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Sanna Marin tomou posse em dezembro de 2019, depois de o então primeiro-ministro Antti Rinne se demitir

Getty Images

Sanna Marin tomou posse em dezembro de 2019, depois de o então primeiro-ministro Antti Rinne se demitir

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Filha de uma família arco-íris, medíocre na escola, hoje é “a primeira-ministra mais fixe do mundo”. A vida e as polémicas de Sanna Marin

Filha de uma família pobre e pouco convencional, foi uma aluna medíocre e aos 34 anos chegou a PM — mas não deixou de fazer a vida de sempre. As polémicas, os críticos e os fãs de Sanna Marin.

Quando, em maio deste ano, o Figaro publicou um perfil de Sanna Marin — “A dama de ferro finlandesa” — e escolheu garantir, logo a abrir, que os tempos em que a primeira-ministra era notícia por ir para a discoteca depois de um alegado contacto de risco ou por ter postado uma fotografia com um vestido novo eram passado, talvez tenha subestimado o verão finlandês e o seu sol que nunca se põe.

Isso e a personalidade da líder do SDP, o Partido Social-Democrata da Finlândia, que ao ser nomeada para o cargo em dezembro de 2019, com apenas 34 anos, fez sempre questão de garantir que a política nunca a mudaria enquanto pessoa.

Dizia o jornal francês, a guerra na Ucrânia tinha mudado “radicalmente” o status quo e não apenas a imprensa mas também a oposição finlandesas estavam “unidas” em torno da mulher que visitou Zelensky em Kiev, esteve em Bucha e Irpin, e acabou com a tradicional neutralidade nacional, liderando agora o país rumo à adesão à NATO — e anunciou recentemente que vai reduzir de forma drástica o número de vistos concedidos aos turistas russos.

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Sabe-se agora, três meses e uma mudança de estação depois, que a união não será assim tão forte. Em menos de uma semana, a primeira-ministra da Finlândia, agora com 36 anos, encheu páginas na imprensa nacional e internacional, primeiro por se ter deixado filmar a cantar, dançar e fazer poses com um grupo de amigos, numa festa privada; logo a seguir por ter vindo a público uma fotografia de duas conhecidas influencers, suas amigas, tirada em Kesäranta, a residência oficial dos primeiros-ministros finlandeses, em Helsínquia, enquanto se beijavam na boca, despidas da cintura para cima — um cartaz com o nome do país estrategicamente posicionado fez com que a imagem não fosse banida das redes sociais e pudesse ser livremente publicada em primeiras páginas e aberturas de telejornais.

"Estivémos na sauna, nadámos e passámos tempo juntos. Este tipo de fotografias não deveriam ter sido tiradas, mas, tirando isso, nada de extraordinário aconteceu no convívio"
Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia

À primeira polémica, Sanna Marin começou por responder com a descontração que lhe é característica — em junho, por exemplo, anunciou ao país que estava curada da Covid com uma story no Instagram, de calções curtos pretos e soutien desportivo da mesma cor, a fazer lançamentos num campo de basquetebol; nas suas redes sociais ficou conhecida por tanto partilhar momentos de cerimónias e viagens oficiais, como receitas de massa com molho de tomate ou fotografias a amamentar a filha, nascida em 2018.

“Espero que no ano 2022 se aceite que até os governantes dançam, cantam e vão a festas. Não queria que estas imagens se tivessem espalhado, mas cabe aos eleitores decidir o que pensam sobre o assunto”, disse na passada semana aos jornalistas que a questionaram.

Logo a seguir, quando se disseminou a teoria de que poderia ter havido consumo de substâncias ilícitas na festa, em grande parte alimentada por Riikka Purra, a líder do Partido dos Finlandeses, de extrema-direita e a segunda maior força no Parlamento do país, Sanna Marin respondeu com um teste de drogas.

Que, sem surpresas de maior, pelo menos para Janne M. Korhonen, analista político, deu negativo. “Este é provavelmente o escândalo mais estúpido que já vi, e já vi alguns bastante estúpidos”, escreveu no Twitter na semana passada, numa espécie de resumo do caso para os não falantes de finlandês, depois de explicar que a hipótese droga teria sido colocado em cima da mesa, que é como quem diz nas redes sociais, por um “conhecido neonazi” que garantiu ter ouvido, algures no vídeo, a expressão “jauhojengi”, qualquer coisa como “gangue da farinha”.

