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O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno (R), durante a apresentação do relatório do conselho de administração de Aividade e Contas relativo a 2020, na Nave do Museu do Dinheiro do BdP, em Lisboa, 13 de maio de 2021. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
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Sobre Medina: "O próximo ministro das Finanças é o próximo ministro das Finanças e não há outro comentário que possa fazer", afirmou Mário Centeno.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Sobre Medina: "O próximo ministro das Finanças é o próximo ministro das Finanças e não há outro comentário que possa fazer", afirmou Mário Centeno.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Inflação até 6%? "Almofada" deve ser a poupança da pandemia, não a subida de salários, diz Centeno (que recusa comentar Medina nas Finanças)

Poupança acumulada na pandemia chegou a ser vista como "outra bazuca" que impulsionaria a economia. Mas com inflação que pode atingir 6%, essa "almofada" será em parte consumida pela subida de preços.

A poupança acumulada pelos portugueses durante a pandemia deve ser a principal arma para fazer face à subida generalizada dos preços, defendeu Mário Centeno esta quinta-feira, avisando que não se deve responder à inflação elevada com subidas de salários que sejam desalinhadas com a evolução da produtividade. Se isso acontecer, o tiro pode sair pela culatra, avisou o governador do Banco de Portugal, porque seria algo que depois teria de ser corrigido pela política monetária – ou seja, poderia levar o BCE a ter de subir as taxas de juro mais rapidamente, o que poderia ter impactos “demasiado transversais” na economia.

Era como se de “outra bazuca” se tratasse. Há meio ano, o Banco de Portugal chamava a atenção para o impacto positivo que poderia ter na recuperação económica os cerca de 17,5 mil milhões de euros de acréscimo de poupança que se verificou no país nos longos meses da pandemia. Agora, o discurso é outro: aliás, na apresentação do Boletim Económico trimestral, na sede do Banco de Portugal, essa poupança acumulada nem sequer foi tema.

Questionado pelo Observador na conferência de imprensa, porém, Mário Centeno reconheceu que, perante o aumento dos preços, é previsível que “aqueles que tenham essas poupanças acumuladas possam utilizá-las para fazer face ao aumento dos preços“. Ou seja, “ [essas poupanças] já não se traduzem tanto na sustentação do consumo e do crescimento económico“, afirmou o governador do Banco de Portugal, descrevendo como “almofada” contra a inflação as poupanças que uma parte dos portugueses terá colocado de parte – por causa da pandemia (ou graças a ela).

O Boletim Económico de março, divulgado esta quinta-feira, estima que “a taxa de poupança reduz-se para 7,3% em 2022 (10,3% em 2021) e permanece relativamente estável em 2023 e 2024”. “A diminuição da taxa de poupança em 2022 prolonga a tendência iniciada em 2020 – quando esta taxa atingiu um nível historicamente elevado – e ocorre num quadro em que o aumento da riqueza das famílias durante a pandemia pode contribuir, em parte, para absorver o impacto do aumento da inflação“, reconhece o Banco de Portugal.

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Porém, como salienta o documento, com uma guerra em curso na Europa, “o contexto de maior incerteza tem um impacto contrário, ao induzir a necessidade de poupança adicional por motivo de precaução“, o que tende a penalizar a atividade económica. Essa dinâmica até já poderá estar em curso, dado que o consumo privado foi a componente da atividade económica cuja revisão em baixa foi maior, por parte do Banco de Portugal.

A expectativa é que o consumo privado irá subir 3,6% em 2022 (bem menos do que os 4,8% anteriormente previstos). Essa revisão em baixa foi uma das principais razões que justificaram que o Banco de Portugal tenha cortado as projeções de crescimento da economia nacional, tanto para 2022 como para 2023, como o governador Mário Centeno já tinha antecipado na entrevista ao Observador publicada na última sexta-feira.

Centeno em entrevista. Novo Banco “teve tudo para não pedir mais” dinheiro ao Estado, num ano em que teve quase 200 milhões em lucro

A tentação a que se deve resistir é fazer aumentos demasiado rápidos nos salários, defende Mário Centeno, referindo o caso de vários países europeus – incluindo a vizinha Espanha – onde estão a surgir movimentos a defender que se deve ligar os aumentos salariais em alguns setores, automaticamente, à evolução da taxa de inflação (ou seja, desprezando o crescimento da produtividade e se ele acompanha ou não). Isso é o que tende a provocar aquilo que os bancos centrais definem como “efeitos de segunda ordem“, que Centeno acredita não serem visíveis em Portugal mas que podem criar um bico de obra para a política monetária.

Esses “efeitos de segunda ordem”, caso se verifiquem na zona euro, significariam que os preços mais elevados já se estavam a enraizar na economia e que deixariam de ser apenas um fenómeno temporário. E isso levaria à formação de “tensões na condução da política monetária” que o BCE teria de combater, subindo as taxas de juro e acelerando ainda mais rapidamente a retirada dos estímulos.

Centeno lembrou que a resposta à crise pandémica foi diferente na Europa, em comparação com os EUA, porque na Europa se apostou na “preservação das relações laborais pré-existentes”, com medidas como o layoff simplificado, evitando a destruição de postos de trabalho que de outra forma seria inevitável num colapso económico de proporções históricas como o que se verificou em 2020. Nos EUA, em contraste, houve mais perdas de postos de trabalho no pico da crise mas, na retoma, um “ciclo de novas contratações” – e é nessas novas contratações que os salários estão a subir muito, agravando o problema da inflação nos EUA.

