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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Nuno Agonia. Como uma tuberculose fez um YouTuber com 1,1 milhões de subscritores

Já lhe propuseram um programa de televisão, mas recusou. Os vídeos são vistos por centenas de milhares de fãs. Visitámos o estúdio de Nuno Agonia para falar sobre a sorte, o sucesso e o trabalho.

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Goste-se ou não, os YouTubers são um fenómeno. Influentes, irreverentes e a prova de que existe um público que começa a largar a televisão para se dedicar a novas plataformas que dão palco a vedetas que, sozinhas, começaram a fazer vídeos. Exemplo disso é Nuno Agonia: 39 anos (quase 40, nasceu a 26 de janeiro), antigo informático de gestão hospitalar, casado e com um filho. Atualmente, é um dos YouTubers mais influentes em Portugal, com 1,1 milhões de seguidores. Em dezembro, abriu as portas do estúdio onde faz os unboxings (vídeos que mostram produtos normalmente tecnológicos a serem desempacotados), na Póvoa de Varzim, num prédio do qual é proprietário. Fala humildemente da fama e, principalmente, do trabalho que teve para chegar onde chegou. Assume que o futuro é incerto, mas “vai passar” por algo como o YouTube.

Os tutoriais e os unboxings de gadgets variados de Nuno Ribeiro Marques Agonia (sim, Agonia é mesmo apelido, explica) começaram em 2009. Na altura, o canal de YouTube ainda se chamava “See.Me” (vê-me, em português). Tinha vídeos simples, feitos “esporadicamente”, nos quais explicava coisas como mudar o sistema operativo de telemóveis e outras dúvidas informáticas que lhe iam perguntando no trabalho. “O meu canal já foi pequeno, como muitos outros”, conta. Para fazer os primeiros vídeos chegava a ir “a correr à hora de almoço para ver um smartphone novo que um amigo tinha comprado”. Depois, “aproveitava aquele momento com o gadget para fazer vídeos”.

[Visitámos o estúdio de Nuno Agonia a meio de dezembro, na Póvoa de Varzim. Recebeu-nos pouco tempo antes de divulgar no seu canal o novo “setup”. Falou sobre o que é ser YouTuber e os desafios que tem. Veja o vídeo]

Estes conteúdos foram o suficiente para chegar a cerca de 100 mil subscritores em quatro anos. Contudo, na altura, isso não era relevante no universo do YouTube. “Tu, com 100 mil, não fazes nada, não tens importância”, explica Nuno Agonia. É só em 2014, e a partir desta base de seguidores, que começa a fazer vídeos regularmente. Foi esta mudança que lhe permitiu, no mesmo espaço de tempo, crescer em mais de 10 vezes este número de fãs. Contudo, a causa para ter tempo para isso foi uma doença: uma tuberculose ganglionar (quando a bactéria Mycobacterium tuberculosis infeta um gânglio linfático e não um pulmão).

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Como se fez um YouTuber de sucesso? Com um diagnóstico de tuberculose ganglionar

A tuberculose ganglionar, que não é contagiosa como a pulmonar, tem como alguns dos sintomas o cansaço excessivo e pode levar à incapacidade quase total do paciente. “Chegou a um ponto em que já não conseguia andar, nem conseguia abrir uma porta”, explica o YouTuber. Na altura, em 2014, quando começou a sentir os primeiros sintomas da doença e esta lhe foi diagnosticada (algo que demorou algum tempo), ainda trabalhava na empresa de informática do tio, prestando auxílio à gestão hospitalar. Quando foi diagnosticado com tuberculose ganglionar, teve de pedir baixa à segurança social e ficar em repouso completo, com dores e a contar com o apoio da mulher, Mónica, responsável de Marketing no Hospital da Luz: “A minha mulher foi fundamental. Devo-lhe quase tudo. Foi a minha muleta”.

