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A incidência a sete dias por 100 mil habitantes na faixa etária acima dos 80 anos equipara-se à incidência geral de infeções no país
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A incidência a sete dias por 100 mil habitantes na faixa etária acima dos 80 anos equipara-se à incidência geral de infeções no país

Getty Images

A incidência a sete dias por 100 mil habitantes na faixa etária acima dos 80 anos equipara-se à incidência geral de infeções no país

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Máximos históricos de Covid-19 entre idosos contribuem para Portugal ser dos piores países do mundo: "Desta vez não os estamos a proteger"

Casos entre idosos estão em máximos históricos e fazem subir óbitos. Nos primeiros 4 dias do mês foram tantos quanto em junho de 2020 e 2021 juntos. Testagem e BA.5 fazem de Portugal o pior exemplo.

Nunca tantos idosos estiveram infetados com o coronavírus — nem mesmo no pico da quinta vaga, quando o número médio de novos casos, superior a 62 mil infetados a sete dias, era mais do dobro dos mais de 29 mil registados atualmente. No início de fevereiro, quando a faixa etária acima dos 80 anos tinha alcançado um máximo histórico, registou-se uma média de 1.183 confirmações diárias de infeções. A 25 de maio, chegou-se ao novo recorde de 1.508 casos; e embora o número tenha baixado desde então, os últimos dados apontam para os 1.443.

De acordo com os dados disponíveis até ao início desta sexta-feira, vive-se agora um raro momento ao longo da pandemia em que a incidência a sete dias por 100 mil habitantes na faixa etária acima dos 80 anos se equipara à incidência geral de infeções no país, quando habitualmente é muito inferior. Em fevereiro, quando a incidência nacional era de 3.239 casos, entre os idosos ela estava nos 1.161. É quase três vezes menos. Agora, há 1.416 casos a sete dias por 100 mil habitantes na faixa etária superior dos 80 anos, pouco abaixo da incidência geral de 1.617 casos. Não é algo inédito, mas só aconteceu em momentos em que o número de casos estava em níveis mínimos.

“Ao longo da pandemia, tínhamos conseguido proteger muito os idosos”, explicou ao Observador Óscar Felgueiras, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. No início do ano, quando Portugal atravessou a primeira vaga alimentada pela variante Ómicron, todas as faixas registaram máximos históricos. “Mas entre os idosos a incidência esteve sempre muito abaixo das restantes faixas etárias”, recordou: “Agora está próxima da dos outros”.

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O número de casos positivos detetados diariamente em Portugal corresponde a 42 vezes o que se registava em junho do ano passado. E o número de óbitos segue a mesma tendência: é quase 37 vezes maior agora do que era há um ano.

São tantos os infetados com mais de 80 anos que arrastam o número de óbitos para cima: só nos primeiros quatro dias de junho morreram tantos idosos por Covid-19 como o somatório de mortes pela mesma doença registadas nessa faixa etária ao longo de todo o mês em 2020 e em 2021. A doença continua a contribuir para um excesso de mortalidade geral que “não é muito notório”, mas que “tem sido permanente”: a 27 de maio registou-se o número de mortes mais elevado num só dia desse mês — 388, um excesso de 32,6%. Em junho ainda não houve dias com excesso de mortalidade, mas o dia 4 teve o maior número de mortes por causas gerais pelo menos desde 2020 — 347 óbitos.

Tudo isto é fruto do facto de, apesar de os novos casos estarem a diminuir lentamente a nível nacional — sobretudo porque já começaram a baixar no Norte, enquanto Lisboa e Vale do Tejo ainda não atingiu o pico —, eles continuarem em níveis muito elevados. O número de casos positivos detetados diariamente em Portugal corresponde a 42 vezes o que se registava em junho do ano passado. E o número de óbitos segue a mesma tendência: é quase 37 vezes maior agora do que era há um ano.

Portugal continua muito acima dos óbitos considerados toleráveis para o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), com 50,5 óbitos por milhão de habitantes em duas semanas, e os idosos são os que mais contribuem para que a métrica não baixe para a meta das 20 mortes. Da média de 290 óbitos diários registados na última semana, 91% são vítimas com pelo menos 70 anos. “O problema desta vaga está nos idosos”, admite Carlos Antunes, engenheiro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: “Não os conseguimos proteger desta vez.”

