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Líder no râguebi, fazia praxes e agrediu um adversário. Gustavo Paulo Duarte, quem é o patrão dos patrões na guerra com os motoristas?

Gustavo Paulo Duarte é presidente da ANTRAM que se impõe só pela "massa corporal" nas reuniões. Pilar no râguebi, agrediu um adversário a soco. Mas também investe em restaurantes (vegan) e quiosques.

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Era a meia-final do Campeonato Português de Râguebi. As equipas do Agronomia e Direito defrontavam-se para alcançar a última fase da competição, quando se envolveram numa cena de pancadaria. Os jogadores engalfinharam-se uns nos outros. Ao mesmo tempo, na bancada, os adeptos faziam o mesmo, envolvendo-se também em confrontos.

No relvado, o branco e verde dos equipamentos do Agronomia e o vermelho e preto dos adversários misturavam-se, com empurrões, agressões e jogadores a caírem, uns em cima dos outros. A dada altura, de um dos grupos surge o número 1 do Agronomia, a coxear. Pára, apoia as mãos nos joelhos durante breves segundos, respira fundo, corre em direção ao número 3 do Direito e dá-lhe um soco. O número 3 cai, surpreendido pela pancada. O número 1 era Gustavo Paulo Duarte.

[Recorde as agressões na meia-final do Campeonato Português de Râguebi, entre o Agronomia e Direito]

As agressões foram filmadas e noticiadas em vários meios de comunicação. “Gestor dá soco a rival em jogo de râguebi”, lia-se no título do Correio da Manhã. À data, poucos conheciam o tal gestor. Hoje, referi-lo apenas como “gestor” é insuficiente. Gustavo Paulo Duarte é, afinal, uma das caras do braço de ferro que levou à greve que secou as bombas de combustíveis do país a 15 de abril, rosto também dos meses de negociações que se seguiram e do impasse que levou à marcação da paralisação, agendada para o próximo dia 12 de agosto. Além de diretor geral da empresa Transportes, Paulo Duarte, de 37 anos, é presidente da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) — “o patrão dos patrões”, como lhe chamam.

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No râguebi, ocupa uma posição semelhante à que tem nas negociações com os motoristas: a de pilar. Os pilares são os dois jogadores que estão na linha da frente — por vezes Gustavo era o 1, outras era o 3, conforme estivesse do lado esquerdo ou direito. São, normalmente, os mais pesados da equipa e o seu objetivo é dar estabilidade ao talonador, o jogador que procura ganhar a bola. Enquanto diretor geral da empresa de transportes com mais representatividade nesta guerra, é mais ou menos isso que faz também no relvado dos motoristas. O gestor esteve envolvido nas negociações de quase dois anos que culminaram na assinatura de um contrato coletivo de trabalho entre a ANTRAM e a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS). É este o contrato que está na origem das novas reivindicações dos motoristas e que, agora, volta a estar na mesa das negociações, com Gustavo Paulo Duarte do lado dos patrões, num braço de ferro com os trabalhadores.

Gustavo Paulo Duarte (em primeiro plano) joga râguebi desde os 15 anos (Agronomia Rugby On line /FACEBOOK)

Agronomia Rugby On line /FACEBOOK

O empresário desvaloriza a cena de pancadaria no jogo do Agronomia e Direito. “Quem joga desporto de alta competição e sabe o que é competitividade, sabe que há sempre ânimos exaltados. Esta foi a vez que foi mais mediática. Foi uma situação de jogo”, explica ao Observador. Conta até que jogadores de ambas as equipas continuaram amigos, apesar das agressões. “A seguir, fomos todos beber copos. O que fica em campo, fica em campo”, acrescenta.

E é mais ou menos assim que o gestor olha para a guerra que agora trava noutro campo, com os motoristas. Questionado sobre se este é o maior desafio da sua carreira, torce o nariz: “Há uns mais fáceis, outros mais difíceis, mas quem é empresário neste país sabe que há sempre desafios”. Ainda que, neste caso, talvez seja difícil imaginar que, no final, patrões e motoristas decidam todos ir beber copos juntos.

