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RITA CHANTRE/OBSERVADOR

RITA CHANTRE/OBSERVADOR

O marido, os pais, a sogra, os médicos e o filho que entretanto nasceu. A vida de Mariana depois do enfarte aos 24 anos

Mariana demorou tempo até conseguir voltar a fazer tudo sozinha. Até para um banho precisava de apoio. Um enfarte aos 24 anos (e a gravidez que se seguiu) levou-a a recorrer a toda a ajuda possível.

Quando voltou para casa, naquele quarto andar de um prédio de uma rua de Alenquer, no fim do inverno de 2017, Mariana Carvalho teve a noção de que a vida nunca mais seria a mesma. Passara uma semana entre os cuidados intensivos e uma enfermaria do Hospital de Santa Marta (HSM), em Lisboa, e agora que voltava à vida de todos os dias, percebia que nada seria como dantes.

Aos 24 anos, sem que nada o fizesse anunciar, Mariana sofreu um enfarte agudo do miocárdio. Já vivia com o namorado (hoje marido), António Marques, já era educadora de infância na mesma creche onde a mãe, Ana Maria, é auxiliar, já era próxima da futura sogra (que viria a ser tão importante na sua vida). Mas não conhecia nenhuma das pessoas que se revelaram igualmente vitais na rede de apoio. Como o cardiologista Luís Almeida Morais, a técnica de reabilitação cardíaca Sofia Silva e mais tarde, a obstetra Ana Isabel Machado. Ou o outro cardiologista, André Monteiro. Todos acompanharam a gravidez de Mateus, o filho gerado e nascido com todos os cuidados, depois desse dia em que o coração dela se revelou “do contra”.

O marido
António Marques

“O que me lembro melhor? Secar-lhe o cabelo. Eu nunca tinha feito aquilo”

António e Mariana já namoravam há alguns anos e viviam juntos há meses. Ele era mediador de seguros num escritório que funcionava em casa dos pais, na Aldeia de Paredes, concelho de Alenquer. Depois daquele sábado em que o coração de Mariana lhes trocou as voltas, tornou-se num precursor do teletrabalho, muito antes de uma pandemia o tornar hábito.

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Instalou-se em casa, por forma a estar sempre ali, ao lado da namorada, quando fosse preciso. E foi muitas vezes, nos meses que se seguiram. Mariana cansava-se só de estar em pé, de dar dois passos. Era impensável deixá-la sozinha, era preciso acompanhá-la no banho. “Do que mais me lembro era de quando tinha de lhe secar o cabelo. Eu nunca tinha feito aquilo.”

Foram dias e meses de muita ginástica familiar, de muita entreajuda no núcleo de cada um, mas ele — que até acumulava o trabalho com a função de treinador de hóquei em patins — tentava sempre fazer o possível por manter as rotinas naquele quarto andar. Cozinhava quase sempre. “Como os médicos recomendaram uma alteração grande na confeção, reduzindo tudo o que era sal e açúcar, acho até que comecei a exagerar. Às vezes ela dizia-me que se não morresse da doença morria da cura…”.

Agora que já passou muito tempo (embora estivesse sempre presente o perigo de se repetir), riem ambos desses episódios. Até do dia em que, um mês depois do enfarte, Mariana quis ir às compras, ela mesma, ao supermercado. Foram os dois, auxiliados por elevadores e escadas rolantes. Mal avançou no primeiro corredor, ela desmaiou. “Talvez tenha sido aí que percebi como a doença era limitadora”, recorda António. Quis chamar uma ambulância, mas ela voltou rapidamente a si “e pediu por tudo para não chamar. Não queria voltar para o hospital, por melhor que lá tivesse sido tratada”.

Um ano depois do enfarte, António e Mariana casaram. Não sem antes ela passar por uma fase de crise existencial, de se achar “um peso” para quem se dispunha a passar o resto dos dias a seu lado. Nessa altura já ficara para trás a reabilitação cardíaca, as viagens entre Alenquer e Lisboa, três vezes por semana, já ela percebera que, nesta segunda vida, tudo iria acontecer ao ritmo que o coração ditasse. Às vezes, muito devagar.

