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SpaceX / YouTube

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Há um carro num foguetão a caminho de Marte: como chegou aqui e até onde pode ir Elon Musk?

O novo foguetão da SpaceX poderá levar-nos novamente à Lua ou mesmo até Marte. Elon Musk lançou com sucesso o Falcon Heavy, o foguetão mais poderoso do mundo. O que pode acontecer agora?

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Estamos mais perto do que nunca de regressar à Lua ou de pisar pela primeira vez o planeta Marte. A companhia privada SpaceX, detida por Elon Musk, o homem da Tesla, conseguiu esta terça-feira a proeza de levar para o espaço o Falcon Heavy, o foguetão mais poderoso do mundo e apenas ultrapassado pelo Saturn V da NASA, produzido entre 1967 e 1973. Fez-se história: uma nova era de exploração espacial começou às 20h45 de Portugal Continental. Mas como chegámos até aqui? E para onde nos dirigimos agora? As respostas às perguntas que os acontecimentos de terça-feira geraram.

[Um Tesla no espaço ao som de Bowie e a aterragem perfeita de dois impulsionadores. Reveja neste vídeo as imagens mais fascinantes desta odisseia]

Recapitulando: o que acabou de acontecer?

A SpaceX, uma empresa privada dedicada à engenharia aeroespacial e aos serviços de transporte extraterrestres, lançou para a baixa órbita da Terra o mais poderoso foguetão do mundo. O Falcon Heavy descolou de uma plataforma de lançamento alugada à NASA, o Cabo Canaveral, às 20h45 de Portugal Continental.

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Apesar do atraso de duas horas e quinze minutos à conta das correntes de ar detectadas naquela estação da Força Aérea norte-americana, a companhia de Elon Musk conseguiu não só lançar o foguetão com sucesso, como também fazer regressar duas das três peças que o compõem à Terra. Isso prova que o Falcon Heavy, à semelhança do Falcon 9 da mesma empresa, é reutilizável e pode voltar a ser usado noutras missões espaciais.

O Falcon Heavy, o foguetão mais poderoso do mundo, já está no ar. Foi aberta uma nova era espacial

Assim que descolou, o Falcon Heavy tornou-se no foguetão mais poderoso da atualidade, mas provavelmente não de sempre, porque esse título continua a pertencer ao Saturn V da NASA, o veículo espacial que esteve envolvido nas missões Apollo com a Lua como objetivo. Agora que este foguetão provou estar pronto para viajar no espaço, o Falcon 9 deixou de ser o único veículo da série “Falcon” ativo na família de foguetões da SpaceX.

Depois do streaming que a companhia privada de Elon Musk publicou para que toda a gente, em qualquer lugar do planeta, pudesse assistir ao primeiro passo de uma nova era espacial, o vídeo ficou disponível por inteiro na Internet. São cerca de 45 minutos que mostram as últimas preparações para o voo do teste, o momento do lançamento e os primeiros minutos do Falcon Heavy no espaço. Também pode ver duas das partes do foguetão a regressarem à Terra com sucesso e o Tesla de Elon Musk a ser descarregado no espaço. Está tudo aqui em baixo:

Porque é que tudo isto é importante?

Por vários motivos. Em primeiro lugar porque o Falcon Heavy provou na tarde desta terça-feira ser capaz de transportar para a baixa órbita terrestre quase 64 toneladas de carga, o equivalente a três vezes mais do que o seu concorrente direto — o Delta IV Heavy da United Launch Alliance — e mais 40 toneladas do que o Space Shuttle da NASA, a agência espacial norte-americana. Isto significa que a SpaceX está agora mais capacitada do que qualquer outra empresa, pública ou privada, para levar grandes quantidades de carga para o espaço — seja essa carga material para a Estação Espacial Internacional, satélites de grandes dimensões ou astronautas.

