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Para as religiões mais representativas em Portugal, não há motivos de fé para que os fiéis não se vacinem
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Para as religiões mais representativas em Portugal, não há motivos de fé para que os fiéis não se vacinem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Para as religiões mais representativas em Portugal, não há motivos de fé para que os fiéis não se vacinem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em Portugal, as religiões são unânimes: não há razões de fé para recusar a vacina da Covid. Lá fora há algumas divisões polémicas

Nos EUA, há divisão sobre se motivos de fé podem justificar recusa. Em Portugal, há unanimidade entre representantes católicos, muçulmanos, protestantes, anglicanos, hindus e testemunhas de Jeová.

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Com a minha idade, fui logo dos primeiros. Não hesitei, nem pensar nisso. Por amor de Deus!” Aos 77 anos de idade, o arcebispo de Braga, um dos mais importantes bispos da Igreja Católica em Portugal, já está vacinado há vários meses — e D. Jorge Ortiga não é o único líder religioso do país a afirmar convictamente que todos os crentes devem seguir o exemplo, já que não deve haver argumentos de natureza religiosa para justificar a oposição à vacina.

D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana e o mais alto representante dos anglicanos em Portugal, concorda: não só já foi vacinado como lamenta não ter feito mais publicidade ao momento em que recebeu a injeção, como modo de dar o exemplo aos fiéis. O pastor protestante António Calaim, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, foi imunizado e até cedeu as instalações da Igreja Evangélica de Sintra para funcionarem como centro de vacinação. O mesmo acontece com a Comunidade Hindu de Portugal, cujo imponente templo de Lisboa está há vários meses a funcionar como centro de vacinação, e com a Comunidade Islâmica de Lisboa, que, embora sublinhe a relevância da liberdade individual, está a aconselhar todos os fiéis a vacinarem-se contra a Covid-19. Também as Testemunhas de Jeová, cuja recusa por transfusões de sangue gera alguma polémica, se posicionam favoravelmente à vacina.

Uma ronda de contactos feita pelo Observador junto de vários representantes de comunidades religiosas em Portugal permitiu traçar um retrato de unanimidade no país entre as diversas religiões: se a vacina é eficaz e reduz a circulação do vírus, então vale a pena ser vacinado e não há qualquer impedimento ético, moral ou religioso à vacinação. Pelo contrário: os crentes, independentemente da sua religião, têm um dever moral de proteger os outros — e a vacinação é um caminho para o fazerem.

Centro de vacinação 'drive-thru', instalado no Queimódromo, junto ao Parque da Cidade, Porto, 8 de julho de 2021. O centro de vacinação 'drive-thru' entrou hoje funcionamento, devendo permitir a inoculação de 2.000 pessoas por dia. JOSÉ COELHO/LUSA

Em Portugal, as religiões são unânimes: não há motivos religiosos para recusar a vacina contra a Covid-19

JOSÉ COELHO/LUSA

Porém, este retrato pacífico da situação em Portugal (onde o discurso anti-vacinas vem apenas de algumas franjas ultra-conservadoras mais radicais) contrasta com a divisão crescente que se tem registado entre líderes religiosos noutros pontos do mundo.

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Nas últimas semanas, a polarização deste debate intensificou-se especialmente nos Estados Unidos. Depois de a vacinação contra a Covid-19 ter começado a ser imposta ou equacionada como condição para manter o emprego em hospitais, em empresas privadas e até na administração pública, muitos norte-americanos, sobretudo os religiosos mais fervorosos, começaram a colocar uma questão vital: e se a minha consciência religiosa me levar a recusar a vacina?

EUA: um dilema ético num país dividido

Quando, ainda no ano passado, várias farmacêuticas anunciaram estar a trabalhar em vacinas contra o coronavírus, vários líderes religiosos por todo o mundo puseram em cima da mesa uma questão ética antiga: no processo de produção de algumas vacinas são usadas células humanas, multiplicadas e preservadas em laboratório, retiradas de fetos abortados há várias décadas. Estas células humanas são usadas como pequenas “fábricas” onde crescem os componentes biológicos que vão constituir a vacina. Para os crentes, sobretudo dentro da Igreja Católica, que se opõe liminarmente ao aborto, está-se perante um dilema: beneficiar da vacina significa uma cooperação moral com um pecado? Para tirar as dúvidas, o Vaticano veio pronunciar-se definitivamente sobre o tema e declarou que, não havendo alternativa e tratando-se de uma questão de saúde pública, é “moralmente aceitável” receber aquelas vacinas.

Covid-19. Vaticano admite vacinas que usam células de feto, desde que não haja alternativa

Questão resolvida para os católicos? Nem por isso. Na verdade, embora a Igreja Católica tenha dado sinais claros de que a vacinação era urgente e necessária (o Papa foi vacinado e agora até a entrada nos Museus do Vaticano exige certificado digital), muitos líderes católicos continuaram a expressar dúvidas quanto à moralidade de se ser vacinado contra a Covid-19. Nos Estados Unidos, a discussão recente sobre a possibilidade de tornar a vacina obrigatória levou um grande número de fiéis católicos a abordar os seus padres, pedindo-lhes uma declaração em que validassem os seus motivos religiosos para não receberem a vacina.