Cadeias de transmissão “a fluir normalmente” fazem de Portugal o pior caso na pandemia

Parte da explicação para o impacto que a sexta vaga está a ter entre os mais idosos é precisamente o sucesso que houve nas vagas passadas em proteger essas faixas etárias. Apesar do esforço de vacinação, houve menos casos positivos entre os idosos do que em qualquer outro grupo etário, por isso a percentagem de população suscetível a uma infeção é maior.

A fase de maior suscetibilidade dos mais idosos, os primeiros a serem vacinados, coincidiu precisamente com o surgimento da nova variante, que é também a que mais capacidade tem para causar uma infeção. “Em janeiro isolamos os idosos, nesta vaga não estamos a conseguir”, admite Carlos Antunes. Agora, com a sublinhagem BA.5, “as infeções transmitiram-se em maior amplitude": “Falhamos com os idosos, isto agora dependia do comportamento de cada um”.

É que, durante muito tempo, as pessoas mais velhas foram protegidas por dois escudos: as medidas não-farmacológicas, que reduziam a probabilidade de uma pessoa infetada lhes transmitir o vírus; e a vacinação. Mas não só essas medidas foram relaxadas, conduzindo a uma maior probabilidade de as cadeias de transmissão chegarem aos idosos, como a efetividade da vacina começou a diminuir desde há cinco meses para cá — a contar desde a primeira dose de reforço.

A fase de maior suscetibilidade dos mais idosos, os primeiros a serem vacinados, coincidiu precisamente com o surgimento da nova variante, que é também a que mais capacidade tem para causar uma infeção. “Em janeiro isolámos os idosos, nesta vaga não estamos a conseguir”, admite Carlos Antunes. Agora, com a sublinhagem BA.5, “as infeções transmitiram-se com maior amplitude”: “Falhámos com os idosos, isto agora dependia do comportamento de cada um”.

O futuro continua incerto agora que se aproximam celebrações como os festivais de verão, os Santos Populares e feriados, como o Dia de Portugal a 10 de junho e o Corpo de Deus seis dias depois. “É improvável que haja uma nova subida”, admite Óscar Felgueiras, “mas há travões a uma descida dos números”.

É o que sugere também o relatório mais recente do Instituto Superior Técnico, em que os investigadores avisam que “todas as festas populares no país poderão traduzir-se num total de contágios diretos de, num mínimo, 350 mil”. Prevê-se “um mínimo de 60 mil contágios nos dias mais movimentados” em Lisboa e de 45 mil no Porto. Eventos como concertos sem utilização de máscara, como o Rock in Rio, podem originar até 40 mil casos.

Portugal é mesmo caso único no panorama europeu: a curva da incidência destaca-se das restantes porque é a única em que a nova vaga escala a olhos vistos. Os 2.381 casos a sete dias por milhão de habitantes que se registava a 3 de junho são quase sete vezes mais que os 347 casos do segundo país com mais casos — a Grécia. Portugal é também o segundo país do mundo com maior incidência, ultrapassado apenas por Taiwan, com 3.027 casos.

Um deles está relacionado com o próprio vírus: “Uma das coisas que distingue Portugal é termos uma presença da BA.5 que não encontra paralelo noutros países”, aponta o matemático da Universidade do Porto. O país foi dos primeiros a sofrer os efeitos da variante Ómicron, mas apenas da sublinhagem original — a BA.1. Os restantes enfrentaram com maior intensidade a sublinhagem BA.2, que desencadeia uma resposta imunitária mais difícil de fintar por parte da BA.5.

Em número de óbitos, Portugal também lidera dentro da União Europeia com 48 mortes a 14 dias por milhão de habitantes. A Finlândia, segundo país com mais óbitos, tem 39,8. Mundialmente, a situação portuguesa surge em sexto lugar.

Não é claro para os especialistas ouvidos pelo Observador porque é que Portugal vive uma situação tão distinta da dos restantes países, mesmo comparando apenas com a de outros países europeus. “Não é fácil ser conclusivo, não é absolutamente evidente o motivo e pode haver aspetos que ainda nem detetámos”, admite Óscar Felgueiras. O mais provável, admitem, é que haja uma conjugação de fatores a diferenciar Portugal de todos os outros países.

