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Benjamin Netanyahu chegou ao poder em 2009
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Benjamin Netanyahu chegou ao poder em 2009

AFP/Getty Images

Benjamin Netanyahu chegou ao poder em 2009

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Legislativas. Netanyahu ou Herzog mais Livni?

Quem tem mais votos forma Governo? Em Israel não é necessariamente verdade e a expectativa é muita à volta das eleições de hoje. Segurança e economia estiveram em campos opostos das campanhas.

Israel já não é o mesmo país. A retórica assente na segurança e pulso forte já não garante votos e a última sondagem para as eleições legislativas desta terça-feira comprovam-no. Benjamin Netanyahu, o atual primeiro-ministro e no poder há seis anos, está a perder a batalha para o rival de centro-esquerda, Isaac Herzog. O complexo sistema eleitoral, as manobras e tiros que saíram pela culatra durante a campanha e as novas exigências do povo tornam estas eleições no que há de mais imprevisível na política.

Vamos por partes. Por que haverá eleições antecipadas? Em dezembro, Netanyahu, que sensivelmente um ano antes havia vencido as eleições, fartou-se das críticas à sua governação que partiam do próprio Governo. Por essa razão anunciou na altura a demissão do ministro das Finanças, Yair Lapid (um dos representantes do centro-direita), e da ministra da Justiça, Tzipi Livni (herdeira da tradição centrista do Kadima de Ariel Sharon), rasgando assim o contrato de coligação para governar. As sondagens em dezembro eram favoráveis a Netanyahu, mas tudo mudaria…

O discurso anti-Irão do atual primeiro-ministro, potenciado pela promessa de um acordo nuclear entre Estados Unidos e aquele país, tem endurecido nos últimos meses. Convidado pelo republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, Netanyahu deslocou-se ao congresso norte-americano, à revelia de Barack Obama, para resfriar as intenções da Casa Branca e, com isso, garantir também votos em casa. Comparou o Irão ao Estado Islâmico, foi ovacionado 26 vezes pelo congresso e alertou para os perigos de um eventual acordo que colocaria, afirma, em perigo a “sobrevivência” de Israel.

Convidado pelo republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, Netanyahu deslocou-se ao congresso norte-americano, à revelia de Barack Obama, para resfriar as intenções da Casa Branca e, com isso, garantir também votos em casa.

Mas este terá sido porventura um dos tiros que saíram pela culatra por parte de Netanyahu. Primeiro porque não terá conseguido mudar a opinião dos israelitas: uma sondagem do Channel 10 dava conta de que 93% dos inquiridos não alteraram a intenção de voto após o discurso. Depois, o facto de ter esticado a corda, de ter ido ao congresso à revelia de Obama, colocando em causa a estabilidade do acordo entre Estados Unidos e Israel, torna-se noutro foco de potencial insatisfação dos eleitores.

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Netanyahu, líder do partido Likud, encabeçou todas as sondagens até ao início de março, altura em que proferiu o tal discurso no congresso. A agenda centrada exclusivamente na segurança tornou-se contraproducente. E porquê? Porque o povo está, tudo indica, mais preocupado com o preço das casas e com o desequilíbrio social.

Quanto à habitação, por exemplo, e de acordo com um organismo que defende os interesses da população, o preço das casas aumentou 55% entre 2008 e 2013; o preço dos arrendamentos subiu 30%.

Segundo o El País, os números macroeconómicos até lhe são favoráveis: o PIB cresceu 2,9% em 2014, a taxa de desemprego estacionou nos 6% e o rendimento per capita é de 36 mil euros. A desigualdade social, no entanto, tem aumentado desde que chegou ao poder em 2009, muito por efeito da subida dos preços das casas, dos produtos básicos de alimentação e das comissões bancárias. Quanto à habitação, por exemplo, estima-se que o preço das casas aumentou 55% entre 2008 e 2013; o preço dos arrendamentos subiu 30%. Um apartamento de média dimensão em Tel Aviv custará à volta de 650 mil euros, enquanto em Jerusalém será 440 mil euros e 330 mil em Haifa, mais a norte. O salário médio ronda os 2.200 euros mensais.