[Desafiámos Nuno Agonia a, de improviso, ensinar o Observador a fazer o ‘unboxing perfeito’. O twist? Não sabia o que ia ‘desempacotar’. Veja o vídeo]

Nuno Agonia teve de passar a tomar cerca de “15 comprimidos por dia”. No pescoço, ficou uma cicatriz da operação que permitiu descobrir o que tinha: “Se não fosse isso, não estava aqui hoje a falar”. Parado, sem conseguir sair de casa, Nuno começou a pensar: “O que é que faço? Ficas maluco só a ver televisão? Não é a minha atitude ficar aqui sentado só a mexer os olhinhos”. A solução? Fazer vídeos para o YouTube regularmente no canal que já tinha. Na altura, em 2014, o panorama não era o mesmo de agora (Wuant, um dos YouTubers mais conhecidos em Portugal e que tem atualmente mais de 3,3 milhões de seguidores, nesta altura tinha também cerca de 100 mil subscritores).

Passou de um vídeo esporádico, às vezes um por mês, para vídeos semanais. “Era a única coisa que podia fazer”, afirma. “Cheguei a gravar vídeos à 4h ou 5h da manhã. Estava com dores, tinha de fazer alguma coisa”. Explica: “Nos vídeos não tinha grande problema porque estava sentado, a única coisa que se mexe são os braços”. Os amigos que ainda hoje mantém, e principalmente a mulher, foram a ajuda para ir ocupando o tempo enquanto percebia que doença tinha e como a podia curar. Tinha 35 anos. “Por isso é que já estou um bocado habituado só a fazer vídeos, tive um ano e meio sempre em casa”, conta Nuno.

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Foi melhorando e a tuberculose “ficou completamente erradicada”. A causa nunca foi encontrada, mas o susto foi o suficiente para lhe mudar a vida. “Houve uma semana em que fui para o Hospital da Arrábida fazer exames a potenciais tumores, iguais aos sítios onde estão pessoas com doenças terminais”, desabafa.” Cheguei a ter menos 50 quilos do que o que tenho hoje”, mas com a cortisona, dores e a ter de levar uma vida mais sedentária teve de mudar os hábitos de exercício que tinha. “Foi nessa altura que comecei a engordar bastante, em tudo e mais alguma coisa. Há uma altura em que vais passar por imunossupressores e é nessa altura que estás feito”, conta.

O diagnóstico que lhe possibilitou saber que doença tinha surgiu como o ingrediente que é preciso para ser um YouTuber de sucesso: a “sorte”. “Tinha um sinal [no pescoço, onde está a cicatriz] e foi isto que me salvou a vida, porque havia um nódulo que se detetou que era uma tuberculose ganglionar”. Mesmo com todas as adversidades, assume: “Nesse caminho, vi gente muito mal. Isso é a vida. Há sempre gente pior do que nós. Não podemos dramatizar”.

“Cheguei a gravar vídeos à 4/5 da manhã. Estava com dores, tinha de fazer alguma coisa”

É no final deste ano e meio, depois de ficar bom, que toma a decisão de não voltar ao trabalho como técnico informático. “Quando me dediquei 100% a isto sabia que não era um tiro no escuro. Já sabia que tinha rendimento dali”, explica. Apesar de defender o YouTube como uma plataforma dominante e incentivar outros a apostar nesta “paixão”, afirma: “Não incentivo ninguém a largar o emprego só porque os outros têm sucesso. O que digo é que, devagarinho, as pessoas podem ir fazendo um paralelismo, no final do trabalho. Isto custa”.

Foi durante esta recuperação da tuberculose que fez algumas das principais alterações que, atualmente, fazem parte da sua imagem de marca. Mudou o nome do canal de “See.me” para apenas Nuno Agonia: “O Agonia é um nome que tem um marco pesado, mas hoje até é produtivo porque é um nome que fica nas pessoas. Se fosse Nuno Andrade, não era assim”. Foi aqui que começou também a aparecer nos vídeos e a falar diretamente para a câmara (antes só aparecia a sua mão e o produto que estava a analisar). Passou a tratar o espetador “por tu” para “criar um maior contacto”, diz. Atualmente, muitos dos vídeos antigos já foram apagados porque já não se “identificava com aquilo” e para “salvaguardar algumas coisas que [terceiros] podem fazer só para se ter visualizações”.

