O arcebispo russo Hilarion Alfeyev, metropolita de Volokolamsk e número dois da hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa, não acredita que o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, tenha utilizado armas químicas contra o povo sírio. Diz que “foi tudo encenado”, tendo inclusivamente havido “crianças que foram pintadas para parecer que tinham feridas” — tal como a Rússia já tinha afirmado. Recorde-se que, em abril deste ano, a Rússia vetou um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que pretendia abrir uma investigação à utilização de armas químicas na Síria, após o ataque químico que matou pelo menos 70 pessoas em Douma, nos arredores de Damasco. Ainda assim, Hilarion Alfeyev considera que a Rússia não apoia “verdadeiramente o regime de Bashar al-Assad”.
Numa entrevista ao Observador, durante uma curta passagem por Portugal — para uma conferência na Universidade Católica sobre o futuro do Cristianismo na Europa e para um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa –, o líder ortodoxo falou sobre as complexas relações entre a Igreja e o Estado na Rússia, afirmando que “a Igreja não tem o direito de se alinhar com determinado partido político ou com determinado poder político”. Sobre o facto de o Patriarca de Moscovo, Cirilo I, ter classificado a governação de Vladimir Putin como um “milagre de Deus”, em 2012, Alfeyev afirma que a Igreja tem, porém, “o direito de fazer uma avaliação positiva de alguns políticos e uma avaliação negativa de outros políticos”, mas assegura que Cirilo I “nunca disse: ‘Devem votar no senhor Putin'”.
Fortemente reprimido após a revolução bolchevique, o Cristianismo na Rússia, através da Igreja Ortodoxa Russa — a maior das igrejas ortodoxas –, tem vivido um renascimento muito acentuado, sobretudo após a queda da União Soviética, com o número de fiéis a ter duplicado nos últimos 30 anos. Muitos associam este crescimento a uma grande proximidade com o poder político, que financia a construção de igrejas e escolas religiosas e que beneficia da grande base de apoio da Igreja Ortodoxa. O número dois da hierarquia ortodoxa russa rejeita essa associação, sublinhando a importância do princípio da “não-interferência mútua”, e liga mesmo o renascimento religioso da Rússia à concretização da profecia de Fátima, que incluía a conversão do país ao Imaculado Coração de Maria.
Alfeyev, que estava ao lado de Cirilo I quando este e o Papa Francisco protagonizaram o inédito encontro de Havana, em 2016, sublinha também a importância do diálogo entre ortodoxos e cristãos, que fez progressos assinaláveis com aquele encontro — o primeiro entre um Papa católico e um Patriarca de Moscovo desde o Cisma de 1054. Mas destaca que é preciso fazer mais do que encontrar pontos de convergência: é necessário falar das divergências e chegar a pontos de entendimento nos tópicos mais difíceis a partir desse diálogo.
Mais de dois anos depois da assinatura da declaração de Havana, a reunificação de todos os cristãos está mais perto?
Penso que a reunificação não é algo de que, realisticamente, estejamos a falar neste momento. Estamos, sim, a falar de uma ação comum, de um melhor entendimento mútuo, de partilhar as nossas visões sobre assuntos morais e sociais. Isto é o que está na agenda. Penso podemos encarar a reunificação numa perspetiva muito mais longínqua, se não mesmo escatológica.
Estava mesmo ao lado do Patriarca Cirilo I no momento em que ele e o Papa Francisco assinaram aquele declaração no aeroporto de Havana. O que sentiu naquele momento?
Certamente, foi uma reunião histórica entre os dois primazes. Foi a primeira reunião daquele tipo na história. Nunca tinha acontecido antes. Ao mesmo tempo, foi uma reunião muito cordial.
Por que é que nunca tinha acontecido antes? Tinha havido encontros entre o Papa e outros Patriarcas ortodoxos, mas nunca com o Patriarca de Moscovo porquê?
Houve uma tentativa de fazer uma reunião entre o Papa e o Patriarca em 1997. Já estava combinado que a reunião iria acontecer, o local e o momento estavam acordados, mas houve problemas ao redigir uma declaração comum. Houve alguns pontos que eram muito importantes para Igreja Ortodoxa Russa que, no momento final, foram apagados pelo Papa João Paulo II. Por isso, a reunião não aconteceu.
