Um mês (e um resultado histórico) depois, João Almeida está de volta a A-dos-Francos. Os habitantes desta pequena vila das Caldas da Rainha acompanharam a prova diariamente, com muitas iniciativas de apoio ao ciclista que segurou a liderança da Volta a Itália durante 15 etapas, e não baixaram a fasquia nos festejos de regresso.

Bandeiras, fogo de artifício e camisolas rosas pintaram a principal rotunda da terra, tudo para receber o “menino de ouro” que pôs A-dos-Francos no mapa.

João Almeida chegou numa carrinha da junta de freguesia e discursou para a plateia de mais de 100 pessoas que ali se juntaram, afirmando que quando partiu para Itália “nunca imaginou” que o regresso fosse assim. “Obrigado a todos pelo apoio”, sintetizou o atleta que antes já tinha confessado que depois destes dias lhe faltavam as palavras.

Sem dúvida que nunca pensei que isto ia acontecer. Obrigado a todos pelo apoio, é muito importante psicologicamente”, afirmou João Almeida

Também os avós de João Almeida estavam longe de imaginar que o neto seria razão de tanta euforia nesta pacata vila, com menos de dois mil habitantes. “Nunca pensei, na minha vida, agora depois de velho, ver uma coisa assim”, confessa o avô, com a neta mais nova ao colo.

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Mas não é só a família de João Almeida que se emociona neste dia. Há toda uma terra unida e emocionada em torno do sucesso deste jovem atleta. Luís Martins tem 72 anos e não consegue conter as lágrimas enquanto fala. “O João é um herói. Vi-o crescer. É uma emoção muito grande”, conta entre soluços.

Do Porto para as Caldas da Rainha só para ver o “campeão”

Leonor e João são filhos de Alfredo e todos fazem parte da família Almeida. Mas, ao contrário do que se pode pensar, não são parentes do ciclista. Na verdade, até há um mês nunca tinham ouvido falar do jovem de A-dos-Francos. Mas assim que a Volta a Itália começou ficaram fãs do ciclista e esta terça-feira vieram do Porto até às Caldas da Rainha só para o conhecer.

Com apenas 16 anos, Leonor confessa que “não conhecia o João antes do Giro”, mas quando começou a acompanhar a competição ficou “colada ao ecrã” com a prestação do ciclista: “Até na escola via”. Por isso, afirma sem dúvidas: “As Caldas da Rainha são o único sítio onde podia estar hoje”.

É um orgulho nacional. Hoje queria mesmo muito estar aqui. O que ele fez foi notório. Vim do Porto até aqui e tenho a certeza que vale a pena”, garante a jovem.

O pai, Alfredo Almeida, embarcou na aventura de fazer mais de 400 km num dia para conhecer o ciclista e não se arrepende. “Sobretudo nestes tempos de Covid, foi uma alegria ver um jovem português a brilhar lá fora. Enche-nos de esperança e acho que é uma nova geração do ciclismo de que nos vamos orgulhar”.

No edifício da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, iluminado de rosa para a ocasião, João Almeida foi homenageado numa cerimónia que contou com a presença do Secretário de Estado do Desporto e também do Presidente da Federação de Ciclismo. Todos elogiaram a capacidade de trabalho do jovem que “muitas vezes subia para a bicicleta e desaparecia”.

“Agora já ninguém diz que isto é À-dos-Frangos”

Já depois do cair da noite, Mafalda, uma jovem de A-dos-Francos, confessa que as últimas semanas tem sido uma “azáfama”: “Ninguém conhecia A-dos-Francos. Muitos chamavam-lhe À-dos-Frangos. Agora todos os ciclistas passam por aqui, todos querem conhecer a terra”.

E na vila, mais novos ou mais velhos, todos se mostram orgulhosos com esta recente curiosidade. “É um momento marcante na história da terra. É maravilhoso e muito emocionante para o povo de A-dos-Francos. Conheço os pais, os avós. É uma emoção”, realça José Saraiva, 75 anos, visivelmente comovido. Para as crianças, a noite desta terça-feira também foi marcante. Todas se quiseram aproximar de João Almeida: pediram autógrafos, fotografias e algumas só quiseram mesmo dar os parabéns ao mais recente ídolo.

A vida da pequena vila das Caldas da Rainha mudou muito no último mês. Agora, apesar de ser “altura de descansar”, quem lá vive tem a certeza de que João Almeida vai continuar a dar alegrias. Para já, fica o feito: foi aqui que nasceu e cresceu o português que alcançou o melhor resultado de sempre numa Volta a Itália.