláveis — 6 euros/mês;
  • 200 GB de dados acumuláveis — 9 euros/mês.

Estes tarifários também têm limitações nos SMS: 1000 SMS grátis para clientes da Digi e com custo de dois cêntimos para outras redes. Na opção de 200 GB de dados, a mais cara, estão incluídos 400 minutos de chamadas para números internacionais.

Digi promete dados móveis acumuláveis. Qual é a diferença?

Nos tarifários móveis que têm limitações de dados é sempre referido que são acumuláveis. Ou seja, se chegar ao fim do mês e ainda sobrarem alguns GB, passarão para o mês seguinte. Por exemplo, se só gastar 20 GB dos 50 GB mensais, no mês seguinte poderá ficar com 80 GB de dados.

O site da Digi explica apenas que os dados que transitam de um mês para o outro vão ter “validade de um mês a partir do momento em que o serviço termina”. Não é especificado se poderá haver limites na quantidade de dados que passam de um mês para o outro.

Como é a cobertura de internet no serviço móvel? Há limitações?

Todos os serviços de telemóvel da Digi incluem 5G sem custos adicionais — desde que o utilizador tenha um smartphone compatível com esta tecnologia. Atualmente, os modelos mais recentes de telefones têm todos esta compatibilidade.

No que diz respeito à rede móvel, a empresa revelou na apresentação que garantirá cobertura de 93% da população nas redes móveis 2G e 4G. No entanto, é menor para o 5G, com 40% da população com cobertura. Haverá também limitações na cobertura 5G no Metropolitano de Lisboa, com os responsáveis da Digi a queixarem-se de que ainda não receberam autorização para aceder às estações do metro.

Na página de detalhes sobre o 5G, a empresa revela também que “atualmente existe apenas cobertura Digi 5G em território nacional”. Se for para o estrangeiro, terá de ficar com o 4G.

Também é explicado que, em alguns casos, poderá ser preciso configurar a internet móvel no telemóvel. Há uma página de ajuda para fazer esta configuração nos sistemas operativos Android e iOS.

Tem telefone fixo?

Sim, em conjunto com o serviço de internet fixa. Acrescentar telefone fixo custará um euro para chamadas cobradas ao minuto que podem ser ilimitadas entre números Digi. Tem a opção de chamadas ilimitadas por dois euros. O telefone está incluído.

Que canais é que estão disponíveis no serviço de televisão?

A Digi assume que a oferta de televisão, que custa 12 euros (mas obriga a ter internet fixa por pelo menos 10 euros) ainda é limitada. Tem, neste momento, 60 canais. Dos canais nacionais principais não tem a SIC. Ao Observador, a SIC diz que “continua a negociar um valor justo pelos seus canais com a Digi”. A Digi, por seu turno, queixa-se da dificuldade de fazer os contratos. Mas já garantiu a TVI e a CNN Portugal, depois do braço de ferro travado com a empresa da Media Capital e que levou ao pagamento da Digi à Media Capital de 10 milhões de euros – quando esta empresa tentou comprar a Nowo. Também faltam na oferta, por exemplo, a CMTV e o Now, da Medialivre.

Media Capital recebe 10 milhões de euros por fim das negociações para a compra da Nowo

E ainda canais desportivos premium, como a oferta da Sport TV e da Dazn. A empresa queixa-se também das dificuldades neste mercado com negociações “não razoáveis e inflexíveis com os donos dos conteúdos para ter acesso a estes canais mas também pelo preço que tem de ser pago”.

Que funcionalidades tem o serviço de televisão?

A box para aceder à televisão é, nas palavras da Digi, básica, esperando a empresa nos próximos tempos lançar funcionalidades em cima do serviço. As gravações, por exemplo, estão prometidas nas condições de serviço, mas não foi possível confirmar a sua disponibilização já. Segundo o SapoTek, “para já a empresa tem uma box básica, que nas próximas semanas permitirá gravação, pausa e navegação, prometendo para breve a integração de uma box Android que está ainda a ser trabalhada com a Google”. No site da empresa não é possível verificar que funcionalidades tem a box, até porque nas perguntas frequentes o menu dedicado à televisão está vazio e no chat disponibilizado também não avança quando se pede informações técnicas sobre a televisão. E a empresa não respondeu ainda às questões do Observador.

Na apresentação feita esta segunda-feira, a Digi diz que a “app Digi TV para smart TV, tablet e smartphone estará brevemente disponível”.

A Digi vai aumentar preços anualmente?

A empresa garante que não vai aplicar a determinação contratual de atualizar os preços, anualmente, com base na inflação. Nas condições de serviço, a Digi garante que “de modo a suportar os custos referentes ao investimento na rede, no início de cada novo ano civil e mediante notificação prévia ao cliente através de um dos meios previstos na Cláusula 18, a Digi reserva-se no direito de proceder ao aumento da mensalidade do(s) Serviço(s) e/ou tarifário(s) contratado(s), o qual será calculado com base no último Índice de Preços no Consumidor relativo a um ano civil completo, tendo por referência a data da referida notificação, conforme publicado pelo Instituto Nacional de Estatística, no valor mínimo de 50 (cinquenta) cêntimos, com IVA incluído”. Só que a empresa promete que não o fará.

É mesmo mais barato?

A comparação entre produtos no setor das telecomunicações é difícil de fazer, porque depende muito dos serviços contratados e períodos de fidelização. Se olharmos para as ofertas de entrada no site dos vários operadores para o serviço móvel, a Meo tem tarifários pré-pagos desde 3,2 euros com limites de tráfego (500 minutos/SMS e 200 MB por mês). A Nos pede 10 euros por 5GB e mil minutos. Oferta que a Vodafone coloca a 9,9 euros. Mas, conforme referido, há muitos tarifários disponíveis por parte de todos os operadores, quer no móvel, quer nos serviços conjuntos (internet e televisão).