A manifestação de 8 de março na Praça Rabin, em Tel Aviv, tornou clara a insatisfação de largas camadas da população. O evento, que terá juntado 80 mil pessoas (40 mil para as autoridades), foi organizado por Meir Dagan, um antigo chefe da Mossad, que afirmou que Israel está a viver a maior crise de liderança da sua história. “Temos um líder que só se preocupa com uma campanha: a campanha pela sua sobrevivência política”, acusa Dagan, que refuta o discurso que abraça um slogan já visto em muitos cenários políticos que diz “não há alternativa”. Das palavras usadas, há uma que grita: “apartheid“. Tanto Dagan como Amiram Levine, um antigo general israelita, usaram-na para descrever o futuro do país.

Quem é o rival que assombra a reeleição de Netanyahu?

Isaac Herzog. Advogado de profissão, formou-se na Universidade de Tel Aviv e passou pelas Universidades de Cornell e Nova Iorque. É casado e tem três filhos. Aos 54 anos, é o herdeiro de uma longa linhagem familiar que se confunde com a própria história de Israel. O pai, Chaim Herzog, foi o sexto presidente do país (1983-1993), enquanto o seu avô, Isaac HaLevy Herzog, era o grão-rabino quando Israel garantiu a independência em 1948, conta o Haaretz.

Nas últimas sondagens, a União Sionista, formada pelo Partido Trabalhista de Herzog e pelo Hatnua, a formação liderada por Tzipi Livni, liderava as intenções de voto: poderia eleger 26 deputados contra 22 do Likud de Netanyahu.

Mas o protagonismo da família de Herzog não se fica por aqui. O irmão de Isaac, Michael Herzog, tem um papel de destaque nas negociações de paz do país. O seu tio, Abba Eban, era o ministro dos Negócios Estrangeiros durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Pnina Herzog, uma tia, representou Israel na Organização Mundial de Saúde. Outra tia, Suzy Eban, fundou a associação israelita contra o cancro. Sidney Hillman, um primo afastado, chegou a ser conselheiro de Franklin Roosevelt e foi uma peça chave nas reformulações da lei relativa ao Estado social durante o New Deal.

O legado é pesado, mas o vento está a seu favor neste momento. Nas últimas sondagens,  a União Sionista, formada pelo Partido Trabalhista de Herzog e pelo Hatnua, a formação liderada por Tzipi Livni, liderava as intenções de voto: poderia eleger 26 deputados contra 22 do Likud de Netanyahu. O Knesset, o parlamento israelita, tem 120 deputados, o que mostra como será difícil formar uma nova maioria com condições para governar, mas já lá vamos.

Isaac Herzog, o líder da União Sionista que lidera as sondagens

JACK GUEZ/AFP/Getty Images

Aquando da marcação das eleições antecipadas, ninguém acreditava que “Bougie”, como é conhecido Herzog, tivesse alguma hipótese de fazer frente ao atual primeiro-ministro. Mas os especialistas e analistas políticos foram surpreendidos quando o político deu a mão a Tzipi Livni, a ex-ministra da Justiça demitida por Netanyahu e líder do Hatnua, formando assim a União Sionista, conta o El País. “Prefiro perder com Tzipi a perder sozinho”, chegou a dizer.

Livni é, de resto, uma das figuras mais originais da paisagem política israelita. Depois do serviço militar chegou a trabalhar na Mossad antes de ingressar na política através do Likud. Tornou-se depois um dos principais apoios de Ariel Sharon quando este decidiu o abandono unilateral da Faixa de Gaza e estaria a seu lado quando o antigo falcão rompeu com o Likud para fundar o Kadima, uma formação centrista a que se juntariam também alguns trabalhistas históricos. Nos governos de Sharon foi ministra dos Negócios Estrangeiros e tem estado regularmente envolvida em negociações de paz, sendo uma fervorosa advogada da solução dos “dois estados”. Agora à frente do Hatnua, o seu acordo com Herzog é que, se a União Sionista formar governo, que ambos alternem no cargo de primeiro-ministro.

