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ILUSTRAÇÃO: ANA MOREIRA/OBSERVADOR
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ANA MOREIRA/OBSERVADOR

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ANA MOREIRA/OBSERVADOR

Mapa autárquico à esquerda. PS confortável, BE "modesto", PCP faz prova de vida

PS conta perder cerca de 20 câmaras, mas entre derrotas e ganhos o saldo pode ser neutro. Terá embates com PCP e uma noite eleitoral longa em Almada. BE espera "crescimento humilde".

Faltam exatamente 17 dias para as eleições autárquicas e os candidatos já passam os seus dias a percorrer o país, por um lado, e a fazer contas de calculadora nos bastidores, por outro. À esquerda, os partidos têm esses cálculos bem preparados e antecipam as leituras que farão na noite de 26 de setembro, com consciência de que se encontram em situações bem diferentes: o PS sente-se otimista, o Bloco de Esquerda mostra-se modesto e o PCP pode atravessar aqui uma verdadeira prova de vida.

As expectativas têm tudo a ver com os patamares de que cada um parte. Em 2017, nas últimas eleições locais, o PS atingia o seu máximo histórico — e ‘roubava’ nove câmaras ao PCP, que nessa noite admitia a derrota, depois de confirmar a queda de alguns dos seus mais importantes bastiões. Quatro anos volvidos, os socialistas contam perder algumas câmaras, mas sem grandes preocupações: “Partimos para estas eleições com o povo de bem connosco”, comenta com o Observador um dirigente do partido.

PCP e PS asseguram que os resultados autárquicos não terão influência nas negociações orçamentais

Jorge Ferreira

Para o PCP, que tem no PS o seu maior adversário em vários destes confrontos locais, o balanço será bem mais relevante: este pode ser um momento de recuperação ou, por outro lado, de consolidação das perdas que tem vindo a sofrer no último ciclo eleitoral. O Bloco faz contas, mas tem pouco a ganhar e ainda menos a perder: a expectativa é mesmo de um “crescimento humilde”, numas eleições em que tradicionalmente não consegue vingar. Estes são os cálculos, expectativas e previsões que se fazem à esquerda, a poucos dias do arranque oficial da campanha.

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PS: 20 perdas, saldo neutro

A primeira conclusão que mora na cabeça dos socialistas é matemática simples: tendo em conta a dimensão vitória que o partido conquistou há quatro anos — o melhor resultado de sempre, a primeira vitória de António Costa enquanto líder do PS –, será natural que sofra algumas perdas este ano; quanto maior a base de que se parte, mais difícil será manter o resultado. Ainda assim, nada que pareça preocupar os dirigentes, nacionais e locais, com quem o Observador falou.

Para os dirigentes do PS, que publicamente repetem o mesmo mantra - o objetivo é manter a presidência da Associação Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesas -, há um número de perdas reais possível, e anda à volta das 20 câmaras. Ainda assim, os socialistas acreditam num saldo quase neutro e sem derrotas simbólicas.

Por um lado, porque o PS acredita que a “indefinição” e “duplicidade” da mensagem política de Rui Rio só beneficia os socialistas. Nas cúpulas do partido, regista-se com satisfação o “encostanço à direita” de Rio. Exemplos? O apoio à candidatura de Suzana Garcia, na Amadora, que colocou cartazes que prometem fazer “tremer o sistema” com a assinatura do PSD por baixo, ou as declarações do presidente dos autarcas sociais-democratas, Hélder Silva, que há dias defendia que não se excluíssem acordos com o Chega (um argumento por que o presidente do partido, Carlos César, tem puxado).

O presidente do PSD, Rui Rio, acompanhado pela candidata do partido nas eleições autárquicas à Câmara Municipal da Amadora, Suzana Garcia, durante uma ação de contato com população e comércio local na zona  da Damaia,  Amadora, 03 de setembro de 2021. No próximo dia 26 de setembro mais de 9,3 milhões eleitores podem  votar para eleger os seus representantes locais. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

PS está satisfeito com o que considera ser um "encostanço à direita" de Rio

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Os socialistas não ignoram os pontos fracos com que partem para esta eleição: por um lado, a maioria dos autarcas que não pode recandidatar-se por ter atingido o limite de mandatos é socialista (23, de um total de 38), o que pode representar um perigo maior de transição dessas câmaras para outra força política. Por outro, há também o “desgaste” e o “peso” de seis anos de Governo, explica um dirigente ao Observador. Mas, para contrariar esse peso, o PS conta com o seu invariável trunfo: António Costa, que já anda nas ruas — e a reação da população, de “reconhecimento” pelo trabalho feito em tempos de pandemia, tem animado a comitiva do PS, até então preocupada com o desgaste que poderia vir daí.

Feitas as contas, para os dirigentes do PS, que publicamente repetem o mesmo mantra — o objetivo é manter a presidência da Associação Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesas –, há um número de perdas reais possível, e anda à volta das 20 câmaras. Ainda assim, os socialistas acreditam que conseguirão compensar boa parte desse número com outros ganhos — e, com esse saldo que se prevê quase neutro e sem derrotas simbólicas, o partido acredita que pode sair fortalecido destas eleições.

