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LUÍS FORRA/LUSA

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Mayan foi ao Algarve dizer que o turismo vive bem sem a TAP. Saúde? "Estamos a entrar num cenário de guerra"

Notas de campanha. A sul, o candidato da IL foi a Faro desvalorizar a TAP: "Zonas de turismo mais pujante nunca dependeram" da companhia. Na saúde, avisa: vamos acabar a pagar mais aos privados.

Tiago Mayan Gonçalves sabe que nenhum português gosta de pensar em “mais X mil milhões na TAP”. E o X não importa muito, a expressão-chave aqui é “mais mil milhões”. Sejam eles quantos forem, em muitos sofás não faltarão portugueses a notar que é ‘muita massa’, que soa a buraco sem fundo à vista, que é difícil resistir a traçar paralelismos com histórias que metem ao barulho fundos de resolução, problemas de supervisão, erros de gestão, prémios para administradores em empresas afundadas em prejuízos. É também para esses que Mayan fala.

O candidato da Iniciativa Liberal acredita que, seja necessário ou não — e aqui as opiniões dividem-se politicamente —, nenhum português vai dormir feliz a pensar que o Estado do seu país tem uma companhia aérea. Sabe que não é fácil a um político e decisor vender com entusiasmo aos eleitores a ideia de que vale mesmo a pena meter mais milhares de milhões numa transportadora aérea. Investir na TAP não é um tema sexy, não é fácil de defender, não motiva proclamações esfuziantes. E mais de três mil milhões de euros soa a muito euro para quem está sem emprego, está com o lay-off outra vez à vista, ganha o ordenado mínimo ou pouco mais, sobrevive mais do que vive.

Tiago Mayan Gonçalves sabe tudo isto e também sabe que a ideia de deixar cair a TAP é tão anti-sistémica que mais ninguém a defende. Até André Ventura recusa a hipótese do Estado perder a companhia aérea — disse-o no debate com o candidato da Iniciativa Liberal, o que motivou um vídeo provocatório publicado no Twitter pelo antigo líder da IL, Carlos Guimarães Pinto, que comparava a oposição de Ventura manifestada nesse debate e a sua crítica à Iniciativa Liberal à posição do ministro socialista Pedro Nuno Santos.

Para defender uma ideia tão anti-sistémica (porque não defendida por mais ninguém) como deixar cair a TAP, é preciso não falhar nos argumentos. E Tiago Mayan Gonçalves, que desde o início da campanha defende que o Estado deve deixar cair empresas privadas que não sejam viáveis, sejam bancos ou uma empresa de aviação, robusteceu e estruturou as ideias rumando a Sul para contrariar a tese que diz que sem TAP o turismo português implode.

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O candidato à Presidência da República Tiago Mayan Gonçalves numa visita ao Aeroporto de Faro

LUÍS FORRA/LUSA

A ideia era simples: ir ao principal aeroporto da região que todos os verões enche-se de turistas (o Algarve) e dizer que ali, em 2019 só 4% das ligações aéreas foram feitas pela TAP. O argumento de Mayan é que o turismo não é movido a transportadoras públicas nacionais — os turistas vêm com ou sem TAP.

Depois da visita, sentado numa estação de serviço das redondezas, o candidato à Presidência da República dizia ao Observador que o aeroporto de Faro “serve o maior mercado turístico do país” e que esse mercado “nunca dependeu da TAP”. Da TAP, prosseguia Mayan Gonçalves, “diz-se que depende o turismo de Portugal — e vimos que não, que zonas de turismo mais pujantes nunca dependeram da TAP”.

Para o candidato, são as “narrativas” que sugerem que o investimento público na companhia aérea é “prioritário” que “não têm aderência à realidade” — ainda para mais “quando o custo de oportunidade de investir na TAP”, isto é, o que não se poderá fazer com os milhares de milhões de euros que vão para a companhia, “é tremendo”.

Colocar a TAP no centro do debate presidencial é mais uma tentativa do candidato da IL de demarcar-se dos restantes candidatos, de mostrar que ele é mesmo diferente. Mayan Gonçalves diz que tem “muitas diferenças em relação a todos os outros candidatos”, não só André Ventura. Mas diz mais: “Todos os restantes querem ser acionistas da TAP com o meu dinheiro e com o dinheiro de milhões de portugueses”.

Questionado sobre o que faria como Presidente da República se uma maioria de Governo pensasse o oposto, respondia que já existe um plano “desenvolvido e apresentado a nível europeu” e que mesmo que o considere errado, “os compromissos já assumidos não teriam impedimento da minha parte enquanto Presidente da República”. Mas e se este dinheiro não bastar e se um Governo, seja ele qual for, entender que é preciso continuar a alimentar a companhia? O caso mudaria de figura: “Poria um travão a isto, a mais dinheiro do que o que já está previsto, fosse pelo veto ou por outra medida qualquer. Alguém tem de fechar a torneira”.

