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Carole Costa marcou um dos golos do Benfica no último dérbi do Campeonato de 2021/22 e fez a festa da reconquista do título no Estádio da Luz
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Carole Costa marcou um dos golos do Benfica no último dérbi do Campeonato de 2021/22 e fez a festa da reconquista do título no Estádio da Luz

DeFodi Images via Getty Images

Carole Costa marcou um dos golos do Benfica no último dérbi do Campeonato de 2021/22 e fez a festa da reconquista do título no Estádio da Luz

DeFodi Images via Getty Images

"Já paguei para jogar. Fui para a Alemanha, voltei e o futebol feminino é outra coisa": entrevista a Carole Costa, internacional do Benfica

As ambições na Champions, o objetivo de ganhar tudo em Portugal, o sonho de ir ao Mundial, os casos de assédio sexual e uma nova era no feminino com um talento chamado Kika. Entrevista a Carole Costa.

Tudo começou na Casa Povo Martim, em Braga, tudo chegou aos mais altos palcos internacionais. Carole Costa, hoje com 32 anos, teve aquele trajeto no futebol feminino que muitos consideravam impossível mas que o tempo acabou por tornar quase normal: o início numa formação mais modesta pelo conjunto da zona onde nasceu, a passagem pelo Leixões, uma aventura no estrangeiro com sete temporadas na Alemanha ao serviço de três clubes (Essen, Duisburgo e Cloppenburg), o regresso a Portugal pela porta do Sporting, uma saída três temporadas depois para o rival Benfica. Agora, está a uma só vitória da primeira fase final de um Campeonato do Mundo após ter jogado e marcado no Europeu. Antes, já esta quarta-feira, inicia a fase de grupos da Champions pela segunda vez com uma deslocação à Catalunha para defrontar o Barcelona.

Em entrevista ao programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador, a central lançou a estreia frente à vice-campeã europeia e vencedora em 2021 (que não contará com a lesionada Alexia Putellas, que revalidou o título de melhor jogadora do mundo na votação da Bola de Ouro), falou também das ambições para a Liga dos Campeões num grupo que conta ainda com Bayern e Rosengaaard, assumiu o objetivo de ganhar todas as provas a nível nacional numa fase em que a equipa soma por vitórias os dez encontros realizados até ao momento e revela o sonho de coroar uma carreira sempre em ascensão com a participação num Mundial. “Posso dizer que já paguei para jogar futebol, neste caso a minha mãe, depois fui para a Alemanha, voltei e parece que o futebol feminino é outra coisa”, destaca Carole Costa.

[Clique aqui para ouvir a entrevista de Carole Costa ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]

“A evolução no feminino foi muito, muito grande”

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O Benfica vai fazer a estreia na Liga dos Campeões frente ao Barcelona, antigo campeão europeu e finalista vencido da última edição. Era o início que mais desejavam?
Quando saiu o sorteio já sabíamos que íamos apanhar grandes equipas, neste momento só estão grandes equipas na Liga dos Campeões e o que viesse era bem-vindo. O que vamos tentar fazer é o que tentamos em todos os jogos, dar o nosso melhor para conseguir vencer o jogo. Sabemos que é uma equipa muito difícil, uma equipa que já está há muito tempo nestas andanças, que é muito experiente e tem jogadoras de muita qualidade mas o que vamos tentar fazer é contrariar isso da melhor forma possível.

Esta é uma semana marcada pela atribuição da Bola de Ouro, que voltou a ser ganha pela Alexia Putellas que recupera agora de uma grave lesão. Estavam várias jogadoras na cerimónia e também na calha para ganhar. Tem alguma referência nesta equipa?
Acho que vou mais pela posição onde jogo… Obviamente que a Mapi [León] é uma grande central. Eu sou destra, ela é esquerdina mas é uma jogadora de referência. Claro que quando olhamos para um plantel do Barcelona vemos qualidade em todas as posições. Podia escolher muitas, escolho a Mapi por ser da minha posição e porque considero que é uma referência no futebol feminino.

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O Barcelona já fez alguns jogos em Camp Nou, tem aliás batido uma série de recordes a nível de futebol feminino e assistência. Não vão poder jogar lá agora mas tinham essa esperança na altura em que saiu o sorteio?
Isso só não aconteceu porque a equipa masculina também acaba por ter um jogo ali muito perto do nosso, caso contrário todos os jogos seriam em Camp Nou. Não foi por uma questão de ser o Benfica, foi apenas por uma questão de logística de campo. Contudo, claro que queremos jogar nos grandes palcos e adorávamos jogar lá mas num outro campo entraremos da mesma forma para fazer o melhor possível.

