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Jovem avançado já celebrou golos a apontar para a cor da própria pele
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Jovem avançado já celebrou golos a apontar para a cor da própria pele

Getty Images

Jovem avançado já celebrou golos a apontar para a cor da própria pele

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Do sangue na guelra e do samba no pé ao sonho da Bola de Ouro: para onde vai Vinícius?

Seis anos depois de ter chegado ao Real, Vinícius pode conquistar a segunda Champions e sonhar com a Bola de Ouro. Pelo meio, sofreu, chorou e tornou-se o alvo preferido daqueles contra quem luta.

Quando chegou a Madrid, há seis anos, Vinícius Júnior era apenas mais um miúdo com sangue na guelra e samba no pé. Seis anos depois, Vinícius Júnior é um dos melhores jogadores do mundo, uma referência do Real Madrid e o potencial próximo vencedor da Bola de Ouro. Em seis anos, Vinícius Júnior tornou-se sinónimo de sangue na guelra, samba no pé e talento.

Vinícius Jr., uma luta sem fim contra o racismo e a imagem de como os super heróis também choram: “Só quero jogar futebol”

Este sábado, em Wembley, o avançado brasileiro de 23 anos será um dos maiores trunfos de Carlo Ancelotti na final da Liga dos Campeões. Contra o B. Dortmund e dois anos depois de ter marcado o golo que lhe permitiu sagrar-se campeão europeu pela primeira vez na carreira, Vinícius vai atrás da temporada perfeita depois de já ter reconquistado a La Liga.

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Pelo meio, continuou a lutar contra o racismo, deixou lágrimas em conferências de imprensa, ouviu o que não queria e respondeu à letra. Afinal, o sangue na guelra e o samba no pé não servem só para fazer estragos dentro de campo – estão lá para aquecer os ânimos e dançar depois de um golo sempre que lhe dizem que tem de jogar mais e bailar menos. De Vinícius, porém, nunca vamos querer menos ânimo e menos baile.

Vinícius e Bellingham, que trocaram elogios esta semana, foram as duas grandes figuras da temporada do Real Madrid

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A cara da luta, o alvo daqueles contra quem luta: a batalha de Vinícius contra o racismo

Foi um dos momentos do ano. Ainda que pelos piores motivos. Em março, aproveitando uma concentração da seleção do Brasil, Vinícius não conseguiu controlar as lágrimas na sala de imprensa quando questionado sobre os constantes e recorrentes casos de racismo de que tem sido alvo desde que está no Real Madrid.

“É algo muito triste e que acontece a cada jogo e a cada dia. Cada denúncia que faço deixa-me muito triste, tal como a todos os negros do mundo… É algo muito triste e não é só em Espanha que está a acontecer, é também no mundo. Também acontecia com o meu pai, escolhiam um branco antes de escolherem um negro. E eu luto porque me escolheram a mim. Luto para que, num futuro próximo, isto não volte a acontecer a ninguém. Já vejo isto há muito tempo e cada vez me sinto mais triste, cada vez tenho menos vontade de jogar”, disse o avançado.

A declaração de Vinícius, até pelo lado fatalista, soltou os alarmes no mundo do futebol. De repente, mais do que uma posição ativista, de protesto e de revolta, o jogador brasileiro colocava a hipótese de se afastar dos relvados por tudo o que ouve quando está dentro do mesmo relvado. E quase não foi preciso esperar uma semana, uma única semana, para perceber que o brasileiro já é uma inspiração.

"Eu luto porque me escolheram a mim. Luto para que, num futuro próximo, isto não volte a acontecer a ninguém. Já vejo isto há muito tempo e cada vez me sinto mais triste, cada vez tenho menos vontade de jogar"
Vinícius Júnior, sobre os casos de racismo de que tem sido alvo em Espanha

Logo no início de abril, Cheikh Sarr, guarda-redes do Rayo Majadahonda, foi expulso depois de confrontar alguns adeptos adversários que o insultavam com frases racistas a partir da bancada atrás da baliza. “Vou até à morte com o Vinícius, porque ele viveu isto. Estou muito orgulhoso dele. Agradeço por me ter apoiado e agradeci-lhe a publicação nas redes sociais. Se todos os jogadores negros fossem como ele, o racismo acabaria”, disse o senegalês, depois de o avançado do Real Madrid ter sublinhado o episódio.

