Não é que o sítio seja novo para ele, mas tem sido difícil tirar férias nos últimos anos. A ginástica é muito exigente quando os dedos de uma mão não são suficientes para contar a quantidade de projetos gastronómicos que se gerem. Mas há sensações que ficam: a passagem das portagens do Algarve e, a partir daí, a leveza de quem deixa os problemas para trás. O cheiro a dias de ócio e de lazer, que começavam com o atravessar da ponte de madeira, rumo ao bar do Gigi, com quem sempre manteve amizade. Nesta altura, a Quinta do Lago era ainda um paraíso algarvio, escondido da vista de muitos. Talvez pelo sabor das boas memórias — afinal, tendemos a voltar sempre aos sítios onde fomos felizes — décadas corridas, seria este o local de eleição para, ano após ano, passar os dias de verão possíveis com a mulher e os filhos, hoje com 11 e 12 anos. “Estou desejoso que comecem a cozinhar para eu me poder reformar.”
As memórias são de José Avillez que as recorda ao Observador, a propósito do lançamento do seu novo projeto, com data de abertura para 9 de junho: desta vez deixa Lisboa, ruma a sul e estabelece-se no Cuá Cuá, club da Quinta do Lago, que reabre também na segunda semana de junho — inspirado nos clubes internacionais de Miami ou da Côte d’Azur, além do novo restaurante, inclui também um bar, zona para eventos privados e ainda uma área de clubbing, agora a funcionar em pleno, sem restrições.
Para o novo restaurante, o chef do Belcanto — espaço de Lisboa distinguido com duas estrelas Michelin e que foi considerado um dos 50 melhores restaurantes do mundo — importa o conceito da Tasca, o seu primeiro projeto internacional, que mantém no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
“Será uma tasca contemporânea, assinada por mim, mas inserida no Cuá Cuá. Tem um espaço exterior muito grande, que parece um riad marroquino, e que terá animação e entretenimento. É um restaurante de férias”, conta José Avillez ao Observador, acrescentando que a união com o club algarvio reflete “uma parceria com as pessoas certas.”
Esta parceria é, aliás, fruto das tais vivências de Avillez na Quinta do Lago.”O chef passa muitos momentos das suas férias no Algarve e é visitante assíduo do Cuá Cuá, tendo já criado boas memórias neste espaço e estabelecido uma relação especial com a marca”, conta ao Observador Nuno Xarepe, um dos sócios do club algarvio, em conjunto com João Magalhães.
A isto juntou-se a vontade de criar um novo espaço gastronómico: “Era já um desejo nosso criar um novo espaço de restauração com elevados níveis de qualidade, que permitisse um ambiente descontraído e requintado. Pareceu-nos óbvio que convidar José Avillez a partilhar do nosso projeto iria proporcionar às pessoas tudo aquilo que ambicionamos.”
Legumes, peixe e marisco fresco. A Tasca do Dubai com um twist algarvio
São vários os pormenores que separam a Tasca algarvia da dos Emirados Árabes Unidos. Neste processo de importação, o conceito sofreu um ou vários twists.
Para começar, o sítio: desce seis andares, sai do hotel Mandarin Oriental Jumeira e instala-se às portas do Atlântico. Aqui, as condições geográficas são distintas e proporcionam, por isso, uma experiência diferente: “Conseguimos aproveitar os produtos frescos do Algarve, desde legumes acabados de apanhar, aos peixes e mariscos acabados de sair do Mercado de Quarteira.” Depois, há as nuances culturais: “No Dubai não podemos servir porco e aqui podemos”, exemplifica.
O chef do Belcanto adianta também que nesta Tasca — onde só serão servidos jantares — haverá menos pratos de comida tradicional portuguesa, porque, contrariamente ao Dubai, “o Algarve já tem muito disso.” Assim, ficam de fora o bacalhau à Gomes de Sá, o polvo à lagareiro ou o bitoque, dando lugar a outras opções — já lá vamos.
