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Quarta-feira é feriado. Calha ser nesse dia que as regras do novo estado de calamidade entram em vigor. Uma delas, e a mais importante para o capítulo da história da pandemia que começa a 1 de dezembro, é o aumento de testes à Covid-19 que, agora, terão de ser feitos por quem queira continuar a ter vida social. O certificado digital, que prova a toma de duas doses da vacina Covid, deixa de ser suficiente para diversas situações: grandes eventos sem lugares marcados (como concertos), recintos desportivos (leia-se jogos de futebol, mas não só) e entrada em discotecas e bares. Mas também vão ser obrigatórios para visitar lares de idosos e doentes hospitalizados.
Vamos fazer rewind. Quarta-feira é feriado. A véspera é um bom dia para fazer a ronda por bares e discotecas (onde vai ser preciso apresentar teste para passar pelo porteiro depois da meia-noite). Mas também é uma boa altura para assistir a concertos e jogos de futebol. Por exemplo, a brasileira Mallu Magalhães vai estar em Lisboa na sexta-feira e a fadista Marisa atua na capital no sábado e no dia seguinte no Porto. Os dois primeiros eventos têm lotação de cerca de 5 mil pessoas, o último de 8 mil. E, claro, há o clássico Benfica-Sporting que na sexta-feira vai juntar 65 mil pessoas na Luz.
Vamos andar, de novo, para trás e imaginar que quer ir a todos estes eventos (ou quase todos). Seja num laboratório ou numa farmácia, o melhor é agendar o teste com antecedência. Se o fizer na quarta-feira — contando que recebe o resultado no mesmo dia e que o resultado é negativo, claro —, não precisa de tentar entrar na discoteca da sua escolha antes da meia-noite. Há outra vantagem. Se for um teste PCR tem 72 horas para gozá-lo: consegue correr bares e discotecas na quarta e na quinta-feira, ir assistir ao concerto no Campo Pequeno na sexta ou ver o clássico na Luz, conforme a sua preferência. No sábado, quando acordar, ainda pode ir visitar algum familiar que esteja hospitalizado ou num lar. Sempre com o mesmo teste, que tem um custo variável, mas que em média ronda os 85 euros.
Se optar por um teste rápido de antigénio, a fatura é mais curta (até porque cada português pode fazer até 4 por mês pagos pelo Estado), mas a validade é de apenas 48 horas. Ou seja, antes de voltar a sair na noite de sábado à noite (e dependendo da hora a que foi testado na quarta), teria de repetir a testagem para garantir a tal liberdade de movimentos nas 48 horas seguintes.
A corrida aos testes é evidente pelos dados disponibilizados na plataforma da Direção Geral de Saúde — 26 de novembro foi o segundo dia em que mais testes se fizeram em 24 horas, desde o início da pandemia —, mas não deixam os diferentes atores do setor preocupados. As farmácias estão confiantes de que tudo irá correr bem, pedindo aos utentes que optem, sempre que possível, pelo agendamento. Os distribuidores de testes, que os importam do estrangeiro e fazem chegar às farmácias, estão seguros dos stocks existentes e das encomendas feitas e os laboratórios garantem ter capacidade instalada, ao contrário do que acontecia no início da pandemia.
Os anfitriões de eventos culturais e desportivos também estão otimistas e fonte oficial do Benfica diz apenas que vai ser preciso ter paciência para chegar ao interior do estádio já que a entrada de cada adepto será mais demorada do que o habitual.
Onde é que os testes vão ser obrigatórios, mesmo para pessoas vacinadas?
A partir de 1 de dezembro, ter esquema vacinal completo não basta. Para visitar lares, pacientes internados em unidades de saúde, participar em grandes eventos sem lugares marcados (ou em recintos improvisados) e recintos desportivos, e também para frequentar discotecas e bares vai ser preciso teste negativo à Covid, seja um antigénio seja um PCR. À lista, somam-se as fronteiras que estarão fechadas para quem não apresentar o teste negativo.
Há uma corrida aos testes?
Há. A 26 de novembro realizaram-se 98.094 testes em Portugal, segundo dados da DGS. Destes, a maioria foram de antigénio (53.510). Os restantes 44.584 foram PCR.
Não se atingia valores tão altos desde abril passado, quando o país alcançou os dois picos mais elevados até agora de número de testes feitos num dia — 98.744 e 98.063, respetivamente. Entre os três, a data mais recente fica em segundo lugar no pódio.
As farmácias estão a postos para dar conta da procura?
A Associação Nacional de Farmácias garante que sim. Devido aos anúncios do Governo, Ema Paulino, da direção da ANF, confirma que houve um aumento da procura dos testes para a Covid-19. No entanto, não vê como uma situação preocupante. “Houve ruturas de stocks com o pico da procura, mas os fornecedores estão a dar resposta a este momento”, diz a farmacêutica.
“Fornecedores e farmácias estão a abastecer-se, mas é sempre importante sensibilizar as pessoas de que é mais prudente fazer agendamento dos testes para não serem confrontados nas farmácias comunitárias com a sua indisponibilidade”, argumenta. Por outro lado, através do agendamento as farmácias conseguem organizar-se em termos de infraestruturas e recursos humanos.
Testes rápidos gratuitos disponíveis em quase 800 farmácias e laboratórios
Ema Paulino deixa, no entanto, um alerta: “Não se pode garantir que, durante um pico, a resposta seja imediata e os tempos de espera poderão ser maiores, até para que tudo seja feito em segurança, com a desinfeção dos espaços após cada teste.”
E os laboratórios? Estão a postos?