Esta tendência motivou uma reação mista por parte da hierarquia católica nos Estados Unidos.

O arcebispo de Nova Iorque, cardeal Timothy Dolan, que é uma das mais relevantes figuras da hierarquia católica norte-americana, está contra e proibiu os seus mais de 1.200 padres de passarem este tipo de declarações. “Não há nenhuma justificação para que um padre emita uma isenção religiosa para a vacina”, lê-se num documento interno do arcebispado que circulou entre o clero da arquidiocese de Nova Iorque, onde se estima que vivam mais de 2,6 milhões de católicos.

A circular interna explica que são frequentes os pedidos de informação que chegam à arquidiocese oriundos de “católicos que têm uma objeção moral sincera às vacinas contra a Covid-19 devido à sua ligação com o aborto”. “Esta preocupação é particularmente aguda entre pessoas que são fortemente pró-vida e muito leais à doutrina da fé. É um assunto sério para algumas pessoas que, frequentemente, procuram orientações e apoio da Igreja”, diz ainda o documento.

"Não há nenhuma justificação para que um padre emita uma isenção religiosa para a vacina."
Arquidiocese de Nova Iorque

Embora o cardeal Dolan reconheça que “qualquer indivíduo é livre de decidir sobre se quer ou não receber a vacina, com base nas suas crenças”, sustenta que isso não pode ser feito através de uma “representação incorreta das instruções da Igreja”.

“O Papa Francisco foi muito claro ao dizer que é moralmente aceitável receber qualquer uma das vacinas e disse que temos a responsabilidade moral de nos vacinarmos”, diz o documento, opondo-se à emissão de declarações anti-vacinação por parte de membros do clero: “Os nossos padres não devem participar ativamente nesse tipo de ações.

A três mil quilómetros de Nova Iorque, os bispos católicos do estado do Colorado não pensam exatamente da mesma maneira. Numa carta aberta conjunta, os quatro bispos daquele estado elogiaram a decisão do presidente da câmara de Denver, Michael Hancock, de incluir uma exceção religiosa no programa de vacinação obrigatória dos mais de 10 mil funcionários públicos e profissionais de saúde. “Estamos satisfeitos por ver que no caso da mais recente obrigação de vacinação em Denver há espaço para crenças religiosas sinceras”, escreveram os bispos, sublinhando que a exceção é “apropriada ao abrigo das leis que protegem a liberdade de religião”. Mais: os bispos do Colorado até disponibilizaram uma minuta de carta, que os seus padres apenas precisam de preencher com o nome do fiel que não quer receber a vacina e assinar, de modo a que seja apresentada às autoridades como justificação de isenção.

Easter Sunday in New York

O cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova Iorque, proibiu os padres de passarem declarações justificando isenção de vacina com motivos religiosos

Corbis via Getty Images

Em sentido contrário, uma igreja protestante da cidade de Jacksonville, no estado da Flórida, transformou-se recentemente em centro de vacinação depois de o bispo local, George L. Davis, ter detetado um grande ceticismo relativamente às vacinas entre a comunidade local. Inicialmente, a igreja encorajou os 6 mil paroquianos locais a vacinarem-se e promoveu debates sobre o coronavírus no seio da igreja — mas sem grande sucesso. Em apenas dez dias, seis paroquianos morreram, quatro deles saudáveis e com menos de 35 anos. Em comum tinham o facto de não estarem vacinados.

“É muito frustrante saber que estas eram mortes evitáveis”, desabafou o bispo ao The Washington Post. A solução encontrada por George L. Davis, que considera que a fé e a medicina são duas faces da mesma moeda, foi transformar a própria igreja num centro de vacinação, em cooperação com as autoridades locais, oferecendo aos fiéis a possibilidade de serem vacinados imediatamente após os cultos de domingo.

O padre que disse que Deus é “a única ciência que temos de conhecer”

É também nos Estados Unidos que se tem evidenciado, nos últimos anos, um recrudescimento da ala mais conservadora e tradicionalista da Igreja Católica, que se opõe às ideias do Papa Francisco em muitos dos temas sociais ou doutrinários mais fraturantes da atualidade — incluindo assuntos relacionados com os costumes, como a relação da Igreja Católica com os homossexuais, o papel das mulheres na hierarquia ou o combate aos abusos sexuais, e assuntos da própria doutrina eclesiástica, como o diálogo inter-religioso. A ala católica ultra-conservadora nos Estados Unidos cerrou fileiras durante a presidência de Donald Trump, focando-se quase exclusivamente em assuntos relacionados com a moral sexual ou o aborto (Trump foi, por exemplo, o primeiro Presidente dos EUA a participar na marcha anual contra o aborto). A crescente sobreposição entre os católicos conservadores e os grupos radicais que nos últimos anos se aliaram em torno de Trump — incluindo grupos conspiracionistas e defensores do uso e porte de armas — traduziu-se, na fase da pandemia, numa intensificação das ideias anti-vacinação.

