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O primeiro dia em que o concelho acordou sem a cerca sanitária que durava há um mês trouxe expectativa e preocupação
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O primeiro dia em que o concelho acordou sem a cerca sanitária que durava há um mês trouxe expectativa e preocupação

Octavio Passos

O primeiro dia em que o concelho acordou sem a cerca sanitária que durava há um mês trouxe expectativa e preocupação

Octavio Passos

"Foi um mês para esquecer". O primeiro dia de Ovar sem cerca sanitária

Houve sol, algum movimento, mas nem por isso maior descontração. Ovar acordou este sábado sem cerca sanitária, mas ainda com receio e restrições excecionais. Ainda há medo do que pode vir.

Na fila de uma farmácia, de máscara e chapéu, Dinocrato Formigal, um “vareiro de gema” de 76 anos, vai soltanto comentários sobre o que se vive em Ovar. Está à espera da vez para ser atendido e passaram apenas algumas horas do levantamento da cerca sanitária no concelho. Dinocrato não tem dúvidas: a cerca foi levantada à meia noite e “Ovar ficou marcada”. Mas desagrada-o que olhem para os ovarenses como “os coitadinhos”.

O primeiro dia em que o concelho acordou sem a cerca sanitária que durava há um mês trouxe expectativa e preocupação. Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal, tinha avisado na noite de sexta-feira: a notícia é boa, “mas traz muita responsabilidade para todos” e o concelho continua a ser alvo de medidas excecionais. A manhã deste sábado foi o primeiro teste. Houve bom tempo e o movimento no centro da cidade pode ter sido maior — entre automóveis e pessoas com sacos de compras na mão ou em filas para a farmácia –, mas tudo decorreu com serenidade, sem grandes aglomerados e com a consciência de que a situação ainda não está resolvida.

“Uma boa notícia, mas que traz mais responsabilidade”. A noite em que Ovar levantou a cerca sanitária

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Para Dinocrato Formigal, o mais difícil da situação de calamidade — e agora de emergência — é não poder sair de casa sem ser em casos de maior necessidade. “Sempre fui muito de sair, estou ligado ainda aos Bombeiros Voluntários de Ovar. Sou uma pessoa que tinha um ambiente social bom e que gostava de andar muito. Passava pouco tempo em casa e, pessoalmente, não poder sair foi o meu pior problema”, explica ao Observador.

Na fila de uma farmácia, e de máscara colocada, está Dinocrato Formigal, um "vareiro de gema" de 76 anos

Octavio Passos

Apesar de ficar desanimado com a ideia de não poder sair como antes, Dinocrato percebeu a decisão de implementar uma cerca sanitária em Ovar e continua a entender que não se pode baixar a guarda. Admite, no entanto, ficar “arrepiado” sempre que pensa nas consequências das medidas que a cerca teve para as pequenas empresas. “Não é por mim, eu não preciso de andar por aí fora. Arrepia-me mais porque conheço muito bem Ovar e as empresas daqui. Sei dos grandes problemas que afetam sobretudo as pessoas de classe mais baixa. Aí é que me arrepiou”, sublinha.

Dinocrato reconhece que lhe pareceu, durante o seu percurso diário, “que há mais movimento de automóveis na rua”, especialmente porque o clima ajudou. Teme mais o cenário que pode surgir no fim de semana prolongado e na zona do Furadouro. “O que interessa é agora continuarmos a fazer o que fizemos antes. Oxalá que todos tenham noção da realidade”, refere ao Observador, com mais um desejo: “Que os vareiros, e todos os meus concidadãos, saiam disto de cabeça erguida”.

Um pouco mais à frente, também na fila e sempre com a distância de segurança, Adriano Dias, “nascido e criado junto ao campo do Ovarense”, conta que o levantamento da cerca sanitária não lhe vai alterar muito a rotina que tem tido ao longo do último mês, uma vez que, por motivos de saúde, possui um documento para poder sair do concelho e levar a sua mulher ao Porto. Diz que não gosta “nada de estar na gaiola [em casa]”, que para isso já lhe bastaram “os tempos da tropa lá fora”, mas sabe que as medidas têm de ser estas face à situação vivida em todo o mundo. “Normalmente saio para ir às compras ou quando há alguma coisa de urgência. De resto, meto-me em casa. Custa-me um bocado, mas as pessoas têm que se mentalizar que é necessário”, acrescenta.

Adriano Dias, "nascido e criado junto ao campo do Ovarense", conta que o levantamento da cerca sanitária não lhe vai alterar muito a rotina que tem tido ao longo do último mês

Octavio Passos

Negócios que se querem reerguer e projetos para ajudar em tempos de Covid-19

Os dias de sol podem ser propícios a deslocações a praias em todo o país e, por isso, essa será também uma das grandes preocupações e um dos principais focos de controlo das forças de segurança nos próximos tempos. Ao final da manhã deste sábado, na praia do Furadouro o movimento era pouco. Algumas pessoas caminhavam, outras corriam. Logo em frente à marginal, Maria Adriana Pinho tentava reerguer o negócio da sua peixaria, depois de ter fechado o espaço durante o mês do estado de calamidade em Ovar.

