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Larry Nassar. A história do monstro que abusou de centenas de atletas durante mais de 20 anos

Foi durante mais de 20 anos médico da seleção americana de ginástica, hoje enfrenta quase 150 acusações de abuso sexual. Entre 89 testemunhos chocantes sobra a pergunta: quem "protegeu" Larry Nassar?

“Sinto falta dela todos os dias. E tudo começou com ele”.

Chelsea Markham tinha apenas dez anos e o sonho de tornar-se numa ginasta de topo. Dez anos. Foi com essa idade que visitou pela primeira vez Larry Nassar, na altura um guru que todas as meninas de dez anos com o sonho de serem ginastas de topo queriam visitar. Quando saiu, desfez-se em lágrimas com a mãe, Donna. E contou que o médico lhe tinha colocado os dedos sem luvas na vagina, ao mesmo tempo que a fez prometer que nunca diria nada a ninguém porque isso poderia prejudicar o seu sonho. Antes dos 14, deixou a ginástica; depois, deixou de ter sonhos. Entrou numa espiral de depressão. Teve vários problemas com drogas. Suicidou-se em 2009, com 23 anos. E Donna, a mãe que só queria que Chelsea atingisse o seu sonho, ainda hoje não se consegue perdoar.

O julgamento do antigo médico da seleção de ginástica americana, entre outros cargos, tem sido um brutal desfilar de testemunhos (89) de meninas agora quase todas adultas que tinham um sonho. O sonho que alguém roubou. Hoje, em vez desse sonho, sobram os pesadelos. Há casos de depressão, há casos de stress pós-traumático, há casos de ataque de pânico, há casos de tentativas de suicídio (pensado ou consumado). Há inclusivamente o caso de uma ex-atleta que se decidiu cortar. “Queria ter o mesmo aspeto feio por fora do que tinha por dentro”, contou.

Nassar, de 54 anos, o monstro que no mês passado já foi condenado a 60 anos (25 anos no mínimo de cadeia efetiva, como ficou estipulado) por posse de pornografia infantil, decidiu escrever uma carta à juíza Rosemarie Aquilina no final do segundo dia de audições em Lansing, Michigan. “Para os envolvidos, sinto muito. Tudo o que aconteceu foi um fósforo que se converteu num incêndio florestal sem controlo. Rezo o rosário todos os dias a pedir perdão. Quero que as feridas que abri sarem, é hora”, declarou, com um pedido – ser dispensado de ouvir os testemunhos que se seguiam. “Não sei se vou conseguir ouvir mais um dia de declarações, é um circo para os meios de comunicação e não sei se consigo aguentar”, destacou. A resposta às seis páginas escritas à mão em folhas com linhas sem espaçamento não poderia ter sido mais contundente.

Juíza Rosemarie Aquilina olha para a imagem de Larry Nassar, que baixou a cabeça em todos os testemunhos

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“Tenho de dizer que não vale o papel onde está escrito… Pode achar severo estar aqui a ouvir, mas nada é tão severo como aquilo que as suas vítimas suportaram durante centenas de horas nas suas mãos. Passar quatro ou cinco dias a ouvir o que têm para dizer agora é menor, considerando as horas de prazer que teve às custas dela, arruinando as vidas delas”, atirou Rosemarie Aquilina, como resume o The Lansing State Journal, que tem acompanhado o julgamento ao pormenor. E Nassar ouviu 89 depoimentos entre quase 150 acusações. Depoimentos como o de Kyle Stephens, hoje com 26 anos, descrita inicialmente como a “vítima ZA”.

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Kyle costumava passar os domingos em família com Nassar. As mães costumavam preparar o almoço, o médico brincava com as crianças. Um dia, a jogar às escondidas, levou Kyle para a sala das caldeiras e abusou sexualmente dela. Tinha seis anos. E esteve cinco anos a sofrer quase semanalmente desses abusos, até contar aos pais. “É impossível”, pensaram os pais. Além de ser amigo da família, Larry era uma das personalidades mais reputadas no desporto americano e já tinha estado, por exemplo, nos Jogos Olímpicos de 1996. Confirmou-se: era mesmo tudo verdade. A mãe chorou de forma convulsiva durante o testemunho; o pai suicidou-se em 2016.