Torriense, “viciado” no Oeste e a Paulo Duarte que não era “uma paixão”, mas era “natural”

Nasceu em Lisboa, onde agora vive, mas os pais são de Torres Vedras e, quando tinha pouco mais de um ano de vida, a família regressou às origens. Considera-se “um viciado no Oeste”. “Continua a ser um dos meus lugares preferidos”, diz ao Observador. No verão, muda-se “de malas e bagagens” para a praia da Santa Cruz. Durante cerca de um mês, fica ali a viver com a mulher e as duas filhas bebés e viaja todos os dias para Lisboa, para o escritório. “É sempre aquele sítio onde retomo memórias e quero que as minhas filhas também as tenham”, explica.

O empresário desvaloriza a cena de pancadaria no jogo do Agronomia e Direito. "Quem joga desporto de alta competição e sabe o que é competitividade, sabe que há sempre ânimos exaltados". Conta até que jogadores de ambas as equipas continuaram amigos, apesar das agressões. "A seguir, fomos todos beber copos. O que fica em campo, fica em campo", acrescenta.
Gustavo Paulo Duarte, empresário

Passou a infância em Torres Vedras, mas tem alguma dificuldade em descrever-se enquanto criança. Diz que teve uma infância “normal” e “feliz”. Pouco depois de a família se ter mudado para ali, nasceu o irmão, António Paulo Duarte. “Temos uma diferença de idade muito curta e pode dizer-se que nós não éramos as crianças mais fáceis do mundo“, conta o irmão mais velho, entre gargalhadas.

Nessa altura, já a empresa construída pelo avô — a Transportes Paulo Duarte — existia há quase 40 anos. “Sempre vivi neste mundo. Muitos dos amigos do meu pai eram nossos colaboradores e motoristas. Ainda hoje o são: temos muitos amigos entre as pessoas da nossa empresa. Foi este o espírito que nos fez apaixonar um bocadinho pelo que se fazia aqui. Tudo o que se fazia foi sempre com um espírito de o fazer para um bem comum e trabalhar em prol de um todo”, explica.

Embora tivesse nascido no seio do setor dos transportes, o empresário não se recorda de ter, em criança, o sonho de ser ou motorista de camiões ou dono da empresa, quando crescesse. Na verdade, o lado materno da família suscitava-lhe mais fascínio: Gustavo Paulo Duarte queria era pilotar aviões, como o outro avô. “O meu avô era piloto da Força Aérea e, mais tarde, piloto de aviação comercial e era um dos objetivos que tinha”, conta.

Gustavo Paulo Duarte num encontro Nacional de Transportadores, em fevereiro de 2016 (PAULO CUNHA/LUSA)

PAULO CUNHA/LUSA

Os anos foram passando e o neto do fundador da Paulo Duarte foi deixando cada vez mais de lado o sonho de ser piloto de aviões, à medida que se aproximava da carreira que seria a mais óbvia: a de gestor. “Quer se queira, quer não, tendo um pai empresário — e um grande empresário —, acabei também por beber um bocadinho desse espírito e rapidamente achei que a minha vida ia passar por gestão”, recorda. Já se sabe que foi assim que acabou por acontecer, ainda que o empresário não tenha pudor em admitir que o setor dos transportes não era “uma paixão”. “Mas era natural”, remata.

Uma vida académica “completa”, lado a lado com o irmão. Namoradas? “Tantas como qualquer pessoa”

Teve um percurso escolar também “normal”. Estudou em Torres Vedras até ao ensino secundário. “Era um aluno médio. Não era aquele aluno mau. Não era brilhante, mas era aquele aluno que facilmente fazia as coisas sem ter de se esforçar muito“, recorda. Os estudos e o desporto estiveram sempre em pé de igualdade. “O meu pai sempre foi desportista e sempre incutiu em nós, mais jovens, a cultura do desporto”, diz. Gustavo Paulo Duarte foi federado em “variadíssimas modalidades”: durante cerca de dez anos, fez natação, jogou basquetebol, andebol e ténis de mesa.

Viria a acabar no râguebi. “Tinha muitos amigos que tinham jogado ou que jogavam e sempre me disseram: ‘Devias jogar râguebi, devias agarrar aquilo, gostas de [Educação] Física e de confronto’. E sempre tive aquele bichinho“, explica. Num dos anos do secundário, Gustavo não conseguiu acabar uma disciplina e deixou-a por fazer no ano seguinte. “Nesse ano, tive de arranjar uma ocupação”, aponta. A solução foi começar a jogar, em conjunto com o irmão, no Agronomia: “Ia de autocarro todos os dias para Lisboa — o que demora entre uma hora e meia a duas horas. No final do treino, fazia o trajeto inverso, de autocarro, até Torres Vedras, durante vários anos.”

