O Governo sabia das “condições meteorológicas dificílimas” antes dos incêndios?
A frase
“O Governo sabia das condições meteorológicas dificílimas que em vários momentos se verificaram no nosso território. Condições extremas, mas não inesperadas.”
Assunção Cristas, líder do CDS-PP
O que está em causa?
Assunção Cristas disse, logo na abertura do debate sobre a moção de censura apresentada pelo CDS-PP, que o Governo de António Costa “sabia das condições meteorológicas dificílimas que em vários momentos se verificaram no nosso território”, classificando-as como “condições extremas, mas não inesperadas”.
Durante o seu discurso, Assunção Cristas reportou-se várias vezes ao relatório da Comissão Técnica Independente sobre o incêndio de Pedrógão Grande a 17 de junho, apesar de aqui se referir de uma forma generalizada à tragédia de Pedrógão Grande e à tragédia do último dia 15 de outubro, por todo o país.
Quais são os factos?
O relatório da Comissão Técnica Independente (pode consultá-la na íntegra aqui e ler um resumo do Observador aqui) dedica um capítulo exclusivamente às condições meteorológicas que se verificaram nos dias anteriores à tragédia de Pedrógão Grande e é claro: “As condições meteorológicas previstas e verificadas para os dias 17 de junho e seguintes eram de risco muito elevado ou extremo, como de resto e à data foi amplamente noticiado pela maioria dos órgãos de comunicação social”, lê-se no capítulo 5, referente às condições meteorológicas.
“No dia 17 de junho, a maioria das estações do IPMA na região registou temperaturas máximas superiores a 40ºC e humidades relativas mínimas entre 15 e 20%”, detalha ainda o relatório, recordando que “na semana antecedente aos incêndios Portugal esteve sob a influência de uma onda de calor, com início a 4 de junho e que apenas findou a 24 de junho, determinando que o mês viesse a ser considerado como extremamente quente e muito seco”.
Mais à frente no relatório, no capítulo 8, referente ao combate aos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis, os técnicos recordam as conclusões da parte do estudo referente à meteorologia e esclarecem que não houve “nenhum pré-posicionamento de meios”, “apesar de o nível do estado de alerta especial ser amarelo”.
Isto porque o Comando Nacional de Operações de Socorro, tendo em conta as previsões do IPMA, emitiu um Comunicado Técnico Operacional para todos os comandantes distritais a destacar que, “entre os dias 16 e 18, a temperatura máxima poderá atingir valores entre 40 e 43ºC nas regiões do interior” e elevar o nível de alerta especial para amarelo em todo o país.
“Não deixa de ser estranho que, em sede de determinações operacionais, de acordo com o ponto 4 do já referido CTO, o único meio de reforço pré-posicionado para o quadro previsto fosse o Grupo de Ataque Ampliado (GRUATA) da Força Especial de Bombeiros (FEB), na base de apoio logístico (BAL) de Castelo Branco”, refere ainda o relatório.
O mesmo aconteceu nos incêndios de 15 de outubro. No último sábado, o semanário Expresso revelou que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informou as autoridades, incluindo a Proteção Civil, de que o dia 15 de outubro seria o “mais perigoso do ano”, avisando que se previa risco muito elevado ou máximo de incêndio para a maioria do país. Mais: o aviso foi enviado às autoridades com 72 horas de antecedência.
Os avisos terão sido desvalorizados pelas autoridades, apesar de o alerta ser de uma dimensão rara: todos os concelhos do país estavam em alerta elevado, havendo mais de metade em alerta muito elevado ou máximo.
A conclusão
Assunção Cristas tem razão quando diz que o Governo sabia das condições meteorológicas que se previam para aqueles dias. Aliás, as estruturas dirigentes da Proteção Civil analisaram as previsões do IPMA, subiram o nível de alerta e informaram as estruturas distritais. Contudo, não houve aumento dos meios em pré-posicionamento para fazer frente a estas condições.
Teria sido possível “evitar” ou “limitar fortemente” a tragédia se tivessem sido usados mais meios?
A frase
“Era possível ter evitado a propagação do incêndio, era possível ter evitado ou limitado fortemente a tragédia, tivessem sido cumpridas as normativas e empenhados os meios delas decorrentes.”
