Francisco César, deputado e vice-presidente da bancada parlamentar socialista, deixa um aviso: o tempo em que o “brilharete para Bruxelas” interessava já passou e agora há que “equilibrar as duas vertentes: o trabalho que tem que ser feito, apoio aos serviços, apoio às famílias mais carenciadas”, ainda que “garantindo que a dívida permite isto tudo”.
A entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, aconteceu na quinta-feira, ao final do dia, horas antes de o país ter ficado a saber que no primeiro semestre houve um excedente nas contas públicas. E, até por isso, o recado do socialista para o Ministério das Finanças ganha mais significado político: “Um bom resultado orçamental não é um excedente orçamental”, avisa.
A pressão de Francisco César chega a menos de um mês de o Governo entregar na Assembleia da República o próximo Orçamento do Estado para 2024 e é mais um do PS a juntar-se ao coro de vozes que vão alertando para a necessidade de “maior humildade” e capacidade de diálogo. O socialista concorda, mas critica o PSD, dizendo não ver qualquer “humildade” no partido liderado por Montenegro — o mesmo, provoca, que não tem não tido uma “vida muito generosa ultimamente”.
[Ouça aqui a Vichyssoise com Francisco César]
O bailinho de Ventura, as prendas de Costa e os riscos de Montenegro
“A vida não tem sido muito generosa para Montenegro”
Este domingo há eleições na Madeira, é normal que um partido como o PS tenha desistido por completo de governar a Madeira?
É uma novidade para mim, desistiu?
Olhando para as sondagens, o PS arrisca-se a ter metade do que teve há quatro anos. Uma derrota desta ordem de grandeza não é uma espécie de desistência?
Não deixa de ser curioso que ouvi comentários muito semelhantes a estes antes da maioria absoluta que o PS teve a nível nacional.
Ou seja, se calhar ainda chega à maioria absoluta na Madeira, é isso?
Quem sabe… O que interessa é que essa ambição não tenha sido perdida. E não foi. Temos um candidato que tem feito o seu papel, tem feito o seu trabalho e tem um projeto para a Madeira. Acredito que os meus colegas da Madeira irão ter um bom resultado. Espero que sim.
Mas olhando mais uma vez para as sondagens, que são um instrumento falível, o PS arrisca-se a ter metade da votação que teve há quatro anos. Uma eventual derrota desta ordem de grandeza não terá leitura nacional também?
Não me lembro de vitórias a nível regional terem leituras a nível nacional. Também não acho que uma derrota possa ter [essa leitura nacional].
Nos Açores tiveram várias leituras e algumas delas deram bastante jeito ao PS.
Sim, tivemos para vários gostos. Agora, são eleições totalmente diferentes. Sei porque já fui candidato em eleições regionais e já coordenei algumas campanhas. Algumas correram bem, outras não correram tão bem. As pessoas distinguem [as eleições], os programas são distintos e não há um julgamento nacional. No caso dos Açores, o PS ganhou com governos nacionais de cor laranja e também ganhou com governos nacionais de cor rosa. Também houve casos em que o PS não ganhou como queria com o Governo de António Costa. Portanto, acho que a leitura não deve ser nacional. Percebo também que no estado em que está o PSD, naturalmente que o seu líder, se existir uma vitória, pode tentar tirar algum mérito para si, porque a vida não tem sido muito generosa ultimamente.
Acredita genuinamente que o PS pode vencer essas eleições da Madeira?
Se não acreditasse… O PS Madeira tem bons protagonistas, tem um bom programa eleitoral, tem pessoas capazes. A Madeira tem o mesmo partido há tantos anos. E, portanto, temos novas ideias.
Mas a questão é que com Paulo Cafôfo, por exemplo, nas últimas eleições o PS conseguiu um resultado melhor. Como é que há esta queda? Houve esse desinvestimento?
Há quem diga que as eleições são perdidas pelo partido que está no Governo. Nós estamos no final do primeiro mandato de Miguel Albuquerque. É normal que após uma sucessão — que sabemos que foi complicada e muito disputada, após Alberto João Jardim — haja uma sensação de afirmação.
“Problemas estruturais? Temos que assumir a nossa responsabilidade”
Esta semana o Governo apresentou as novas medidas de apoio às famílias com créditos à habitação. A oposição em peso classificou-as de insuficientes e tardias. Por outro lado, o pacote Mais Habitação foi feito, refeito e mesmo assim vetado pelo Presidente da República, e acabou por ser confirmado sem alterações. O insuspeito Pedro Marques assumiu que os problemas na habitação vão penalizar ou podem penalizar eleitoralmente o PS. Consegue reconhecer que oito anos depois de chegar ao poder o PS falhou nesta área?