“O Agonia é um nome que tem um marco pesado, mas hoje até que é produtivo porque é um nome que fica nas pessoas. Se fosse Nuno Andrade, não era assim”

Como os seguidores do YouTube “são como uma bola de neve que vai crescendo”, aumentou os fãs e passaram a ser as marcas de produtos tecnológicos a pedir-lhe para ter os seus produtos nos vídeos, em vez de ser o contrário. Surgiram os primeiros acordos de product placement (colocação de produtos em vídeos) e chegou, nestes últimos cinco anos, a 1,13 milhões de subscritores. Cada vídeo tem cerca de 300 mil visualizações, com vários a ultrapassar um milhão. Pelo meio, nasceu Tiago, o filho. Já cresceu numa altura em que o pai tem sucesso e está curado. Como diz, “já é o filho do Nuno Agonia que o pessoal conhece no YouTube”.

De “nem sabia que se ganhava dinheiro com o YouTube” a rejeitar ter uma rubrica na televisão

Se em miúdo dissessem a Nuno Agonia que ia ser YouTuber a resposta do informático seria: “O que é isso?”. Na escola era “um aluno mediano”, completou o 12.º ano de informática em formação profissional e não continuou os estudos “porque já trabalhava e também por preguiça e tal…”, assume. Sempre viveu na zona da “grande Póvoa”, estudou na escola primária do Desterro, no ciclo esteve na escola dr. David Alves e fez o ensino secundário na Rocha Peixoto. Depois, trabalhou numa empresa de construção, na qual fazia a gestão de obras no software, e trabalhou sempre com o tio, “porque é uma pessoa de confiança”. Os dedos “já têm as teclas memorizadas” há muito, devido ao gosto que sempre teve por computadores. Aos 31 anos começou a fazer os vídeos de tutoriais.

Nuno na mesa onde edita os vídeos (DIOGO VENTURA/OBSERVADOR)

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Entretanto, o canal “explodiu”: “Acertas em alguns produtos” e, de repente, tens um vídeo que consegue ter 300 mil visualizações. “Isso, num universo de pessoas, faz pensar… É muita gente”. A sorte pode ser um dos fatores, mas há muito trabalho por detrás, não só dele mas também do YouTube. Como explica, o truque é pensar na plataforma de vídeos da Google “como uma empresa”: se não se for trabalhar não se recebe. “O YouTube é igual: se tu não criares conteúdo [normalmente], o YouTube não vai sugerir os teus vídeos, não te vai dar a oportunidade”.

Artista? Ator? Entertainer? Apresentador? Não, “sou YouTuber”, afirma sempre. “As pessoas estão formatadas para as profissões tradicionais durante anos e, de repente, trazes uma palavra que é complicada”, explica. Assume que “às vezes” tem dificuldade em dizer o que faz. Depois de insistirmos, define o que é, para si, ser YouTuber: “É trabalhar numa plataforma que se chama YouTube, onde tenho uma liberdade total sobre aquilo que posso publicar e fazer o que gosto, que é trabalhar com vídeo e fotografia”.

“Sou YouTuber. As pessoas estão formatadas para as profissões tradicionais durante anos e, de repente, trazes uma palavra que é complicada”

Este “gosto” e “paixão” pelas tecnologias permitiu que se tornasse num YouTuber de nicho. Ao contrário de outras vedetas portuguesas desta plataforma, como Wuant, Windoh ou D4rkframe, os vídeos de Nuno Agonia têm também bastante sucesso – e interesse para as marcas — porque se focam num tema específico: tecnologia de produto. O YouTuber assume: “Trabalho para outro tipo de público [ao contrário de YouTubers mais populares], o target forte é 25-40”. O conteúdo é só sobre uma área, mas não é informação, é mais conteúdo de “entretenimento”, brinca: “Sinto que passo informação, mas não é como uma Exame Informática”.