Assunção Cristas, líder do CDS-PP
O que está em causa
Assunção Cristas defende que, se as decisões do comando da Proteção Civil nos primeiros momentos de combate ao fogo de Pedrógão Grande tivessem cumprido as normas previstas para aquele contexto, teria sido possível limitar a dimensão do incêndio. E a tragédia – sobretudo, o número de mortos – teria sido menor.
Em causa está a Diretiva Operacional Nacional aprovada pela Comissão Nacional de Proteção Civil para o ano de 2017 e aquilo que essa diretiva consagrava para o momento de “ataque inicial” a incêndios.
Quais são os factos
Nas primeiras horas do incêndio de Pedrógão Grande e Góis, o fogo propagou-se a uma velocidade “moderada”, com uma “intensidade elevada a extrema”, de acordo com o relatório apresentado pela Comissão Técnica Independente aprovada na Assembleia da República e a que Assunção Cristas se refere.
O mesmo relatório refere que a “cabeça do incêndio” esteve “intermitentemente acima da capacidade de extinção com meios terrestres” cerca de meia-hora após a ignição do fogo. Ou seja, só com meios aéreos teria havido capacidade para combater com eficácia as chamas. A partir das 18h, o fogo estava “incontrolável, independentemente dos meios disponíveis” no terreno.
Numa análise aos primeiros momentos do combate ao fogo, a Comissão Técnica Independente reconhece que se tratou de um “incêndio de grande complexidade, combatido em condições extremas”. Mas também refere que o fogo de Pedrógão Grande possibilitou “uma janela de oportunidade de pouco mais de duas horas para ser resolvido”. Depois desse período, os bombeiros perderam o controlo das chamas.
Nos primeiros minutos foi acionado um “helicóptero ligeiro” estacionado em Ferreira do Zêzere e que chegou ao local do incêndio cinco minutos depois das 15 horas. “Despacho inicial sem reparos, dentro dos critérios estabelecidos para o despacho de 1.º alerta e em triangulação”, refere o relatório. No momento seguinte, devia ter sido feito mais. Apesar de a Diretiva Operacional Nacional n.º 2 determinar que, numa fase de ataque inicial, deve ser acionado “um único meio aéreo”, a mesma norma – “aplicável por defeito” – admite que “possa existir empenhamento adicional de meios aéreos” ainda em ataque inicial.
Os especialistas da comissão nomeada pela Assembleia da República consideram que, em nome da “eficácia” de combate ao incêndio, “a decisão de acionar mais do que um meio aéreo, até um máximo de dois, em ataque inicial, seja um procedimento recomendável, mais célere”. Mas era isso que estava consagrado nas normas a aplicar, como diz Assunção Cristas? Era. A Instrução Operacional já em aplicação “estabelece quais as freguesias prioritárias em Portugal continental para intervenção, em ataque inicial, com mais do que um meio aéreo” e as freguesias mais afetadas pelo incêndio de junho – Pedrógão Grande, Graça, Pedrógão e Vila Facaia – estão ali inscritas.
O relatório deixa, a este propósito, algumas interrogações. “Pode questionar-se porque razão um outro helicóptero (H08), estacionado no Centro de Meios Aéreos de Pampilhosa da Serra e estando disponível, não foi acionado para o incêndio de Pedrógão Grande, seja como 2.º meio aéreo em ataque inicial, seja até como primeira opção, atendendo que estava muito mais perto do que o H31 que estava estacionado em Ferreira do Zêzere.”
Numa frase, os especialistas fazem a sua leitura: “As consequências catastróficas do incêndio não são alheias às opções táticas e estratégicas que foram tomadas”.
Logo depois de o relatório final ser entregue ao presidente da Assembleia da República, a 12 de outubro, o presidente da comissão concretizava a ideia noutros termos. “As medidas que deveriam ter sido tomadas, e de responsabilidade do comando, no período imediatamente a seguir ao despoletar do incêndio poderiam ter moderado os efeitos do incêndio”, disse João Guerreiro. Sobre as mortes, o antigo reitor da Universidade do Algarve admitia que, “se houvesse um sistema de informação e sensibilização do comando, na altura apropriada, no sentido de sensibilizar a população, no sentido de que fosse retirada, ou dando indicações para se meterem nas casas e não saírem das casas, provavelmente o drama não teria acontecido”.
