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As temperaturas vão continuar anormalmente altas na próxima semana, sobretudo na Península Ibérica, França, Itália, Alemanha e Reino Unido

ECMWF

As temperaturas vão continuar anormalmente altas na próxima semana, sobretudo na Península Ibérica, França, Itália, Alemanha e Reino Unido

ECMWF

Europa pode ter a onda de calor mais intensa desde 1757. Inglaterra, França e Alemanha também vão chegar aos 40ºC

Portugal e Espanha terão uma pequena descida da temperatura na próxima semana, mas Reino Unido e França podem bater recordes. Europa pode ter a onda de calor mais intensa desde 1757.

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Chuvas torrenciais, quase 6.000 relâmpagos em sete horas e uma mão cheia de incêndios florestais causados pela atividade elétrica marcaram o final da tarde e noite de quinta-feira na Galiza (Espanha). O agrupamento de tempestades muito fortes, todas ao mesmo tempo, criou uma imagem vista do espaço que mais parecia o cogumelo da explosão de uma bomba atómica. O fenómeno foi natural, mas inédito nesta região, a poucos quilómetros da fronteira portuguesa.

O fenómeno meteorológico (chamado sistema convectivo de mesoescala) é mais comum nas zonas junto ao mar Mediterrâneo, mas aqui ter-se-á formado como consequência das altas temperaturas à superfície (44,1 ºC em Ourense) em combinação com ar frio em altitude — e poderá voltar a repetir-se, uma vez que a Galiza têm batido recordes de temperatura por estes dias.

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Progressão dos relâmpagos durante o dia de quinta-feira (assinalados a vermelho) e a concentração de várias tempestades no noroeste espanhol ao final do dia.

As temperaturas muito altas provocam instabilidade na atmosfera e justificam as trovoadas secas ou com chuva que temos tido também em Portugal. O calor sentido na Península Ibérica — e os recordes de temperaturas máximas e mínimas batidos — explicava-se, no início da semana, pelo anticiclone dos Açores — mais extenso do que alguma vez no passado e que estará a influenciar o clima na Península Ibérica —, e a partir do meio da semana pela influência de uma massa de ar vinda de África. Os ventos de sul, por sua vez, influenciam também o calor que vai fazer-se sentir um pouco por toda a Europa.

Porque podem ser tão quentes e perigosos os próximos dias? Solo extremamente seco, ventos de Espanha e uma depressão no Atlântico

A partir da próxima semana, espera-se que as temperaturas em Portugal diminuam um pouco (cerca de 10ºC, passando para uma média de 30ºC), assim como no noroeste da Península Ibérica. Mas as previsões para o resto de Espanha mantêm o tempo quente e seco em quase todo o território. A intrusão, no continente, dos ventos vindos do norte de África afetará cada vez menos Portugal, sobretudo no litoral, à medida que se deslocam para norte, até ao Reino Unido, que pela primeira vez na história accionou o alerta vermelho. Depois seguirá para França seguindo além da Alemanha. Mas as regiões mediterrânicas serão, naturalmente, as mais afetadas.

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A onda de calor mais intensa desde 1757

De olhos postos na Europa, a empresa norte-americana AccuWeather alerta que podemos estar prestes a presenciar a onda de calor mais intensa que o continente já sentiu desde 1757. Não só as temperaturas estão extremamente altas e a bater recordes máximos em várias localidades, como as “ondas de calor podem tornar-se de longa duração (20 ou mais dias) de Portugal ao centro de França e no interior sudeste da Europa, prolongando-se até ao final de julho e início de agosto”, disse Tyler Roys, meteorologista sénior na AccuWeather.

“Nos últimos 25 anos, houve apenas três ondas de calor de longa duração que tiveram impacto em partes da Europa: em 2003, na Europa ocidental e central por 32 dias; em 2006, na Europa ocidental e centro-norte por 35 dias; e, em 2021 [o mais quente de que há registo na Europa], na Itália e sudeste da Europa, por 21 dias”, ilustrou Tyler Roys, da empresa de meteorologia privada.