E o padre católico James Altman tornou-se, rapidamente, num dos rostos mais visíveis deste movimento.

O sacerdote ficou amplamente conhecido antes das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, quando publicou no YouTube um vídeo em que declarou que os católicos não podiam ser do Partido Democrata — e que qualquer pessoa que apoiasse o partido estava condenado a arder no inferno. Altman, que repetia nos seus discursos o lema “Tornar a América Grande Outra Vez”, insistia que os católicos deviam votar em Donald Trump — com quem partilhou recentemente o palco numa convenção de conservadores, onde afirmou: “A nossa ajuda é em nome do Senhor, que verdadeiramente fez o céu e a terra, e essa é a única ciência que temos de conhecer.” Não era a primeira vez que Altman, entretanto transformado numa figura viral na internet e num dos ícones do conservadorismo católico norte-americano, se virava contra a ciência. Em abril, já tinha apelado diretamente aos seus paroquianos para que não fossem “os porquinhos da Índia de ninguém”. Num boletim religioso pejado de informações falsas e anti-científicas, Altman afirmou, preto no branco, que “a injeção da ‘Covid-19’ NÃO É uma vacina”.

"A nossa ajuda é em nome do Senhor, que verdadeiramente fez o céu e a terra, e essa é a única ciência que temos de conhecer."
Padre James Altman

James Altman, que pelo meio também comparou as restrições impostas durante a pandemia a políticas “nazis”, foi afastado das suas funções em julho deste ano pelo seu bispo, que justificou a saída de Altman com “preocupações públicas e eclesiais” relativas ao padre. Mas o sacerdote não aceitou: “Infelizmente para a hierarquia corrupta, não vou ser silenciado por um decreto arbitrário.

Embora formalmente afastado, James Altman mantém-se publicamente ativo, na internet e numa série de fóruns associados à ala mais conservadora quer da Igreja quer do Partido Republicano — e continua a difundir propaganda anti-vacinas e a arregimentar seguidores nos espaços onde se aglomeram os mais radicais dos tradicionalistas (uma tendência que até já foi batizada com a expressão inglesa rad-trads, abreviatura de radical traditionalists).

É também nesse espectro que encontramos o já célebre cardeal norte-americano Raymond Burke, considerado por muitos o principal inimigo de Francisco. Conhecido defensor irredutível da missa tradicional em latim, famoso pelas vestes pomposas e por declarações controversas (como a crítica à “feminização” da Igreja), Burke somou à sua faceta de crítico do Papa a de cético das vacinas. Em múltiplas ocasiões ao longo dos últimos anos, pronunciou-se contra a vacinação, alertou para os perigos de um controlo social com recurso a “microchips debaixo da pele”, alegou que a “arma mais eficaz” contra o vírus é a “relação com Cristo através da oração e da penitência” e usou as palavras de Trump para classificar a Covid-19 como o “vírus de Wuhan”. Na semana passada, Burke revelou que está infetado com a Covid-19 (embora não tenha confirmado ou desmentido se foi vacinado), reacendendo a polémica em torno do seu ceticismo militante.

“Vacine-se pensando em si e nos outros”, pede arcebispo de Braga

Obviamente, é preciso cautela quando se comparam os movimentos sociais e religiosos norte-americanos e a realidade portuguesa no que respeita à vacinação contra a Covid-19, porque há uma diferença fulcral entre os dois casos: em Portugal não existe, nem se afigura no horizonte, vacinação obrigatória. Ainda assim, de acordo com as informações e comentários recolhidos pelo Observador, os líderes religiosos portugueses são unânimes em afirmar que não há motivos de fé para recusar a vacina.

Embora os responsáveis de várias confissões e religiões em Portugal não concordem com a vacinação obrigatória, também rejeitam assumir uma posição absolutamente neutra no assunto e admitem que, caso um fiel lhes apresente dúvidas quanto à vacina, o encorajarão a confiar na ciência e a receber o imunizante.

O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, é um dos mais importantes líderes católicos de Portugal

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Como diz o Papa, a vacina deve ser de acesso a todos e todos deviam tomar a vacina”, defende, em declarações ao Observador, o padre Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o órgão máximo da Igreja Católica em Portugal. “O Papa Francisco foi claro, a CEP foi clara, a Congregação para a Doutrina da Fé também emitiu documentos nesse sentido, mesmo sobre as questões éticas que se colocaram. Queremos todos vacinados, fiéis ou não fiéis.