Germano de Sousa, antigo bastonário dos Médicos e proprietário de uma rede de laboratórios clínicos, diz ter capacidade de resposta para o que é esperado nos próximos dias. “Para ir aos grandes eventos basta um antigénio, que nós fizemos em todas as escolas. Para nós é fácil colher em série e executar, não podemos é fazê-lo à porta de um estádio.”
O médico dá como exemplo o Benfica-Sporting: se quisesse fazer em simultâneo testes a 1000 adeptos precisaria de 1000 executantes. A solução é óbvia: fazer o teste antes, e não no local. “Em janeiro de 2021 fiz 15 mil testes por dia, todos PCR, e estamos perfeitamente capacitados para voltar a fazê-lo. Não podemos é pensar que isto se faz à entrada dos sítios.”
Os preços dos testes são variáveis. Mas, nos seus laboratórios, um particular paga cerca de 85 euros por um teste PCR e 20 euros por um antigénio. O primeiro tem uma validade de 72 horas, o segundo de 48.
Na sua rede trabalham com testes vindos da Europa e têm garantias dos fornecedores de que as encomendas podem aumentar à medida das necessidades.
Também na Cruz Vermelha, a equipa está confiante de que dará resposta à necessidade aumentada de fazer testes. O que mais lhes faltava no início da pandemia — técnicos formados —, agora têm em número suficiente. “Já passámos a parte da dificuldade logística. Temos logística, temos recursos humanos, temos estruturas montadas e temos uma vasta experiência ganha pelos técnicos nos períodos críticos da pandemia”, diz fonte oficial da Cruz Vermelha.
Farmácias podem “recorrer a contentores ou tendas” para realizar testes, explica Associação
Vítor Fernandes, coordenador regional de emergência de Lisboa da Cruz Vermelha, concorda com este ponto de vista. “Tivemos um período mais calmo e nota-se um ligeiro acréscimo. O habitual é fazermos no posto fixo de Lisboa cerca de 400 testes por dia e para quinta e sexta-feira temos agendados 600. Mas a nossa capacidade máxima pode ir aos 1500, 1700 por dia”, relembra.
Assim, defende que a capacidade irá sendo aumentada ao ritmo das necessidades. Para quem procura a Cruz Vermelha, a resposta é rápida: o resultado de um antigénio é conhecido em cerca de 30 minutos, um PCR em 12 a 24 horas e chega ao utente por email e SMS. Há laboratórios que esticam o tempo de resposta de um PCR às 72 horas, algo que garante nunca ter acontecido na Cruz Vermelha.
E os distribuidores? Garantem que não vão falhar testes
Na Adifa, a Associação de Distribuidores Farmacêuticos, fonte oficial garante que está tudo sob controlo. As suas associadas, responsáveis por fazer o abastecimento das farmácias comunitárias, estão atentas ao aumento da necessidade de testes para garantir que são repostos a tempo e horas todos os stocks que entrem em rutura.
“Faz parte do normal funcionamento entre a Adifa e as farmácias”, diz fonte oficial. “Nós queremos que o produto esteja nas farmácias, se tivermos stocks enormes em armazém é sinal de que a logística e o aprovisionamento não estão a correr da melhor forma.”
Os números mais recentes que tem são de setembro, altura em que tinham entregado 2,5 milhões de autotestes às farmácias, a que se somam 500 mil testes profissionais. Nos distribuidores haveria cerca de 400 mil testes.
“Ao longo desta semana tem havido maior pressão de procura e para aprovisionar. É um processo muito dinâmico, mas que tem corrido normalmente, havendo disponibilidade, por parte dos grandes produtores, de pôr em Portugal os testes que forem necessários”, conclui, dizendo não ter motivos para acreditar que algo corra mal.
Concertos e futebol. Vai correr tudo bem à entrada?
Na cultura, a resposta afirmativa tem mais ênfase. No futebol, prevêem-se mais entraves à entrada.
Fonte oficial do Departamento de Comunicação do Campo Pequeno — que recebe os concertos de Mallu Magalhães e Marisa — não prevê problemas. “Ambos têm uma lotação de cerca de 5 mil lugares, sentados e marcados, e, por isso, não serão necessários testes”, recorda. Assim, a logística é aquela a que se habituaram: receber o bilhete, ver o certificado digital do espectador e seguir em frente.
Para os mais esquecidos, até vendem um teste Covid e têm uma equipa médica de prevenção que trata de tudo. O ideal, claro, é que os testes venham já feitos. “Quando as pessoas compram bilhetes online, também já é habitual receberem um SMS a relembrar as regras de entrada.” Para o Campo Pequeno, o grande teste vai ser dia 13, no concerto de James, esse sem lugares marcados e com uma lotação de 8 mil pessoas.
“Aqui, todos terão de mostrar o teste, mas ele é visível na mesma aplicação do certificado digital, penso que não criará problemas. É trocar uma vistoria por outra”, diz a mesma fonte.
Já no Benfica-Sporting, fonte do clube da Luz diz que garantir que todos os adeptos entram com certificado digital nunca é uma tarefa tranquila, mas faz-se. “Vai criar mais constrangimentos e vai ser preciso esperar mais tempo para entrar”, diz a mesma fonte. Na sua opinião, o ideal é que as pessoas se dirijam mais cedo para o estádio, para evitar atrasos maiores na entrada.
“É claro que vamos estar mais sobrecarregados, mas não adianta de nada ter 20 pessoas a fazer controle numa porta onde só entra um adepto de cada vez. Vão demorar mais tempo a entrar, é certo, e vai ser preciso mais paciência”, conclui.