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Ganhando grande protagonismo com a batalha de Bakhmut, Yevgeny Prigozhin anunciou que o grupo Wagner abandonaria a localidade no início de junho de 2023

POOL/AFP via Getty Images

Ganhando grande protagonismo com a batalha de Bakhmut, Yevgeny Prigozhin anunciou que o grupo Wagner abandonaria a localidade no início de junho de 2023

POOL/AFP via Getty Images

O ódio às chefias militares e um mercenário ambicioso: o que se passou para o grupo Wagner começar uma "rebelião armada"?

Críticas de Prigozhin a Ministério da Defesa multiplicaram-se nos últimos meses. Líder do grupo Wagner jogou o tudo ou nada e revoltou-se contra aqueles que vê como adversários — Shoigu e Gerasimov.

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Foi a gota de água num copo que transbordou. Nos últimos meses, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, desdobrou-se em críticas e insultos (e até publicou fotografias com cadáveres) contra o Ministério da Defesa russo, chefiado por Sergei Shoigu, e contra o comandante das tropas russas, Valery Gerasimov. A frustração era visível, mas quase ninguém estava à espera que, esta sexta-feira, a milícia paramilitar decidisse entrar por território russo, num movimento que o Serviço Federal de Segurança equiparou a um apelo à guerra civil.

Na cabeça de Yevgeny Prigozhin, aqueles dois responsáveis militares, em quem o Presidente russo confia quase de olhos fechados, são a causa dos insucessos militares russos na Ucrânia, que, na versão do chefe da milícia paramilitar, já originou a morte a mais de 100 mil pessoas. “Incompetentes”, chegou a descrever o líder do grupo Wagner. Assistindo a este cenário, Vladimir Putin aparentava ignorar o que se passava, nunca se pronunciando sobre a tensão entre as duas fações.

Fundado em 2014 após a anexação da Crimeia, a milícia paramilitar Wagner, que combate em vários pontos de África, nunca se assumiu como braço armado do regime russo. Havia desconfianças, mas nunca comprovadas. Até que, no final de 2022, o grupo armado — considerado uma organização criminosa pelos Estados Unidos — deu um sinal inequívoco de que estaria ligado ao Kremlin ao defender a cidade de Bahkmut.

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“A Noite das Facas Vermelhas”: as horas e movimentações que levaram o grupo Wagner a declarar “guerra” ao exército russo

Foi naquela localidade que se desenvolveu um dos combates mais sangrentos desde que a guerra na Ucrânia começou — e que durou mais de seis meses. Após os desaires das forças armadas russas em Kharkiv e em Kherson, Vladimir Putin permitiu que a milícia paramilitar lutasse em Bahkmut, no rigoroso inverno ucraniano. Apesar da forte resistência de Kiev, o grupo Wagner foi obtendo algumas vitórias — até controlar quase por completo a cidade, em maio de 2023.

Ganhando grande protagonismo com a batalha de Bakhmut, Yevgeny Prigozhin anunciou que o grupo Wagner abandonaria a localidade no início de junho de 2023. Nessa altura, a milícia paramilitar parecia caminhar para a dissolução ou para a integração nas forças armadas russas. Nenhum dos cenários agradava ao mercenário que, durante este mês, intensificou as críticas ao Ministério da Defesa russo. Tanto assim foi que, esta sexta-feira, chegou a colocar em causa as razões invocadas por Vladimir Putin para iniciar a invasão (mas nunca o culpou, antes disse que o Chefe de Estado foi mal informado).

Ciente da animosidade, ainda este mês, Sergei Shoigu tentou absorver a milícia nas forças armadas russas, mas foi confrontado com a esperada oposição cerrada dos mercenários. A situação ficou indefinida durante semanas. Nas últimas horas, Yevgeny Prigozhin tentou elucidá-la e — com 25 mil dos seus mercenários, segundo aquilo que relatou num dos vários áudios divulgados durante esta sexta-feira — entrou território russo adentro. “Estamos prontos para lutar e para morrer”, anunciou.