Em 2014, com 100 mil seguidores e ainda a trabalhar, os lucros não davam “nem dinheiro para a sopa”, diz. O YouTube pode dar dinheiro com a publicidade, mas o YouTuber afirma que os lucros são irrisórios, mesmo atualmente. Quando começou, em 2009, afirma que “nem sabia que se ganhava dinheiro com o YouTube (na altura, em Portugal, nem sequer existiam os atuais planos de monetização de vídeos). Agora, não troca a plataforma de vídeo, que praticamente detém um monopólio na Internet, nem pela pequena concorrência como o Vimeo: “A pesquisa é horrível”.

A mesa onde faz os unboxings (DIOGO VENTURA/OBSERVADOR)

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Apesar de ter uma forte presença no Instagram (280 mil seguidores), e também no Twitter (61,4 mil seguidores), o YouTube é a plataforma mãe. Mas e outras plataformas de comunicação, como o Facebook? “Nem se fala”, assume, afirmando que “não tem tanta confiança” e que esta rede social tem “demasiada publicidade”. Já a televisão, não vê como concorrência: “É um patamar mais profissional e continuo a achar-me um amador”.

Amador ou não, muitos vídeos têm mais visualizações do que programas em horário nobre, e assume: “Já houve uma vez uma proposta para participar numa rubrica relacionada com tecnologia”. Não divulga qual foi o canal que lhe fez a proposta, mas, como o convite “significava ter de ir para Lisboa” e abandonar a Póvoa de Varzim, não aceitou. “[Aceitar o desafio] implicava mudar muito a minha forma de ser e ia andar em viagem para cima e para baixo”, justifica. “Não me tornei famoso por isso [aparecer na televisão] e ia fazer com que o meu canal de YouTube perdesse”, afirma.

Mesmo com o YouTube a ser a plataforma preferida e a continuar a ser a principal fonte de receita (principalmente através dos acordos que tem com as marcas), o YouTuber afirma que continua a gostar de ver televisão. Contudo, a forma como a consome já mostra as novas tendências: “Há programas que gosto de ver e uso a box para andar para trás”. Mesmo assim, o YouTube pode também só ser uma fase. Para Nuno Agonia, uma coisa é certa: “Não sabemos se vai ser o YouTube o futuro, mas o digital vai estar cá”.

“Não sabemos se vai ser o YouTube o futuro, mas o digital vai estar cá”

Ao contrário de outros YouTubers, não tem rodeios em falar sobre onde se vê no futuro. “Consigo idealizar isto [trabalhar a fazer vídeos de unboxings] com o meu filho adulto e o meu filho a gozar comigo”. A pensar já daqui a 10 anos, deseja: “Quando o Tiago tiver 12 anos acho que é a altura mais feliz em que vou poder partilhar o que faço com a pessoa que mais amo”.

Um trabalho “das 9 às 5”, com muitas horas extras, recibos e com o pensamento: “Se calhar não sou bem pago”

Como é a semana de trabalho de Nuno Agonia? “Chego a um domingo e fico aqui [no estúdio] enfiado. Se somar todas as horas e as dividir só com o que ganho do YouTube, pergunto-me: o Nuno é bem pago? Se calhar respondo ‘se calhar até não'”, conta. “Quando comecei não havia dinheiro, comecei pela paixão. Por isso é que vês muitos YouTubers de verão”, brinca. O dinheiro atual da publicidade da plataforma pode permitir à estrela da Internet estar “confortável”, mas não é, “de todo”, a fonte de receita do dinheiro com que vive, revela. A ligação com as marcas que fez “durante anos” e o product placement são a chave para se poder dedicar a tempo inteiro a esta profissão. E é um ofício que tem tudo legalizado, sem “dinheiro em notas”, e tratado com as finanças.

“Quando comecei não havia dinheiro, comecei pela paixão. Por isso é que vês muitos ‘YouTubers de verão’”

Apesar de ter uma agência que o ajuda com a comunicação, afirma que é agente de si próprio. Para acabar com mitos de como gere a parte monetária, explica que criou uma empresa, uma “limitada”, para facilitar os pagamentos e gerir o canal Nuno Agonia. “[Fazer um canal de YouTube profissional] é como abrir um café, tens de arrendar o espaço” e outras burocracias. “Há pessoas que fazem rissóis ao final do dia e há pessoas que fazem vídeos no YouTube”, brinca.