Na Europa, tendo havido menos despedimentos e falências, Centeno sublinhou que isso deve ser tido em conta quando alguns falam em equiparar automaticamente a subida dos salários à inflação. Há uma “necessidade de evitar que esses efeitos de segunda ordem aconteçam“, sublinhou o governador do Banco de Portugal, a poucos dias da tomada de posse do novo Governo e da apresentação de um novo Orçamento do Estado para 2022, que já está a ser preparado, incorporando projeções macroeconómicas menos otimistas.

Mário Centeno (à direita) fotografado em setembro de 2019, quando era ministro das Finanças, com Fernando Medina (ao centro) quando estava na câmara de Lisboa.

TIAGO PETINGA/ LUSA

Esse trabalho está a ser feito pelo (ainda) ministro das Finanças, João Leão, que trabalhou com Mário Centeno antes de este ter passado para o Banco de Portugal e que acabou por lhe suceder no ministério. Sobre quem vai suceder a Leão, que é o ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa Fernando Medina, Mário Centeno foi sucinto: “o próximo ministro das Finanças é o próximo ministro das Finanças e não há outro comentário que possa fazer“.

Quanto ao caderno de encargos para o próximo governo, Centeno repetiu a “receita” já referida noutras apresentações. Uma “trajetória de equilíbrio orçamental” é “desejável e exequível”, ao mesmo tempo que se mantém um “esforço estrutural compatível com redução da dívida” com vista a “atingir um rácio de dívida pública próximo de 110% [do PIB] em 2024 e de 100% em 2026“.

Mário Centeno voltou, também, a alertar para a necessidade de haver uma maior “previsibilidade” na área da fiscalidade, caminhando-se no sentido de uma “redução tendencial e estrutural” dos impostos nos próximos anos. Mas vai estar mais “vigilante”, tendo em conta que vai estar no Ministério das Finanças um economista com um perfil mais político (Medina) do que técnico (como tinham Centeno e Leão)? “O banco central apenas é vigilante em relação à evolução dos preços” e da inflação, nada mais, atirou Centeno.

Guerra pode fazer a economia crescer zero, em cadeia, e inflação disparar para 5,9%

A previsão de crescimento para 2022 foi revista em baixa em quase um ponto percentual, para 4,9%, contra os 5,8% estimados em dezembro. Já a previsão para a subida dos preços mais que duplicou, de 1,8% para uma inflação de 4%. Mas num cenário adverso, em que se arrasta (ou agrava) o conflito na Ucrânia, a economia portuguesa pode crescer só 3,6% e a inflação atingir os 5,9%.

Esse crescimento de 3,6% corresponderia, porém, a uma expansão económica nula de trimestre para trimestre, em cadeia, ao longo de todo o ano. Tal como Mário Centeno já tinha explicado na entrevista ao Observador, devido à recuperação forte do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 (após o colapso de 2020), tecnicamente isso significa que mesmo que a economia crescesse zero em cadeia, ao longo dos quatro trimestres de 2022, só pelo chamado efeito de carry over o PIB já iria aumentar 3,6%. Ora, esse valor corresponde exatamente àquele que seria o crescimento em 2022 num cenário adverso simulado pelo Banco de Portugal.

As novas previsões do supervisor financeiro são as de que o PIB irá crescer 4,9% em 2022, 2,9% em 2023 e 2,0% em 2024, “beneficiando de maiores recebimentos de fundos da União Europeia e da manutenção de condições financeiras favoráveis”. Porém, Mário Centeno alertou que há um risco importante de que a subida dos preços das matérias-primas, entre outros efeitos, podem prejudicar a execução dos planos de investimento associados ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Economia vai crescer menos do que se esperava, prevê Banco de Portugal. Projeção deste ano baixa para 4,9%

A alteração mais drástica das previsões está, porém, na inflação. A projeção de subida dos preços aumenta em 2022 de 1,8% para 4% “em reflexo da subida do preço das matérias-primas e dos constrangimentos nas cadeias de abastecimento globais”, disse o Banco de Portugal, confiante que este efeito irá corrigir-se em 2023, com a taxa de inflação a baixar para 1,6% em 2023 (e o mesmo em 2024). Ainda assim, Mário Centeno reconheceu que tem visto com “surpresa” a forma como os dados da inflação têm evoluído em Portugal e na zona euro, mês após mês – e avisou que os riscos associados à inflação são “claramente” mais no sentido de a subida dos preços ser mais intensa do que se espera, e não o contrário.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia contribui para limitar o dinamismo económico e para intensificar as pressões inflacionistas”, afirmou o Banco de Portugal. A subida dos preços dos bens energéticos é estimada em 14,2% (para 2022), mais do que o dobro dos 6,3% que foram estimados em dezembro, antes do conflito na Ucrânia que começou há um mês e tem feito acelerar a subida das matérias-primas energéticas. Porém, mesmo excluindo o impacto direto da subida dos preços dos bens energéticos, Portugal deverá ter um aumento de 3,1% no índice de preços no consumidor em 2022.

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