Os resultados que nós temos ao nível da habitação não são os que gostaríamos, isso é óbvio. Agora, é verdade que foi o PS que colocou este assunto na agenda. E foi o PS que começou e iniciou o trajeto de tentar combater este problema.
E a realidade também se impôs.
Está bem, mas fomos nós que colocámos isso no programa. Não ouvi nenhum dos outros partidos, com honrosas exceções, dizer que a sua prioridade era a Habitação. O Governo é que fez isso, o Governo e António Costa, inclusive com uma ministra para esta área. Vivemos numa situação muito complicada. A construção abrandou, há problemas por causa do aumento da procura externa, há outros fatores, nomeadamente a transformação de parte das nossas habitações para um modelo de rentabilização para alojamento local. Não venham dizer que isso não é assim, porque é. E basta ir a algumas zonas. Agora, isto é assimétrico no país. Essa gestão tem que ser feita e deve ser ponderada. E foi melhorada ao longo do “Mais Habitação”, que foi amadurecido e melhorado, com os contributos da oposição, da sociedade civil e fora da política.
E ainda assim alvo de veto de Marcelo Rebelo de Sousa.
Mas o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tem algumas ideias que não são as mesmas que nós. Temos as nossas ideias, elas foram melhoradas, mas chega um ponto em que não podemos ficar numa inação permanente. O pior que pode acontecer é ficarmos à espera da solução ideal e não fazermos nada. Fizemos. Achamos que as propostas que são apresentadas são boas. Têm sido acompanhadas por outras medidas que ajudam e, provavelmente, no futuro, mediante a conjuntura, pode ser necessário acrescentarmos outras. Mal seria se o Governo não tivesse essa consciência e acredito que tenha.
Usando uma expressão que utilizou, o “não podemos ficar na inação”… Na Saúde, ao fim de oito anos, promete-se a maior reforma de sempre no SNS e pede-se mais tempo. Na Educação, há falta de professores e pede-se mais tempo. Na Justiça, há problemas e pede-se mais tempo. Oito anos depois, pedir mais tempo não é uma forma de desresponsabilização?
Seria se estivesse tudo a correr mal. Não partilho da visão que está tudo a correr mal. Ao nível de profissionais de Saúde temos mais, ao nível de consultas e atos médicos temos mais, desde 2015 temos quase o dobro em alguns casos. Agora, o SNS não deve ser visto numa perspetiva empresarial. É um sistema que, quanto mais se melhora a oferta, mais estimula a procura. Não andamos de reforma em reforma, andamos sucessivamente a melhorar o sistema.
Na questão dos professores, há muito que era identificado que a carência de profissionais nessa área ia colocar-se mais cedo do que tarde. Por que não foi acautelada essa circunstância?
O problema é estrutural, é mais até do que na Saúde. A profissão de professor foi talvez das mais desvalorizadas no passado. Tiveram a sua carreira congelada, tiveram uma diminuição do seu estatuto social perante a sociedade e a profissão não foi atrativa. Acho que no tempo devido não foi prestada atenção que deveria ter sido prestada.
E o PS, o Governo, têm feito o suficiente para tornar a carreira atrativa?
Todos temos que assumir as nossas responsabilidades no passado. Não falo de remuneração. Quem descongelou a carreira dos professores foi o PS, quem deu previsibilidade à carreira dos professores foi o PS. Agora, não conseguimos resolver os problemas que vêm do passado. Em alguma parte teremos a nossa responsabilidade, porque não é um partido que faça tudo bem. Temos que assumir a nossa responsabilidade, mas também temos a fazer tudo para resolver.
“Excedente orçamental? Talvez me pareça um pouco excessivo”
No PS e no Governo há muita gente a pressionar para que este Orçamento seja mais expansionista. Fernando Medina e até Mário Centeno já avisaram que não há folga para ninguém. Os portugueses vão compreender que o Governo chega ao final do ano com um brilharete orçamental?
Não sei o que é um brilharete orçamental.
No défice, por exemplo?
Se isso quer dizer que nós vamos ter um défice mais baixo…
Excedente, por exemplo, no final do ano.
Talvez me pareça um pouco excessivo, mas não me parece que isso aconteça, apesar de algumas previsões.
Ou perto disso.