Isso leva-nos ao segundo ponto: o lançamento do Falcon Heavy é um passo em frente para uma possível parceria entre a SpaceX e as agências espaciais para levar pessoas para o espaço. Acima de tudo, cientistas: numa altura em que Donald Trump pretende regressar à Lua, 46 anos desde a última vez que isso aconteceu, pode estar nas mãos de Elon Musk dotar a NASA de veículos espaciais capazes de transportar astronautas, módulos lunares e mantimentos, tudo de uma vez para uma futura alunagem.

Mas a SpaceX, enquanto companhia privada, pode ir ainda mais longe, já que Elon Musk chegou a admitir que o sucesso do Falcon Heavy podia ser sinónimo da abertura da empresa ao turismo espacial. O CEO da Tesla disse mesmo que estava preparado para vender dois bilhetes para uma viagem ao espaço.

Elon Musk já tem dois foguetões capazes de voar até ao espaço e depois regressar a Terra em condições de serem reenviados para lá da nossa atmosfera com segurança em missões futuras. Isso retira a preocupação de gastar largos milhões de dólares de cada vez que se lança um veículo para o espaço.

Outro pormenor que torna a viagem do Falcon Heavy muito importante é que ela prova que se pode gastar menos dinheiro nos orçamentos entregues ao ramo da exploração espacial. Enquanto o lançmento de um Delta IV Heavy custa 390 milhões de dólares — números da própria United Launch Alliance –, a SpaceX não gastou mais do que 90 milhões de dólares para lançar o Falcon Heavy.

Mais um ponto a favor da SpaceX: tem provado ser capaz de construir veículos espaciais reutilizáveis: Elon Musk já tem dois foguetões capazes de voar até ao espaço e depois regressar a Terra em condições de serem reenviados para lá da nossa atmosfera com segurança em missões futuras. Isso retira a preocupação de gastar largos milhões de dólares de cada vez que se lança um veículo para o espaço.

O quem tem o Falcon Heavy a bordo?

A maior parte dos foguetões levam blocos de cimento nos voos de teste para simular as cargas que vão levar se algum dia chegarem a viajar de facto para o espaço. A SpaceX quis fazer algo diferente: em vez dos blocos de cimento, Elon Musk cedeu o seu Tesla Roadster vermelho-cereja e colocou-o a bordo do Falcon Heavy. O CEO da SpaceX divulgou as ideias de levar o automóvel a bordo do foguetão a 1 de dezembro do ano passado, num tweet que dizia:

“A carga útil vai ser o meu Tesla Roadster vermelho-cereja a tocar Space Oddity. O destino é a órbita de Marte. Vai estar no espaço profundo por alguns mil milhões de anos, se não explodir durante a ascendência”.

Antes disso, no entanto, Elon Musk já tinha afastado a ideia de usar meros simuladores de carga: também no Twitter, o CEO da SpaceX disse em março de 2017 que usaria “a coisa mais parva imaginável”. Nada que fosse de estranhar vindo de Elon Musk, visto que no primeiro voo do Dragon, uma nave espacial testada no início da década, a SpaceX tinha utilizado “um volante gigante de queijo inspirado por um amigo e pelos Monty Python”. Desta vez, usar o carro de Elon Musk tinha também um significado simbólico: o empresário queria usá-lo porque gostou da ideia de colocar “um carro vermelho a caminho do Planeta Vermelho”.

“Génio” e “louco”. Como Elon Musk se tornou no milionário que faz história no espaço

Mas não se ficou por aí. Esta segunda-feira, apenas um dia antes do voo de teste do Falcon Heavy, Elon Musk desvendou nas redes sociais que colocaria um manequim chamado Starman no lugar do condutor e que, no lugar do rádio, poria uma placa negra com a mensagem “Don’t Panic!”, que em português significa “Não entres em pânico!”. O boneco herdou o nome de uma canção que David Bowie lançou em 1972, em que o músico canta algo como:

“Há um homem no espaço à espera no céu. Ele gostava de vir cá e visitar-nos, mas tem medo de nos surpreender”.

