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Líbano, a "surpresa de outubro" de Bibi que pode complicar as eleições nos EUA

Morte de Nasrallah e invasão israelita ao país vizinho apanharam a Casa Branca de surpresa. Joe Biden está entre a espada e a parede e Netanyahu aproveita o timing antes das eleições

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Joe Biden participou numa conferência na passada segunda-feira, onde lhe foi colocada a incontornável questão: o que pensa sobre a ofensiva israelita em território do Líbano, que tinha tido início poucas horas antes? O Presidente norte-americano foi lacónico na resposta. “Estou confortável com a ideia de eles pararem. Devemos ter um cessar-fogo”. Telavive, porém, nem reagiu às palavras do líder dos Estados Unidos. O conhecido analista Ian Bremmer resumiu tudo num simples tweet: colocou as palavras de Biden e acrescentou “Impacto: zero”.

A decisão do governo de Benjamin Netanyahu de avançar para uma ofensiva terrestre no Líbano ilustra bem como o governo norte-americano se sente entre a espada e a parede. Segundo a CNN, Washington não foi sequer informada previamente do assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. O desconforto dentro da Casa Branca foi notório. Mas, pouco depois, perante a chuva de mísseis disparados do Irão contra Israel, o executivo de Joe Biden voltou a assegurar em público o apoio a Telavive.

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Tudo se complica se tivermos em conta que Biden está de saída, com as eleições presidenciais a um mês de distância. Daí que muitos especialistas especulem que esta invasão do Líbano por parte de Israel pode ser “a surpresa de outubro” que mina a votação nos EUA, em referência a uma velha expressão usada no país sobre acontecimentos imprevisíveis à beira da eleição.

Outros são ainda mais cínicos e até levantam a possibilidade de que o primeiro-ministro israelita terá decidido avançar para o Líbano agora precisamente por isso: “Há uma perceção quase universal de que Netanyahu está desejoso de uma vitória de Trump, assumindo que com ele poderá fazer o que entender”, resumiu Michael Koplow, analista do Fórum de Políticas de Israel, à BBC. Outros consideram que a motivação de Bibi é interna, motivada pela pressão dos partidos de extrema-direita que mantêm a sua coligação governamental de pé.

De uma ou outra forma, contudo, uma coisa é clara: os Estados Unidos têm cada vez menos influência sobre o aliado Israel. Mesmo com as ações do país na região a poderem ter um efeito dominó na própria política norte-americana.

Morte de Nasrallah foi “frustrante” para a Casa Branca, que não foi avisada

A situação do Líbano deixou a nu a descoordenação entre Washington e Telavive. Na semana passada, os EUA mostravam-se entusiasmados com o decorrer das negociações para um cessar-fogo, não apenas em Gaza, mas também no Líbano. A França envolveu-se no processo e os dois países diziam-se otimistas de que seria possível um cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah.

As discussões envolviam o ministro israelita dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, que, segundo o Canal 12 do país, teria chegado a um acordo de princípio. “Obviamente o Presidente dos Estados Unidos não lideraria um processo como este sem o acordo do primeiro-ministro Netanyahu”, confirmava uma fonte que estava envolvida nas negociações ao mesmo canal.

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Destroços provocados por um bombardeamento israelita em Beirute, no Líbano

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Mas eis que, em público, Bibi ia negando que o cessar-fogo estivesse assim tão próximo. Na passada quinta-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança norte-americano, John Kirby, chegou a mostrar-se irritado em público: “O que motivou os comentários do primeiro-ministro, só ele pode dizer”, afirmou aos jornalistas. A morte de Nasrallah também irritou Washington. “Ele era um vilão, mas é frustrante que os israelitas façam isto sem nos consultar e depois nos peçam ajuda para resolver quando é preciso dissuadir o Irão”, desabafou um responsável do governo americano ao Axios.

Na segunda-feira, noticiou o New York Times, os responsáveis norte-americanos estavam convictos de que tinham conseguido convencer o governo de Telavive a não invadir o Líbano. Horas depois, era exatamente isso que as Forças de Defesa de Israel faziam.

“Idiota”. Tensão entre Biden e Netanyahu já se agudiza há meses

Foi o ponto mais recente de desagrado na relação pessoal de Joe Biden e Benjamin Netanyahu, que se tem vindo a deteriorar ao longo dos últimos meses. Depois de décadas de boa convivência, a guerra em Gaza dos últimos meses fez amargar a relação entre os dois líderes. Já em fevereiro, fontes da Casa Branca relatavam que o Presidente norte-americano se referia agora a Bibi com termos como “aquele tipo” e “idiota”.

Do lado de Israel, o desagrado com Biden também se acentuava, com os partidos mais à direita da coligação a pressionarem Netanyahu. Em março, Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional e uma das figuras mais radicais do executivo israelita, dizia numa entrevista que “o Presidente Biden prefere a linha de Rashida Tlaib [congressista democrata pró-palestiniana] e Sinwar [líder militar do Hamas em Gaza] à linha de Benjamin Netanyahi e Ben-Gvir”.