Que pontos eram esses?
Um dos pontos era sobre o uniatismo [antigo método usado pela Igreja Católica para, depois de ter falhado as negociações com os Ortodoxos para a reunificação completa no século XV, chamar à sua jurisdição comunidades orientais individualmente, o que sempre foi visto pelos Ortodoxos como uma forma de propaganda desleal e como forma de esvaziar as igrejas Ortodoxas] e outro sobre proselitismo.
A devolução do ícone da Virgem de Kazan ao Patriarca de Moscovo pelo Papa João Paulo II, em 2004, foi vista como um sinal de boa vontade por parte da Igreja Católica para um encontro?
Foi certamente um sinal de boa vontade, sim.
Então, o que impediu um encontro?
Como disse, aquele encontro foi impedido por uma discórdia em dois ou três pontos importantes na declaração.
Mil anos depois, a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa sentaram-se à mesma mesa
Nesta declaração de Havana, o Papa e o Patriarca escrevem que estão conscientes dos obstáculos que ainda persistem a impedir a união. Que obstáculos são esses?
Um dos obstáculos, que está mencionado na declaração, é o uniatismo. O uniatismo foi um projeto da Igreja Católica nos tempos medievais que tinha como objetivo a conversão dos Ortodoxos ao Catolicismo. Este encontro em Havana foi a primeira vez que o uniatismo, enquanto método, foi rejeitado pela Igreja Católica ao mais alto nível, ao nível do Papa. Houve uma discussão sobre o uniatismo no quadro do diálogo oficial entre as Igrejas Ortodoxa e Católica, no início dos anos 90, e há um documento produzido nessa reunião, conhecido como Declaração de Balamand — foi assinado no Líbano — em que o uniatismo foi condenado como um método inapropriado para alcançar a unidade. Mas este documento, tanto quanto sei, nunca foi aprovado pela Igreja Católica.
Um dos tópicos que o traz a Portugal é a situação dos cristãos no Médio Oriente. Na Síria e no Iraque há projetos postos em prática para reconstruir as regiões cristãs após a derrota do Estado Islâmico, e esses projetos são levados a cabo por católicos e ortodoxos, juntos. Ao mesmo tempo, aquelas populações normalmente não se importam se estão a falar com um padre católico ou ortodoxo: querem um líder cristão. Acha que a cooperação naquela região do globo pode dar o exemplo aos católicos e ortodoxos do resto do mundo para trabalharem mais arduamente rumo à unificação?
Penso que pode, certamente, dar o exemplo. Começámos por fazer um catálogo das igrejas destruídas. Fizemos esse catálogo e apresentámo-lo na primavera, e acreditamos que restaurar as igrejas, as escolas destruídas, os hospitais, pode ser uma iniciativa comum que dê o exemplo para os outros e que, ao mesmo tempo, pode ajudar-nos a aprender como trabalhar juntos.
O que é que separa os cristãos hoje?
Há várias versões diferentes do Cristianismo. Por exemplo, há algumas comunidades protestantes que embarcaram numa liberalização das suas doutrinas, dos seus ensinamentos morais. Há algumas comunidades protestantes que abençoam casamentos entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Há muitos outros assuntos que dividem os cristãos e nos quais não há acordo. Entre os católicos e os ortodoxos não há esse tipo de oposição. Temos posições comuns em praticamente todos os assuntos relacionados com a moral e com a vida social. Já a nossa relação com o mundo protestante, há um grande afastamento, que está a aumentar.
É possível um verdadeiro diálogo ecuménico no século XXI?
Penso que o diálogo é possível, mas acredito que, para esse diálogo ter sucesso, tem de ser honesto. Frequentemente, o diálogo teológico oficial foca-se em redigir pontos comuns. As chamadas declarações de convergência, sobre o que existe em comum.
Mas é preciso falar do que não têm em comum.