"Talvez já tenha percebido agora, mas as raparigas pequenas não ficam pequenas para sempre e transformaram-se em mulheres fortes que vieram para destruir o seu mundo", atirou Kyle Stephens, filha de um casal amigo de Nassar e vítima de abusos a partir dos seis anos.

“Larry Nassar colocou-se entre mim e a minha família e aproveitou a vantagem de ser amigo da família para nos quebrar”, sublinhou, citada pela Reuters, antes de falar diretamente para o médico no banco dos réus (que nunca olhou para Kyle). “Talvez já tenha percebido agora, mas as raparigas pequenas não ficam pequenas para sempre e transformaram-se em mulheres fortes que vieram para destruir o seu mundo”, concluiu.

Os testemunhos que chocaram o país e as acusações a quem fechou os olhos

No mesmo ano em que Kyle Stephens disse aos pais o que se passava naquela sala das caldeiras, uma atleta estudante na Universidade de Michigan State revelou a sua preocupação a vários técnicos e preparadores sobre Larry Nassar. Também aqui, ninguém fez nada. Hoje, 20 anos depois, muitos dos 89 testemunhos ouvidos em quatro dias de audiências podiam ter sido evitados. Não foram. E por cada depoimento, há um choque que abala a sociedade norte-americana. As palavras, aquelas palavras que podiam não ser ouvidas, tornam-se cortantes.

[Veja no vídeo alguns dos momentos mais marcantes do julgamento]

O médico nunca olhou para as vítimas durante as audições. E raramente teve expressões faciais ou reações diferentes do normal. Jennifer Rood-Bedford, uma jogadora de voleibol da Universidade de Michigan State no início dos anos 2000 que admitiu ter pensado num plano para lhe dar um pontapé na cara se alguma vez se voltasse a meter com ela, foi uma exceção: durante alguns minutos, Larry Nassar teve um lenço na mão para secar as lágrimas. “Dr. Nassar, quero que saiba que rezo por si, acredite que o meu perdão é sincero. Há uma esperança que transcende tudo o que possamos compreender. Pode escolher ser um homem melhor e uma pessoa diferente, procure-O e vai encontrar isso”, referiu, citada pelo Washington Post, naquele que foi o único perdão ouvido na sala.

Larry Nassar levantou os olhos e chorou num único depoimento, o de Jennifer Rood-Bedford

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Jade Capua, de 17 anos, que viajou de Illinois com os pais, revelou os episódios de abusos desde que entrou pela primeira vez no gabinete de Nassar, aos 13. “Roubou-me a inocência, a privacidade, a segurança e a confiança”, disse, antes de pedir que “seja feita justiça”. “Deixou-me uma cicatriz mental que infelizmente será algo que terei sempre. No entanto, acredito que as feridas abertas transformam-se em cicatrizes e que essas cicatrizes serão história para partilhar e curar as feridas”, completou, citada pela Newsweek. Alexis Moore foi ouvida pouco depois. “Traiu a minha confiança, aproveitou-se da minha juventude e abusou de mim centena de vezes. Tinha de apertar o maxilar quando ouvia estranhos comentarem como era possível que se safasse depois de tudo o que fez. Mas não podem ser as trevas a guiarem as nossas trevas, só a luz”, referiu, segundo o New York Post.

As palavras da ex-atleta Chelsea Kroll também deixou a sala em choque. “As ginastas são treinadas para aguentarem a dor, para não se queixarem e obedecerem, e ele utilizava essa cultura para executar estes asquerosos abusos. Uma vez, quando tinha 16 anos, introduziu os dedos sem luvas na minha vagina durante 30 minutos fazendo movimentos circulares. Ao acabar, agradeceu a confiança nele. Senti-me confusa e envergonhada. Pensava ‘É o Larry, não me faria nada de mal’. Dessa vez era para as minhas dores nas costas, outra vez voltou ao tratamento especial 45 minutos para o que era suposto ser uma dor na perna. Aconteceu 20 vezes”, cita o El País.