A conclusão
Há duas ideias, uma presente no relatório da Comissão Técnica Independente e outra expressa pelo próprio presidente da comissão, que sustentam a declaração de Assunção Cristas. Por um lado, uma resposta mais musculada numa fase inicial do incêndio teria minorado a dimensão do incêndio, uma resposta que está consagrada nas normas aplicáveis em Pedrógão Grande. Por outro lado, uma ação diferente por parte dos homens no terreno teria permitido salvar vidas. Na conjugação das duas ideias, conclui-se que a líder do CDS tem razão quando diz que “era possível ter limitado fortemente a dimensão da tragédia”.
Não foram acionados todos os meios aéreos?
A frase
“Porque razão não foi acionado o segundo meio aéreo ainda no combate inicial? Porque razão o incêndio esteve duas horas sem qualquer meio aéreo? Duas horas em que podia ter sido controlado. Porque razão não foi mobilizado o único meio pré-posicionado, da Força Especial de Castelo Branco, como deveria ter sido quando se passou à fase de ataque ampliad0? O relatório é lapidar e cito: ‘Não se verificou incremento algum de meios como seria expectável’.”
Assunção Cristas, líder do CDS-PP
O que está em causa?
No discurso em que falou das motivações que levaram o CDS a apresentar a moção de censura, Assunção Cristas deixou duras críticas à forma como os meios aéreos foram utilizados no combate ao incêndio em Pedrógão Grande nas fases iniciais.
Atirando questões para o Governo, Cristas denunciou que “não foi acionado o segundo meio aéreo ainda no combate inicial” e que “o incêndio esteve duas horas em qualquer meio aéreo”, período em que o fogo “podia ter sido controlado”.
Cristas referiu-se novamente ao relatório da Comissão Técnica Independente, destacando que o único meio que estava pré-posicionado, da Força Especial de Bombeiros de Castelo Branco, não foi mobilizado e que “não se verificou incremento algum de meios como seria expectável”.
Quais são os factos?
As conclusões dos técnicos que fizeram parte da Comissão Técnica Independente também são claras neste aspeto, na medida em que reconstituem o acionamento de meios desde a fase inicial do incêndio.
A primeira ação a levar a cabo no combate a um incêndio é o chamado “ataque inicial”. De acordo com o relatório técnico, os meios despachados para esta fase incluíram “um helicóptero ligeiro estacionado no Centro de Meios Aéreos (CMA) de Ferreira do Zêzere, guarnecido com uma equipa helitransportada da Força Especial de Bombeiros (FEB), que chegou ao teatro de operações às 15h05”.
Para os técnicos, este despacho inicial não merece reparos e aconteceu “dentro dos critérios estabelecidos para o despacho de 1.º alerta e em triangulação”.
Contudo, o relatório alerta logo para uma situação de “excesso de zelo” que motivou que menos um meio aéreo pudesse estar presente no combate inicial: a existência de um helicóptero de combate às chamas estacionado em Pombal e que não foi acionado por causa de 1,9 quilómetros. “Sabe-se também que a distância entre o CMA de Pombal e o ponto de início do incêndio dista 41,9 kms. O que está determinado é a mobilização dos meios aéreos dentro de um raio de 40 kms.”
As críticas no relatório são mais fortes no que diz respeito à segunda fase do ataque, o “ataque ampliado”, que deve ser levado a cabo quando o incêndio não é dominado nos primeiros 90 minutos. Nesta fase, lê-se no relatório, “não se verificou incremento algum de meios, como seria expectável”.
O incêndio de Pedrógão Grande passou oficialmente à fase de ataque ampliado às 16h13. Contudo, o helicóptero mobilizado na primeira fase saiu do teatro de operações às 16h10. Um segundo helicóptero, mobilizado ainda durante a primeira fase, saiu do teatro de operações às 16h03. Só voltou um meio aéreo ao teatro de operações às 17h58. Isto significa, como se lê no relatório, que “entre as 16h00 e as 18h00, numa fase crítica do incêndio, não houve intervenção de meios aéreos. Este período abrange já um primeiro momento de ataque ampliado sem a presença de qualquer meio aéreo”.