“Note-se que um perito convenientemente anónimo diz que alguém no áudio está a falar de ‘farinha’ e que tanto polícia, como jornalistas de crime e investigadores dizem que essa não é sequer uma palavra usada na cultura finlandesa da droga”, garantiu Korhonen, descrito pelo Euronews como uma espécie de autoridade do Twitter para a tradução e descodificação da política finlandesa para o resto do mundo.

Problema: à segunda polémica, a da fotografia das influencers em topless, alegadamente tirada em Kesäranta, para onde Sanna Marin se mudou com o marido e a filha, agora com 4 anos, a meio de 2020, para facilitar a gestão da pandemia, Janne M. Korhonen já não twittou.

E a primeira-ministra finlandesa também respondeu de forma diferente — pediu desculpa, admitiu que a fotografia “não é apropriada” e explicou que foi tirada em julho, na casa de banho de hóspedes da residência oficial, depois de uma noite passada no Festival de Ruisrock, o segundo festival de rock mais antigo do mundo, na ilha de Ruissalo, perto de Turku, a mais de 150 quilómetros de Helsínquia. “Estivémos na sauna, nadámos e passámos tempo juntos. Este tipo de fotografias não deveriam ter sido tiradas, mas, tirando isso, nada de extraordinário aconteceu no convívio”, disse Sanna Marin, que passados dois dias, na quarta-feira, chegou a chorar por causa do escândalo, o maior por que já passou, na sua não tão curta vida política.

A polémica do blaser, os hashtags de apoio e as lágrimas

“Ela não surge do nada. E é bastante apreciada”, explicou aquando da sua nomeação para o cargo, no final de 2019, Johanna Kantola, professora de estudos de género na Universidade de Tampere, justamente a alma mater de Sanna Marin, ao New York Times.

Presidente da autarquia local entre 2013 e 2017, a atual primeira-ministra finlandesa começou a captar as atenções nacionais nesse período, através dos vídeos das sessões camarárias, transmitidos via YouTube. “Foi bastante admirada pela forma como conseguia gerir toda a situação. É muito centrada nos assuntos e nas políticas, por isso quer falar sobre eles, não atrair atenções sobre si própria”, acrescentou a professora nessa altura.

"Ela não surge do nada. E é bastante apreciada. É muito centrada nos assuntos e nas políticas, por isso quer falar sobre eles, não atrair atenções sobre si própria”
Johanna Kantola, professora de estudos de género na Universidade de Tampere

Esta não foi a primeira vez desde que se tornou primeira-ministra que Marin foi notada por outros aspetos que não as suas decisões políticas. Em outubro de 2020, quando se deixou fotografar para a capa da revista feminina Trendi, a acompanhar uma entrevista em que falou sobre as exigências do trabalho e a dificuldade que sentia em equilibrá-lo com a vida familiar, Sanna Marin foi acusada de estar a desperdiçar o tempo que devia empregar na gestão da pandemia no país. Mas o que mais polémica causou foi a roupa escolhida para a produção fotográfica: um conjunto de calças e blaser pretos — sem camisa nem roupa interior sob o casaco.

Na altura, as redes sociais encheram-se com o hashtag #imwithsanna, “estou com Sanna”, e de fotografias de homens e mulheres de casaco preto sem nada por baixo. Agora, a onda de solidariedade foi ainda maior. Para além de Antti Lindtman, líder do grupo parlamentar do SPD, também Annika Saarikko, presidente do Partido do Centro, o segundo maior da coligação do governo, a segurou. Os vídeos de mulheres a dançar multiplicaram-se nas redes sociais (o hashtag mais popular é #solidaritywithsannamarin). E foram vários os políticos de todo o mundo a declarar o seu apoio à primeira-ministra, considerada um dos membros mais à esquerda do SDP e, pelo menos para os seus seguidores no Instagram, como notou recentemente o alemão Bild, “a primeira-ministra mais fixe do mundo”.