“Não conseguia perceber o que se passava de errado comigo, porque estava a lutar tanto, porque não tinha orgulho nos meus feitos. Tenho zero autoconfiança. Você é um demónio”, acusou Jamie Dantzscher, bronze nos Jogos de Sidney, em 2000, que travou batalhas contra a anorexia, a bulimia e uma depressão que a obrigou a estar internada por tentativa de suicídio, num depoimento destacado pela Sports Illustrated.

"Não conseguia perceber o que se passava de errado comigo, porque estava a lutar tanto, porque não tinha orgulho nos meus feitos. Tenho zero autoconfiança. Você é um demónio", acusou Jamie Dantzscher, bronze nos Jogos de Sidney, em 2000.

No quarto dia da sessão, Jordyn Wieber, mais uma das ‘Fierce Five’ (a equipa americana que conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012), juntou-se a Aly Raisman, McKayla Maroney e Gabby Douglas (e Simone Biles, a grande figura nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro) e admitiu, em tribunal, também ter sido abusada. Desde os 14 anos, quando sofreu uma lesão. “As nossas cabeças só pensavam na mesma coisa em Londres: quem seria o médico que enviariam para nos ajudar? O médico que abusava de nós. Não sabia que eram tudo técnicas que tinha preparado para me manipular. E ninguém nos protegeu! Os meus pais confiavam na ginástica dos Estados Unidos e em Larry Nassar e fomos traídas por ambos. Mas apesar de ser uma vítima, não vivo nem nunca viverei a minha como uma”, sublinhou em lágrimas, de acordo com a NBC.

Este é um ponto importante e que promete tratar-se de um caso longe de resumir-se à figura do “monstro” Larry Nassar. Tiffany Thomas López, uma jogadora de softbol da Universidade de Michigan State, queixou-se a vários treinadores, queixou-se às autoridades e nunca ninguém fez nada (“Todos os anos só pensava se haveria outra Tiffany Thomas”, confidenciou). Brianne Randall disse ter denunciado o caso à polícia mas ouviu como resposta que devia ser uma confusão. Amanda Thomashow apresentou queixa e nada foi feito (“A Universidade de Michigan State, que amava e em quem confiava, teve a audácia de me dizer que não sabia a diferença entre abuso sexual e procedimentos médicos”, reforçou). “Steve Penny, o presidente da Federação Americana de Ginástica, é um cobarde. John Geddert, do Twitstars Gym, é uma desgraça. Kathie Klages, antiga responsável pela ginástica artística da Universidade Michigan State, criou um ambiente onde as vítimas tinham medo de falar”, acusou Lindsey Lemke.

Todas as 89 testemunhas que falaram nos primeiros quatro dias de audições têm o mesmo “peso”, digamos assim. Mas, como já se tinha percebido nas declarações anteriores quando assumiram ter sido alvo de abusos, as “meninas bonitas” dos Estados Unidos por causa das medalhas olímpicas conseguidas estão a aproveitar esse estatuto para colocar em causa muito mais do que os atos hediondos de Larry Nassar. E querem provocar um terramoto na ginástica e no desporto nacional, para que casos como estes nunca mais aconteçam ou sejam escondidos. Exemplos paradigmáticos: McKayla Maroney, que ganhou um ouro e uma prata em 2012, e Aly Raisman, uma espécie de “líder” que conquistou dois ouros e um bronze em 2012 e um ouro e duas pratas em 2016.

As "Fierce Five", campeãs olímpicas em 2012: Kyla Ross, McKayla Maroney, Aly Raisman, Jordyn Wieber e Gabrielle Douglas

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“Pensava que ia morrer”, assumiu McKayla Maroney, num discurso reproduzido na íntegra pela revista Time. “O doutor Nassar não era um médico; é, foi e será um abusador de crianças, um monstro de ser humano. Fim da história! Abusou da minha confiança, abusou do meu corpo e deixou cicatrizes na minha cabeça que talvez nunca desapareçam. Mas tenho a esperança que as autoridades não fechem o livro após ser condenado. Da Federação de Ginástica à Universidade de Michigan State ao Comité Olímpico, todos devem ser responsabilizados por terem permitido que isto acontecesse sem fazerem nada para o impedir”, frisou.

