O futuro comissário, ou comissária, vai discursar no dia 31 de agosto na Universidade de Verão do PSD. Na agenda deste segundo evento de rentrée do PSD — que tem lugar de 26 de agosto a 1 de setembro em Castelo de Vide — está escrito que será um “convidado/a surpresa”, mas fontes sociais-democratas antecipam ao Observador que será uma intervenção do futuro comissário português. O nome continua bem guardado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, mas há sinais nos bastidores de que pode ser indicada uma mulher.

Ursula von der Leyen voltou a pedir dois nomes a cada Estado-membro (um homem e uma mulher), mas isso é uma forma de conseguir garantir um executivo paritário. Se Montenegro indicar logo uma mulher, tem controlo direto na escolha. “Ser uma mulher é o cenário mais provável, mas com o Luís [Montenegro] nunca se sabe, que ele gosta de surpreender”, diz um dirigente do partido ao Observador.

Até agora dos 18 países que já indicaram comissário, apenas cinco (Croácia, Estónia, Finlândia, Espanha e Suécia) indicaram mulheres (e a estoniana Kaja Kallas vem da negociação dos top jobs), enquanto 13 indicaram homens. Isso coloca uma pressão para os países com o lugar em aberto indicarem mulheres e — também tendo em conta boas relações que existem entre Von der Leyen e Montenegro — é natural que o português tenha isso em conta.

Maria Luís é o nome que circula no PSD

O nome mais óbvio que circula nos corredores do PSD (e até em Bruxelas) é o de Maria Luís Albuquerque. Pedro Passos Coelho chegou a confessar, em 2020, que a antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque era a primeira escolha do Governo PSD-CDS para comissária em 2014, e até que tinha tudo acertado com Jean-Claude Junker, mas como houve o colapso do BES, o primeiro-ministro decidiu que não podia abdicar da titular da pasta das Finanças. O escolhido acabou por ser Carlos Moedas.

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Mas a história mostra que a Comissão Europeia é algo que já esteve nos horizontes e ambições da ex-ministra — que nunca excluiu a possibilidade de ter uma carreira no exterior. Aliás, é isso mesmo que confirma a passagem pela Arrow Global (sediada no Reino Unido e onde trabalhou entre 2016 e 2021) e também o cargo que ocupa desde 2022 no conselho de supervisão de três unidades do grupo Morgan Stanley na Europa (que está localizado na Alemanha).

Há, por isso, alguns fatores que pesam a favor de Maria Luís Albuquerque: conhece bem os meandros europeus (participou em várias reuniões do ECOFIN e do Eurogrupo), tem experiência num órgão executivo (foi ministra) e não integra o atual Governo (evita que Montenegro tenha de mudar um governante). Tem ainda outras vantagens como ser mulher (requisito importante para Von der Leyen) e ser próxima de Luís Montenegro, que apoiou sempre contra Rui Rio. Mesmo nos momentos mais difíceis, o que o atual primeiro-ministro não esquece.

Homens indesejados e uma pasta pequena (por culpa de Costa)

No caso da escolha de Montenegro ser uma mulher, isso excluiria logo um dos outros nomes mais falados, Miguel Poiares Maduro, que ainda soma a desvantagem de não ser próximo de Luís Montenegro. Nos últimos tempos também circulou a ideia de que o ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, seria um dos quadros do partido mais bem preparados para ocupar a pasta de comissário pelo domínio técnico que tem dos dossiês europeus (no Parlamento Europeu teve sempre a pasta dos fundos comunitários).

Uma fonte do PSD ouvida pelo Observador deixa, no entanto, duas reservas: “Montenegro tem vindo a cortar com tudo o que é passismo e com a Maria Luís como comissária, isso seria lembrado todos os dias; depois, a Maria Luís causaria zero surpresa e ele tem mostrado que gosta de surpresa, basta ver o caso do [Sebastião] Bugalho”.

Outra das ponderações de Luís Montenegro também será ter alguém que se adeque à pasta que lhe for atribuída. Por norma, o facto de ser mulher irá potenciar uma melhor pasta (pois cai nas boas graças de Von der Leyen), mas a eleição de António Costa para o Conselho Europeu pode significar que Portugal, apesar de ser país médio, terá de se contentar (por uma questão de equilíbrio) com uma pasta menos relevante.