Há alguns dias, a ESPN elaborou uma lista onde juntava os 16 momentos em que Vinícius foi alvo de racismo em Espanha desde que está no Real Madrid. Nenhum foi mais grave do que a antecâmara do dérbi com o Atl. Madrid, em janeiro de 2023, quando um boneco com a camisola do brasileiro foi enforcado por adeptos colchoneros numa ponte. Mas nenhum foi mais impactante do que o da deslocação ao Mestalla, para defrontar o Valencia, em maio do mesmo ano.

Tudo começou a correr mal quando Vinícius se preparava para entrar na área do Valencia numa jogada que terminou com uma bola atirada desde a bancada, que foi depois desviada pelo central Cömert. Ainda assim, já durante a chegada do autocarro do Real Madrid ao estádio, o brasileiro ouviu de forma percetível cânticos racistas que entoavam “mono, mono, mono“, macaco em espanhol. E tudo terminou com um filme ao contrário do que tinha acontecido até aí: com Vinícius expulso com cartão vermelho direto, nos descontos, e com a derrota dos merengues.

Vinícius viveu um dos momentos mais difíceis da carreira em maio do ano passado, no Mestalla, contra o Valencia

MATEO VILLALBA

Quando Kroos se preparava para recomeçar o jogo depois do tal desvio de Cömert, o brasileiro começou a apontar para a bancada atrás da baliza do Valencia e aproximou-se dos painéis publicitários de dedo em riste e em direção ao mesmo adepto, já com Rüdiger, Éder Militão e Lucas Vázquez por perto. “É aquele, é aquele”, disse Vinícius para o árbitro, acrescentando “És tu, és tu” enquanto olhava para a pessoa na bancada.

Vinícius apontou, ameaçou sair após cânticos de “mono”, chorou e acabou expulso: “Espanha já é conhecida como um país de racistas”

Nesta fase, o avançado assumiu a vontade de não continuar em campo, perante o que achava ser mais um ataque racista sem as devidas sanções. Carlo Ancelotti falou várias vezes com Vinícius, questionando se estava em condições de continuar ou se preferia sair, e o árbitro também foi tentando acalmar o jogador. Nos altifalantes do Mestalla, ouvia-se o aviso de que o próximo episódio de racismo poderia levar à interrupção.

10 minutos depois, o jogo recomeçou. E foi nos mesmos 10 minutos de descontos que Vinícius acabou por ser expulso, numa confusão que começou com o guarda-redes Mamardashvili e que pelo meio teve o avançado a atingir Hugo Duro com o braço. O brasileiro deixou o relvado com as lágrimas nos olhos, claramente afetado e incomodado com tudo o que tinha acontecido, e as reações ao episódio surgiram em catadupa logo após o apito final.

Já durante a chegada do autocarro do Real Madrid ao estádio [do Valencia], o brasileiro ouviu de forma percetível cânticos racistas que entoavam "mono, mono, mono", macaco em espanhol.

Entre as declarações de apoio de Carlo Ancelotti, Rio Ferdinand, Kylian Mbappé e até Lula da Silva, o presidente da liga espanhola remeteu o caso para o Comité de Competições da Federação Espanhola de Futebol e a Comissão Estatal contra a Violência, o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância no Desporto e atirou contra Vinícius, acusando-o de faltar a encontros previamente agendados.

“Já que aqueles que te deveriam explicar as coisas não o fazem, em relação ao que a Liga pode fazer em relação a casos de racismo, vamos tentar explicar nós próprios, mas não foste a nenhuma das datas que estavam acordadas e que tu mesmo solicitaste. Antes de criticares e injuriares a Liga, é necessário que te informes de forma adequada. Não te deixes manipular e entende quais são as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos”, disse Javier Tebas, com o jogador a responder quase de imediato.