“Larry, percebes agora que nós, este grupo de mulheres que abusaste sem coração ao longo de todo este tempo, somos agora uma força e tu não és nada. Devias ter sido preso há muito, muito tempo. O facto é que não sabemos quantas pessoas conseguiste transformar em vítimas e o que era feito ou não era feito para continuares a fazer isso. Estou aqui para que vejas que reconquistei a minha força, que não sou uma vítima mas sim uma sobrevivente. Já sabes que vais para um lugar onde não conseguirás fazer mal a ninguém mais nenhuma vez, mas estou aqui para te dizer que não descansarei até que todos os mínimos vestígios da tua influência no desporto sejam destruídos. Se queremos acreditar numa mudança, devemos primeiro perceber o problema e tudo o que contribuiu para ele. Agora não é tempo de falsas garantias. Precisamos de uma investigação independente ao que realmente aconteceu, ao que correu mal e a como pode ser evitado no futuro”, defendeu Aly Raisman, nas frases fortes destacadas pela CNN.

"Estou aqui para que vejas que reconquistei a minha força, que não sou uma vítima mas sim uma sobrevivente. Já sabes que vais para um lugar onde não conseguirás fazer mal a ninguém mais nenhuma vez, mas estou aqui para te dizer que não descansarei até que todos os mínimos vestígios da tua influência no desporto sejam destruídos", exclamou a bicampeã olímpica de equipas Aly Raisman.

“O meu sonho é que, um dia, todos saibamos o que significa as palavras #MeToo. Mas que sejam educadas e capazes de se protegerem de predadores como o Larry para que nunca, nunca, nunca mais tenhamos de ouvir as palavras ‘me too’”, concluiu, num final que motivou, pela primeira vez, uma salva de palmas após um testemunho.

Quem é Larry Nassar e como um email mudou o processo

“Ele tem tudo o que é necessário para ser um incrível líder. Tem a personalidade. Tem a habilidade. Tem o conhecimento. E está usar tudo isso para se alimentar das pessoas. Que desperdício…”, comentou durante este processo Rachael Denhollander. Foi dela que surgiu a primeira queixa sobre Larry Nassar, em 2016.

Com 54 anos, casado até 2017, católico e com três filhas, o médico que terminou a licenciatura em 1985 na Universidade de Michigan com especialização em cinesiologia (análise dos movimentos do corpo humano) começou por trabalhar com equipas de futebol americano e atletismo, já depois de um estágio numa escola em Detroit enquanto se formava. Fez um mestrado, tirou outra especialização em osteopatia, mas pelo meio começou a trabalhar com John e Kathryn Geddert, que abriram o Twitstars USA Gymnastics Club, em Michigan, no ano de 1988. Uma instalação que, ainda antes do final deste processo, perdeu ligação com a Federação de Ginástica.

A primeira vez que uma atleta se queixou foi em 1994, mas o facto de ter subido a coordenador médico da equipa de ginástica dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Atlanta, dois anos depois, “abafou” esse caso. Ninguém quis saber. Ou melhor, ninguém quis acreditar. Em 1998 surgiram mais dois casos supracitados. Em 2000, é Rachael Denhollander, com 15 anos, que se queixa de ter sido abusada no tratamento de um problema nas costas.

Rachael Denhollander quis contar o seu caso ao IndyStar e foi a primeira a acusar formalmente Nassar

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Nassar era descrito como alguém simpático e amável, mas a verdade é que teve “tratamentos especiais”, como descrevia, durante duas décadas e meia. Uma das vítimas diz mesmo que o método era sempre o mesmo, não interessando a idade, se os pais estavam na sala ao lado ou se eram famosas. Entretanto, foi ganhando fama até pelas promoções que ia recebendo a nível federativo e universitário, convencendo as atletas que o visitavam que a exigência do desporto e a intensidade de treino eram exageradas mas que um dia chegariam também aos Jogos Olímpicos. Quando voltava de uma edição, trazia brindes que depois distribuía para ganhar confiança.