Acho que há três prioridades para o próximo Orçamento do Estado: inflação, ou seja, é preciso controlar a inflação, mas ao mesmo tempo permitir que não afete aqueles que são mais expostos ao aumento do cabaz de produtos essenciais. Portanto, os mais fracos devem ser menos atingidos pela inflação. Isso deve ser feito com cuidado, porque há determinadas medidas que podem, elas próprias, ter o efeito inverso. Ou seja, em vez de acautelar o rendimento, podem provocar um aumento da inflação. Isso deve ser feito com alguma sapiência e alguma moderação. Acho que o Governo, da forma como tem feito… e o exemplo do IRS jovem é um bom exemplo disso.
Se chegar ao fim do ano com excedente ou perto disso, não será incompreensível tendo em conta o que os portugueses estão a passar neste ano.
Vou repetir o que estava a dizer: há três questões, a primeira é a inflação, o combate a inflação. E o Governo deve ponderar isto, mesmo este ano, se tiver margem para isso. A segunda é a dívida: quando temos uma taxa de juro na ordem dos 5% quer dizer que a nossa dívida será afetada e vão-me dizer que estamos com o discurso da direita em relação à dívida. Não, não estou. A questão é que, se tivermos uma gestão precaucionária do ponto de vista do aumento da dívida pública em valor nominal e redução do seu valor relativo, isso pode permitir que, em termos de juros, possamos poupar o suficiente para ter outros instrumentos para ajudar aqueles que são mais desfavorecidos em época de crise.
Então temos que ser “todos Centeno” e todos Medina mesmo que os serviços públicos colapsem?
Não disse que os serviços públicos podiam colapsaram.
Há um problema nos serviços públicos. Como é que isto se explica só com essa tentativa de ter défices baixos? É pela dívida, pela inflação e mais?
A economia e os serviços públicos. Ou seja, nós temos que conseguir ter um orçamento que permita, por um lado, garantir uma resposta eficaz dos serviços públicos e, por outro lado, estimular a atividade económica, garantir que o investimento público funciona e que há um estímulo ao investimento privado.
É possível chegar ao fim do ano com bons resultados nas contas públicas, bons para Bruxelas, quando as pessoas passaram um ano com problemas na habitação, no acesso aos serviços públicos? Vai ser compreensível? Como deputado socialista sentia-se bem nessa posição?
Um bom resultado orçamental não é um excedente orçamental.
Portanto, o Governo não pode apresentar um excedente no final deste ano?
Um bom resultado orçamental não é um excedente orçamental, na minha opinião. Um bom resultado orçamental é um resultado que permite, por um lado, acudir aquilo que é necessário acudir e, por outro lado, garantir que a dívida está a níveis controláveis…
Sustentáveis.
Sustentáveis e que dê instrumentos ao Governo para poder intervir naquilo que tem que intervir. Isso é um equilíbrio e é diferente do passado. No passado, o que interessava era o brilharete para Bruxelas. No presente, o que interessa é equilibrar as duas vertentes: o trabalho que tem que ser feito, apoio aos serviços, apoio às famílias mais carenciadas, mas garantindo que a dívida permite isto tudo.
“O PS nem sempre é humilde”
Recentemente, Carlos César, presidente do PS, lembrou que o partido não era dono do país nem o único a ter as melhores ideias. E também avisou que não se governa sozinho. Nos últimos dias, o Governo não se fez representar em dois debates parlamentares, um sobre a habitação e outro sobre a redução do IRS. É esta a humildade que aconselha o presidente do partido?
Não há nada que o presidente do partido não tenha dito que um socialista não partilhe. Todos partilham isso. Eu partilho isso. Que eu saiba, o PS não é dono do país e não temos as melhores ideias.
Mas o que é esta preocupação já manifestada de dentro? A humildade que o primeiro-ministro tem a apregoado não está a ser praticada?
Não, o que foi dito é aquilo que se constata e que é óbvio. Aliás, vi vários dirigentes do PS a partilharem exatamente a mesma ideia. O Governo estar ou não estar presente nos debates depende dos debates. Há debates que são pura e simplesmente chicana política e cujo objetivo não é interpelar o Governo, é ter proveito político. E há uns em que o Governo acha que se deve fazer representar.
Na questão do IRS o Governo achou que não era um tema suficientemente importante para estar representado, é isso?