O porta-voz dos bispos católicos lembra que já em fevereiro a CEP tinha publicado um comunicado pró-vacina. “A Conferência Episcopal Portuguesa congratula-se com o início da vacinação para a Covid-19 em Portugal, confiando na adesão de todos ao processo em curso para podermos recuperar da situação pandémica que estamos a viver”, disse na altura a instituição. “É essencial que a vacina chegue a todos, com justiça, cuidado e transparência”, afirmou ainda a CEP, sublinhando, nas entrelinhas, que a escolha individual não se deveria sobrepor ao bem comum: “Reafirmamos o necessário envolvimento de todos no combate à pandemia e a nossa certeza de que nenhum outro interesse deve ser colocado acima dos esforços conjuntos que somos chamados a fazer.”

O arcebispo de Braga é ainda mais explícito no apelo. “Admito outras opiniões de quem conhece melhor a realidade, mas até prova em contrário a vacina é uma proteção para mim, mas também para os outros. Se fosse uma coisa de que eu disponho apenas para meu proveito próprio, podia cada um fazer o que entendesse”, afirma D. Jorge Ortiga ao Observador. “A vacinação deveria ser universal. Cada um poderá ter as suas ideias e agir de harmonia com a sua consciência, mas tem de ter em consideração o bem comum, pensar nos outros e na Humanidade.”

"A vacinação deveria ser universal. Cada um poderá ter as suas ideias e agir de harmonia com a sua consciência, mas tem de ter em consideração o bem comum, pensar nos outros e na Humanidade."
D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga

D. Jorge Ortiga, que até já passou a idade da reforma dos bispos e aguarda que o Papa Francisco nomeie um substituto para lhe suceder na arquidiocese, diz estar “convencido de que se vai tornar um comportamento normal, nos próximos anos”, à semelhança do que já ocorre com a vacina contra a gripe. O arcebispo também não tem dúvidas do que diria a um fiel que lhe apresentasse dúvidas éticas, morais ou religiosas quanto à vacina: “Vacine-se pensando em si e nos outros.”

A maior preocupação ética e moral do arcebispo de Braga, que já foi vacinado, não diz respeito à polémica em torno das células de fetos abortados, que considera ultrapassada com o pronunciamento do Vaticano, mas sim à distribuição desigual da proteção: “A vacina deveria estender-se a todos os países. Não basta cuidarmos de uma Europa e de uma América enquanto esquecemos África e outros lugares. O mundo é só uma casa.

O padre que esteve 10 dias entubado. E os raros discursos anti-vacinas em Portugal

A mesma preocupação com a distribuição desproporcional das vacinas pelo mundo assalta o padre Miguel Cabral, do Opus Dei. Ordenado em 2010 após uma década como médico oncologista, é atualmente o assistente espiritual da Associação de Médicos Católicos e faz parte da comissão de ética do Centro Hospitalar de Lisboa Central (que inclui os hospitais lisboetas de São José, Santo António dos Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa). Mas o olhar do padre, de 50 anos, sobre a Covid-19 é também pessoal: em dezembro do ano passado, passou 10 dias entubado, em coma induzido, infetado com Covid-19.

Os primeiros sintomas, semelhantes aos de uma gripe, surgiram no dia 8 de dezembro, relata o sacerdote ao Observador. Após um teste positivo e sintomas fortes, passou dois dias internado no hospital. “Voltei a casa, mas passados uns dias piorei o meu estado, senti-me com falta de ar”, conta. “A 16 de dezembro voltei ao hospital. Fiquei pior e pedi que me levassem uma Nossa Senhora e um crucifixo. Estive entubado de 22 a 31 de dezembro. Estive cinco semanas no hospital, tive pesadelos muito fortes.

O que mudou na vida do padre depois do internamento? “Talvez me tenha dado conta de que a doença era realmente muito grave. De um momento para o outro, uma pessoa totalmente independente, capaz de fazer desporto, sente a sua fragilidade”, responde Miguel Cabral. “Mas também senti a presença dos amigos, da família, e senti sempre a presença de Deus. Nada disto pôs em causa a minha fé, só reforçou. Uma pessoa sente, realmente, que nós não somos nada. Que somos criaturas, embora às vezes tenhamos a mania de que somos o Criador.

Ainda assim, o sacerdote diz que a sua perceção sobre a importância dos esforços de combate à pandemia e sobre a vacina não se alterou particularmente com a experiência de doença grave. “Como médico também acredito na ciência”, explica. “Já o fazia, já procurava usar máscara, mas comecei a dar-me mais conta de tudo isso. Na altura em que eu tive a doença ainda não estava na fase em que cumpria os critérios para ser vacinado, mas se tivesse tido os critérios seria vacinado. A minha perspetiva não mudou muito. Fui vacinado, depois, com uma dose, que é o que está recomendado. Mas nunca tive medo nem nunca estive muito traumatizado com isto.”