Herzog foi chefe de gabinete do primeiro-ministro Ehud Barak, ocupando-se de dossiers como trabalho, habitação e assuntos sociais. O candidato a primeiro-ministro defende uma solução de “dois Estados” para colocar um ponto final no conflito israelo-palestiniano. O primeiro passo, antes de um acordo definitivo, passaria por estabelecer fronteiras aceites por ambas as partes.

AS CRITICAS À CAMPANHA DE NETANYAHU

O primeiro-ministro israelita parece conhecer cada vez melhor a palavra “solidão”. É que primeiro rompeu a coligação que estava no poder por não tolerar criticas que brotavam do lado de dentro do eixo da governação. Agora, a forma como geriu a campanha e perdeu a liderança nas intenções de voto são objeto de nova insatisfação por parte dos seus camaradas. “A União Sionista vai superar-nos, é um facto. A questão agora é saber por que margem”, disse um alto cargo do Likud ao Haaretz, citado pelo El País. E insistiu: “Mesmo que consigamos formar o próximo Governo, esta campanha foi um fracasso colossal, do qual Netanyahu é o único responsável.”

"Nesta campanha ‘Bibi’ [Netanyahu] fez todos os erros possíveis. Ignorou as preocupações das pessoas e só falou em segurança — Irão, Hamas e Estado Islâmico. Ele é ótimo em questões de segurança, mas há outras coisas que preocupam os israelitas"
Tzidkiyahu, um homem que esteve 40 anos ligado ao Likud

O primeiro-ministro tem por hábito nunca dar entrevistas, mas o atual cenário fê-lo recuar. Recentemente, colocou-se à disposição de cadeias de televisão para voltar a recuperar a liderança nas intenções de voto. “É a nossa última cartada para dar a volta às sondagens”, admitiu o responsável pela campanha.

“Nesta campanha ‘Bibi’ [Netanyahu] fez todos os erros possíveis. Ignorou as preocupações das pessoas e só falou em segurança — Irão, Hamas e Estado Islâmico. Ele é ótimo em questões de segurança, mas há outras coisas que preocupam os israelitas”, afirmou ao Guardian Tzidkiyahu, um homem que esteve ligado ao Likud durante 40 anos e que agora decidiu abandonar Netanyahu. “Ele fez tudo errado”, sentenciou.

Netanyahu apelou também ao voto útil, ou ao regresso daqueles que o abandonaram. “Se não conseguir reduzir a vantagem de Herzog e Livni nos próximos dias, existe o perigo real de eles ocuparem o poder.” A uma rádio, reconheceu que a “direita está dividida em Israel”, incentivando a que a mesma se reúna em redor do Likud.

“Ainda há um fosso entre o Likud e o Partido Trabalhista”, afirmou Netanyahu. “Mas ainda podemos encurtar essa distância. A forma de o fazer é votar [no Likud]… Tzipi e ‘Bougie’ [Herzog] vão construir um Governo com a lista árabe, da qual o secretário-geral afirmou que o Hamas não é um grupo terrorista”

Segundo uma sondagem interna do Likud, constata-se pela primeira vez que a maioria dos israelitas não acredita que Netanyahu formará o próximo governo, conta o The Jerusalem Post. No dia 9 de março, uma sondagem do partido dizia que 62.3% dos israelitas considerava que Netanyahu iria formar governo, mas esse número, passado uma semana, desceu drasticamente para 49.6%. Os inquéritos foram levados a cabo pela McLaughlin e Associados, uma empresa norte-americana que trabalha para a campanha do Likud.