Relativamente à última acusação de Assunção Cristas, sobre a não mobilização do meio aéreo pré-posicionado em Castelo Branco, o relatório também é perentório. “Recuperando o Comunicado Técnico Operacional emitido e já referido, indicando que o único meio pré-posicionado era o GRUATA da FEB na Base de Apoio Logístico (BAL) de Castelo Branco, não se encontram razões explícitas que poderiam ter justificado a não mobilização deste grupo. Na verdade, a partir das 16h13, quando se passou à fase de ATA, e sabendo que o GRUATA da FEB estava a cerca de uma hora do incêndio, a mobilização desta força em tempo útil poderia ter sido diferenciadora e ter contribuído de forma objetiva para a contenção do incêndio de Pedrógão Grande.”
A conclusão
Assunção Cristas tem razão quando afirma que os meios aéreos não foram todos acionados e o relatório da Comissão Técnica Independente apoia essas afirmações. Os técnicos sugerem que podia ter havido mais um meio no início (o helicóptero de Pombal), que o meio posicionado em Castelo Branco devia ter sido acionado e criticam o facto de o ataque ao fogo ter estado duas horas sem qualquer meio aéreo.
A Fase Charlie foi prolongada?
A frase
“A Fase Charlie foi efectivamente prolongada. E como já tive aqui oportunidade de mostrar, no debate quinzenal da semana passada, a ANPC fez no dia 14, e na sequência do aviso do IPMA, um alerta vermelho para todo o território nacional, com indicações precisas de onde era necessário haver um pré-posicionamento dos meios. E, portanto, essas medidas foram efetivamente adotadas.”
António Costa, primeiro-ministro
O que está em causa?
A questão foi levantada pela líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que falou sobre as responsabilidades do Governo na gestão do problema dos incêndios florestais na sequência da tragédia de Pedrógão Grande. “Logo após Pedrógão, alertámos para a necessidade, no imediato, de um plano especial de proteção civil para que a tragédia não se repetisse. Nada mudou. Manteve-se a mesma Fase Charlie, com a mesma desmobilização de meios no final, sem olhar para o clima e sem atualizar os contratos com os meios aéreos”, afirmou Catarina Martins.
António Costa respondeu afirmando que “a Fase Charlie foi efectivamente prolongada” e destacando que “a ANPC fez, no dia 14 e na sequência do aviso do IPMA, um alerta vermelho para todo o território nacional, com indicações precisas de onde era necessário haver um pré-posicionamento dos meios”.
Quais são os factos?
A Fase Charlie começou este ano no dia 23 de junho e terminou no dia 30 de setembro. A entrada na Fase Charlie representou um aumento de 50% dos meios humanos, um aumento de dois terços dos veículos e o triplo dos postos de vigia em estado de prontidão relativamente à fase anterior, a Fase Bravo, como detalhava o jornal Público na altura.
No dia 30 de setembro, o dispositivo de combate aos incêndios em todo o país foi reduzido, com a entrada na Fase Delta. Em termos de meios humanos, o dispositivo foi reduzido em quase metade. Os vigilantes florestais foram todos dispensados e os meios aéreos reduzidos a números mínimos.
Contactada pelo Observador, a porta-voz da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, esclareceu: “Não foi prolongada a Fase Charlie. O que foi feito foi um prolongamento do período crítico, que é um período em que são postas em prática algumas restrições nas florestas, como fogueiras, lançamento de foguetes, etc. No que toca aos meios, o que foi feito foi um reforço dos meios que compõem a Fase Delta, que é aquela em que estamos agora.”
Efetivamente, o reforço de meios de resposta a incêndios florestais após a Fase Charlie aconteceu em três fases:
- 29 de setembro: um dia antes do final da Fase Charlie, o Governo anunciou um prolongamento do período crítico do sistema de defesa das florestas até ao dia 15 de outubro. Este período não se refere ao aumento do dispositivo em prontidão para combate a incêndios, mas sim à imposição de restrições na utilização das florestas.
- 10 de outubro: depois de o Jornal de Notícias publicar, em manchete, a notícia de que os postos de vigia das florestas se encontravam encerrados desde o dia 1 de outubro, apesar de continuar o período crítico, o Governo anunciou uma série de medidas de reforço de meios: foram reativados 72 postos de vigia florestais e o número de bombeiros mobilizados para a Fase Delta foi aumentado para 6.400 (ainda longe dos mais de 9.000 mobilizados na Fase Charlie).
- 13 de outubro: prestes a terminar o período para o qual o Governo tinha prolongado o período crítico, o executivo tornou a prolongar este período até ao dia 31 de outubro.