"Se uma pessoa que tenha indicações clínicas para se vacinar me perguntar se deve vacinar-se, eu diria que deve vacinar-se. Temos uma responsabilidade pública com a sociedade, até como filhos de Deus. Mas diria ‘deve vacinar-se’, não diria ‘tem de vacinar-se’."
Padre Miguel Cabral

Como os outros responsáveis católicos ouvidos pelo Observador, o padre Miguel Cabral sublinha que, “sobre o problema ético relativo à origem das vacinas, o Vaticano já se pronunciou”, pelo que não há mais polémica a acrescentar à questão da eventual ligação ao aborto. “Onde parece haver um grande problema ético é na diferença de vacinação entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Hoje li que a percentagem de crianças que foram parar aos cuidados intensivos foi baixíssima, quando há países em que nem sequer os adultos vulneráveis foram vacinados. Há aqui um problema ético muito grave, porque não se têm em conta as pessoas”, diz o sacerdote.

Por isso, e embora rejeite a vacinação obrigatória como regra, o padre Miguel Cabral não tem dúvidas: “Se uma pessoa que tenha indicações clínicas para se vacinar me perguntar se deve vacinar-se, eu diria que deve vacinar-se. Temos uma responsabilidade pública com a sociedade, até como filhos de Deus. Mas diria ‘deve vacinar-se’, não diria ‘tem de vacinar-se’. Este é um problema de saúde pública e temos a responsabilidade de cumprir as normas, usar a máscara. Porque há pessoas que passaram mal, famílias que passaram muito mal. Eu próprio passei mal.”

Dentro da Igreja Católica em Portugal, o discurso anti-vacinas parece, até agora, estar limitado a um punhado de casos isolados, associados a uma pouco expressiva tendência conservadora. O caso mais mediático foi o do padre Samuel Bom, da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX) — uma organização ultra-radical que, na verdade, nem sequer faz totalmente parte da Igreja Católica. Fundada em 1970 pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre em rutura com os ensinamentos progressistas do Concílio Vaticano II que moldaram a Igreja à sociedade moderna, a organização foi excomungada em 1988 depois de Lefebvre ter ordenado quatro bispos apesar de expressamente proibido pelo Papa João Paulo II. Em 2009, no âmbito de um esforço de diálogo e reaproximação entre a Santa Sé e a organização dissidente, Bento XVI levantou a excomunhão. Até hoje, ainda não houve uma reaproximação total e os atos praticados pelos padres da FSSPX não são considerados válidos para a Igreja Católica.

Apesar disso, a FSSPX tem uma implementação relativamente sólida em vários pontos do mundo, incluindo em Portugal, onde tem crescido e atraído muitos jovens. Samuel Bon, um dos padres mais influentes do movimento em Portugal, causou polémica em dezembro de 2020 quando apelou aos fiéis para que não fossem vacinados, argumentou que a Covid-19 não é uma pandemia perigosa e defendeu que basta uma “boa higiene” para ficar livre do vírus. Numa homilia bizarra que incluiu declarações como “não é agradável ter o seu avô que morre, mas o avô ou a avó ia morrer tarde ou cedo” e expressões conspiracionistas como estar “contra a propaganda dos governos, da OMS e da grande mídia”, Samuel Bon lançou todo o tipo de acusações não fundamentadas contra jornalistas, políticos e farmacêuticas, que estariam envolvidos numa alegada conspiração global para controlar a humanidade.

Foi também do setor tipicamente associado aos mais conservadores que, ao longo de vários momentos da pandemia, surgiram as críticas mais duras às políticas do Governo quanto ao confinamento. Foi o caso do padre Mário Rui Leal Pedras, da paróquia de São Nicolau — a paróquia de Lisboa onde ainda se celebram diariamente missas em latim segundo o rito antigo —, que em outubro do ano passado acusou o Governo de discriminar as celebrações religiosas; ou o do padre Manuel Pina Pedro, da diocese de Leiria-Fátima, que em março de 2020 contradisse publicamente a decisão dos bispos e exigiu o regresso das missas presenciais, suspensas devido à pandemia, questionando-se sobre se Jesus não teria “poder para nos libertar de uma pequena criatura, o coronavírus”. Poucos meses depois, o cardeal D. António Marto afastou o sacerdote das suas funções.

A ciência e as vacinas também podem ser um dom de Deus, dizem líderes cristãos

Mas o panorama religioso português não se compõe apenas de católicos. Aliás, a percentagem de portugueses católicos tem vindo a descer de modo consistente ao longo das últimas décadas (as últimas estatísticas oficiais da Igreja Católica colocavam-na em 77,03%, quando no século passado esteve solidamente acima dos 90%), ao mesmo ritmo que outras comunidades religiosas se têm afirmado. Dentro do universo cristão, destacam-se sobretudo os protestantes (herdeiros da Reforma de Martinho Lutero, no século XVI) e, de entre os protestantes, os evangélicos — havendo mais de 700 igrejas evangélicas formalmente reconhecidas pelo Estado português. Estimativas próprias colocam o número de fiéis diretamente envolvidos nas igrejas portuguesas em volta dos 250 mil e o universo total de evangélicos no meio milhão.