epa10296353 A handout still image taken from a handout video provided by the Russian Defence ministry press-service shows Russia's Defence Minister Sergei Shoigu listens to a report of the General of the Army Sergei Surovikin, commander of the joint group of troops in the area of ​​the special military operation, about situation in Kherson region, in Moscow, Russia, 09 November 2022. The Russian military will transfer their units to the left bank of the Dnieper river, General of the Army Sergei Surovikin, commander of the joint group of troops in the area of ​​the special military operation, said while reporting to Russian Defense Minister Sergei Shoigu. 'Comprehensively assessing the current situation, it is proposed to take up defense along the left bank of the Dnieper River. I understand that this is a very difficult decision,' Surovikin said.  EPA/RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE / HANDOUT  HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

Sergei Shoigu tentou absorver grupo Wagner nas tropas russas

RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE / HANDOUT/EPA

A substituição do aliado de Prigozhin que motivou as críticas

No final de 2022, surgiram os primeiros rumores que o grupo paramilitar Wagner começaria a combater em Bakhmut, algo que se veio a confirmar mais tarde. Inicialmente, parecia haver uma certa sintonia entre o comando militar e os mercenários — afinal, Sergey Surovikin, o antigo comandante das tropas russas na Ucrânia, era um dos aliados de Yevgeny Prigozhin, que mantinha, ainda assim,  tensões com Sergei Shoigu.

Tudo mudou no início de 2023. Com o objetivo de melhorar o comando e controlo das forças armadas russas e após os falhanços em Kherson, Vladimir Putin decide substituir Sergey Surovikin no cargo por Valery Gerasimov, que já então era chefe do Estado Maior das Forças Armadas Russas. A partir daqui, a atmosfera alterou-se e aumentou a tensão — mais ainda.

Yevgeny Prigozhin estava a tornar-se uma espécie de celebridade de guerra com uma grande base de apoiantes nas redes sociais, onde partilhava as atualizações na linha da frente. Em declarações ao Observador no passado mês de janeiro, Dmitry Gorenburg, especialista na área da política russa no David Center pertencente à Universidade de Harvard, notava que existiam esforços de Yevgeny Prigozhin para “aumentar a sua influência e o seu estatuto dentro do círculo restrito de Putin”.

“Quer poder e influência.” Com a hipótese de Putin ficar fora de cena, poderá o líder do grupo Wagner tornar-se o seu sucessor?

Aliás, a tese de que o líder do grupo Wagner queria aspirar a uma carreira política ganhou mais credibilidade na altura. Falava-se mesmo na hipótese de que Yevgeny Prigozhin desejava suceder a Vladimir Putin, ainda que o líder do grupo Wagner tivesse rejeitado esse cenário em várias entrevistas. Ainda assim, o cargo que talvez o mercenário mais almejaria era de o ministro da Defesa da Rússia — e isso justificaria as desavenças com Sergei Shoigu.

Ora, a decisão de Vladimir Putin em nomear Valery Gerasimov, um aliado de Sergei Shoigu, foi encarado como  uma forma de esvaziar as aspirações políticas e o papel do chefe do grupo Wagner na guerra. A reação de Yevgeny Prigozhin não tardou, atacando a “luta entre ramos, burocracia, corrupção e dirigentes políticos que se querem manter no lugar” nas forças armadas — numa crítica destinado ao seu maior adversário.

Numa verdadeira luta pelo poder, o Presidente russo privilegiou a fação do Ministério da Defesa. Em parte, a decisão teve como objetivo centralizar a hierarquia militar russa na tutela que tem como responsabilidade geri-la. Mas também foi, de acordo a visão do Instituto do Estudo da Guerra num relatório de janeiro, “para dar um sinal — quer internacional, quer domesticamente — que o Kremlin continua dedicado a manter as mesmas estruturas de poder do Ministério da Defesa russo.”

A guerra dentro da guerra: Putin tira o tapete a Prigozhin e diminui “protagonismo” do grupo Wagner na Ucrânia (e do seu rival no futuro)

O relatório foi ainda mais longe e defendeu mesmo que a remodelação nas altas patentes das Forças Armadas da Rússia era um “gesto político” para “fortalecer o Ministério da Defesa russo dos desafios dos bloggers russos e de outros críticos, como o financiador do grupo Wagner Yevgeny Prigozhin”. 

A batalha de Bakhmut e o seu fim

Depois desta remodelação, Yevgeny Prigozhin foi ainda mais vocal nas críticas endereçadas ao ministério da Defesa. Ao longo dos meses, o conflito na localidade de Bakhmut foi evoluindo favoravelmente para o lado das milícias paramilitares — e, por conseguinte, para a Rússia —, mas havia sempre um clima de guerra interna entre os mercenários e as chefias militares de Moscovo.