Em agosto, um membro da Casa Branca falava ao jornal Haaretz sobre o ponto baixo da relação entre os dois líderes, durante as negociações para um cessar-fogo em Gaza. “Biden percebeu que Netanyahu lhe está a mentir sobre os reféns”, disse mesmo a fonte. “Ele ainda não o diz em público, mas na última reunião entre os dois disse-lhe ‘Páre de me dizer tretas’”.

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A relação entre Biden e Netanyahu tem-se degradado ao longo dos últimos meses

Anadolu via Getty Images

Agora em setembro, com a negociação para um cessar-fogo no Líbano em cima da mesa, o enviado de Washington a Israel, Amos Hochstein, avisava Telavive que uma invasão ao país vizinho poderia levar a uma escalada sem precedentes da guerra. Mas, como nota o especialista em Médio oriente Greg Priddy num artigo recente na National Interest, o governo israelita sabe bem que o descontentamento americano tem tido pouco reflexo no terreno. “A única exceção foi uma pausa na entrega de bombas aéreas, com Biden a impor uma ‘linha vermelha’ em março caso Israel avançasse para a ofensiva em Rafah”, escreveu.

“Mas permitiu-se que essa linha se desvanecesse e fosse ofuscada burocraticamente assim que a ofensiva começou. A conclusão é que Netanyahu tem todas as razões para acreditar que os EUA não vão impor consequências significativas se ele ignorar as preocupações norte-americanas”, acrescentou o analista.

As “linhas vermelhas” de Biden e a preferência de Bibi por Trump

A dúvida neste momento é o que vai agora Israel fazer em resposta ao ataque iraniano desta semana, em apoio ao Hezbollah. Biden traçou uma nova “linha vermelha”: nada de ataques a instalações nucleares do país. Mas muitos acreditam que pode acontecer o mesmo que se passou com Rafah. “Se o passado for preâmbulo, por esta altura na semana que vem Israel já terá bombardeado Natanz [local principal do programa nuclear iraniano] e os conselheiros de Biden estarão a dizer aos jornais que ele sempre apoiou o ataque”, escreveu no X Gregg Carlstrom, correspondente do Economist no Médio Oriente.

Em Israel, muitos olham para o momento atual como uma oportunidade para enfrentar o arqui-inimigo Irão e “reformular” a arquitetura da região. “Israel tem a maior oportunidade dos últimos 50 anos para mudar o rosto do Médio Oriente”, resumiu o antigo primeiro-ministro Naftali Bennett. E em Washington há responsáveis que até começam a simpatizar com a ideia, como resumiu ao The Guardian Ali Vaez, especialista do Crisis Group em política iraniana: “Os sucessos impressionantes de Israel no campo militar e das secretas nas últimas semanas seduziram alguns membros da administração Biden, que até aqui aconselhavam cautela e agora consideram opções como atacar a jugular e enfraquecer o Irão.”

Mas não são a maioria: na verdade, de acordo com um artigo recente do Politico, a Casa Branca está partida nesta questão, com alguns a quererem apoiar a jogada de Telavive e outros a manterem-se firmes na ideia de que esta invasão pode levar a um conflito de larga escala no Médio Oriente para o qual os EUA não devem ser arrastados.

Certo é que tudo se complica se tivermos em conta que daqui a um mês Joe Biden começa a preparar a sua saída. Bibi tem noção disso e aproveitou a sua visita recente a Washington, onde discursou no Congresso, para se encontrar com os dois candidatos: Kamala Harris e Donald Trump.

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E apesar de Harris formalmente garantir que segue a linha de Biden no que toca a Israel, a maioria dos especialistas não tem dúvidas de que Netanyahu prefereria ter de lidar com um Trump Presidente, que lhe imporia menos restrições e partilha da visão de maior pressão sob o Irão. “Ele quer que Trump vença e quer garantir que está em bons termos com ele antes da eleição”, resumiu à BBC Tal Shalev, correspondente diplomática do site israelita Walla News.

Mais do que essa vontade, a invasão a território libanês e a subsequente resposta do Irão pode mesmo afetar a própria campanha eleitoral, se tiver reflexos em questões económicas como o preço dos combustíveis, por exemplo, ou se ajudar a moldar perceções dos eleitores face às capacidades de Harris e Trump no campo da política externa.

Quem sai mais a perder perante esse cenário, aposta o veterano Gideon Rachman, é Kamala Harris: “Donald Trump gosta de afirmar que durante a sua presidência o mundo estava em paz e que a ‘fraqueza’ da administração Biden levou a guerras na Europa e no Médio Oriente. A escalada mais recente encaixa de forma perfeita nesta narrativa”, escreveu o jornalista na sua coluna do Financial Times. “O Israel e o Irão trouxeram a ‘surpresa de outubro’ desta eleição e o beneficiário pode vir a ser Trump.”

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