O pastor evangélico António Calaim, ancião da Igreja Evangélica de Sintra e presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, organismo que congrega centenas de igrejas evangélicas por todo o país, diz-se um “fã incondicional da vacinação” e reitera que não há qualquer obstáculo religioso a que um fiel receba a vacina. Médico de profissão, António Calaim diz que faz parte de uma “geração em que se viram os grandes benefícios da vacinação no nosso país” e, por isso, apoia decididamente o processo de vacinação contra a Covid-19 — ainda que sublinhe que poderão existir situações em que, por motivos clínicos, a pessoa não pode receber a vacina.

Por motivos religiosos, não deverá ser recusada a vacina contra a Covid-19, reitera, sustentando que a recusa com base religiosa resultará de uma “interpretação errada” de um conjunto de fatores. “Há quem veja nesta atual situação governamental algum sinal escatológico dos últimos tempos. Já viram o anti-Cristo no Estaline, no Napoleão e no Hitler. Agora, verão o anti-Cristo em qualquer outra coisa”, diz António Calaim. Ainda assim, o pastor diz-se liminarmente contra a transformação de um dever moral e social numa obrigação legal. “Como presbítero e homem da Igreja, vejo por vezes uma certa legislação que fala da obrigatoriedade com algum temor, como um sinal de eventual cerceamento de liberdades individuais”, diz o ancião, sublinhando que compreende “algumas resistências” dos cidadãos a controlos excessivos que se possam encaminhar para uma “ditadura sanitária ou securitária”.

"Há quem veja nesta atual situação governamental algum sinal escatológico dos últimos tempos. Já viram o anti-Cristo no Estaline, no Napoleão e no Hitler. Agora, verão o anti-Cristo em qualquer outra coisa."
Pastor António Calaim, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa

Quanto ao dever moral de se vacinar, o pastor não tem dúvidas. Ele próprio já está vacinado e explica que a interpretação das escrituras sagradas do Cristianismo leva à conclusão de que se pode confiar na vacina. “Nós acreditamos, como seres criados por Deus, que temos o espírito de Deus, que é criador e nos deu a possibilidade de sermos co-criadores. Ou seja, tudo o que seja avanço na medicina e nas técnicas é algo pelo qual damos graças a Deus”, explica António Calaim. Esses avanços, incluindo as vacinas, são por isso “dádivas de Deus”, que os fiéis devem acolher, defende o pastor.

Além de defender o processo de vacinação, António Calaim pôs a Igreja Evangélica de Sintra a colaborar nele: neste momento, o Centro Evangélico de Vila Verde, uma das maiores instalações da Igreja, está a ser usado como centro de vacinação. “Resulta de uma disponibilidade para servir a comunidade”, explica o pastor. “Quando surgiu a Covid-19, quando houve um susto muito grande, afirmei ao vereador, que conhece as nossas instalações, que se fosse necessário para alguma situação elas estariam disponíveis. Quando surgiu a possibilidade de usarem o nosso centro para a vacinação, já que as instalações do centro de saúde são deficientes, o próprio vereador viu ali uma possibilidade. Estão livres de serem usadas de segunda a sábado — reservamos apenas o domingo para o culto.

À esquerda, o centro de vacinação na Igreja Evangélica de Sintra; à direita, o pastor António Calaim no momento da vacinação

Aliança Evangélica Portuguesa

Quem também já recebeu a vacina contra a Covid-19 foi D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana e o responsável máximo dos cerca de 5 mil cristãos anglicanos que vivem em Portugal. Ao Observador, o bispo sublinha que receber ou não a vacina é “uma questão de consciência individual”, mas essa “responsabilidade individual só se compreende à luz do bem dos outros”, pelo que é também “uma questão de ética”.

“Não houve uma posição ou orientação da Igreja relativamente a este assunto, assumindo que existe hoje na sociedade portuguesa muita informação sobre os prós e os contras da vacinação. Portanto, cada pessoa poderá fundamentar-se conscientemente relativamente a este assunto. Felizmente na nossa sociedade temos um conjunto de opiniões técnicas e científicas veiculadas diariamente e acessíveis a todos”, diz o bispo anglicano. “Daí que a Igreja não se tenha sentido chamada a ter de desenvolver uma campanha em especial sobre o assunto.

Todavia, D. Jorge Pina Cabral assume que houve fiéis que abordaram a hierarquia anglicana para “partilhar os seus anseios sobre a vacinação”. Nesses casos, o bispo afirma que, “acima de tudo, como a fé nos ensina, temos de confiar em Deus, e confiar em Deus é confiar também nas capacidades dos homens e das mulheres, neste caso nas capacidades científicas que foram desenvolvidas”. “A ciência é também um bem de Deus colocado ao serviço do bem da Humanidade. Assim sendo, nós temos de confiar que é vontade de Deus e dar graças a Deus por tão rapidamente se ter desenvolvido uma vacina, que está a dar efeitos e a diminuir a mortalidade. Está ao serviço da humanidade.