Uma derrota anunciada, várias “boas surpresas”

Entre grandes cidades e capitais de distrito, o PS faz uma gestão de expectativas e conta com algumas boas surpresas. No Porto, ninguém conta com uma vitória e a fasquia mais alta que se coloca é semelhante à de Manuel Pizarro há quatro anos (28,55%) ou perto disso, até porque os cálculos apontam para que o PS goze de uma proximidade eleitoral — a quota de eleitores que estaria, à partida, disponível para votar no partido — alta. Um resultado desta ordem permitiria, pelo menos, ao candidato, Tiago Barbosa Ribeiro, tentar a sua sorte em 2025, já sem Rui Moreira como adversário — “conquistar esse direito”, assume uma fonte ligada ao Porto. Para já, Barbosa Ribeiro recusa taxativamente conversar com Rui Moreira para assumir pelouros , embora no partido não se exclua a hipótese de trabalhar em acordos temáticos, relativos a problemas específicos da cidade.

Tiago Barbosa Ribeiro é o candidato ao Porto. No PS, a ideia geral é que Rui Moreira será imbatível. Em 2025 já não haverá esse obstáculo

(Rui Oliveira/Observador)

Em Lisboa, o sonho é a maioria absoluta para Fernando Medina — mas ninguém arrisca se será possível obtê-la, com a “geometria variável” que compõem os sete candidatos à capital. Coimbra, atualmente liderada pelo socialista Manuel Machado, chegou a ser dada como perdida, mas o partido tem dados que lhe dão alguma confiança para acreditar que conseguirá manter a cidade dentro da sua esfera e impedir uma vitória da coligação liderada pelo PSD.

Há várias capitais de distrito em que o PS acredita que está a ganhar força e que podem vir a ser boas as surpresas na noite eleitoral. Em Castelo Branco, o anterior autarca também do PS, Luís Correia, perdeu o mandato por ter assinado dois contratos com uma empresa do pai (foi absolvido no processo criminal) e agora candidata-se como independente, mas os socialistas acreditam que o novo pretendente ao cargo, Leopoldo Rodrigues, tem boas hipóteses de vencer. Também acalentam esperanças em Portalegre, onde se candidata o deputado Luís Testa, e em Viseu, onde João Azevedo (antigo presidente de Mangualde) vai contra o dinossauro social-democrata Fernando Ruas. Estes são os casos em que os socialistas não apostam numa vitória, mas acreditam que podem ter uma boa surpresa no dia das eleições ou, pelo menos, trabalhar o terreno para mais tarde. Já Braga, onde o deputado e dirigente Hugo Pires tenta destronar Ricardo Rio, não é dada como hipótese.

O combate com o PCP e o adeus à “jóia da coroa”

O resto dos combates faz-se, sobretudo, nos terrenos que caem ora para PS, ora para PCP. Se há quatro anos o PS conquistou nove das dez câmaras que os comunistas perderam, desta vez anunciou querer consolidar esse resultado, nomeadamente no distrito de Setúbal. Mas no seio do PS, a ideia que prevalece é que pode haver algumas transferências, mas sem uma derrota clara como a que aconteceu em 2017.

Em Setúbal, a capital de distrito a que alguns dirigentes do PS chegavam a chamar a “jóia da coroa”, as expectativas estão a zeros: há quatro anos a diferença de votos foi considerável (a CDU teve mais 12.500) e, a nível local, a única convicção é mesmo que a câmara é para perder.

Desde logo, em Setúbal, a capital de distrito a que alguns dirigentes do PS chegavam a chamar a “jóia da coroa”, as expectativas estão a zeros: há quatro anos a diferença de votos foi considerável (a CDU teve mais 12.500) e, a nível local, a única convicção é mesmo que a câmara é para perder. Em Setúbal chegou a colocar-se a hipótese de que Ana Catarina Mendes, a líder parlamentar do PS e um nome com lastro nacional, encabeçasse a candidatura; mas a tarefa acabou por ser assumida pelo mais discreto deputado Fernando José.

PCP recupera dinossauros autárquicos, PS quer “jóia da coroa”. Pacto de não-agressão para salvar OE é “mito”

Em Évora, teme-se no PS que as polémicas com vacinação e o lar de Reguengos de Monsaraz, câmara que presidiu até agora, prejudiquem o candidato José Calixto. As fichas estão sobretudo apostadas no Barreiro — câmara que o PS conquistou à CDU em 2017 –, um objetivo que Jerónimo de Sousa assumiu mas que os socialistas dizem ter sob controlo, atendendo aos estudos de opinião a que têm acesso. Em Almada, a disputa estará “taco a taco”, descrevem várias fontes: depois de há quatro anos, com Inês de Medeiros, o PS ter conseguido conquistar um dos mais simbólicos bastiões do PCP por uma margem muito magra (313 votos), desta vez as sondagens apontam uma disputa renhida com a atual autarca comunista de Setúbal, Maria das Dores Meira.