A nossa posição é clara. O PS tinha uma posição e o Governo vai apresentar um Orçamento daqui a 15 dias. Não vi no PSD a humildade de poder esperar por um orçamento para se fazer essa discussão
E no debate da aprovação do pacote de Mais Habitação do próprio Governo em que não se fez apresentar.
Aliás, no caso do IRS, o que sabemos é que o PSD, numa medida de tentar antecipar o Orçamento de Estado, foi à pressa tentar colocar a sua medida. Aliás, fez uma coisa que é quase inédita que é tentar baixar os impostos no final do ano. No meu ponto de vista viola claramente a lei travão e nem deveria ser discutido. Há matérias em que o Governo se deve fazer representar, há outras que não.
Perguntava-lhe pelo debate sobre o pacote Mais Habitação do próprio Governo em que não se fez representar.
O Governo mantém a posição e é clara: o PS fez a defesa da sua posição…
Portanto não há nenhuma justificação para críticas e conselhos sobre humildade porque o PS está a ser humilde.
O PS nem sempre o é, mas o PS tem que fazer um trabalho para que continue a ser aquilo que é óbvio: o PS não é dono da verdade nem é o único com as melhores soluções. Tem-no praticado e deve fazer um esforço para que isso acrescente.
E deve fazer um esforço junto do PSD neste Orçamento do Estado, nomeadamente em matéria fiscal?
Não, deve fazer [um esforço] junto de todos os partidos dentro do espectro democrático.
Para o PS, o PSD é igual a todos os partidos?
Sim, é um partido que foi eleito, como todos os outros.
Mas em termos de negociação, o facto de ser o maior partido da oposição não tem um peso diferente?
Numa determinada altura liderei a discussão da Agenda de Trabalho Digno. Tivemos um trabalho profundo com o PCP, com o Bloco de Esquerda e com o PSD. No final, o PSD absteve-se. É uma prova de algo. E nós acedemos a dezenas de medidas. O PSD acabou dizendo que o PS não tinha ido até onde o PSD achava que deveríamos ter ido. É normal, temos programas diferentes, ideias diferentes para o país, mas há ali muitas vezes uma base comum, e quando alguém diz que o PS não é dono da verdade, é verdade. Nesse projeto alterámos 30 medidas nossas. Na política vão dizer que foi um recuo do PS, outros poderão dizer que as propostas deles eram melhores que as nossas e que, em alguns casos, tínhamos erros e resolvemos melhorá-las. Em outros casos, a nossa posição é diametralmente oposta. Uns têm uma visão neste sentido, outros têm outra. O consenso e o diálogo é algo que deve melhorar o trabalho que está a ser feito, mas não nos deve retirar a identidade de um projeto.
“Os Presidentes da Repúblicas não demitem ministros”
Ainda dentro da postura do PS, mas em relação a outro órgão de soberania, aconselhar o Marcelo Rebelo de Sousa a ocupar o seu galho, como fez o primeiro-ministro, é uma forma de preservar as boas relações institucionais com o Belém?
Não vejo isso desta forma, acho que o primeiro-ministro referiu que cada um tem as suas competências. Às vezes há formas caricatas, há determinadas hiperbolizações ou metáforas que podem ser feitas para caracterizar um momento. O primeiro-ministro optou por ser esta, mas acho que não foi ofensivo, como aliás se percebeu na boa relação que têm ainda hoje.
Compreende que António Costa tenha ficado em silêncio no Conselho de Estado? Não é mais um sinal dessa atitude, não era uma questão de cortesia responder às dúvidas de um órgão de aconselhamento do Presidente da República e às críticas também?
Todos nós gostamos de falar de algo que não vimos e soubemos por interposta pessoa.
O próprio Presidente da República já falou no silêncio.
Todos nós percebemos que houve silêncio, mas ninguém percebeu o contexto desse silêncio. Vi várias interpretações de protagonistas e outros que receberam essa informação de alguns protagonistas e acho que às vezes é preciso perceber o contexto. Já ouvi contextos em que este silêncio estava perfeitamente estabelecido e não houve nenhum ambiente de cortar a faca nem de ruptura e já ouvi outros que manifestavam exatamente a posição contrária. Como não sei o que se passou e são matérias que devem ficar em segredo, prefiro não comentar aquilo que não sei. Agora, aquilo que percebi é que aquele silêncio talvez não tenha sido interpretado como foi dito.
Há pouco falava, a propósito da expressão de cada responsável político no seu galho, que era um aviso a que cada um exercesse as suas competências. O Presidente da República tem extravasado as suas funções? Há muita gente no PS que entende que é o grande responsável pelo desgastar da relação entre Belém e São Bento. Acha que está a ir longe demais?