A fotografia de Sanna Marin para a revista Trendi também provocou polémica e deu origem a um movimento de solidariedade nas redes sociais

Melanie Vogel, senadora francesa do Europa Ecologia – Os Verdes, recorreu ao Twitter: “Os líderes políticos fazem festas. Por vezes também se embebedam, ressonam, caem, riem, sujam a roupa, dançam, vomitam. Eles são seres humanos. Superem isso”. Fiona Patten, a australiana que é líder do Reason e que em 2009 fundou o controverso Partido do Sexo, também: “Se libertar a tensão numa festa é a pior coisa que a vossa primeira-ministra já fez, então vocês são um país com muita sorte”, escreveu a deputada do parlamento de Victoria naquela rede social.

Ainda assim, Sanna Marin acusou a pressão e esta quarta-feira, num discurso no mercado de Lati, cidade no sul da Finlândia, desabou em palco. “Esta semana não foi fácil na minha vida. Na verdade, tem sido bem difícil. Quero acreditar que as pessoas olham para o que fazemos no trabalho e não para o que fazemos no nosso tempo livre”, disse entre lágrimas. “Também sou humana. Por vezes também eu, no meio destas nuvens escuras, anseio por alegria, luz e diversão. É privado, é prazer, é vida, mas não perdi nenhum dia de trabalho, não faltei a nenhuma tarefa.”

O fardo de ser “uma mulher jovem” e as críticas dos parceiros de coligação

Na altura em que tomou posse, em substituição do veterano Antti Rinne, que resignou ao cargo menos de seis meses após ter formado governo, Sanna Marin tornou-se a primeira-ministra mais jovem do mundo, recorde que manteve durante menos de um mês — a finlandesa chegou ao cargo a 10 de dezembro de 2019, aos 34, o democrata-cristão–conservador Sebastian Kurz foi eleito a 7 de janeiro de 2020 na Áustria, com apenas 33.

A coligação que passou a comandar, e que junta SPD, Partido do Centro, Aliança dos Verdes, Aliança de Esquerda e Partido Popular Sueco da Finlândia, todos liderados por mulheres, quatro delas à data com menos de 35 anos, rapidamente se tornou sensação no mundo inteiro.

Sobretudo pelos motivos errados, confessou, não sem alguma exasperação, logo em janeiro de 2020, numa entrevista à Vogue britânica.

“Em todos os cargos em que já estive, o meu género foi sempre o ponto de partida — sou uma mulher jovem. Espero que um dia não seja um problema, que esta pergunta não seja feita. Quero fazer um trabalho tão bom quanto possível. Não sou melhor nem pior do que um homem de meia-idade”, disse Marin, para depois recordar uma pergunta que lhe tinham feito, escassos dias antes, num painel em Davos, sobre como e onde é que o seu governo de mulheres se reunia.

"Em todos os cargos em que já estive, o meu género foi sempre o ponto de partida — sou uma mulher jovem. Espero que um dia não seja um problema, que esta pergunta não seja feita. Quero fazer um trabalho tão bom quanto possível. Não sou melhor nem pior do que um homem de meia-idade"
Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia

“Funciona como qualquer governo. Não nos encontramos num balneário feminino e temos conversa de balneário”, foi a resposta que deu. “Se eu não conseguir, se falhar — porque sou uma política e, como todos sabemos, as coisas nem sempre correm como queremos — não quero que isso seja interpretado como ‘Claro que falhou, falhou porque era uma mulher jovem’”, disse à Vogue a primeira-ministra finlandesa, que se filiou na juventude do SPD em 2006, aos 19 anos, e diz ter nas alterações climáticas, na igualdade e no bem-estar social as principais prioridades.

Uma das metas do seu governo, tida como uma das mais ambiciosas em todo o mundo, foi a de atingir a neutralidade carbónica nacional já em 2035. Mas, justamente ao longo desta semana “bem difícil”, Marin viu a Aliança dos Verdes vetar uma proposta do SPD, que queria, de forma excecional, conceder mais direitos de emissão num esforço de contenção do aumento dos preços da eletricidade. A líder, Maria Ohisalo, chamou-lhe um “retrocesso”. O eurodeputado Ville Niinistö aproveitou a deixa para ir mais longe e, em entrevista ao tabloide Ilta-Sanomat, acusou a primeira-ministra de não converter em políticas aquilo que apregoa publicamente, agora que se transformou numa “estrela internacional”.