“Comunicados não funcionam. Culpar-me para justificar atos criminosos também não. Não é futebol, é desumano”, desabafa Vinícius Júnior

“Uma vez mais, em vez de criticar os racistas, o presidente da Liga aparece nas redes sociais para atacar-me. Por mais que fales e finjas não ler, a imagem do teu Campeonato está em causa. Vê as respostas que estás a ter nas tuas publicações e terás uma surpresa. Omitir só te faz igual aos racistas. Não sou teu amigo para falar de racismo. Quero ações e castigos, uma hashtag não me diz nada. Não foi a primeira vez, a segunda, a terceira. O racismo é normal na La Liga. O Campeonato que já pertenceu a Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje pertence aos racistas”, atirou Vinícius.

Avançado brasileiro tem uma relação muito próxima com Carlo Ancelotti

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Sem margem para dúvidas, Vinícius tornou-se a cara da luta contra o racismo em Espanha. Também sem margem para dúvidas, Vinícius tornou-se o alvo preferencial do racismo em Espanha. Numa luta sempre desigual, entre os que sofrem e os que só fazem sofrer, o avançado brasileiro parece não abdicar de uma batalha que assumiu como sua e que já será um dos seus maiores legados.

A Bola de Ouro, um sonho que só Ancelotti tornou possível

Nos últimos dias, já na antecâmara da final da Liga dos Campeões, Vinícius foi questionado sobre o potencial favorito à conquista da próxima Bola de Ouro. Sem hesitar, o avançado brasileiro escolheu um colega de equipa e lançou-o na corrida: Jude Bellingham, o médio inglês que chegou ao Real Madrid no verão e que se tornou um elemento crucial ao longo da temporada. O próprio Jude Bellingham, porém, tem uma opinião diametralmente oposta.

“Quando o Vini está no seu melhor, é indefensável. Digo sempre isto, ele é o melhor”, atirou o britânico, defendendo que o avançado brasileiro, na verdade, tem de ser o favorito à conquista da Bola de Ouro num cenário em que o Real Madrid vence o B. Dortmund este sábado e garante mais uma Liga dos Campeões.

"Quando o Vini está no seu melhor, é indefensável. Digo sempre isto, ele é o melhor."
Jude Bellingham, médio inglês do Real Madrid

Os números são ilustrativos. Com ainda um jogo da temporada por disputar, Vinícius já leva os mesmos 23 golos que marcou na época passada. Apesar de ter uma influência menor nas assistências, muito pela presença de Jude Bellingham e por algumas alterações nas dinâmicas ofensivas do Real Madrid, o avançado brasileiro continua a ser a grande referência da magia merengue e um elemento fulcral nas ambições da equipa e do clube.

Vinícius chegou ao Santiago Bernabéu em 2018, vindo do Flamengo e com apenas 18 anos, e explodiu em 2021/22 depois de já ter sido utilizado com alguma regularidade nas duas temporadas anteriores. Sem margem para dúvidas, a chegada de Carlo Ancelotti ao Real Madrid potenciou as características do avançado brasileiro, que se tornou uma espécie de filho adotado de um pai que tudo fez para o ver brilhar.

“Ancelotti fez tudo por mim. Deu-me sempre confiança e repreendeu-me quando precisei. Temos uma relação muito boa. Preocupa-se tanto comigo como eu com ele. Mudou-me enquanto jogador. Não só em campo, mas também na forma de prensar no treino e no desenvolvimento. Sempre disse que a minha humildade é a minha maior virtude, porque ouço sempre os outros”, disse Vinícius numa entrevista recente à UEFA.

Este sábado, o jovem avançado corre atrás da segunda Liga dos Campeões da carreira – dois anos depois de ter marcado o golo solitário que permitiu ao Real Madrid derrotar o Liverpool e conquistar o troféu pela 14.ª vez. Nessa altura, porém, o Real Madrid ainda contava com Benzema, Casemiro, Bale, Hazard e até um Kroos e um Modrid com maior preponderância. Agora, a acontecer, Vinícius será o protagonista de um Real Madrid campeão europeu. E não existe maior carta de apresentação à Bola de Ouro.

 
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