Embora tivesse nascido no seio do setor dos transportes, o empresário não se recorda de ter, em criança, o sonho de ser ou motorista de camiões ou dono da empresa, quando crescesse. Na verdade, o lado materno da família suscitava-lhe mais fascínio: Gustavo Paulo Duarte queria era pilotar aviões, como o outro avô. "O meu avô era piloto da Força Aérea e, mais tarde, piloto de aviação comercial e era um dos objetivos que tinha", conta.
Gustavo Paulo Duarte, empresário

Mais de duas décadas depois, o treinador Vasco Sevinate Pinto ainda se recorda das viagens que Gustavo e o irmão faziam “duas vezes por semana para os treinos” e “ao fim de semana para os jogos” — “o que mostra bem a dedicação dele”, conta ao Observador. Vasco Sevinate Pinto conheceu Gustavo quando este tinha 15 anos e chegou à equipa por intermédio dos amigos. “Entraram [ele e o irmão] na equipa já tarde. Os outros que lá estavam já jogavam há mais tempo. Mas, a partir do momento em que perceberam o jogo e se adaptaram ao jogo, foi muito rápida a ascensão deles“, comenta o treinador, destacando que os irmãos eram “muito focados, quase obcecados” e “sempre se moveram por objetivos”.

Vasco Sevinate Pinto admite, a rir-se, que guarda muitas histórias de Gustavo, mas prefere não revelá-las. Explica que o gestor tinha um “sentido de humor muito próprio” e “um espírito de equipa com piada”. “Logo muito cedo se mostrou com um perfil de liderança. E liderou as praxes para os mais novos na equipa”, explica.

Gustavo Paulo Duarte abraça o irmão, António, durante um jogo de râguebi (Agronomia Rugby On line /FACEBOOK)

(Agronomia Rugby On line /FACEBOOK)

Quando o gestor ingressou no ensino superior, mudou-se para Lisboa, mas continuou a jogar râguebi. Fez um ano de engenharia eletrotécnica, na Universidade Lusófona, mas rapidamente percebeu que “não era aquele o caminho” que queria seguir. “Fiz os exames nacionais outra vez e entrei em gestão e engenharia industrial no ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa)”, relata, admitindo que não o fez com a “ideia” de vir a assumir os comandos da empresa, “mas com uma ambição de enveredar pela vida de empresário e não trabalhador por conta de outrem”.

Concluir uma licenciatura era, sem dúvida, “um objetivo que tinha”. “O meu pai sempre me incutiu isso: acabar o curso. Nunca tive ambição de o acabar com as melhores notas de sempre, mas ainda assim acabei o curso com uma boa média”, conta. Não deixou de viver com intensidade os anos de faculdade: “Sempre tive a minha vida muito completa, durante a minha altura de faculdade: aproveitei a vida, vivi muito, mas também trabalhei muito”.

Foi então nesse ano, 2007, que Portugal se apurou pela primeira vez para o mundial de râguebi e Gustavo Paulo Duarte foi chamado para a seleção nacional — conhecida como "Os Lobos". Mas, uma semana antes, lesionou-se: sofreu uma rotura de ligamentos num pé, no último estágio, no Canadá, antes da ida para o mundial em França. "Dá para imaginar como é que eu fiquei", desabafa.
Gustavo Paulo Duarte, empresário

Muitos momentos da vida académica foram feitos ao lado do irmão. António Paulo Duarte também se licenciou em gestão e engenharia industrial no ISCTE e, por isso, acabaram por frequentar as mesmas disciplinas e ao mesmo tempo. São unha com carne ou “capitão e vice capitão”, como prefere chamar. Ou, por vezes, Gustavo é o vice capitão e António é o capitão — “invertemos os papéis, às vezes”. “Somos os melhores amigos desde sempre. Há muito tempo e damo-nos muito bem. Fizemos um caminho muito semelhante, tirámos o mesmo curso, tive cadeiras com ele”, recorda. Namoradas? “Tínhamos tantas como qualquer pessoa”, responde, sem quantificar. “É a resposta politicamente correta”, justifica.