A narrativa de Netanyahu passa por radicalizar o principal rival, como aconteceu no discurso desta segunda-feira na sede da campanha: “Ainda há um fosso entre o Likud e o Partido Trabalhista. Mas ainda podemos encurtar essa distância. A forma de o fazer é votar [no Likud]… Tzipi e ‘Bougie’ [Herzog] vão construir um Governo com a lista árabe, da qual o secretário-geral afirmou que o Hamas não é um grupo terrorista. A forma de evitar isso é votar [no Likud].”

O ABC DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS ISRAELITAS

As eleições estão agendadas para esta terça-feira. Existem 25 partidos a concorrer, sendo que seis deles são formados por coligações, tal como acontece com o principal rival de Netanyahu: a União Sionista. Estão na corrida 1.280 homens e mulheres para os 120 lugares do Knesset. Segundo o Haaretz, quase seis milhões de israelitas estão aptos a votar nas cerca de dez mil salas de voto espalhadas pelo país. Em 2013 a abstenção situou-se nos 32%.

Resumindo: a coligação centro-esquerda liderada por Isaac Herzog está a beneficiar da discussão à volta da economia, nomeadamente no preço elevado das casas e dos desequilíbrios sociais. “Qualquer um menos Netanyahu”, é isto que pretende fomentar a União Sionista na população, como conta a Vox.

As eleições estão agendadas para dia 17 de março, terça-feira. Existem 25 partidos a concorrer, sendo que seis deles são formados por coligações, tal como acontece com o principal rival de Netanyahu: a União Sionista. Estão na corrida 1.280 homens e mulheres para os 120 lugares do Knesset. Segundo o Haaretz, quase seis milhões de israelitas estão aptos a votar nas cerca de dez mil salas de voto espalhadas pelo país

Por outro lado, e na teoria, o murro na mesa de Netanyahu contra as intenções de Obama e a radicalização do Irão, que até comparou ao Estado Islâmico, poderiam beneficiar a direita, mas não foi isso que as sondagens expressaram. Au contraire, quando o povo está mais preocupado com a economia, a atitude desafiante do atual primeiro-ministro face aos EUA poderá criar algum receio entre os israelitas, que temem um resfriar da ligação que lhes tem assegurado segurança. Já uma vitória de Herzog, explicam alguns artigos da imprensa internacional, contribuiria para um suavizar das relações diplomáticas entre os dois países.

Quanto ao sistema eleitoral e constitucional, esse, poderá favorecer Benjamin Netanyahu, porque há mais partidos de direita. É que, depois das eleições, os partidos que garantiram um lugar no Knesset (proporção mínima necessária: 3.25%) enviam ao presidente do país, Reuven Rivlin, o nome do líder partidário que preferem para tentar formar Governo, que nascerá de várias coligações e acordos. O nome que se repetir mais vezes tem prioridade. Ou seja, Herzog até poderá ganhar a corrida nos votos, mas, se se confirmar um maior número de partidos de direita no Knesset, Netanyahu será o primeiro a tentar formar uma coligação para governar. Só se se o atual primeiro-ministro falhar a meta de reunir 61 elementos para formar a maioria é que Herzog e Livni terão a sua chance…

Esta fragmentação do sistema eleitoral dá um relevo aos pequenos partidos que não é proporcional à sua popularidade, oferecendo-lhes ainda um maior poder negocial na hora das cedências, atribuições de cargos e promessas.

Há ainda um outro cenário que a Vox lembra no mesmo artigo e que Netanyahu já rejeitou à partida: Rivlin pode recomendar que os partidos com mais votos formem Governo. Nesse cenário, Netanyahu e Herzog acabariam por rodar no cargo, tal como aconteceu em 1984. Nessa altura, Shimon Peres (Partido Trabalhista) exerceu o cargo de chefe de Governo durante os primeiros 25 meses, enquanto o líder do Likud, Yitzhak Shamir, assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros. Na segunda metade do mandato inverteram-se os papéis. “Eu não aceitarei rodar no cargo com Herzog. Não existe essa opção”, assegurou Netanyahu no Canal 2. Ver aqui os sete cenários traçados pelo Hareetz.

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