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Tal como em Portugal, a primavera muito seca e a baixa probabilidade de que venha a chover nestes dias, justificam que o tempo continue quente e seco na Europa, segundo a Organização Meteorológica Mundial. As temperaturas acima da média e uma precipitação abaixo do normal em quase toda a Europa têm como consequência um aumento do risco de incêndio, mais grave em Portugal, Espanha e Grécia.

Três mapas para perceber o risco muito elevado de incêndio na Europa

Reino Unido prevê temperaturas de 40 ºC pela primeira vez

O Reino Unido, rodeado pelo Atlântico norte e longe das influências imediatas do calor vindo de África, tem enfrentado temperaturas muito mais altas do que o habitual desde o mês de junho. Esta sexta-feira, emitiu o seu primeiro alerta vermelho da história relacionado com o tempo quente, para segunda e terça-feira, em algumas regiões de Inglaterra. É a primeira que se faz a previsão de temperaturas de 40 ºC, depois de grande parte do território inglês já estar em alerta laranja desde o início da semana. A temperatura mais alta alguma vez registada no Reino Unido foi 38,7 ºC, no Jardim Botânico de Cambridge, a 25 de julho de 2019, segundo a agência meteorológica britânica.

“A probabilidade de ter dias a chegar aos 40ºC no Reino Unido é 10 vezes maior agora do que quando o clima não tinha sido influenciado pela ação humana.”
Nikos Christidis, MetOffice

“É provável que a as temperaturas sejam excecionalmente altas, talvez atinjam recordes, no início da próxima semana um pouco por todo o território em alerta vermelho, na segunda-feira, e concentradas um pouco mais a leste e norte na terça-feira. Neste momento, a probabilidade de se registarem temperaturas acima de 40 ºC é de 50% e de 80% de se atingir uma nova temperatura máxima”, disse Paul Gundersen, meteorologista chefe no MetOffice, no Reino Unido. “As noites também serão excecionalmente quentes, especialmente em áreas urbanas. Isto é suscetível de levar a impactos generalizados nas pessoas e infraestruturas.”

As temperaturas altas estão a ser causadas por um fenómeno de altas pressões a sul do país, mas durante o fim de semana serão as massas de ar quente vindas do continente europeu que vão aquecer ainda mais as ilhas. Até a Escócia vai atingir os 20ºC em algumas regiões, muito acima da média para esta altura do ano. Prevê-se que as temperaturas mais normais possam voltar a partir de meio da semana, graças às correntes de ar mais frio vindas de oeste.

São estas temperaturas consequência das alterações climáticas? É difícil atribuir uma causa enquanto o evento ainda está em curso, mas o que sabe é que as alterações climática aumentam a probabilidade de eventos e temperaturas extremas. “A probabilidade de ter dias a chegar aos 40ºC no Reino Unido é 10 vezes maior agora do que quando o clima não tinha sido influenciado pela ação humana [na época pré-industrial]”, disse Nikos Christidis, que investiga a atribuição destes fenómenos no MetOffice.

Onda de calor leva o Reino Unido a declarar, pela primeira vez, um alerta vermelho

É certo que as variações no clima ocorrem naturalmente e de forma mais ou menos cíclica, mas a ação do homem no ambiente acelerou esses ciclos. A cada 100 a 300 anos, os verões no Reino Unido poderiam registar temperaturas de 40ºC no verão, mas até 2100 o ciclo pode ser de apenas 15 anos, mesmo que se reduzam as emissões de gases com efeitos de estufa conforme estabelecido no Acordo de Paris, refere a agência britânica.

Depressão viaja para nordeste e a Península Ibérica baixa as temperaturas

O mesmo anticiclone atlântico que provocou o aquecimento das ilhas britânicas desde o início da semana, tem ajudado a que a temperatura da atmosfera aumente com a incidência da radiação solar. Já a depressão a oeste da Península Ibérica, está a puxar as massas de ar muito quente vindas do norte de África. Esta massa de ar quente ficará praticamente estacionária sobre o território espanhol até domingo, reporta a Agência Estatal de Meteorologia (AEMet).

A onda de calor no interior do território continental espanhol dura desde dia 10 de julho e deverá manter-se até 18 de julho, segundo aviso da agência espanhola. Entretanto, espera-se que a depressão se mova para nordeste proporcionando a entrada de ar fresco vindo do oceano Atlântico e baixando a temperatura em algumas regiões, nomeadamente a sul e noroeste. Ainda assim, haverá outras zonas, a norte e nordeste, que vão aumentar a temperatura na segunda-feira.