Nada disso lhe passara pela cabeça quando, numa manhã de sábado, acordara “um bocado indisposta”, a pensar que uma ida à farmácia resolveria o problema. Só que à medida que desceram para o carro, Mariana sentia-se cada vez pior. Pensou em ir ao hospital, mas no caminho o casal passou pelo quartel dos bombeiros. Contou do mal-estar, e de repente Mariana já estava numa ambulância, a caminho do Hospital de Vila Franca de Xira.

A sogra
Ana Maria Marques

“Quando a vimos no hospital estava toda ligada a fios”

Ana Maria Marques recebeu um telefonema do filho às primeiras horas da manhã de 18 de fevereiro de 2017. Dispôs-se a acompanhá-lo(s) ao hospital, “mas nunca pensando que pudesse ser alguma coisa de grave”. Atrás da ambulância, no carro do filho, ao lado dele, ia tentando descansá-lo, de certeza que “não era nada de especial”.

“Deixámos de a ver. Só voltámos a saber dela e de que estava a fazer exames, quando veio uma enfermeira chamar-nos a dizer que a médica queria falar connosco”, recorda. A sogra lembra-se bem da imagem de Mariana, numa maca, “já toda ligada a fios. Aquilo impressionou-me”. Foi quando Ana Maria e o filho souberam do que se passava. Mariana tivera um enfarte e, por isso, tinha de ser imediatamente transferida para o Hospital de Santa Marta, em Lisboa, apto a realizar “o procedimento”: um cateterismo [exame que permite ver se existe obstrução nas artérias do coração].

Os dias nos cuidados intensivos e na enfermaria ainda lhe estão vincados, mas o seu papel mais importante viria depois, quando Mariana voltou para casa. Nunca conhecera ninguém que tivesse sofrido um enfarte, não lhe passava pela cabeça que demoraria muito tempo até que a nora recuperasse a energia e a condição física. Revezava-se com a mãe de Mariana, todos os dias iam lá a casa, uma ou outra, para cozinhar, lavar, estender roupa, ou tão só acompanhar a jovem de cada vez que precisava de fazer qualquer ato de higiene. Mais tarde, voltaria a ter um papel igualmente relevante: tomar conta do neto Mateus, nascido em pleno confinamento, em 2020.

A mãe
Ana Maria Carvalho

“Muitas vezes cozinhava em minha casa e levava as refeições já prontas”

“A Mariana foi sempre saudável. Era uma menina muito desenrascada, que nunca deu qualquer sinal de doença”, conta Ana Maria Carvalho, a mãe, aquela que “não pode saber tudo, porque fica muito preocupada”, sublinha a filha. Foi assim naquele dia do enfarte. Alertada pelo futuro genro, seguiu com o marido, Daniel Carvalho, de carro, rumo ao HVFX. Só mais tarde soube que, quando uma enfermeira informou Mariana de que “estavam lá fora duas senhoras preocupadas com ela, ambas com o mesmo nome”, a filha respondeu prontamente: “A que estiver a chorar é a minha mãe”. Só que rapidamente foi obrigada a enxugar as lágrimas: a partir de agora Mariana precisava dela e do seu apoio.

Organizou-se com o marido “para que ela nunca ficasse sozinha, para que o genro pudesse continuar a treinar a equipa de hóquei, em Torres Vedras”. “Muitas vezes cozinhava em minha casa e levava as refeições já prontas. Até eu me habituei aos novos temperos, ou à falta deles”, recorda Ana Maria. Percebeu a gravidade quando deu com a filha naquele cansaço extremo (provocado pelo facto de o coração estar fraco), logo ela que sempre fora tão independente.

“Quando ela tinha dois anos eu tive um cancro de mama. O meu filho mais velho tinha 10. Eu penso que foi nessa altura que ela ganhou grande autonomia”, frisa Ana Maria, auxiliar no mesmo jardim de infância onde a filha é educadora, cúmplices desde sempre. “O que fazíamos era tentar substituir o António sempre que ele não estava, o que quase sempre era à noite”. Até porque durante o dia, também eles tinham empregos para cumprir. O marido, Daniel, acumula dois trabalhos: de segunda a sexta-feira trabalha nos CTT, ao fim de semana serve eventos, numa empresa da região.