No final do curso, foi selecionado para a Jerónimo Martins. Mas ficou entre a empresa da família e o râguebi

Como planeara, acabou por finalizar a licenciatura, em 2007. Estava na hora de dar o passo para o mundo do trabalho. Trabalhar na Paulo Duarte estava fora de hipótese, naquele momento: “Tinha um objetivo de não trabalhar na minha empresa nos primeiros anos profissionais da minha vida”. Candidatou-se a várias empresas, fez vários processos de seleção e acabou por ser selecionado para a Jerónimo Martins, revelou o próprio ao Observador.

Mas, na altura em que acabou o curso, o gestor estava em plena campanha de apuramento para o Campeonato do Mundo de Râguebi, que se realizava em setembro, em França. “Naquela altura, tinha muitos estágios e passava muitas semanas fora a estagiar, tanto no Canadá, como em França ou Itália. Como, naquele ano, o Campeonato do Mundo era um objetivo meu, acabei por acordar com o meu pai que o vinha ajudar durante as alturas que não estava em estágio. Ainda por cima, estávamos numa fase crítica na empresa: nesse ano, estávamos a sofrer algumas dores de crescimento e o meu pai precisava de ajuda”.

Gustavo Paulo Duarte à entrada para uma reunião com o ministro das Infraestruturas e da Habitação e o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas, em abril (ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA)

LUSA

Foi então nesse ano, 2007, que Portugal se apurou pela primeira vez para o mundial de râguebi e Gustavo Paulo Duarte foi chamado para a seleção nacional — conhecida como “Os Lobos”. “Esse ano era de afirmação minha enquanto jogador também. Investi muito de mim para o râguebi. Fui selecionado, fui sempre convocado para os jogos e fiz a campanha toda de apuramento para o mundial”, recorda o jogador. Mas, uma semana antes, lesionou-se: sofreu uma rotura de ligamentos num pé, no último estágio, no Canadá, antes da ida para o mundial em França. “Dá para imaginar como é que eu fiquei”, desabafa.

Vasco Sevinate Pinto não precisou de imaginar. O treinador acompanhou-o durante essa fase. “Foi muito complicado” recorda em declarações ao Observador. A seleção portuguesa acabou por não passar da fase de grupos, tendo perdido todos os três jogos.

A impossibilidade de ir ao Campeonato do Mundo não o fez desistir do râguebi. Continuou a jogar durante anos. Apesar disso, nunca pensou em dedicar-se por completo a este desporto. Opta por aliar “a vontade empresarial à vontade desportiva”. Até porque, reconhece, o ajuda na vida profissional. “Pela cultura, por uma série de valores que o râguebi incute”, explica, adiantando que este desporto foi a sua “grande escola de vida”. Aponta a “resiliência, a entreajuda, o companheirismo, a amizade, a capacidade de superação e algum embate físico” como valores e características que obteve do râguebi.

O Palácio Chiado, quiosques em Lisboa e cadeias de restaurantes. O negócio que continua a crescer

Com o Campeonato do Mundo arrumado, Gustavo Paulo Duarte tornou-se, no ano seguinte, gerente da empresa da família. Reconhece que foi pelo avô e pelo pai que “tudo começou” e é essa a razão pela qual acabou por ir “parar ao negócio das empresas e da gestão”, mas admite: “Enquanto gestor, tento olhar para o sucesso das empresas de forma uma bocadinho diferente [da deles]. Não sou aquele gestor tradicional, um one man show. O que nos difere é que, há uns anos, ganhava-se dinheiro, havia dinheiro e a economia gerava dinheiro. Hoje em dia, as marcas, as margens, os clientes… há um poder negocial muito grande por parte dos clientes. E as empresas não têm margens. Hoje, olhamos muito mais ao custo, ao detalhe, ao pormenor”.

Gustavo era vice-presidente da região de Lisboa da ANTRAM há três anos quando recebeu o convite para presidir a associação, em 2014. “Foi um bocadinho porque identificaram essa necessidade de haver gente nova, visões novas e modelos de gestão mais atuais e mais recentes“, justifica o empresário, mostrando-se satisfeito com o percurso que tem vindo a fazer na ANTRAM: “A história que nós temos vindo a fazer ao longo dos anos, na valorização da profissão e valorização da atividade, é a de quem não tem arrependimentos daquilo que faz e de quem toma decisões sérias e ponderadas”.