Cada vez mais o público vai percebendo que “há cada vez mais trabalho com isto [de fazer vídeos para o YouTube]”. A profissão pode dar-lhe autonomia de horários e sobre o que faz, mas vem com muitas horas de trabalho. “Por norma, às 7h30 já estou online com a família”, o filho Tiago e a mulher Mónica, a fazer as tarefas matinais. Mónica sai às 9h00 e leva o Tiago. O dia de trabalho de Nuno Agonia começa a seguir.

No fundo, a dourado, está a placa que recebeu quando chegou ao 1 milhão de subscritores no YouTube (DIOGO VENTURA/OBSERVADOR)

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Passa o dia a tratar de gravações (há muitas semanas em que tem mais do que um vídeo). Entre contactos com empresas, emails, edição de vídeo e outros afazares, diz que há dias em que não grava nada — “há aqui um trabalho de casa grande”. À semelhança de muitos YouTubers, é Nuno Agonia quem edita sozinho os próprios vídeos. Muitas vezes, diz, os sobrinhos e amigos aproveitam para visitá-lo e fazer-lhe companhia no estúdio que criou, apetrechado de gadgets para fazer os unboxings. “Na Póvoa há o ambiente de toca à porta. Há esse ambiente. Um colega meu ainda hoje me ligou e perguntou: posso levar aí o meu filho?”

Depois, “por volta das 17h00”, vai  buscar o Tiago ao ATL (atividades de tempos livres) e fica com o filho a passar “tempo útil até a mãe chegar”. Jantam, ajuda a deitá-lo e “muitas vezes” ainda sobe ao estúdio para trabalhar, principalmente para editar. E férias? “As férias têm de ser um ultimato da Mónica”, conta, mas mesmo aí continua ligado aos smartphones.

[Recentemente Nuno Agonia divulgou, no YouTube, o novo espaço onde faz os vídeos de unboxing e edita os vídeos. Este género de vídeos é uma prática comum entre YouTubers para ficarem mais próximos dos fãs]

O YouTube deu a Nuno Agonia fama e muitas vantagens. Viagens, acesso facilitado a produtos, parcerias e relações privilegiadas com empresas como a DJI, de drones – o gadget favorito –, que o fazem não ter de comprar este tipo de produto quando saem. Contudo, tudo tem um preço, desabafa: “Chega a uma altura em que é ‘epá, lá vou eu outra vez'”. No Instagram chegou a, recentemente, partilhar que ia a menos eventos e aceitar menos oportunidades. Mesmo quanto a produtos, hoje em dia, não fica com tudo o que mostra nos unboxings. “Há empresas que não têm essa capacidade”, justifica, dizendo que não é por isso que não deixa de seguir uma ideia que teve para um vídeo.

O guião dos vídeos é feito “completamente” pelo YouTuber, promete. Inicialmente, “havia alturas em que tinha de enviar os vídeos [para aprovação às empresas que lhe emprestam ou pagam conteúdos]”, agora, nem isso chega a fazer. Como diz: “Em vídeos dedicados, ninguém me vai dizer o que fazer”. As marcas “fazem questão para que os conteúdos cheguem rápido”, caso contrário: “falo de outras marcas”, afirma sem rodeios. Essa liberdade foi conseguida “com trabalho”, mas também é porque sabe que é “uma garantia”.

[No Instagram, onde partilha várias vezes fotografias com a mulher e filho, partilhou, em agosto, uma fotografia do filho a justificar que é a razão para não aceitar muitas oportunidades que lhe chegam]

O artigo 13, a relação com as marcas e com outros YouTubers

Sobre YouTubers como Wuant, que tem um “público diferente [mais jovem]” e que recentemente foi amplamente referido na imprensa depois de ter publicado um vídeo a manifestar-se contra um dos artigos da nova diretiva de direitos de autor – o artigo 13 –, ainda em discussão, diz que são “colegas” e “amigos”. O YouTuber chegou a aparecer num dos vídeos do canal de Nuno. E diz que Wuant é uma das “pessoas boas do YouTube”, que à semelhança de  Darkframe ou Ric Fazeres, não se importa que os sobrinhos sigam. Também vê a concorrência com estima: “Há o Bernardo Almeida, o Tiago Ramos e ainda bem que eles existem, para todos nós”.