"Como a fé nos ensina, temos de confiar em Deus, e confiar em Deus é confiar também nas capacidades dos homens e das mulheres, neste caso nas capacidades científicas que foram desenvolvidas."
D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana

Além disso, à responsabilidade individual deve somar-se a preocupação ética. “A minha vontade individual não se pode sobrepor ao bem coletivo. A minha atitude não pode pôr em risco o bem-estar e a vida dos outros, e a não vacinação pode significar a propagação do vírus e pôr em causa a saúde dos outros”, defende o bispo. De qualquer modo, “a grande maioria dos membros da Igreja optaram pela vacinação”: “Contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que nós saibamos que não se estão a vacinar”. Daí que D. Jorge Pina Cabral nem tenha sentido a necessidade de publicitar o momento em que levou a vacina para dar o exemplo.

“Não senti essa necessidade de me expor publicamente, mas houve membros da Igreja que o fizeram. Se calhar, deveria tê-lo feito, assumo. Porque a vacinação também é uma postura, é uma tomada de posição perante uma questão importante”, admite.

Muçulmanos e hindus recomendam vacinação e confiança na ciência

Fora do universo cristão, que é dominante em Portugal, outras religiões estão igualmente cooperantes com o processo de vacinação. No caso dos muçulmanos — estima-se que haja mais de 50 mil em Portugal, quase todos da corrente sunita, e mais de 50 mesquitas —, desde que as farmacêuticas garantiram que as vacinas não têm qualquer vestígio ou contacto com suínos, há luz verde moral para a toma da vacina, explica ao Observador Khalid Jamal, do gabinete de apoio à presidência da Comunidade Islâmica de Lisboa, a maior organização muçulmana do país.

O xeque David Munir, o principal clérigo muçulmano do país, aconselha os fiéis do Islão a receberem a vacina

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Não temos por regra nem por objetivo, nem sequer como especial vocação ou missão, intrometer-nos na vida individual das pessoas. Simplesmente sugerimos, orientamos e cultivamos a nossa posição como portugueses que professamos a religião islâmica no seio da sociedade portuguesa”, explica Khalid Jamal. “Desde o início, cultivámos um espírito de cooperação com as autoridades. Encerrámos a mesquita central de Lisboa, o nosso local de culto por excelência, mesmo antes de a DGS mandar encerrar os lugares de culto. Quisemos dar uma imagem de exemplo em matéria de saúde.” Além disso, durante o confinamento, a mesquita central de Lisboa também abriu as suas portas para acolher imigrantes infetados com a Covid-19 que não tinham condições para cumprir o isolamento enquanto recuperavam da infeção, como o Observador relatou numa reportagem em abril de 2020.

Reportagem. Os dias de 14 imigrantes infetados na mesquita de Lisboa

No que toca à vacina, “a nível islâmico, a doutrina tem divergido”, assume Khalid Jamal. “Há imãs que têm dito que cada um é livre de fazer o que quiser. Mas a maioria dos imãs, em que o xeque Munir está incluído, tem sugerido aos seus fiéis a toma da vacina como forma de prevenção e como forma de pensar no bem comum. Mas sempre acrescentando que é assim se se entender que essa é a única forma de prevenir a pandemia.” O xeque David Munir é o imã da mesquita de Lisboa e o mais importante clérigo muçulmano em Portugal.

"A maioria dos imãs, em que o xeque Munir está incluído, tem sugerido aos seus fiéis a toma da vacina como forma de prevenção e como forma de pensar no bem comum."
Khalid Jamal, gabinete de apoio à presidência da Comunidade Islâmica de Lisboa

“Acima de tudo, temos de confiar nas autoridades, seja na DGS, seja no Governo, independentemente de considerarmos que estão a fazer um melhor ou um pior trabalho. Temos de ser cooperantes com as autoridades. Se a vacina é a solução que os cientistas encontraram, quem somos nós para sermos mais papistas que o Papa?”, questiona o responsável islâmico. “Inicialmente, pensou-se que a vacina pudesse ter derivados de suínos. Se assim fosse, não a tomaríamos. Tendo-se provado razoavelmente que não tem, então podemos tomá-la. Agora, se há pessoas que se sentem desconfortáveis, não devem ser penalizadas”, diz Khalid Jamal, resumindo que o Islão em Portugal apoia a vacinação num contexto de liberdade individual.

Também os hindus em Portugal dizem respeitar a vontade de cada fiel, mas aconselham os crentes a confiar na vacina. Segundo explicou ao Observador o presidente da Comunidade Hindu de Portugal, Kiritkumar Bachu, não há qualquer obstáculo religioso à toma da vacina por parte dos cerca de 40 a 50 mil hindus portugueses — muitos oriundos de Moçambique ou das regiões da antiga Índia portuguesa. “Geralmente, falamos em não-violência, em não fazer mal aos outros, em ajudar o próximo. A religião está muito baseada na ciência. Por isso, se a ciência fez pesquisas e concluiu que a vacina é vantajosa, que está a dar resultado, que os efeitos negativos são residuais, então não desaconselhamos que se tomem as vacinas.”