O nome é idêntico, o conceito é parecido e a carta é, no seu todo, muito diferente. Neste terceiro elemento, podemos considerar que se imprimem inspirações de vários sítios. Vejamos: vai buscar opções à Tasca original, bebe parte do ADN dos projetos agora inseridos no Bairro do Avillez, o Páteo (mais focado na gastronomia e cultura portuguesa) e o Mini Bar (bar gastronómico, com conceito de entretenimento, onde também há música e DJ), apresentando ainda opções novas, criadas de raiz para este “restaurante de férias.” A Tasca do Cuá Cuá conta um total de 160 lugares (80 dentro e 80 fora), a que se junta ainda uma sala para eventos privados onde 20 se poderão sentar.
Sushi, marisco, carnes e uma mezzA. A carta
Com opções de partilha e doses individuais, a construção do menu partiu da seleção de cerca de dois pratos, que, servem de ponto de partida para o que vem depois. O processo criativo, explica, começa sempre assim.
Qual foi o resultado? Além dos couverts, a carta arranca com propostas de crus e marinados, entre os quais um cone crocante de atum e marinada picante (12€) ou um tiradito de corvina com produtos da costa portuguesa (15€).
Às saladas e gaspacho, juntam-se ainda as opções do sushi da Tasca, entre as quais, destaca o chef, a trilogia de nigiri, que inclui carabineiro, coral das cabeças e yuzu, toro de atum do Algarve com caviar e wagyu braseado, ponzu e trufa. Ainda dentro dos pratos que enganam a fome, há as entradas quentes, onde se encontram o bacalhau em tempura limão e ovas de trufa (10€) — que vem da carta da Tasca do Dubai, consistindo numa espécie de um pastel desconstruído — ou as gambas com molho de moqueca e lima (15€).
Seguem-se então os pratos principais, onde há uma secção de vegetarianos (risotto de cogumelos ou linguini trufado com parmesão, ambos a 25€), outras de peixes e mariscos (destaque para o arroz de carabineiro, caranguejo e amêijoas, 65€, ou para o atum braseado espargos, milhos e romesco, 35€) e ainda de carnes. Neste último capítulo, há seis opções, como o frango piri-kimchi com batatas fritas (25€) ou o entrecôte de wagyu n.º 7 com batata trufada (75€).
Para finalizar, oito opções de sobremesas. Aqui, o chef destaca a mezzA. Para que seja compreendida, é preciso ir ao étimo da palavra: é um adaptação de “mezze”, termo que na cozinha do médio oriente designa um conjunto de pratos para partilhar. Aqui é igual, mas adaptado às sobremesas. “Fazemos um mezze — ou mezzA — de sobremesas, em que dá para escolher e dividir.”
Cuá Cuá Club Quinta do Lago a funcionar em pleno
E depois do jantar, se quiser dançar, não terá de ir para longe, porque no Cuá Cuá Quinta do Lago a noite segue com a nova zona de clubbing, a partir das 23 horas.
Com esta nova possibilidade, desde as restrições impostas pela pandemia, as expectativas para a reabertura são grandes: “Acreditamos que o fim da pandemia veio trazer uma procura crescente por lugares de partilha de experiências com a família e amigos. Queremos ser o lugar por excelência das noites de diversão mais sofisticadas do Algarve e temos a consciência de que os nossos clientes são cada vez mais exigentes e procuram compensar estes dois anos de confinamentos e restrições”, diz Nuno Xarepe.
As circunstâncias, acredita o empresário, refletem uma oportunidade para crescer e expandir a oferta, mantendo sempre a qualidade do serviço, bem como o ambiente “requintado” e “com a com a envolvência e a misticidade das noites de verão”
Assim, todas as noites haverá diversão, proporcionada pela presença de DJ nacionais e internacionais. Mas não só: “Somos o lugar de partilha de histórias entre amigos, que podem, finalmente, estar juntos e desfrutar de um jantar sofisticado, beber um cocktail de assinatura ou ainda usufruir dos melhores momentos de entretenimento e dançar até às seis da manhã na nossa zona de clubbing”, diz. “Além disso, vamos ainda proporcionar o que de melhor a música portuguesa tem para oferecer, com convidados e artistas muito especiais para os nossos clientes.”
A Tasca de José Avillez e o Cuá Cuá têm data de abertura marcada para 9 de junho. O restaurante vai funcionar entre as 18h30 e 00h30, as reservas online estão disponíveis através do site e do número 963 354 344. O horário do club estende-se até às 6 da manhã, horário em que encerra o clubbing.