A técnica de reabilitação cardíaca
Sofia Silva

“Por ser tão jovem, foi uma doente muito colaborante”

Depois do enfarte e do cateterismo, foi preciso estabilizar a doente. Começava então um longo caminho no Serviço de Reabilitação Cardíaca do HSM. Um programa individualizado, composto por duas sessões por semana, em dias não consecutivos, com uma duração de aproximadamente 60 minutos cada, durante um período temporal entre 24 a 32 sessões. Quem descreve ao pormenor o programa é Sofia Silva, a técnica que mais acompanhou Mariana. Lembra-se bem de quando a viu a primeira vez: “Uma pessoa muito jovem, com um evento que, por norma, se associa a pessoas de idade mais avançada, o que lhe levantou muitas questões, tais como o porquê de ela ter tido um enfarte, que consequências e sequelas lhe adviriam desse evento, e que tipo de recuperação conseguiria obter”.

Ali, naquele espaço que agarra doentes à vida, a fazer lembrar um ginásio, as sessões são organizadas em quatro partes específicas: aquecimento, treino metabólico, treino de força muscular e retorno à calma. “O treino metabólico e o treino de força muscular consistem em trabalhar a componente da aptidão física, cardiorrespiratória, a força muscular, a flexibilidade, o equilíbrio dinâmico, a agilidade e a coordenação”, explica Sofia Silva.

O protocolo de exercício escolhido é personalizado, variando de doente para doente, consoante a aptidão física e a patologia cardíaca apresentada. “A Mariana era jovem, com tudo o que está associado à juventude, com uma enorme vontade de participar e de melhorar. A palavra desistir não fazia parte do seu vocabulário”.

Sofia trabalha no HSM há 32 anos, embora se dedique à reabilitação cardíaca apenas há vinte. Coincidiu com a conclusão do mestrado nessa área. Depois do caso de Mariana Carvalho, já outros doentes igualmente jovens lhe sucederam.

“Infelizmente, com o aumento das doenças cardiovasculares, estas abrangem os diversos grupos etários, onde se incluem os grupos mais jovens. O mais difícil é a alteração abrupta do seu estilo de vida para um estilo de vida mais saudável”, explica Sofia.  É preciso ensiná-los dentro do hospital como devem viver cá fora: reduzir os níveis de stress, mudar a alimentação, incluir a prática regular de atividade física estruturada. “O mais fácil é a disponibilidade e a vontade que demonstram em participar ativamente para uma rápida recuperação, dentro das suas possibilidades. Foi assim com a Mariana”.

O primeiro cardiologista
Luís Almeida Morais

“O enfarte da Mariana foi o quadro mais grave: um vaso totalmente obstruído”

Os caminhos da doente Mariana Carvalho  e do cardiologista Luís Almeida Morais cruzaram-se numa Via Verde Coronária. Ela chegou ao HSM “num contexto de  urgência, ou de emergência mesmo”, como recorda o médico, que continua a acompanhá-la. “Estávamos perante a dor pré-cordial [dor no peito], que nós dizemos típica – uma suspeita logo muito forte de ter alguma coisa relacionada com o coração, em que na maior parte das situações o diagnóstico mais provável é um enfarte agudo do miocárdio. É claro que a Mariana era tão nova, que quando nós recebemos a chamada, achámos que seria um daqueles casos que nós temos tipicamente nestas idades mais jovens, chamados falsos positivos: existe alguma dor, existem umas alterações no eletrocardiograma, mas no fim não vai corresponder ao enfarte”. Só que Mariana correspondeu.

Luís Almeida Morais era ainda interno, nessa época, pouco mais velho que a doente. “Éramos quase todos muito novos, enfermeiros e médicos. O médico mais sénior, que fez o procedimento [desentupir a veia], tinha cerca de 40 anos”, recorda. E ela, “ultranervosa”. E a equipa a tentar descontraí-la, a dizer-lhe que “ia sair dali rapidamente, e não ia ser nada. Só que naquele momento nós percebemos imediatamente que a situação era a mais grave possível: uma oclusão total do vaso principal do coração”. A partir daí, a preocupação foi evitar que Mariana (consciente) se apercebesse dos semblantes carregados. “Era uma situação extremamente grave, com riscos fatais”, sublinha o cardiologista, até então apenas habituado a vê-la em casos de “pessoas com 60, 70, 80 anos”.