Kiritkumar Bachu, de 69 anos, foi vacinado com apenas uma dose por já ter tido a infeção, sublinha que não tem sido frequente que os crentes hindus se aproximem da comunidade — que tem simultaneamente um carácter religioso, cultural e social, funcionando como IPSS — para expor dúvidas sobre a vacina. “Mas, se aparecerem, o responsável da religião deixa sempre a pessoa à vontade para tomar a própria decisão. A comunidade não pode interferir com a vontade da pessoa. No entanto, a resposta seria sempre que isto está a fazer bem a todos, e que, embora haja riscos, eles são mínimos. Por isso, o conselho seria para que fosse vacinado.”

"Se a ciência fez pesquisas e concluiu que a vacina é vantajosa, que está a dar resultado, que os efeitos negativos são residuais, então não desaconselhamos que se tomem as vacinas."
Kiritkumar Bachu, presidente da Comunidade Hindu de Portugal

À semelhança do que sucede em Sintra com a Igreja Evangélica, também a Comunidade Hindu pôs as suas instalações à disposição das autoridades de saúde: atualmente, o Templo Radha Krishna, o maior templo hindu do país, situado na freguesia lisboeta do Lumiar, é um dos principais centros de vacinação da capital. “Logo quando começou a pandemia, a Comunidade Hindu foi a primeira a entrar em confinamento, ainda nem o Estado tinha decretado a situação de emergência. Foi uma decisão difícil, mas ajudou a comunidade. No início, começámos logo a ajudar a sociedade, principalmente os hospitais. Fomos para todos os hospitais de Lisboa ajudar nos almoços aos profissionais de saúde. Num mês, foram mais de mil almoços que oferecemos”, recorda Kiritkumar Bachu.

O templo Radha Krishna, em Lisboa, está a funcionar como centro de vacinação contra a Covid-19

Comunidade Hindu de Portugal

“Também nessa altura, como temos belíssimas instalações, oferecemos ao Estado português a possibilidade de as usarem para armazenar o que fosse preciso, quando se começou a importar máscaras e gel, mas não foi necessário. Agora, quando começou a vacinação, oferecemos o espaço à DGS. É um espaço que usamos para eventos culturais, casamentos e festas, mas que por causa da pandemia estava fechado. Eles quiseram as instalações, vieram reunir connosco e gostaram muito. Temos muito orgulho”, diz o presidente da Comunidade Hindu.

Até porque, explica Kiritkumar Bachu, “o templo e a religião hindus estão abertos para todos” e a instalação de um centro de vacinação até foi “benéfica para a comunidade, porque permitiu às pessoas conhecerem melhor a religião, a gastronomia e a cultura hindus”.

Testemunhas de Jeová garantem que não há impedimento à vacinação

Até no caso das Testemunhas de Jeová — uma religião comummente identificada com a recusa liminar de que os seus membros recebam transfusões de sangue, mesmo em situação de perigo de vida — não há qualquer impedimento religioso a que os fiéis sejam vacinados.

As Testemunhas de Jeová valorizam e respeitam profundamente a sua vida e a dos outros”, disse ao Observador Pedro Candeias, porta-voz das Testemunhas de Jeová em Portugal. “É, por isso, que desde 12 de março de 2020 realizam as suas atividades, como é o caso das reuniões, assembleias e congressos, por meios eletrónicos como, por exemplo, a videoconferência.”

"As Testemunhas de Jeová desejam tratamentos médicos de qualidade e apreciam os avanços da ciência médica que permitem reduzir o risco de doenças graves."
Comunicado das Testemunhas de Jeová sobre as vacinas

Especificamente sobre as vacinas, o porta-voz das Testemunhas de Jeová não acrescentou comentários, remetendo o Observador para um texto publicado no sítio da confissão religiosa na internet. No artigo, lê-se claramente que “as Testemunhas de Jeová não se opõem à vacinação”. “Em vez disso, consideram que a vacinação é um assunto pessoal, a respeito do qual cada cristão deve tomar a sua própria decisão. Muitas Testemunhas de Jeová escolhem ser vacinadas”, diz o comunicado. “As Testemunhas de Jeová desejam tratamentos médicos de qualidade e apreciam os avanços da ciência médica que permitem reduzir o risco de doenças graves. Estamos muito gratos pelo trabalho árduo e dedicação dos profissionais de saúde, especialmente em épocas de crise.”

O texto inclui ainda um conjunto de citações bíblicas que justificam como os assuntos de saúde são exclusivamente pessoais. No entanto, lembrando que também o célebre evangelista Lucas era médico, o artigo explica que as Testemunhas de Jeová “de bom grado, tomam remédios e aceitam tratamentos médicos” e deixa o conselho para que os fiéis adiram e cooperem “com as recomendações de segurança locais”.

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