As coisas nunca devem ser vistas como ‘está a ir longe demais’. Há algo que é notório: este mandato não é igual ao anterior. Aliás, o tipo de perguntas que fazem os jornalistas não são as mesmas que fizeram ou que fariam há três ou quatro anos. É preciso olhar para o exercício das funções de cada um dos protagonistas. Provavelmente não será igual, o que motiva que as perguntas e talvez as respostas não sejam as mesmas. Agora, não sou aqueles que acham que isto é tudo branco ou preto, ou seja, que ele está a extravasar claramente ou que está igual. Há uma forma diferente ou mais atenta da parte do Presidente da República. Penso que as palavras até são do próprio.
Sim, depois de o primeiro-ministro não ter demitido o ministro [João Galamba] que ele achava que devia ter sido demitido.
Os Presidentes da Repúblicas não demitem ministro.
Portanto, aí extravasou as funções.
Não é essa a sua função. É um desses exemplos. Está na Constituição que o Presidente da República não demite ministros.
Marcelo aparentemente é que se esqueceu dessa lição constitucional. É isso que está a sugerir?
Não sei. Acho é que o Presidente da República está a exercer de uma forma mais ativa o seu mandato. Aliás, como outros Presidentes o fizeram no passado.
E isso é mau para a relação entre os dois pólos?
Está a ser mais exigente e o PS deve responder a essa exigência. E deve preservar ao máximo a sua relação com o Presidente da República e acredito que tenha feito esse esforço. Entre o Presidente da República e o Governo há sempre uma relação de confiança, mas há também pensamentos diferentes de dois atores políticos que têm muitos anos, que se conhecem há muitos anos e que sabem que têm um equilíbrio no posicionamento dos dois órgãos. Uma vez um é mais interventivo, outras vezes é menos. Apesar de tudo, temos uma sorte no funcionamento do nosso sistema político porque acaba sempre por se equilibrar. Poderá ter um ponto mais alto ou um ponto mais baixo, mas não me parece que seja um problema para o país. Os checks and balances acabam sempre por fazer o seu papel.
“Centeno para europeias? É uma boa pergunta”
Daqui a poucos meses vamos ter eleições europeias. Se os eleitores aproveitarem para penalizar o Governo, e a tradição costuma ser essa, teme que Marcelo Rebelo de Sousa possa utilizar esse resultado para justificar uma possível dissolução do Parlamento?
É uma pergunta interessante porque parte de uma premissa que é penalizar o Governo e não o PS. Porque é diferente. Podia penalizar o PS por não concordar com a opção do PS naquela eleição em particular. Não concordo com o princípio da pergunta. O que eu acho é que eleições europeias são eleições diferenciadas, infelizmente com uma abstenção muito maior, porque o interesse, muitas vezes, ou a temática não diz tanto às pessoas, e que o PS tem como objetivo ganhar. Se não ganhar, é uma derrota do PS, mas não é uma derrota do Governo.
Com uma leitura nacional ou não?
Uma leitura nacional, obviamente, mas não uma leitura de um cartão amarelo ou cartão vermelho ao Governo. Cada eleição é uma eleição.
Então qual é a leitura nacional?
Quando um eleitor sabe distinguir um presidente da assembleia municipal, um presidente de câmara e um presidente de junta e vota muitas vezes em sentidos contrários, é passar um atestado de ignorância aos eleitores quando escolhem e podem não dar o resultado ao PS.
Nas europeias não há propriamente uma grande identificação com o cabeça de lista, é penalizar ou não o partido que está no poder.
Não sei se concordo, isso é passar um atestado de ignorância aos portugueses, que não tem. Há muitos fatores que condicionam uma eleição, da mesma forma que não acho que uma eleição regional tenha uma leitura nacional, seria muito estranho achar que uma eleição ao Parlamento Europeu tenha uma leitura relativa à governação nacional.
Pedro Sánchez está numa situação delicada em Espanha, o que torna António Costa um dos socialistas mais respeitados da Europa, não só por isso, já o era antes, mas reforça ainda mais. Se for convidado, não acha que António Costa deve isso à família europeia?
António Costa é um grande ativo da família socialista a nível europeu. Acho que essa questão não se põe e, naturalmente, deve terminar o seu mandato.
Mário Centeno tem estado muito ativo nos últimos tempos, seria um bom cabeça de lista do PS para as europeias?