“A Mariana foi a primeira doente a quem dei o meu número de telefone pessoal”, adianta o médico, que nos meses (e anos) seguintes viria a ser peça fundamental na rede de suporte da doente. Fez o acompanhamento na unidade de cuidados intensivos, assinou a alta, acompanhou toda a reabilitação. “Na maior parte dos casos, nós conseguimos ‘devolver a pessoa’ ao meio onde ela estava; à sociedade, ao trabalho, à família”, explica Luís Almeida Morais.

Mariana Carvalho tem agora um quadro típico de insuficiência cardíaca. O cardiologista continua a acompanhá-la no HSM.

O cardiologista durante a gravidez
André Monteiro

“O mais fácil era dizer-lhe que não podia engravidar”

A vida de Mariana pode nunca mais ter sido a mesma, mas ganhou muito mais intensidade depois do enfarte. Um ano depois casou-se com António, e dois anos depois começou a pensar engravidar, mesmo sabendo do risco (de vida) para ela e para o bebé. Foi assim que o cardiologista André Monteiro se juntou à equipa que a seguiu. “Sabemos que doentes com a condição da Mariana – um enfarte, uma artéria entupida e com consequências no músculo cardíaco – fazem uma medicação específica. E nesse contexto, uma gravidez acarreta determinados riscos”, explica o cardiologista, que integrou a equipa multidisciplinar da consulta específica para grávidas com patologia cardíaca da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), onde Mariana viria a ser acompanhada ao detalhe, ainda antes de engravidar.

Obstetras, cardiologistas e especialistas em medicina interna formam a equipa que tudo faz “para que os desfechos sejam favoráveis”. Nem sempre acontece. Mas naquele caso, tudo se alinhou. O médico lembra-se bem da determinação de Mariana: “Era uma doente com muita vontade de ser mãe, que apesar de ter tido a infelicidade de um evento cardíaco grave, queria esgotar todas as suas possibilidades para o conseguir. Normalmente o mais fácil (e seguro) é dizer a uma mulher com esta patologia para não engravidar, sobretudo por parte de alguma comunidade médica que não está habituada a lidar com este tipo de problemas”. A equipa começou pela cuidadosa substituição da medicação – que ajudara a recuperar a força do músculo cardíaco, enfraquecida pelo enfarte, mas simultaneamente “tem um risco de malformações fetais”.

“O desafio foi substituir parte dessa medicação por outra, que fosse compatível, e que ao mesmo tempo não descompensasse a situação cardíaca. Ela chegou-nos numa fase pré-concecional [antes de engravidar] e, a partir daí, fomos acompanhado de forma seriada, para evitar riscos de descompensação”, recorda. A equipa esperava por ela todos os meses, às vezes mais do que uma vez, para fazer todos os exames, toda a vigilância. Na fase final, “desenhou” em conjunto todo o planeamento do parto, nessa altura já com outra equipa, a de anestesia de obstetrícia de alto risco, da MAC.

A obstetra
Ana Isabel Machado

“A Mariana foi um caso muito feliz”

Entre os últimos meses de 2019 e os primeiros de 2020, um vírus desconhecido virou do avesso a vida da população mundial. Foi precisamente nessa primavera, a 17 de abril, que nasceu Mateus, filho de Mariana, em pleno confinamento. A obstetra Ana Isabel Machado recupera a ficha da doente para que nada lhe escape, mesmo que nunca mais se esqueça do desafio que aquela gravidez representou. É segunda-feira e está precisamente dedicada à consulta de patologia cardíaca, por forma a trazer ao mundo mais bebés concebidos em alto risco.

Obstetra há 30 anos (quase tantos como os que Mariana tem de vida), foi ela uma espécie de “anjo da guarda” na gravidez de alto risco. O quadro geral aludia ainda a algum aumento dos lípidos (colesterol), obrigando a redobrado controlo. “A Mariana foi um caso muito feliz”, conclui a médica, lembrando o espírito “altamente colaborante, muito consciente, muito determinada a levar a gravidez a bom porto”.

O parto “não tinha indicação para cesariana”. Foi induzido pela equipa na manhã do dia 17, na unidade de cuidados intensivos. “Planeámos um parto vaginal, mas no final, o bebé já não estava a tolerar bem o esforço, e terminou em cesariana”.