O dia teve ações no Algarve e no Alentejo (ler aqui). Em terras algarvias, Tiago Mayan Gonçalves foi ainda a um quartel de bombeiros voluntários em Albufeira. Um quartel de bombeiros onde só em 2021 já quatro elementos testaram positivos à infeção pelo novo coronavírus. E foi aí que no que respeita à saúde, deixou duas ideias fortes: uma é que “estamos a entrar num cenário de guerra”, a segunda é que o Estado vai acabar a ter de pagar muito mais aos privados da saúde para contribuírem para o problema do que o que teria pagado se tivesse começado a negociar atempadamente. Porque a “justa compensação” não é, diz o candidato liberal, “o preço de custo” — “porque isso é muito relativo”. Os tribunais decidirão mas Mayan Gonçalves já prevê: o “preconceito ideológico” vai engordar o Orçamento do Estado.

Uma tentativa de conversão numa estação de serviço

Onde anda o povo em tempos de pandemia? Numa campanha presidencial onde o compromisso é não fazer “o que o comum cidadão não pode” — pode trabalhar mas não pode fazer grandes almoços ou jantares-comícios, estar em aglomerados e em espaços fechados com dezenas de pessoas —, não é fácil encontrar muitos eleitores anónimos. Podem existir visitas a aeroportos, a quartéis de bombeiros, a barbearias, reuniões. Mas arruadas, discursos em palanques ou coretos (à André Ventura) e dezenas de fiéis galvanizados é coisa que não se vê no dia-a-dia de Tiago Mayan Gonçalves.

Em tempo de pandemia, o povo não anda em muitos lados — portanto o melhor é mesmo aproveitar qualquer oportunidade. E até uma paragem para um almoço rápido numa estação de serviço, o único local onde é possível ter uma refeição dado o fecho de restaurantes, pode ser aproveitada para arregimentar votantes e apelar à cruzinha no boletim.

“Já sabe em quem vai votar?” A pergunta foi feita este sábado a uma funcionária de uma estação de serviço por um elemento da pequena comitiva (nunca mais de três ou quatro pessoas, habitualmente apenas uma a duas) que acompanha o candidato à Presidência da Iniciativa Liberal. Reticente, dizendo ainda ter dúvidas, a funcionária lá acabou por responder que ainda não estava certa mas era capaz de votar numa mulher. Avesso a quotas de género (ou quaisquer outras), Tiago Mayan Gonçalves ainda alertou que, mulheres ou homens, os outros candidatos “são mais do mesmo”. Mas para sua felicidade, um outro cliente acabaria por se abeirar da sua mesa uns minutos depois desejando-lhe “boa sorte para a campanha”. Um sinal de esperança para que voto a voto o liberalismo avance com toda a confiança.

Marcelo, o incumbente: “É o meu principal adversário”

O principal combate de Tiago Mayan Gonçalves continua a ser ideológico: aplicando-a a situações práticas — a mais insistente batalha foi, este sábado e em qualquer dia anterior, a do público vs privado na saúde —, o candidato vai tentando explicar o que é o seu liberalismo, tentando mostrar o que significa ele na prática e como se materializaria em decisões políticas. Este sábado, à defesa de colaboração público-privada na saúde, juntou o ataque à colaboração público-privada a fundo perdido na TAP.

Ainda assim, continua a ser “o atual incumbente” — como o candidato da Iniciativa Liberal diz tantas vezes — o principal visado. Na visita ao quartel dos bombeiros, quando questionado pelos jornalistas sobre se o Presidente da República deveria ter uma palavra sobre as imagens de caos hospitalar que se viram, disse “seria urgente o sr. Presidente ter uma palavra quanto a isso e dar uma palavra de reorientação ao Governo”.

Na ação de campanha que teve no Alentejo, a entrevista à Rádio Voz da Planície que poderá ser ouvida aqui na terça-feira, foi questionado sobre Marcelo Rebelo de Sousa e disse várias coisas: que Marcelo move-se por popularidade e decide consoante o que lhe parece mais benéfico para a sua imagem, que esteve cinco anos a fazer campanha, que faz parte de um “situacionismo” de décadas, que foi no seu mandato que houve interferências na PGR, no Tribunal de Contas e no Banco de Portugal e que um Presidente “não pode ser a voz e o amparo de um Governo”, tem de “garantir o equilíbrio nos órgãos de soberania” em vez de deixar o Governo imiscuir-se neles.

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