Não estou dentro da cabeça de Mário Centeno. Foi um bom ministro das Finanças.
Gostaria de votar a ver no combate político?
É uma boa pergunta, há um problema na resposta. Se digo que Mário Centeno é um bom ativo às eleições europeias, vão dizer que há quem ache que Mário Centeno deve ser o cabeça de lista da Europa.
Faríamos título com isso, seguramente.
Acho que ele é um bom ativo do partido. Não sendo militante do Partido Socialista, traz e acrescenta capital ao PS, se alguma vez resolver participar. Se deve ser Mário Centeno ou não o PS…
Todos estes ativos do PS vão poder mostrar-se disponíveis para candidatos em 2026 ou vão ter de esperar por um quarto mandato de António Costa?
É uma pergunta que tem de se fazer ao António Costa. Não sei dizer se será candidato ou não.
Aí cabe mais um fato de Belém, não é? Acrescentando capital ao PS, não sendo militante…
Belém ainda falta tanto e há matérias a tratar antes. Agora, Mário Centeno tem capital político, é alguém que pode ser sempre uma reserva, caso seja essa a vontade para o PS, é. Se deve ser o candidato às europeias é um julgamento do primeiro-ministro, nós temos vários…
Mas pode ter um perfil de candidato, se pode ser militante, independente…
Acho que o candidato do PS às eleições Europeias deve ser alguém que tenha uma identificação com o PS.
“Preferia enfrentar Passos Coelho nas legislativas”
Na última entrevista que deu ao Observador, em julho do ano passado, estávamos no rescaldo de uma crise sobre a localização do novo aeroporto. Disse que Pedro Nuno de Santos era o melhor ministro do Governo. Esta frase envelheceu mal. Será a melhor líder do PS do que foi ministro?
Acho que ele foi um bom ministro, mas eu sou suspeito. Acho que foi um bom ministro e a história irá provar isso.
Portanto, mantém intactas as aspirações que podia ter ou não antes de deixar o Governo?
Acho que Pedro Nuno é um grande ativo do PS, deixou património. Muitos entretiveram-se com os faits divers que a história encarregar-se-á de deitar no caixote do lixo.
É um património que está a ser bem protegido pelo seu sucessor João Galamba?
Sim, não vejo que não. O que eu acho é que daqui a uns 10 anos, quando falarmos da TAP, quando falarmos da ferrovia, quando falarmos de um conjunto de investimentos que foram feitos vão-se lembrar do nome de Pedro Nuno de Santos porque muito foram iniciados por ele, outros foram anunciados e com resultados também já no tempo dele.
Todos estes ativos do PS vão poder mostrar-se disponíveis para candidatos em 2026 ou vão ter de esperar por um quarto mandato de António Costa?
É uma pergunta que tem de se fazer ao António Costa. Não sei dizer se será candidato ou não.
Mas devia?
Não consigo dar essa resposta agora.
Vamos avançar para o segundo segmento do nosso programa, o bloco “Carne ou Peixe”, onde só pode escolher uma de duas opções. Numa segunda volta das presidenciais, preferia votar em Marques Mendes ou Carlos César?
Eu acho e que a resposta é óbvia, Carlos César… Não pela questão familiar, mas pela identidade política. Mas isso pode perguntar a qualquer socialista que a resposta seria essa. Mas acho que a pergunta tem de ser feita ao próprio.
Tinha de levar um dos dois para um Governo do PS: Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo?Que grande pergunta… Não sei, dependeria do teor das negociações… Dependeria do teor das negociações…
Mas aqui já tinha havido negociações.
Mas eu não sei o resultado delas… não sei, não conheço bem Paulo Raimundo.
Então levava Mariana Mortágua, é isso?
Não, não consigo dizer ainda.
Ou seja, conhece bem Mariana Mortágua e dá o benefício da dúvida a Paulo Raimundo por conhecer tão bem Mariana Mortágua.
Falta muita informação para essa resposta. Era dar preferência a um partido em relação a outro e não consigo fazê-lo.
A quem servia um cozido das furnas: André Ventura ou Rui Rocha?
Rui Rocha, claramente.
Há uma linha vermelha até para o cozido das furnas?
Apesar de André Ventura ser pessoalmente simpático, há um mundo que nos separa do ponto de vista ideológico. Com o líder da IL, muito nos separa mas não é um mundo.
Imagine que era diretor de campanha nas próximas legislativas. Preferia enfrentar Luís Montenegro ou Pedro Passos Coelho?
Pedro Passos Coelho.