O filho
Mateus

Nascer em pandemia, nos cuidados intensivos

“O Mateus foi muito importante na minha rede. Agarrei-me a ele com muita força”. Aos quatro anos, o filho de Mariana entra nesta reportagem com toda a propriedade. Quando a repórter fotográfica pergunta à família “Quem é o primeiro?”, logo ele se levanta. “Sou eu!”, responde prontamente. Podemos dizer que sim. O primeiro em tudo, desde que foi gerado.

Com todas as limitações impostas pela pandemia, Mateus nasceu numa operação duplamente especial, entre distâncias de segurança, máscaras e os cuidados intensivos. Eram 20h27 do dia 17 de abril de 2020, três anos depois do enfarte da mãe.

Chegou ao mundo com 2,925 kg e 49 cm. “Vestiu uma roupa da maternidade… porque eu ia ficar nos cuidados intensivos, a seguir, e ele na enfermaria”, recorda Mariana, sob o olhar desafiador do pequeno Mateus, quatro anos fresquinhos.

O pai e ele só se conheceram dias depois do parto, quando António foi à MAC buscar a mulher e o filho. Mas nem por isso a ligação entre pai e filho saiu comprometida. A família mora agora numa vivenda, com um pequeno jardim onde Mateus não se cansa de treinar os passes que aprende no Hóquei do Sport Alenquer e Benfica, onde já é um mini-atleta. Vive rodeado da magia dos Supa Strikas (os desenhos animados preferidos), e já entende que, por vezes, a mãe está um pouco mais cansada e não pode responder com a mesma energia a todas as tropelias.

Como nunca se concluiu exatamente a causa do enfarte de Mariana, mas é certo que terá uma origem genética, “é provável que tenhamos de seguir o Mateus, também, no futuro, para descartar qualquer problema cardíaco”, sublinha o médico Luís Almeida Morais.

A doente
Mariana Carvalho

“Sei que a minha recuperação nunca será definitiva. É viver com cuidado(s)”

Um cansaço extremo e inexplicável tomou conta de Mariana Carvalho naquela semana que antecedia o desfile de Carnaval do infantário da Santa Casa da Misericórdia de Alenquer, onde já era educadora de infância. Tentava justificá-lo com os preparativos para o evento. Mas na manhã do dia 18 de fevereiro de 2017 acordou cedo e indisposta. Levantou-se, tentou tomar o pequeno-almoço, mas “sentia como que um cordão a apertar-me, à volta do pescoço. Uma dor que irradiava do peito em direção aos ombros. E um mal-estar que foi piorando”. Quando deu entrada no HVFX, ainda julgava que pudesse tratar-se de uma virose.

Já dentro do hospital, andou pelo próprio pé em grandes distâncias, entre serviços e exames, até que o eletrocardiograma deu o alerta: era um enfarte. Só o soube mais tarde, no caminho para o Hospital de Santa Marta, para onde a transferiram. Ela, que nunca tinha entrado numa urgência, que nunca estivera de baixa, que respirava vida e saúde, desafiava a morte, aos 24 anos. Permaneceu nos cuidados intensivos durante uma semana, depois de desobstruída a artéria que ameaçava fazer parar o coração. Voltou para casa, e a partir da cama ou do sofá foi observando como nascia ali uma rede de apoio e amor que nunca mais largou.

Faltam neste retrato de família muitos amigos que a engrandeceram. Prefere não apontar nenhum em particular com medo de se esquecer de outros. “Eu passei tanto tempo em casa, sem poder fazer nada sozinha, que quando finalmente saímos de casa um dia, passados meses, para ir almoçar, ficámos na esplanada do restaurante até à hora de jantar”, recorda. Era um sábado, como aquele em que o coração a traiu. Quando voltou a casa, percebeu como tudo mudara.

Embora tenham passado sete anos, emociona-se amiúde, à medida que vai contando cada pequeno passo da recuperação. “Sei que a minha recuperação nunca será definitiva. É viver com cuidado(s)”. O cansaço é uma nuvem que paira sempre nos dias de Mariana. Mas depois lembra-se de todas as conquistas, do dia em que voltou a tomar banho sozinha. Ou daquele em que se descobriu grávida de Mateus. De quando finalmente o conseguiu ter nos braços. E o coração agiganta-se de coisas boas.

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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