Era de manhã, razoavelmente cedo, quando o Observador chegou ao Largo de São Carlos, em Lisboa. A nobre praça onde mora o Belcanto, ex-clube de cavalheiros que é hoje um dos melhores restaurantes portugueses (duas estrelas Michelin incluídas). Havia pouca ou quase nenhuma movimentação de transeuntes e a fachada desta que é a casa principal do chef José Avillez parecia um quadro — fachada antiga, toldo castanho sóbrio, canteiros e até um banquinho de jardim adornavam os arredores da porta principal do espaço. Assim que o dedo se aproximou da campainha, a porta abriu-se e lá de dentro veio o próprio cozinheiro cascalense, seguido por uma jovem de olhos rasgados. “Um minuto, só. Estamos a acabar uma entrevista com o Le Figaro japonês”, explicou o chef. Pose para cá, pose para lá, acabámos por segui-los rumo ao elegante espaço onde Avillez apresenta o melhor das suas receitas criativas.

“Eu sou um auto-didata, nunca cheguei a fazer o ensino de hotelaria completo”, atirou o chef já sentado a uma mesa com duas outras senhoras orientais — a jornalista e uma interprete. Foi-se desenrolando a conversa entre ambos os lados, sempre com a fotógrafa no fundo, a fazer grandes composições com pratos como o carabineiro grelhado com cinzas de alecrim ou a já famosa horta da galinha dos ovos de ouro. Analisando o que estava ali a acontecer, minutos antes da entrevista que o chef acabou por dar ao Observador, era impossível não ficar admirado — como é que um português chama à atenção de pessoas que vêm do outro lado do mundo só para o conhecerem?

O que ali acontecia era resultado de anos de trabalho, sempre numa rotina louca e com total dedicação a um ideal que todos já conhecem — dar ao mundo (e aos portugueses também, porque não?) o melhor da comida nacional. Obviamente que a recente atenção que Portugal tem despertado por todo o lado em muito impulsionou a brilhante carreira deste homem que em pequeno vendia tortas, feitas pelo próprio, com a ajuda da irmã, mas há um mérito inegável que é importante ser mencionado. José Avillez tem hoje 18 restaurantes, entre Lisboa e Porto, com o seu nome à porta. Prepara-se para em breve inaugurar um outro no Dubai, a Tasca, que irá brilhar no luxuoso complexo hoteleiro Mandarin Oriental Jumeirah. Motivos como este (e muitos outros) são mais do que pretexto para conhecer um pouco melhor os lados menos conhecidos do chef português. A morte do pai, os negócios com Ljubomir Stanisic ou os vários anos de psicanálise são alguns dos temas que foram explorados na conversa que agora, nas linhas que se seguem, vai poder conhecer.

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