“Durante o ano passado, o perfil da primeira-ministra voltou-se mais fortemente para o branding de imagem através das redes sociais e da imprensa internacional. Isso por si só não me incomoda, porque todos os políticos fazem o mesmo. Mas estão a tentar criar uma imagem dela como precursora progressiva de uma nova geração de feminismo e essa imagem não corresponde à realidade”
Ville Niinistö, eurodeputado

“Durante o ano passado, o perfil da primeira-ministra voltou-se mais fortemente para o branding de imagem através das redes sociais e da imprensa internacional. Isso por si só não me incomoda, porque todos os políticos fazem o mesmo. Mas estão a tentar criar uma imagem dela como precursora progressiva de uma nova geração de feminismo e essa imagem não corresponde à realidade”, atacou o parceiro de coligação, para depois acusar Marin de se aliar “repetidamente” à linha centrista do governo e de se “opor à proteção da natureza e à legislação climática na União Europeia”.

A vendedora, filha de uma família arco-íris, que se tornou primeira-ministra

Eleita pela primeira vez para o Parlamento finlandês em 2015 (já na qualidade de vice-presidente do SPD), reeleita em 2019 e, nessa altura, feita ministra dos Transportes e das Comunicações, para em menos de meio ano assumir a liderança do governo, a vida de Sanna Marin nunca foi fácil, fez questão de reiterar numa série de entrevistas e de escrever até no seu blogue pessoal.

E nem sequer se estava a referir ao episódio com Mart Helme, o na altura ministro do Interior da Estónia e presidente do EKRE, o Partido Popular Conservador, que depois de a ver substituir Antti Rinne não apenas questionou a sua competência como fez comentários ostensivos sobre os anos em que, ainda estudante, trabalhou numa padaria, a distribuir jornais e na caixa de uma loja.

“Lembro-me de Vladimir Ilyich Ulianov a dizer que todos os empregados de cozinha podiam tornar-se ministros, ou lá o que foi que ele disse. Agora vemos que uma vendedora se tornou primeira-ministra e que há outros ativistas de rua e pessoas sem instrução que também se tornaram membros do governo”, disse o político numa rádio da Estónia, dando origem a um incidente diplomático que acabou com Kersti Kaljulaid, então presidente do país, a pedir desculpas ao homólogo finlandês, Sauli Niinistö.

“Lembro-me de Vladimir Ilyich Ulianov a dizer que todos os empregados de cozinha podiam tornar-se ministros, ou lá o que foi que ele disse. Agora vemos que uma vendedora se tornou primeira-ministra e que há outros activistas de rua e pessoas sem instrução que também se tornaram membros do governo"
Mart Helme, ex-ministro do Interior da Estónia

Nascida em Helsínquia a 16 de Novembro de 1985, filha única de uma órfã e de um alcoólico (que já tinha outros dois filhos, de uma anterior relação), Sanna Mirella Marin destacou-se numa família pobre — foi a primeira a frequentar o ensino secundário, onde admite ter tido um “desempenho medíocre”, e a primeira a chegar à universidade, “graças ao estado social finlandês e a professores encorajadores e exigentes”, escreveu no seu site pessoal em 2016.

Tinha apenas 2 anos quando os pais se separaram — “O meu pai tinha um problema com a bebida, e a relação não funcionava”, contou numa entrevista em agosto do ano passado, após a morte de Lauri Marin, aos 65 anos. “Ele não teve qualquer contacto comigo. Não me lembro de ter recebido nenhum cartão de aniversário ou qualquer outro tipo de contacto. Quando eu era criança, a minha mãe ainda tentou manter-se em contacto, mas depois desistiu”, revelou a primeira-ministra, para depois confirmar que não, não tinha estado presente no funeral. “Eu não cresci com o meu pai. Não sinto que ele faça parte da minha família. As famílias das pessoas são diferentes.”

Sanna Marin é casada, com o namorado da adolescência, e tem uma filha, agora com 4 anos

https://www.sannamarin.net/

A de Sanna Marin, na década de 1990, foi seguramente diferente, assumiu também em várias ocasiões: depois do divórcio, a mãe refez a vida com outra mulher, à data um tabu no país que só em 2017 aprovou finalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Havia um silêncio a este respeito. E eu senti esse silêncio. Não me sentia bem, ao crescer, que houvesse esse silêncio”, disse à Vogue a primeira-ministra, que cresceu em várias cidades da Finlândia, antes de finalmente se fixar em Tampere, 180 quilómetros a norte de Helsínquia.