[Nuno Agonia foi um dos YouTubers que se juntou ao coro de críticas à nova diretiva de direitos de autor e fala sobre isso. Veja o vídeo]

A proximidade geográfica da sua casa com a de outros YouTubers, “como Wuant ou Tiagovski”, facilita as relações entre eles: “Há muitos YouTubers aqui no Norte”. Segue outros destes influenciadores digitais, nos quais também se inspirou para criar o canal, como o Unboxing Therapy ou o Marques Brownlee, mas a proximidade com a comunidade YouTuber portuguesa também o influencia. Exemplo disso é o vídeo que também fez sobre o artigo 13: “Ninguém está verdadeiramente informado sobre o que está a acontecer”.

Decidiu publicar o vídeo depois de ver um comentário assinado pela SIC Notícias a um artigo do próprio canal, que espelhava as opiniões de Wuant sobre o Artigo 13, e que levou Nuno Agonia a “ficar chateado”. Nesse comentário, que segundo o canal de televisão foi publicado por lapso, a SIC Notícias dizia que o YouTuber era um “parasita”. “Foi no Instagram que vi aquilo, alguém a ofender alguém de quem tu gostas, alguém a insultar uma pessoa tua amiga”, assume.

“Pareço todo doido, mas sou introvertido”. Fomos à Darkolândia, a casa de D4rkFrame, Pi e Dant

Principalmente por este motivo, também se juntou à voz das estrelas do YouTube que se insurgiram contra a diretiva que está a ser elaborada. O próprio afirma que não houve nenhuma contrapartida da Google para passarem esta posição: “O YouTube não quer saber de nós para nada, Nuno Agonia é apenas um número, nem mesmo com o Wuant [pagaram]. Sobre isso, ponho o meu pescoço”, diz, acrescentando que, para a plataforma, “o que interessa é terem criadores de conteúdo”. E continua: “Isto é uma máquina gigante, o mal está aí, no poder que as redes sociais, que são privadas, têm”.

[Nuno Agonia foi uma das vozes de YouTubers que se manifestou, em novembro, contra a proposta de diretiva de direitos de autor que está ser discutida na União União]

A insurreição não é só contra a plataforma que permite continuar com a sua profissão: “Fico muito triste ao pensar que o meu filho pode não ter isto [o YouTube], acho triste que existam imagens que podem vir a ser barradas”. Mas o principal motivo não é esse: “Eles, no Parlamento Europeu, querem que cada conteúdo seja verificado quando for carregado e isso é impossível”.

Atualmente, os 1,3 milhões de subscritores de Nuno Agonia são o único “cartão de visita” de que precisa. Contudo, continua a haver uma seleção nos vídeos que produz — “para não te defraudares nem a ti nem ao público”. Quanto ao processo de criação atual de um vídeo, explica: “De vez em quando, há empresas que enviam propostas ou lembro-me de ideias”. “Há também a publicidade para vídeos. Se são coisas fidedignas, faço e assumo que é conteúdo patrocinado”. Mesmo assim, também diz mal de produtos de que não gosta, mas reitera que não é “negativo apenas por ser”.

Cada vez mais diz não: “Há muita viagem à qual não vou. Tenho a minha vida, a minha mulher, o meu filho”. Nesta fase, com o filho com quase dois anos, afirma: “Não posso ir e fazer tudo”. É casado desde os 24 anos e, apesar de o facto de “ser YouTuber não ajudar num casamento, muito pelo contrário”, quer continuar a investir no que faz. “A palavra de ordem é: continuar a ser feliz”, responde o YouTuber à última pergunta do Observador. “O que te falta fazer?”

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