A Transportes Paulo Duarte é, na verdade, apenas um dos negócios do empresário. Em 2016, os irmãos e outro amigo, Duarte Cardoso Pinto, começaram a explorar o restaurante Palácio Chiado, em Lisboa. (Também) Exploram 12 quiosques de rua, em Lisboa. Os irmãos não vão ficar por aqui: "Acabámos de comprar duas cadeias de restaurantes de centros comerciais, mais virados para o vegan".
Gustavo Paulo Duarte, empresário

Foi no sentido de valorizar a profissão que, ao fim de dois anos de negociações e mais de 20 anos sem alterações na legislação sobre a matéria, foi assinado um contrato coletivo de trabalho entre a ANTRAM e a FECTRANS — a federação de sindicatos do sector. Estiveram juntos nos “momentos mais determinantes das negociações”, explica José Manuel Oliveira, representante da FECTRANS ao Observador, adiantando: “No início, foi um bocado fechado, estava um bocado à defesa. Quando foi possível chegar à discussão objetiva, tivemos momentos de convergência e divergência, sem faltar ao respeito”. Desafiado a descrever Gustavo Paulo Duarte — para além da evidência de ser “um homem com um massa corporal muito grande”, cuja presença pesa nas reuniões —, José Manuel Oliveira escolhe uma palavra: “Difícil”. Embora reconheça que “o setor em si é complicado”.

Agora, são precisamente alguns pontos desse contrato coletivo de trabalho que estão na base das reivindicações dos motoristas e que já os levaram a convocar duas greves — uma ainda apenas agendada. Para Gustavo Paulo Duarte, este é mais um desafio: “Todos os anos há guerras”. “Já passei por várias dificuldades. Passei por uma crise, se calhar a maior crise de sempre, tive muitas dificuldades na empresa, tive muita gente que arregaçou as mangas connosco e fomos à batalha e às guerras. E este ano tenho outras guerras”, desabafa.

A Transportes Paulo Duarte é, na verdade, apenas um dos negócios do empresário. Em 2016, os irmãos e outro amigo, Duarte Cardoso Pinto, começaram a explorar o restaurante Palácio Chiado, em Lisboa. Embora, antes, já tivessem entrado na área — com o restaurante A Charcutaria, no mercado de Campo de Ourique, também na capital —, não se trata de uma paixão pela gastronomia: é pura “ambição” e por uma “questão de desafio profissional e variar as atividades”. Atualmente já não têm o restaurante no mercado de Campo de Ourique, mas os irmãos exploram 12 quiosques de rua, em Lisboa. No ano passado, Gustavo Paulo Duarte conquistou a 15ª. posição na lista dos 40 Líderes Empresariais do Futuro. E parece querer subir lugares. Os irmãos não vão ficar por aqui: “Acabámos de comprar duas cadeias de restaurantes de centros comerciais, mais virados para o vegan“.

Gustavo Paulo Duarte ao lado de José Manuel Oliveira durante a conferência de imprensa após o retomar de reuniões com a FETRANS, em maio (NUNO FOX/LUSA)

Entre as batalhas no setor dos transportes e os vários negócios, o empresário vai tentando ter tempos livres para “passear, andar de mota, estar com a família, ir à praia, fazer surf ou estar com os amigos”. Já não faz tanto desporto, nem faz parte da equipa. Mas lamenta. Sente-se nervoso no trabalho quando deixa de ir ao râguebi: “Em semanas que não consigo fazer o meu desporto, começo a ficar um bocado nervoso”. Este ano, dadas as circunstâncias, já não foi aos jogos do Agronomia.

Aliás, foi apenas a um: depois de se retirar, ainda jogou o primeiro jogo do campeonato. “Este ano, a equipa precisou do pilar, para esse primeiro jogo, e ele mostrou-se disponível. Dá para ter uma ideia da dedicação que ele tem”, conta Vasco Sevinate Pinto. “Costumo ir àqueles convívios engraçados de veteranos, mas ainda sou muito novo para ser veterano e, para eles, é muito chato quando eu e os meus irmãos lá vamos, porque dói um bocadinho“, conta o próprio a rir.

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