A 9 de outubro, ainda seis dias antes dos últimos grandes incêndios, o CDS-PP questionou o Ministério da Administração Interna sobre porque é que não era prolongada a Fase Charlie. O secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, respondeu que o corte de meios — estimado em cerca de 40% — estava “calculado”.
A conclusão
Ao contrário do que disse António Costa no debate, a Fase Charlie não foi prolongada. O que foi prolongado foi o período crítico de defesa de floresta, que é um conjunto de restrições àquilo que é permitido fazer nas florestas — de recordar que a Fase Charlie se refere ao conjunto de meios que estão em prontidão para combate aos incêndios. Também foi feito um aumento dos meios de resposta alocados à Fase Delta, mas não em número semelhante aos que compõem a Fase Charlie.
https://observador.pt/2017/10/24/costa-enfrenta-a-sua-primeira-mocao-de-censura/
Este Governo gastou menos do que o anterior no combate a incêndios?
A frase
“Olhe para os orçamentos da Proteção Civil e acho que fica muito envergonhado. Em 2016 e 2017 tiveram um orçamento para o combate [aos incêndios] inferior aos anos do anterior governo. E repare que 2018 tem um Orçamento previsto abaixo do orçamento para 2012. São os dados oficiais dos orçamentos.”
Assunção Cristas, líder do CDS-PP
O que está em causa?
Num ano em que já morreram em Portugal 114 pessoas vítimas de incêndios florestais, segundo os dados mais recentes, Assunção Cristas apontou o dedo ao Governo por apresentar, desde que assumiu funções, orçamentos emagrecidos para o combate a incêndios.
Numa resposta à deputada Jamila Madeira, do PS, a ex-ministra da Agricultura acusa ainda o Governo de António Costa de, após o verão deste ano, apresentar um Orçamento para 2018 mais frágil, em matéria de fogos, que o de 2012, quando estavam no Governo PSD e CDS.
Quais os factos?
Para analisar a declaração de Assunção Cristas, é preciso separar a resposta por partes e fazer várias ressalvas. Antes de mais, a intervenção da líder centrista começa por aconselhar Jamila Madeira a olhar para a Proteção Civil como sendo motivo de “vergonha” para o PS. Logo a seguir, Assunção Cristas fala num “orçamento para o combate” aos incêndios – e isso não é, necessariamente, a mesma coisa que falar em “Proteção Civil”.
A este respeito, optámos por considerar os valores consagrados no programa “Proteção Civil e luta contra incêndios” dos orçamentos para os vários anos (2012 a 2018), uma vez que se revelou a forma mais objetiva de avaliar o valor aplicado nesta missão.
Outra ressalva. No último momento da sua resposta, Cristas fala já num “orçamento previsto” para 2018, o que traz consigo a dúvida sobre a que orçamento se referia anteriormente – se à proposta de Orçamento do Estado, se a orçamentos corrigidos durante o seu ano de execução ou, ainda, se a orçamentos consolidados (em que se compara o valor efetivamente gasto na rubrica).
Neste caso, e excetuando os anos de 2017 e 2018 – em que apenas se conhece o valor inicial dos respetivos orçamentos –, foi considerado o valor orçamental consolidado, que inclui, nos casos em que tal se aplica (2014 a 2016), os orçamentos corrigidos.
Posto isto, vamos a números.
Em 2016, ano para que o atual Governo apresentou o seu primeiro Orçamento do Estado, foram executados 204,9 milhões de euros para o combate a incêndios e Proteção Civil. Este ano, o Governo reforçou essa dotação em sete milhões de euros — estavam previstos 211,1 milhões de euros no início deste ano. Mas também aqui é devida uma ressalva. Em consequência dos graves incêndios que assolaram o país em junho e outubro, o valor efetivamente gasto este ano deverá disparar para um número superior ao inicial.
Como comparam estes valores com os de anos de governação PSD/CDS? Numa análise global, 2014 é o ano com o valor executado mais baixo entre 2011 e 2015. E, mesmo aí, o orçamento executado foi de 226 milhões de euros. Ou seja: sim, os orçamentos aprovados até agora (ou seja, excluindo o de 2018) pelo atual Governo em matéria de Proteção Civil e luta contra incêndios são mais austeros que os do executivo anterior.