Exatamente. Temos de falar sobre as diferenças, temos de explicar porque é que temos estas diferenças e, através disto, pelo menos conheceremos melhor as posições dos nossos parceiros de diálogo. Então, partindo a partir daí, talvez possamos chegar a uma posição comum relativamente aos tópicos sobre os quais não temos, atualmente, uma posição comum.
As principais divisões são entre os fiéis ou entre os líderes religiosos? Ou melhor, as diferenças hoje ainda são de natureza teológica, como as que levaram às diferentes divisões ao longo da história, ou são afastamentos culturais difíceis de ultrapassar?
Há diferenças teológicas e diferenças culturais. Há também muitos preconceitos entre os fiéis contra outras tradições cristãs. E, como disse, há divisões reais relativamente a tópicos importantes.
O número de cristãos ortodoxos na Rússia duplicou desde a queda da União Soviética, mas apenas 6% diz frequentar a igreja. A queda do Cristianismo é um fenómeno transversal à Europa Ocidental e à Rússia?
Na verdade, na Rússia vemos precisamente o fenómeno contrário. Vemos que o Cristianismo não está, de todo, a perder o seu poder. Está, pelo contrário, a ganhar terreno. Há 30 anos, quando o renascimento religioso começou na União Soviética, nós, na Igreja Ortodoxa Russa, tínhamos 6 mil igrejas para todo o território da Igreja, que inclui a Rússia, Ucrânia, Bielorrúsia, Moldávia, Letónia, Estónia, Lituânia, Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Turquemenistão, Quirguistão, Mongólia, Japão e China — este é o território canónico do Patriarcado de Moscovo. Agora, temos mais de 36 mil igrejas, o que significa que, a cada ano, abrimos mil igrejas, ou todos os dias abrimos três novas igrejas.
E essas igrejas estão cheias?
Sim, todas estas igrejas estão cheias de gente. Muito frequentemente, se há uma nova paróquia a ser criada, os padres das paróquias existentes na região têm medo de perder paroquianos. Mas, na prática, não perdem os seus paroquianos e nas novas paróquias há novos fiéis.
Como olha para o futuro do Cristianismo na Europa?
Se olharmos para a Europa Ocidental, a situação é diferente, porque vemos que o Cristianismo está, gradualmente, a encolher — tanto numericamente, como em termos da sua influência na vida social. Temos cada vez menos vocações sacerdotais e monásticas, menos jovens nas igrejas, e isto é uma grande mudança. Acredito que a Igreja talvez tenha de ser mais proativa na sua atividade missionária. Muitas vezes, acreditamos que testemunhamos a verdade pelo simples facto da nossa existência. Ouvi isto de um padre ortodoxo, uma vez. Não acredito que esta fosse a forma de testemunhar a verdade no tempo dos apóstolos. Se São Paulo acreditasse que ia dar testemunho da ressurreição de Cristo apenas pelo simples facto da sua existência, penso que não teria alcançado o sucesso missionário que teve. Por isso, temos de ser proativos, temos de ir às pessoas e não esperar que as pessoas venham ter connosco.
Qual é a relação entre a Igreja Ortodoxa Russa e o Estado?
Na nossa perspetiva, a relação é ótima. Por um lado, temos uma separação clara entre a Igreja e o Estado e temos um princípio de não-interferência mútua. O que significa, na prática, que o Estado nunca diz à Igreja o que fazer, como se organizar, quem deve ser eleito Patriarca, etc. E a Igreja nunca diz ao Estado que partido político deve ser apoiado, ou que candidato à presidência deve ser apoiado.
O Patriarca Cirilo I apoiou Vladimir Putin.
Nunca o apoiou oficialmente.
Apenas pessoalmente?
Nem pessoalmente. Ele nunca disse: “Devem votar no senhor Putin”.
Mas fez uma avaliação positiva pública da sua atuação.
Sim. E nós acreditamos que a Igreja tem o direito de fazer uma avaliação positiva de alguns políticos e uma avaliação negativa de outros políticos. Mas a Igreja não tem o direito de se alinhar com determinado partido político ou com determinado poder político, porque estamos abertos a toda a gente. Este é o primeiro princípio: não-interferência mútua. Mas um outro princípio, que também é importante, que é a cooperação nas áreas nas quais é considerada apropriada pelos dois lados.