Em 2014, no seguimento de outra queixa feita por parte de uma antiga estudante, a Universidade de Michigan State decide abrir um inquérito mas é ilibado das acusações, ao mesmo tempo que sai da coordenação médica mas fica, a seu pedido, como médico da ginástica artística feminina. Dois anos depois, foi o início do fim.

A 4 de agosto de 2016, o The Indianapolis Star (ou Indy Star) publica uma longa reportagem de investigação chamada Out of Balance, onde eram pela primeira vez denunciados abusos sexuais no mundo da ginástica do país.

Nesse mesmo dia, o jornal recebeu um email. “Acabei de ler um artigo intitulado ‘Out of Balance’ publicado no IndyStar. A minha experiência pode não ser relevante para a vossa investigação, mas escrevo para reportar um incidente…”. Era Rachael Denhollander, que contava os mais de dez anos de abusos desde os 15 no ginásio onde Larry Nassar trabalhava em Michigan. Uma semana e meia depois, o advogado John Manly ligou ao jornal para dizer que representava a ex-olímpica Jamie Dantzscher e que ia colocar um processo por suspeitas de conduta do médico. Mais uma semana, mais um contacto, mais uma queixa: Jessica Howard, campeã nacional de ginástica rítmica.

“Acabei de ler um artigo intitulado ‘Out of Balance’ publicado no IndyStar. A minha experiência pode não ser relevante para a vossa investigação, mas escrevo para reportar um incidente...”. Rachael Denhollander enviou um email ao jornal e contou o seu caso, a que se seguiram muitos outros.

A primeira história sobre Nassar sai a 12 de setembro desse ano, logo após Denhollander ter apresentado queixa criminal contra o médico. Nesse mesmo dia, em entrevista ao IndyStar, Nassar negou tudo e alegou que os seus métodos estavam a ser mal compreendidos; coincidência ou não, foi nessa altura que a Universidade de Michigan State o dispensou de qualquer função, invocando um protocolo que tinha sido definido após a queixa de 2014 onde era obrigado a usar luvas e ter sempre uma enfermeira no gabinete. Em novembro, eram já muitas as queixas, mas o procurador geral de Michigan, Bill Schuette, continuava a dizer uma alarmante frase: “É apenas a ponta do icebergue”; em dezembro de 2016, Larry Nassar vai a tribunal mas por causa de um outro processo paralelo de pornografia infantil que, no final de 2017, o condenou mesmo a 60 anos de prisão (25 efetivos, no mínimo), confirmando-se as acusações de que tinha mais de 37 mil imagens no seu computador.

Nassar, que entretanto tinha visto a mulher pedir o divórcio e que ficara sem licença médica por três anos, acabou por ir cedendo e aquilo que descrevia como “métodos mal compreendidos” acabaram por resultar em confissões em tribunal. Para já, admitiu dez crimes de abuso sexual, mas o número será ainda bem mais superior quando todos os restantes processos se começarem a desenrolar em termos jurídicos. E não mais voltará a sair da prisão. Mas todo este caso que está abalar o desporto nos Estados Unidos está muito longe de ficar por aqui.

Larry Nassar tem estado no foco do mundo, mas sobra outra pergunta: mais ninguém sabia o que se estava a passar?

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No início, e durante muitos (e longos) anos, questionava-se (sem resposta afirmativa) se haveria vítimas abusadas por Larry Nassar; a partir de 2016, deu-se a contagem do número total de vítimas abusadas por Larry Nassar; agora, sem esquecer as vidas destruídas e as marcas que se perpetuarão, começa a perguntar-se como foi possível haver vítimas abusadas por Larry Nassar. E essa é a principal ilação da semana em que o mundo ficou a conhecer na primeira pessoa anos e anos a fio de crimes sexuais sem que nada nem ninguém tivessem feito algo para o evitar.

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