“Não valia a pena abrir porque não andava ninguém na rua. Estava toda a gente de quarentena”, explica ao Observador, acrescentando que, em 43 anos de trabalho no peixe, nunca viu nada assim. “Foi um mês para esquecer e agora também está a correr mal. Isto veio mudar o mundo”, diz em frente a um dos balcões da peixaria que reabriu esta sexta-feira, depois do levantamento da cerca. Ali, há peixe de todos os tipos, mas não tem havido quem o compre.

O mês em que esteve em casa de quarentena também não foi fácil: “Trabalho desde os 11 anos, tenho 65, e nunca tive um dia de férias. Na primeira semana em que fiquei em casa estava a ver que dava em maluca. Depois adaptei-me”. Mesmo que a cerca sanitária não fosse levantada, a peixaria de Maria Adriana iria reabrir portas. “Eu precisava mesmo disto”, desabafa. O medo, leva, na sua opinião, a que a população se contenha mais, não arrisque tanto e que se resguarde de um vírus que só no concelho já infetou mais de 600 pessoas.

"Não valia a pena abrir porque não andava ninguém na rua. Estava toda a gente de quarentena", explica Maria Adriana Pinho, dona de uma peixaria no Furadouro

Octavio Passos

Se alguns tentam reerguer o negócio, há também quem tente ajudar ao máximo as famílias de Ovar que perderam rendimentos e as entidades que precisam “de algum alento”. Nas confeitarias da cidade, um grupo de três pessoas surge de caixas com bolos e um papel na mão onde se lê “Ajudar Ovar”. Trata-se do projeto de Daniela Fragateiro, Carla Rodrigues, Maria Abrantes e Tiago Mendes, criado com o objetivo de ajudar entidades locais e famílias mais necessitadas com recolha de bens alimentares e aquisição de Equipamentos de Proteção Individual.

“De repente, vemos famílias que ficaram sem rendimentos, lojas que estão encerradas, pessoas que eram taxistas…ficou tudo parado. Têm chegado muitos pedidos de ajuda”, refere Daniela Fragateiro ao Observador. Ovar “mudou em tudo” e é necessário estar alerta: “As ruas estão vazias, o medo também se instalou e foi necessário perceber as limitações que esta cerca trouxe. Agora as pessoas também têm que ter noção que a cerca foi levantada, mas o estado de emergência mantem-se e a doença continua a existir”.

Ao final da manhã deste sábado a praia do Furadouro tinha pouco movimento, composto essencialmente por pessoas que faziam caminhadas ou corridas

Octavio Passos

Eduardo Cabrita agradece “olhos nos olhos” e garante mais monitorização

Quem também fez questão de testemunhar o primeiro dia após o levantamento da cerca sanitária em Ovar foi o ministro da Administração Interna. Eduardo Cabrita quis manter o compromisso e agradecer “olhos nos olhos” a todos os que estiveram envolvidos no combate à Covid-19 no concelho, reconhecendo “a coragem do povo de Ovar, dos seus autarcas e de todas as instituições”, bem como das foras de segurança que “colocaram a saúde e a segurança da população do concelho de Ovar acima de tudo”.

Em declarações aos jornalistas, Eduardo Cabrita alertou que, apesar de a cerca sanitária ter sido levantada, “os tempos difíceis ainda não terminaram”. “A cerca sanitária não significa uma alteração nos comportamentos que, coletivamente em todo o país mas de uma forma muito especial em Ovar, têm de ser prosseguidos”, sublinha o ministro, acompanhado por Salvador Malheiro.

Apesar da mudança do estado de calamidade para o estado de emergência, continuam a existir regras execionais a cumprir para evitar o contágio em Ovar. O decreto de lei aprovado pelo Governo determina que está interdita a circulação e permanência de pessoas na via pública, “incluindo as deslocações com origem ou destino no concelho”. As exceções são as atividades urgentes e necessárias, como a aquisição de bens alimentares, de higiene ou farmacêuticos, o acesso a cuidados de saúde e as deslocações para o trabalho — com uma declaração da entidade empregadora.

Eduardo Cabrita foi a Ovar agradecer “olhos nos olhos” e anunciar mais vigilância

Eduardo Cabrita garante ainda que Ovar vai manter-se sob “uma monitorização muito intensa”, sendo que o empenho das forças de segurança “será mantido e, em alguns casos, até alargado”. Ao longo dos próximos dias, uma vez que o bom tempo pode ajudar a que a população se sinta tentada a sair de casa, a intervenção das autoridades será “talvez até mais exigente e sofisticada, porque é determinante garantir o cumprimento estrito das regras de distanciamento social”.

A esperança do ministro é que a atitude de Ovar se mantenha: “Estou certo que o povo vareiro, que de uma forma tão especial compreendeu o desafio com que estava confrontado, irá perceber também aqui que deve continuar em casa, manter todas as saudáveis práticas de distanciamento social, porque só dessa forma poderemos ir gradualmente conquistando cada vez mais um espaço de normalidade das nossas vidas”.

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