Como?
Como a educação, a caridade e muitas outras áreas.
O mundo tem assistido a um conflito entre a Rússia e a Ucrânia que também se estende à religião. Por que é que o Patriarcado de Moscovo não reconhece a independência, ou autocefalia, da Igreja Ortodoxa Ucraniana?
Não é o Patriarcado de Moscovo que recusa aceitar a independência da Igreja na Ucrânia. É a Igreja na Ucrânia que não quer independência e que não está a pedir a autocefalia. Na Ucrânia, há uma Igreja Ortodoxa canónica, que é reconhecida por todas as Igrejas Ortodoxas como a única Igreja canónica do país e que é uma Igreja autónoma subordinada ao Patriarcado de Moscovo. Tem 12 mil paróquias, mais de 200 mosteiros e é uma Igreja grande e que prospera. Além desta, há dois grupos cismáticos, que são muito menos numerosos, mas que são apoiados pelas autoridades estatais. São estes grupos que estão a tentar receber a autocefalia, enquanto a maioria dos fiéis ortodoxos não quer a independência. Isto torna a situação muito complicada.
O Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, o primus inter pares da comunhão Ortodoxa, já afirmou que estaria a ponderar conceder a autocefalia a esse grupo.
Ele disse isso, mas o único grupo que quer a autocefalia é um grupo cismático.
Acredita que isso iria conduzir a um novo cisma?
Acreditamos que irá conduzir a um novo cisma e já expressámos esta nossa opinião ao Patriarca Bartolomeu de forma muito clara. Talvez ele não faça uma análise objetiva da situação. Por exemplo, ele acredita que se conceder autocefalia aos grupos cismáticos a Igreja canónica, quer na íntegra, quer bispo a bispo, vai juntar-se a esta Igreja nova. Mas isso não vai acontecer, porque há muita hostilidade entre os grupos cismáticos e a Igreja canónica, os cismáticos têm lutado contra a Igreja canónica. Os seus líderes têm uma má reputação na Ucrânia e os fiéis não se vão juntar a essa Igreja.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, disse que a independência da Igreja é uma questão de soberania nacional. Pergunto-lhe, de forma geral, se em todos estes conflitos estamos a falar de religião ou de política.
Estamos a falar de política. Consegue imaginar o Presidente de Portugal chamar todos os bispos ortodoxos ao seu gabinete e dizer: agora, têm de ser uma igreja independente, têm de quebrar as relações com Moscovo, com Constantinopla, com Antioquia, e têm de se tornar numa igreja independente porque nós somos um país independente. Consegue imaginar isto? Ou nos Estados Unidos o presidente Trump chamar os ortodoxos de toda a América e dizer-lhes que como são um estado independente têm de ter uma igreja independente. Isto é inimaginável neste contexto político e é inimaginável na Rússia, onde a Igreja é acusada de ser muito próxima do Estado. Mas é imaginável na Ucrânia atual. O presidente decide quem deve ir a cada igreja.
Qual é a posição da Igreja Ortodoxa Russa sobre a lei aprovada pelo parlamento russo no ano passado, que descriminaliza várias formas de violência doméstica — que acabou com as penas criminais para casos em que não haja lesões graves ou que aconteçam apenas uma vez por ano?
Não apoiámos esta lei. No geral, não houve muito apoio, e a Igreja falou abertamente contra a adoção desta lei. Por exemplo, eu tenho um programa televisivo semanal num canal de notícias russo e critiquei esta lei. Mas, neste caso, a posição da Igreja não foi ouvida. E isto, já agora, é uma indicação de que a posição da Igreja não é sempre ouvida pelo Estado.
Num contexto em que uma lei como aquela é possível, não lhe parece compreensível o aparecimento de grupos como as Pussy Riot, que defendem de forma radical os direitos das mulheres? Pergunto-lhe sobretudo porque o que as tornou mundialmente conhecidas foi o protesto na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo.