Esta é mais uma homenagem que a SpaceX presta a David Bowie, já que também no momento do lançamento a canção a bordo do Falcon Heavy era “Space Oddity”, de 1969. O tema, que surge no álbum homónimo, foi editado precisamente no ano em que o Homem chegou pela primeira vez à Lua. Mais recentemente, o astronauta Chris Hadfield — o primeiro do Canadá a participar numa expedição na Estação Espacial Internacional — cantou a “Space Oddity” no espaço e gravou um videoclip a partir da estação.

Mas Elon Musk tinha uma última surpresa: uma hora depois do voo inaugural do Falcon Heavy, a Space X colocou em direto a câmara instalada no Tesla Roadster vermelho-cereja que está neste momento a caminho de Marte para ficar em órbita entre a Terra e o planeta vermelho em redor do Sol. Agora, toda a gente pode ver em tempo real a vista que Starman, nome do manequim sentado no lugar do condutor, tem para o nosso planeta. Este vídeo tem a funcionalidade de poder puxar o direto para trás e ver as imagens que foram transmitidas no passado, por isso pode ver as gravações que perdeu mesmo que só tenha aberto este streaming agora:

Como funciona o foguetão?

Para conseguir levar 64 toneladas de carga para a baixa órbita terrestre — uma massa superior à de um Boeing 737 com passageiros, malas e combustível no interior –, o Falcon Heavy precisa de muitos motores. De acordo com os engenheiros da SpaceX que participaram no direto feito pela marca instantes antes do lançamento do foguetão, o Falcon Heavy foi concebido para ser literalmente uma fusão de três foguetões Falcon 9 juntos. Tem, portanto, um total de 27 motores Merlin que, trabalhando em conjunto, geram praticamente 2.268 toneladas de propulsão no momento do lançamento. É o mesmo que juntar 18 Boeing 747 em simultâneo. Só mesmo o Saturn V, o foguetão da NASA envolvido nas missões Apollo até 1973, é que conseguia levar mais carga útil do que este veículo.

Dentro de cada um dos três núcleos que compõem o Falcon Heavy estão nove motores Merlin, os mesmos que já eram usados nos foguetões Falcon 9, que eram até agora os únicos ativos da série “Falcon” da SpaceX. São estes motores, utilizados no módulo lunar da missão Apollo, que garantem que este novo veículo espacial seja “o veículo de lançamento de cargas pesadas mais eficiente e económico“. Um dos aspetos que mais contribui para isso é o facto do Falcon Heavy não depender do funcionamento de todos os motores ao mesmo tempo: se algum falhar ou se for necessária menos força de propulsão, isso não comprometerá a eficiência do foguetão.

SpaceX coloca em direto câmara ligada ao Tesla que enviou para o espaço. Veja aqui

Cada um dos núcleos laterais do Falcon Heavy, que também se chamam tanques propulsores, equivalem a um foguetão Falcon 9 e são eles os únicos que permanecem ligados mesmo depois da descolagem. Isso foi desenhado propositadamente porque, depois de impulsionar a parte principal do foguetão para o espaço, esses tanques regressam à Terra para serem reutilizados, à semelhança do que já acontecia com os outros Falcon 9. Tudo é feito de ligas de alumínio-lítio, um material que resulta da mistura dos dois materiais para torná-lo mais forte e mais leve.

Estes três núcleos compõem a primeira parte do Falcon Heavy, ligados à base e ao topo do tanque central por um reservatório de oxigénio em estado líquido. A meio do foguetão está um motor Merlin especialmente concebido para conseguir operar no vácuo, porque no espaço não há ar. Esse motor consegue permanecer ligado durante seis minutos sem parar, mas pode ser ligado e desligado várias vezes em função da carga que precisa de transportar. Por último, há uma segunda parte desenhada para suavizar a separação das partes. É no topo da segunda parte que está o nariz do foguetão e onde é armazenada toda a carga, por isso era aqui que seguia o carro de Elon Musk e o condutor, Starman.

Falcon Heavy. Que foguetão é este que pode levar o homem a Marte?