Neste campeonato com os comunistas importa ainda ter atenção a Alcácer do Sal, onde os socialistas estão confiantes, ou a terrenos simbólicos como Alpiarça, em Santarém — terra comunista onde o PS acredita que pode crescer — ou o Alandroal, em Évora — disputa em que há quatro anos o PS levou a melhor, mas o PCP quererá voltar. Fora de Setúbal, os socialistas gostariam de ver Ricardo Leão a reconquistar Loures para o PS, mas um dirigente assume ao Observador que, enquanto não terminar o consulado de Bernardino Soares, da CDU — se for eleito será o último mandato –, a tarefa é difícil.

Em Lisboa, concorre de novo João Ferreira, o homem mais apontado para suceder a Jerónimo de Sousa na liderança do PCP. Por isso mesmo, o resultado será importante tanto para continuar a avaliar a eficácia de Ferreira como para perceber que força é que a CDU poderá ter nas negociações com Fernando Medina, uma vez que deseja voltar a participar na governação da cidade.

Em todos estes campos de batalha, o PCP dará o seu máximo — e recupera “dinossauros” autárquicos, como Carlos Humberto, no Barreiro, e Maria das Dores Meira, em Almada — para contrariar e inverter a tendência de perda. Terá ainda atenção a Lisboa, onde concorre de novo João Ferreira, o homem mais apontado para suceder a Jerónimo de Sousa na liderança do partido. Por isso mesmo, o resultado será importante tanto para continuar a avaliar a eficácia de Ferreira como para perceber que força é que a CDU poderá ter nas negociações com Fernando Medina, uma vez que deseja voltar a participar na governação da cidade.

João Ferreira: “Não nos peçam para garantir a aprovação de todos os orçamentos na câmara”

Bloco de Esquerda: “humildade” e “modéstia”

É também sobretudo em Lisboa que estará o foco do Bloco de Esquerda na noite de 26 de setembro. Se o partido parece até aqui alheado destes combates, é porque está mesmo: o BE tem uma dificuldade histórica na implantação local e por isso mesmo a direção estabelece como fasquia um “crescimento modesto”, com “humildade”, “sem deslumbramentos” e a consciência de que há um “longo caminho para fazer”.

Voltando à capital, depois do escândalo de especulação imobiliária que envolveu o vereador Ricardo Robles, o BE candidata Beatriz Gomes Dias confiante de que esse fantasma já está enterrado. Ainda assim, as expectativas continuam a ser modestas: o objetivo passa por “manter” a vereação na autarquia — e, como Gomes Dias tem assumido, manter a influência partilhada com Fernando Medina, depois de PS e BE terem chegado a um acordo de governação em 2017. Problema: João Ferreira poderá ser um obstáculo para esse renovar de votos, uma vez que já deixou bem claro que também está interessado num acordo com os socialistas, embora em moldes diferentes, como dizia esta semana em entrevista ao Observador.

Beatriz Gomes Dias tem a missão de manter a vereação do BE em Lisboa, mas também a influência na governação da Câmara

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O foco está, por isso, em mostrar que a experiência de governação em Lisboa “valeu a pena” e que essa posição de influência está “consolidada”, para começar a tentar converter os eleitores fiéis do Bloco a nível nacional em eleitores autárquicos. A outra grande prioridade, também na Área Metropolitana de Lisboa, é Almada — é o local onde o BE candidata uma dirigente com maior destaque, Joana Mortágua, e acredita que se resistir à “bipolarização” entre PS e CDU na câmara será um “sinal de afirmação”.

Joana Mortágua na ‘Cadeira do Poder Autárquico’. “PCP deixou Almada credora de direitos, até direitos de Abril”

O resto dos objetivos são, sobretudo, de manutenção da vereação que o partido já tem atualmente: é o caso da Amadora, Seixal, Moita ou Vila Franca de Xira. Surpresas? Há alguma expectativa em relação a Aveiro, onde concorre o deputado Nelson Peralta e o PS está coligado com o PAN, pelo que deixa mais espaço aos bloquistas; e a expectativa de “manter ou reforçar” a votação em Torres Novas e Abrantes. O BE acredita ainda nas hipóteses de poder eleger em Odivelas e Sintra e, sobretudo, em Oeiras, onde aposta forte na independente (incluída nas listas do BE) Carla Castelo.

Já em Salvaterra de Magos, a única autarquia que o Bloco liderou (perdeu-a em 2013) e onde tem dois vereadores, podem avizinhar-se dificuldades: a ex-presidente de câmara, Ana Rita Ribeiro, não entra desta vez nas listas nem para a câmara nem para a assembleia municipal. É uma eleição que o Bloco “vai disputar”, comenta-se no partido, sem grande ânimo.

A longo prazo, o BE acredita que pode começar a ocupar cada vez mais espaço à esquerda também a nível autárquico — mas por agora lança nomes novos e começa a fazer um longo trabalho de enraizamento que dificilmente trará frutos imediatos. Em 2021, as grandes questões autárquicas à esquerda ainda giram, por isso, à volta dos outros dois concorrentes, com o PS confiante em que sairá destas eleições “estabilizado” e pronto a passar à próxima tarefa — a negociação orçamental e, sobretudo, a execução dos fundos europeus — e o PCP a precisar de um sinal de recuperação para animar e unir as suas hostes.

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