Não foi um protesto, chamar-lhe-ia hooliganismo. E não penso que o comportamento delas seja, de alguma forma, justificável.
O Patriarca Cirilo I já classificou a era de Vladimir Putin como um “milagre de Deus”. Estávamos ainda agora a falar de como a Igreja Ortodoxa Russa é frequentemente associada ao governo russo e ao mesmo tempo falámos do facto de uma das grandes prioridades da Igreja ser a defesa dos cristãos no Médio Oriente. Neste contexto, pergunto-lhe: qual é a posição da Igreja Ortodoxa Russa sobre o apoio da Rússia ao regime de Bashar al-Assad, que foi condenado internacionalmente por usar armas químicas contra o seu próprio povo?
Em primeiro lugar, o uso de armas químicas parece ter sido algo que não aconteceu na realidade. Pelo menos de acordo com as nossas fontes na Síria, foi tudo encenado. Houve pessoas que foram levados para um local determinado, houve crianças foram pintadas para parecer que tinham feridas. Não houve ataque químico.
Quais são as fontes de que fala? Estou apenas a comparar com o que foi dito pelas Nações Unidas.
A informação que recebemos é a de que foi tudo encenado. Em segundo lugar, não penso que a Rússia apoie verdadeiramente o regime de Bashar al-Assad. Acho que a Rússia quer evitar que aconteça na Síria o que aconteceu no Iraque. Como sabe, no Iraque havia um regime que era condenado como não sendo democrático, havia alegações de que tinha usado armas químicas — que nunca foram provadas –, o regime foi destruído, o homem foi executado e tudo isto foi feito em nome da democracia. Mas pode dizer que o Iraque é, agora, um Estado democrático? Ou pode dizer que a situação das pessoas no Iraque se tornou melhor? Se pensar na situação dos cristãos, durante o regime de Saddam Hussein havia 1,5 milhões de cristãos. Agora resta, provavelmente, um décimo da população cristão.
As estatísticas mais otimistas apontam para 300 mil.
É uma estimativa otimista. Acredito que sejam menos de 300 mil. O mesmo teria acontecido na Síria, se a Rússia não tivesse intervindo. A nossa opinião, na Rússia, é que a política dos Estados Unidos no Médio Oriente não é uma boa política. Pelo menos, não trouxe bons resultados. Pelo menos para os cristãos, porque eles se tornam nas primeiras vítimas. Na Líbia, já não há praticamente cristãos. Também recebemos em Moscovo, regularmente, líderes religiosos da Síria. Ontem, o Grande Mufti da Síria visitou Moscovo e encontrou-se com o Patriarca. Todos os Patriarcas da Síria vêm a Moscovo. Dizem de forma unânime que a sua única esperança de estabilidade está relacionada com a administração síria atual. Não acreditam que, se Assad for deposto, haja estabilidade ou democracia, ou algo mais prometido pelas democracias ocidentais. Há algum tempo, estive num país ocidental e encontrei-me com a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros. Falámos da situação na Síria e ela disse: “Bom, nós acreditamos, em primeiro lugar, que Assad deve sair e, em segundo lugar, deve haver um congresso nacional em que um novo governo seja eleito e em que uma nova pessoa possa levar o país rumo à democracia”. A minha resposta foi que é uma bonita imagem, mas que neste momento é uma fantasia, porque não há nenhuma pessoa que possa levar o país a este futuro brilhante, e esta imagem idealista, que foi também apresentada no Iraque e na Líbia, não resultou na prática. Temos de encontrar outras soluções.
O seu país está intimamente ligado a Fátima, a começar pela própria profecia, que fala da conversão da Rússia e do fim da guerra, mas também pelo ícone da Virgem de Kazan, que esteve em Fátima antes de regressar à Rússia. Qual é a relação que existe hoje entre os cristãos russos e Fátima?
Há muitos cristãos da Rússia, especialmente católicos, que vão regularmente ao Santuário de Fátima e, pessoalmente, acredito que a profecia de Fátima sobre a conversão da Rússia já foi cumprida. O renascimento religioso, que começou há 30 anos, é a reconversão da Rússia à fé cristã.