O que vai acontecer agora?

Agora que a SpaceX provou que o Falcon Heavy é mesmo capaz de levar para a baixa órbita terrestre uma carga útil tão grande, a empresa de Elon Musk já tem companhias preparadas para criar parcerias com ela. Além das pequenas empresas interessadas em aproveitar o foguetão mais poderoso do mundo para lançar satélites de menor dimensão, há duas entidades importantes prestes a assinar contrato com a SpaceX: a Arabsat e a Força Aérea dos Estados Unidos.

A Arabsat é um dos principais operadores de satélite de comunicações da Arábia Saudita e de todo o mundo árabe. Os satélites Arabsat são máquinas geoestacionárias lançadas para órbita em redor da Terra entre 1985 e 2011, embora alguns deles já tenham sido abandonados ou desativados. Agora, a companhia prepara-se para lançar um grande satélite de comunicações.

Entre os clientes secundários que a SpaceX conquistou esta terça-feira com o lançamento bem sucedido do Falcon Heavy está também a Sociedade Planetária, uma organização não governamental fundada por Carl Sagan, Bruce C. Murray e Louis Friedman para investir em projetos relacionados com astronomia.

A Força Aérea não é tão confiante ao colocar os planos do futuro nas mãos de Elon Musk: primeiro quer fazer um novo teste de voo, desta vez privado, para ver com os próprios olhos se o Falcon Heavy está pronto para estar ao serviço dos Estados Unidos. Se tudo voltar a correr bem, a Força Aérea admite a possibilidade de usar o novo foguetão da SpaceX para transportar material relacionado com segurança nacional norte-americana, algo que pode mesmo tornar-se o core business do Falcon Heavy antes de o foguetão se tornar apto a fazer viagens mais complexas para a Lua ou para Marte, possivelmente com astronautas a bordo.

Entre os clientes secundários que a SpaceX conquistou esta terça-feira com o lançamento bem sucedido do Falcon Heavy está também a Sociedade Planetária, uma organização não governamental fundada por Carl Sagan, Bruce C. Murray e Louis Friedman para investir em projetos relacionados com astronomia. Neste caso, a Sociedade Planetária quer aproveitar o Falcon Heavy para testar o LightSail, uma vela solar com uma espécie de sal que usa a radiação solar para dar ainda mais impulso aos foguetões.

Os planos de Elon Musk sempre correram bem?

O objetivo principal de Elon Musk é tornar mais barata a exploração especial, levar astronautas a Marte pela primeira vez e colonizar o planeta para torná-lo numa segunda casa para a humanidade. Isso nem sempre foi tão simples como a SpaceX fez parecer na terça-feira.

Sim, podemos viver em Marte. Mas devemos?

O passado da SpaceX tem muitas explosões na História, embora Elon Musk veja todas elas como aprendizagens. Ainda esta terça-feira, perante a incerteza sobre se o teste ao Falcon Heavy correria bem, a companhia salvaguardou-se e disse:

“É importante lembrar que esta missão é um  teste. Mesmo que não se completem todos os marcos experimentais que estão a ser feitos durante este teste, estaremos mesmo assim a recolher dados essenciais ao longo da missão. Em última análise, uma missão de demonstração bem sucedida será avaliada através da qualidade das informações que podemos reunir para melhorar o veículo de lançamento para os nossos clientes atuais e futuros”.

Entre alguns dos maiores falhanços da SpaceX está uma explosão em 2016 durante um teste de rotina feito a um Falcon 9 que tinha 200 milhões de dólares de satélites de comunicação Spacecom Amos-6 a bordo. Na altura, Elon Musk descreveu o acidente como o “fracasso mais difícil e complexo” da história da SpaceX. O acidente foi causado pelo arrefecimento excessivo do oxigénio líquido usado como propulsante, que reagiu com outros compostos a bordo levando-os a explodir. Pouco depois do acidente, Elon Musk não se escusou a publicar na Internet imagens da explosão.

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