Este é um grupo complicado, com Barcelona, Bayern e também Rosengaard. Aumenta ainda mais os níveis de motivação, a vontade de dar nas vistas contra algumas das melhores jogadoras e equipas do mundo?
Sim, claro que sim. Estar nesta fase da Liga dos Campeões faz que não existam equipas fáceis. Sabemos que são três equipas muito difíceis, que têm muita qualidade, que têm individualidades muito fortes e obviamente que não vai ser nada fácil mas gostamos é de jogar estes jogos, em grandes estádios, com muitos adeptos, contra equipas de muita qualidade e querem ter bola, que privilegiam a bola. Por isso, estamos muito contentes de estar neste grupo. Foi o que nos calhou e é com este que vamos dar o nosso melhor.

"A Mapi [León] é uma grande central. Claro que quando olhamos para um plantel do Barcelona vemos qualidade em todas as posições. Podia escolher muitas, escolho a Mapi por ser da minha posição e porque considero que é uma referência no futebol feminino."

O Benfica leva nesta altura dez vitórias em dez jogos, numa série limpa que já valeu também a Supertaça. O principal objetivo esta temporada é ganhar todas as competições nacionais e manter este registo?
Sim, obviamente que sendo o Benfica um clube grande quer estar a lutar todos os títulos e ganhar. É o que vamos tentar fazer. Na época passada acabámos por perder alguns títulos que queremos agora recuperar esta temporada.

Foi escolhida na última época como a melhor jogadora da Liga, que terminou com a vitória do Benfica. Como é que olha para esse troféu aos 32 anos, num percurso que já leva passagens também pelo Sporting e antes por três clubes alemães e que parece ter chegado agora a um ponto máximo de rendimento?
Fiquei muito contente com o prémio, também não escondo que estou a passar uma boa fase da minha carreira. Sinto-me bem fisicamente, sinto-me bem no Benfica, mas vejo esse prémio como uma distinção coletiva porque ficaria bem entregue a qualquer jogadora do Benfica. É um prémio que acaba por ser mérito meu mas também coletivo, por não termos sofrido muitos golos no ano passado na Liga. Fiquei feliz e espero continuar a ajudar o Benfica a ganhar títulos.

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Teve essa passagem pelo Essen, pelo Duisburgo e pelo Cloppenburg da Alemanha, esteve depois no Sporting antes da chegar à Luz. Como é olhar para aquilo que é hoje o futebol feminino português e para a forma como evoluiu desde que começou a carreira?
Já passei por várias fases e é abismal a diferença que existe agora. Posso dizer que já paguei para jogar futebol, neste caso a minha família, a minha mãe, depois fui para a Alemanha, voltei e parece que o futebol feminino é outra coisa, e ainda bem. Espero que isto continue a crescer. Mas é uma forma de jogar futebol, uma forma de ver o futebol totalmente que nem consigo colocar em palavras. Os campos, as pessoas que trabalham no clube, nos vários departamentos que antigamente não existia… Posso dizer que é uma diferença muito, muito grande. O nosso Campeonato está cada vez mais forte, as condições de trabalho são cada vez melhores, existe cada vez mais profissionais a trabalhar com o futebol e só posso estar contente e com vontade que as coisas continuem assim neste caminho, neste bom caminho.

Nestas últimas semanas, em paralelo com mais um apuramento do Benfica para a Liga dos Campeões, surgiu também a notícia da nomeação da Kika Nazareth para a primeira edição da Golden Girl. Como é acompanhar a evolução de uma jogadora que tem um percurso quase como uma geração inteira não teve, nas camadas jovens?
Quem trabalha com a Kika e vê o futebol dela sabe que é uma fora de série. Tem um talento inato para o futebol e também aproveitou isso, crescer na formação do Benfica e agora connosco nas seniores, com a experiência das mais velhas e também com algumas jogadoras mais novas que a ajudam. É uma fora de série, a meu ver dificilmente se encontra uma jogadora assim no futebol feminino. Ela pensa o jogo de uma maneira, sabe escolher os momentos do jogo, sabe acelerar, sabe quando tem de ficar com a bola… Acho que vai ter uma carreira brilhante se a cabeça dela também acompanhar e é isso que todos estamos a tentar que consiga. Só lhe posso desejar sempre a maior sorte do mundo porque merece e porque é um talento português. Temos de valorizar os nossos e ela é sem dúvida um talento.