Um deles está relacionado com o próprio vírus: “Uma das coisas que distingue Portugal é termos uma presença da BA.5 que não encontra paralelo noutros países”, aponta o matemático da Universidade do Porto. O país foi dos primeiros a sofrer os efeitos da variante Ómicron, mas apenas da sublinhagem original — a BA.1. Os restantes enfrentaram com maior intensidade a sublinhagem BA.2, que desencadeia uma resposta imunitária mais difícil de fintar por parte da BA.5.

Por isso, se Portugal tinha vivido a vantagem de ter atenuado mais cedo a primeira vaga da Ómicron porque a enfrentou primeiro — escapando numa fase inicial à BA.2 porque já tinha incidências muito elevadas causadas pelas sublinhagens anteriores —  agora sai prejudicado por os recuperados terem desenvolvido uma resposta imunitária menos robusta contra a nova sublinhagem. O resultado é agora ser dos países do mundo com maior prevalência da BA.5.

Outro problema pode ser a testagem, acrescenta Carlos Antunes, que já não é massiva e está em níveis incomparáveis aos de outros países. Por cá, a proporção de testes de diagnóstico à infeção pelo coronavírus é de dois por cada caso confirmado. É muito menos que os 70 que se fazem na Áustria ou os 30 que se realizam no Reino Unido.

Na prática, “não estamos a controlar cadeias de transmissão”, assevera o engenheiro: “Elas estão a fluir normalmente.” Isso também significa que os casos positivos diagnosticados não revelam sequer o verdadeiro panorama da Covid-19 em Portugal: há muitos mais infetados, assintomáticos ou não, que passam na malha das autoridades de saúde.

Há um indicador que permanece em níveis baixos e estáveis: o número de mortes por Covid-19 em cada 1.000 casos detetados na faixa etária dos 80 anos ao longo de duas semanas. Segundo Carlos Antunes, esta métrica permite constatar se a subida dos óbitos é uma mera reação à igual subida dos casos; ou se há qualquer outro fator a perturbar a situação epidemiológica. E o que ela transparece neste momento é que não há.

Dose de reforço pode travar impacto nos idosos, mas há reservas sobre adesão

Mas há boas notícias onde depositar esperanças de que os idosos podem voltar a ser protegidos dos efeitos da nova vaga. Uma delas é a distribuição da segunda dose de reforço, que começou há três semanas e que inicialmente só estava agendada para o próximo outono: isso deve aumentar os níveis de anticorpos em circulação no sangue das pessoas mais vulneráveis, colocando as frentes de batalha mais imediatas do sistema imunitário em alerta. A dúvida é o ritmo a que isso acontecerá — não por incapacidade das autoridades de saúde, ressalva Carlos Antunes, mas por uma diminuição da adesão ao plano de vacinação. “Pode haver uma saturação a estas constantes vacinações”, alerta o engenheiro.

A segunda boa notícia é que, apesar do aumento no número de óbitos entre os mais velhos, há um indicador que permanece em níveis baixos e estáveis: o número de mortes por Covid-19 em cada 1.000 casos detetados na faixa etária dos 80 anos ao longo de duas semanas. Segundo Carlos Antunes, esta métrica permite constatar se a subida dos óbitos é uma mera reação à igual subida dos casos; ou se há qualquer outro fator a perturbar a situação epidemiológica. E o que ela transparece neste momento é que não há: continua a haver nove mortes por Covid-19 em cada 1.000 casos em duas semanas na faixa etária dos 80 anos, um número que se mantém há longas semanas.

Outro bom sinal é o facto de os hospitais estarem, ainda assim, a conseguir responder à pressão exercida pela pandemia. O número de internamentos de pessoas infetadas está a estabilizar e continuam a ser poucos os que necessitam de admissão hospitalar por causa da Covid-19: a maior parte dos infetados internados continua a ser hospitalizado por outras causas. “Os internamentos gerais estão a estabilizar, em cuidados intensivos parece mesmo haver abrandamento no crescimento”, confirma Óscar Felgueiras: “A situação está controlada nos serviços de saúde, em rigor não há um risco de grande aumento nesta pressão”.

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