Um dos episódios que mais marcou as relações entre as duas fações teve a ver com a suposta falta de munições. Num vídeo publicado nas redes sociais no final de abril, o líder do grupo Wagner acusou o Ministério da Defesa de não fornecer equipamentos para que os mercenários combatessem. Yevgeny Prigozhin chegou mesmo a ameaçar que abandonaria Bakhmut caso Sergei Shoigu não aceitasse enviar munições para a linha da frente. O ministro terá cedido — pelo menos, as queixas do chefe paramilitar diminuíram de tom.

Quinze dias depois deste episódio, Yevgeny Prigozhin anunciava que Bakhmut fora conquistada pelo grupo Wagner, adiantando que abandonaria a localidade nos dias seguintes. As forças armadas russas confirmaram a informação, passando a estar encarregadas de proteger a cidade, missão que o chefe paramilitar indicou ter várias dúvidas que será bem sucedida.

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O grupo Wagner em Bakhmut

Getty Images

Terminada aquela que foi uma das batalhas mais longa da guerra, o chefe da milícia paramilitar anunciou que os seus mercenários não iam combater, pelo menos nos próximos tempos, e saíam da linha da frente. Ao mesmo tempo, a Rússia tentava incluir nas suas tropas o grupo Wagner, ainda que sem sucesso.

O Presidente russo, a única voz que Yevgeny Prigozhin parecia confiar, insistiu na necessidade de os mercenários se juntarem às tropas russas, argumentando com os benefícios que passariam a usufruir. Mas o chefe paramilitar voltou a rejeitar. “Quando a pátria estava com problemas, quando era necessária a ajuda do Wagner e fomos todos defendê-la, o Presidente prometeu-nos todas as garantias sociais”, lembrou , ironizando que igualmente registou “20 mil mortos”. “Eles deveriam também assinar um contrato com o Ministério da Defesa?”, questionou.

O pós-Bakhmut até dia 23 de junho

Nas semanas que se seguiram à retirada de Bakhmut, Yevgeny Prigozhin não se remeteu ao silêncio. Muito pelo contrário. Começou a criticar o facto de as tropas russas terem deixado de controlar algumas zonas da cidade onde lutou durante meses e, depois, relativamente à contraofensiva ucraniana, considerava que os balanços das enormes perdas ucranianas reivindicadas pela Rússia eram “fantasias”.

Na passada quarta-feira, Yevgeny Prigozhin desmentiu os alegados sucessos da Rússia em suster a contraofensiva ucraniana. “Bocados enormes do território foram entregues de mão beijada ao inimigo, [e] tudo isto está a ser totalmente escondido de toda a gente”, declarou o líder dos Wagner. “Um dia a Rússia vai acordar e descobrir que a Crimeia também foi entregue à Ucrânia”, ironizou.

Líder do grupo Wagner contradiz Putin sobre contraofensiva. “Até a Crimeia” está em risco

Horas antes de entrar em território russo adentro, o líder do grupo Wagner colocou um vídeo, em que falava durante 30 minutos sobre o estado do conflito da Ucrânia. Nunca culpabilizando Vladimir Putin, Yevgeny Prigozhin acusou o Ministério da Defesa de “mentir” à população. A guerra, reforça, não começou devido a uma ameaça de invasão da Ucrânia e da NATO, mas sim “para que um grupo de canalhas triunfassem e mostrassem a força do seu exército, para que Shoigu subisse a Marechal”.

“Para a vitória da Rússia é preciso parar de mentir, de roubar, de parar de pensar apenas em si mesmos e no seu bem-estar e nos seus lugares, mas pensar nos soldados e nas suas vidas”, declarava ainda o chefe paramilitar russo.

Por volta das 19h00 em Lisboa (mais duas horas em Moscovo), surgia as primeiras notícias de que um campo militar dos Wagner teria sido atacado pelo ministério da Defesa. Minutos depois, Yevgeny Prigozhin declarou o início de uma insurreição contra as chefias militares russas, se bem que ressalvasse que não queria alterar a presidência. Certo é que o poder de Vladimir Putin está este sábado mais frágil — e o líder do grupo Wagner pode ficar numa posição muito confortável, se obtiver uma vitória do que diz ser uma “marcha pela justiça”, ou perder tudo, arricando-se numa pena de prisão até 20 anos por “rebelião armada”.

 
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