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Tem sido figura não só no Benfica mas também na Seleção, onde assume o protagonismo de ser a marcadora de penáltis neste caso importantes como na fase final do Europeu ou no playoff com a Islândia. Sempre gostou de marcar ou já é também o peso da experiência a valer nesses momentos?
Nunca fui muito de marcar penáltis ao longo da minha carreira mas agora surgiu a oportunidade e sempre que me chamam tento ajudar a equipa. Obviamente que não escondo que fico nervosa a marcar um penálti porque sei a responsabilidade que é mas fico contente por ajudar e oxalá continuem a entrar sempre, todos.

No espaço de uns meses, a Seleção Nacional soube que ia ao Europeu, foi ao Europeu realizar exibições positivas e conseguiu chegar onde nunca tinha chegado na qualificação para o Mundial. É inevitável achar que o sonho do Mundial está mesmo ali, prestes a ser concretizado?
A verdade é que é algo com que sonhamos desde pequeninas, desde que estamos no futebol, e estamos a um passo de o conseguir. Contudo, claro que vai ser difícil, acaba por ser um torneio na Nova Zelândia onde vai ser tudo estranho para nós. Vamos tentar vencer todas essas contrariedades, como as horas de diferença, a temperatura… Mas estamos a um passo de conseguir o nosso sonho e é óbvio que a Seleção vai dar tudo para o conseguir.

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Como é que vai ser gerir todo este calendário e todas estas viagens? Vai ter as competições nacionais, a Liga dos Campeões, depois há o Natal e em fevereiro já está na Nova Zelândia a disputar um particular e a estudar Camarões ou Tailândia.
Isto acaba por ser o normal para uma jogadora de futebol. Vejo isto como uma coisa normal e boa, é sinal de que estamos inseridas em todas as competições. Agora, claro que tem de haver um cuidado na recuperação, tem de haver um cuidado com o descanso. Temos de ser profissionais e é isso que tento ser sempre e tento transmitir às mais novas, que é importante o descanso. É importante o que fazemos dentro de campo mas também o que fazemos fora de campo e todas essas questões de recuperação, de nutrição, são fundamentais para que consigamos estar no nosso máximo.

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O Francisco Neto é selecionador nacional há muito tempo e tem sido a ponte de transição entre uma geração mais experiente e os novos talentos que estão a aparecer. Qual é a importância de ter esta constante que é o treinador no meio de uma Seleção que claramente está a evoluir para sítios onde nunca tinha chegado?
É óbvio que temos tido uma evolução que está aos olhos de toda a gente. É uma pessoa que é muito próxima de nós, que nos ajuda em todos os momentos e que nos tenta encaminhar para a ideia de jogo dele e acho que isso é fundamental. Estamos a conseguir ir ao encontro daquilo que ele quer para nós, estamos com um futebol mais rápido, com bola no pé e a deixar as outras equipas com dificuldades ao jogar contra nós. Acabam por ter mais respeito para nós. Há uma boa ligação entre a equipa técnica e as atletas e acho que todo o sucesso tem vindo daí.

"A Kika [Nazareth] uma fora de série, a meu ver dificilmente se encontra uma jogadora assim no futebol feminino. Ela pensa o jogo de uma maneira, sabe escolher os momentos do jogo, sabe acelerar, sabe quando tem de ficar com a bola... Acho que vai ter uma carreira brilhante se a cabeça dela também acompanhar e é isso que todos estamos a tentar que consiga."

Os casos de assédio sexual que vieram a público nas últimas semanas surgiram na antecâmara da concentração da Seleção Nacional. Falaram sobre isso? Foi tema?
O assunto já está entregue às entidades competentes. Claro que falámos sobre o assunto, é normal, mas a posição da Federação acabou por disponibilizar todos os meios para ajudar todas as pessoas envolvidas nesta situação. E nós, enquanto atletas, aquilo que temos para dar é o apoio possível e foi isso que fizemos. Este não é apenas um problema do futebol mas sim de toda a sociedade e tomámos posição por isso.

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Passou pelo Sporting, está no Benfica, jogou em vários clubes da Alemanha e é das mais internacionais por Portugal. O que é que ainda falta alcançar?
Neste momento, é ir ao Mundial, obviamente. Fazer uma coisa bonita na Liga dos Campeões — ou mais uma. Continuar a dar o meu máximo, continuar a ajudar o Benfica a ganhar títulos, sermos campeãs e ganhar todas as outras taças que no ano passado ficaram pelo caminho. E dar continuidade ao projeto do futebol feminino, que está cada vez mais competitivo e vencedor.

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