Por contraste, o ano em que o Orçamento do Estado foi mais generoso neste campo foi, precisamente, o de 2012 – aquele que Assunção Cristas escolheu para sugerir ao PS que usasse na comparação com a proposta do próximo ano — com um gasto de 271,4 milhões de euros. Refira-se que, para 2018, o Governo prevê dotar esta área com um bolo de quase 235 milhões de euros, o mais significativo da atual legislatura.
Em jeito de complemento, o ano de 2013 fechou com 259 milhões de euros executados para combate a fogos e Proteção Civil; e, em 2015, foram gastos 243,3 milhões de euros neste rubrica.
Mais um dado: também em matéria de propostas de Orçamentos do Estado (o valor previsto no início do ano), os valores deste Governo ficam invariavelmente abaixo dos valores apresentados pelo Governo PSD/CDS. A única exceção é a proposta para 2018, que superaria os valores iniciais de 2013 e 2015.
A conclusão
Assunção Cristas tem razão. O Governo liderado por António Costa tem estado muitos furos abaixo do anterior executivo no que diz respeito às verbas públicas destinadas à Proteção Civil e ao combate a incêndios. Ambas as comparações traçadas pela centrista batem certo com os números.
Foi a primeira vez “em muitos anos” que foram constituídas novas equipas de Sapadores Florestais?
A frase
“Foram adotadas medidas para reforçar as equipas de sapadores florestais, que este ano já saíram do papel, e pela primeira vez em muitos anos foram de novo constituídas novas equipas.”
António Costa, primeiro-ministro
O que está em causa?
Em resposta à líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, sobre as medidas aprovadas e as responsabilidades do Governo na sequência dos incêndios deste ano, António Costa destacou que este ano foi a “primeira vez em muitos anos” que foram constituídas novas equipas de Sapadores Florestais.
Quais são os factos?
As equipas de Sapadores Florestais foram criadas em 1999 pelo então ministro da Agricultura, Capoulas Santos, agora repetente no cargo. Segundo o relatório de atividades das equipas de Sapadores Florestais de 2015, o mais recente que foi publicado, entre 1999 e 2004 o número de equipas de Sapadores Florestais aumentou todos os anos — de 33 equipas em 1999 passou-se para 177 em 2004.
Em 2005, pela primeira vez, não foram constituídas novas equipas. Nesse ano foram extintas seis equipas, pelo que o número de equipas operacionais diminuiu. A partir do ano seguinte, o número de novas equipas tornou a subir todos os anos até 2010, quando havia 274 equipas operacionais em todo o país. Entre 2010 e 2015 não foi constituída nenhuma equipa, e as extinções de algumas todos os anos levaram a que o número diminuísse até 2015 (ver gráfico).
Em 2014 e 2015, durante o Governo PSD/CDS, com Assunção Cristas à frente da pasta da Agricultura, houve, porém, um esforço no sentido do reequipamento das equipas de sapadores florestais, como o Observador escreveu aqui.
Não houve atualização dos equipamentos dos sapadores nos últimos 18 anos?
Durante esses últimos anos do Governo PSD/CDS, houve investimento em 21 novas viaturas, 281 motosserras, 231 motorroçadoras e 297 conjuntos de equipamento de proteção individual. O processo passava ainda pelo reequipamento de 59 equipas e — detalhe importante para esta avaliação — pela criação de 20 novas equipas. Contudo, devido a problemas administrativos com a realização dos concursos, este processo transitou para o Governo atual, pelo que foi já Capoulas Santos quem continuou esse trabalho e criou as 20 novas equipas este ano.
Poucos dias depois do incêndio de Pedrógão Grande, já a questão dos Sapadores Florestais tinha sido polémica, depois de Capoulas Santos ter dito que em 18 anos não houve nenhum investimento na renovação do material utilizado por estes profissionais, o que se provaria estar errado.
A conclusão
A frase de António Costa está correta, na medida em que efetivamente este ano foi o primeiro desde 2010 em que houve constituição de novas equipas. Contudo, o primeiro-ministro não refere que a constituição de novas equipas não é uma responsabilidade exclusiva do seu governo, uma vez que se trata de uma medida iniciada pelo Governo anterior. Costa não fala também do investimento do Governo anterior em renovação e aquisição de novos equipamentos para os Sapadores Florestais.