“Sou filha de uma família arco-íris. Para mim, os direitos humanos, a igualdade ou a igualdade das pessoas nunca foram questões de opinião, mas a base do meu entendimento moral”, já tinha escrito no seu site, onde explicou também por que motivo se aproximou da política, que à partida lhe tinha parecido tão distante da sua realidade. “O estado social ou as regras do local de trabalho não são um dado adquirido, mas o resultado de um trabalho árduo. A social-democracia pareceu-me um movimento a favor da igualdade, liberdade e paz.”

Na Universidade de Tampere, que em 2020 a distinguiu, Sanna Marin estudou Ciências Administrativas, ao mesmo tempo que trabalhava para o departamento de juventude da cidade de Tampere e como assistente de loja. “Não contraí um empréstimo de estudante porque não confiava em mim para poder pagá-lo de volta. A situação teria certamente sido diferente se o rendimento da minha família tivesse sido mais elevado”, assumiu no mesmo texto.

Nessa altura, já namorava com Markus Räikkönen, o ex-jogador de futebol do clube local e atual empresário na área da energia eólica (que não faz parte da família do campeão de Fórmula 1), com quem casou em Kesaränta, em agosto de 2020, depois de 16 anos de relação.

“Sou filha de uma família arco-íris. Para mim, os direitos humanos, a igualdade ou a igualdade das pessoas nunca foram questões de opinião, mas a base do meu entendimento moral”
Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia

Quando Emma Amalia nasceu, numa prova de que a defesa da paridade não é só para finlandês ver, decidiram dividir a licença parental de forma igual, seis meses para cada um. “Eu pude voltar ao trabalho, e ele pôde passar tempo de qualidade com a nossa filha. Eles agora têm uma relação muito boa. Penso que é muito importante que os pais tenham o direito de passar mais tempo com os filhos, é uma fase única na vida”, disse na mesma entrevista à Vogue a primeira-ministra, cujo governo anunciou em fevereiro de 2020 a intenção de aumentar para 14 meses as licenças parentais e de as tornar iguais para pais e mães.

Sobre a restante divisão de tarefas domésticas com o marido Sanna Marin nunca se manifestou publicamente mas o facto de, uma vez, ter feito referência à predileção que tem por fazer limpezas, atividade que, diz, a ajuda a relaxar e a pensar — “Porque te podes concentrar por completo apenas numa coisa concreta e ver imediatamente os resultados do trabalho”, explicou — voltou a suscitar-lhe dúvidas sobre a sociedade finlandesa e o lugar que as mulheres ocupam verdadeiramente nela.

Na primeira ocasião em que a encontraram depois de ter cometido essa inconfidência, revelou à revista Trendi, a pergunta que os jornalistas lhe fizeram foi: “Limpou a casa antes de sair?”. Isto precisamente no dia em que seria eleita líder do SPD: “Em primeiro lugar, por que é que a limpeza é a primeira coisa que perguntam à primeira-ministra e à futura líder do partido quando ela chega à reunião do partido? Em segundo lugar, questiono-me sobre a discussão que surgiu sobre isso. Para mim, a limpeza é relaxamento e uma forma de não pensar em nada enquanto estou a fazer uma coisa física. É uma escolha pessoal, não uma declaração social.”

A 2 de abril de 2023 há eleições legislativas na Finlândia, a primeira prova de fogo para Sanna Marin, que, na verdade, e apesar de durante a pandemia ter atingido níveis de aceitação de 66%, não foi eleita pelo povo, mas pelos companheiros do partido. Nessa altura será possível perceber se os escândalos recentes fizeram mossa e se os atuais parceiros de coligação, que a avaliar pelas críticas recentes dos Verdes já foram mais próximos, se mantêm ao seu lado.

Em 2019, ao New York Times, a professora Johanna Kantola, da Universidade de Tampere, deixou claro que “obviamente” o que não faltavam no país eram pessoas que não estavam “felizes por terem uma liderança só de mulheres do governo”. Por muito que possa não ganhar as eleições, Sanna Marin já deixou assente: a justificação da idade ou do género nunca dará.

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