Com a deslocação da depressão do Atlântico para noroeste, as temperaturas vão diminuir na Península Ibérica — ainda que continuem anormalmente altas —, mas vão voltar a subir assim que a depressão se afastar o suficiente, o que está previsto acontecer a partir de dia 20, quarta-feira. Nesta altura, a região espanhola mais afetada será a sudoeste, mais uma vez influenciada pela massa de ar quente de África.

Esta sexta-feira, até às 18 horas espanholas, Ávila tinha sido o município com a temperatura mais alta registada (44,3 ºC), seguida de Badajoz (43,9 ºC) e Sevilha (43,6 ºC).

Nos últimos 35 anos, as ondas de calor foram três vezes mais numerosas do que nos 35 anos anteriores e o número de dias das ondas de calor aumentou nove vezes.
Meteo France

França prevê bater recorde de temperatura na segunda-feira

Com a deslocação da depressão para noroeste — arrastando consigo massas de ar muito quente —, o próximo país no seu caminho é a França, que prevê que a onda de calor iniciada no dia 12 de julho se torne intensa e duradoura. Esta é a 45.ª onda de calor desde 1947, 25 delas aconteceram em julho. Foi também em julho, no dia 25 do ano 2019, que os termómetros atingiram as temperaturas máximas e mínimas mais altas alguma vez registadas no país: 42,6ºC e 21,4ºC, respetivamente.

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As temperaturas mais altas alguma vez registadas em França, com respetiva data da ocorrência — Meteo France

A agência meteorológica francesa (Meteo France) verificou que, nos últimos 35 anos, as ondas de calor foram três vezes mais numerosas do que nos 35 anos anteriores e o número de dias das ondas de calor aumentou nove vezes. A onda de calor de julho de 1983 foi a mais longa (23 dias) e as de agosto de 2003 e julho de 2019, as mais intensas, com temperaturas médias no país de 29,4ºC — recorde que poderá ser batido no dia 18, segunda-feira.

Entre domingo e terça-feira, a onda de calor vai intensificar-se e poderá durar sete a 10 dias. Esta sexta-feira, as temperaturas já estavam muito altas a sul, dos Pirinéus ao Mediterrâneo, com as máximas entre os 36 e os 38ºC (podendo chegar aos 40ºC) e as mínimas entre os 20 e 25ºC. Mas é na segunda-feira que se preveem as temperaturas mais altas, num gradiente de oeste (acima dos 40ºC) para este (acima dos 34ºC). Na noite de dia 19 e manhã de 20 poderá chover na metade este de França.

Também serão as chuvas a marcar o estado do tempo este fim de semana na Alemanha, com as temperaturas a subirem no sul no início da semana: máximas perto ou acima dos 30ºC, podendo mesmo chegar aos 39ºC, ainda que mais baixas na costa norte. A chuva voltará na quarta-feira, mas ainda com temperaturas altas — máximas de 30 a 36ºC. E só na sexta-feira se instala o mau tempo com chuva intensa e descida da temperatura.

Ondas de calor provocam morte de mais vulneráveis

As temperaturas altas e as ondas de calor são, com frequência, responsáveis por mortes adicionais sobretudo entre os mais vulneráveis. As “temperaturas extremas muito elevadas” provocaram um excesso de mortalidade de 238 óbitos, entre 7 e 13 de julho, disse a diretora-geral de Saúde esta sexta-feira.

Tyler Roys, meteorologista sénior na AccuWeather, lembrou também que durante a onda de calor mais longa da Europa, em 2003, morreram mais de 30 mil pessoas, tanto direta como indiretamente, devido ao calor.

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) afirmou que nos últimos 10 anos, morreram mais de 400 mil pessoas devido a catástrofes relacionadas com o clima e a meteorologia. Pelos mesmos motivos, 1,7 mil milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar os locais onde viviam — uma média de 25 milhões de pessoas todos os anos. O risco de morte é maior para idosos, crianças, grávidas e pessoas com doença prévia e estes eventos têm também impacto em diversas áreas da sociedade, como economia, sistemas de saúde e disrupções na energia.

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