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Raimundo é funcionário do partido há décadas, mas estreou-se nesta edição como secretário-geral
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Raimundo é funcionário do partido há décadas, mas estreou-se nesta edição como secretário-geral

LUSA

Raimundo é funcionário do partido há décadas, mas estreou-se nesta edição como secretário-geral

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O partido esperava um João. Agora, Raimundo precisa de acelerar para chegar à "pedalada" de Jerónimo

Na Festa do Avante, simpatizantes e militantes falam em novo líder "proletário" e do "povo", mas com dificuldades em ocupar lugar de Jerónimo. Muitos ficaram surpreendidos com escolha.

A passagem pela Festa do Avante e pelas suas “barraquinhas de licores” no ano passado foi tão boa que este ano Maria Encarnação, de 71 anos, e a irmã quiseram voltar. Há algumas coisas que mudaram desde essa altura: as duas irmãs, que vêm do Algarve numa excursão da junta de freguesia, não encontram a tal barraquinha (“sabe se mudou de lugar ou se já não existe?”). E também mudou, é claro, o líder do partido, cuja cara aparece agora nos ecrãs do palco principal da Festa, a minutos de começar o comício de encerramento, protagonizado pela primeira vez por Paulo Raimundo.

“A gente estava habituada a ouvir o Jerónimo, que já tinha calo, pedalada… Para chegar ao nível do Jerónimo não sei se haverá alguém. A ele custou-lhe chegar ao nível do [Álvaro] Cunhal, e este não sei se consegue chegar ao dele”, dispara Maria Conceição. Vai partilhando com a irmã um pacote de suspiros “secos” – falta o licor a regá-los – e, à conversa com o Observador, explica as comparações que faz entre os líderes comunistas.

“Em termos de mensagem os outros eram melhores a passá-la para o público…”, lamenta Maria Encarnação, cujas explicações são pontuadas por exclamações da irmã (“Era o carisma, era a presença do Jerónimo”). Não que tenham alguma coisa contra Raimundo: “Não é que seja má pessoa”, apressa-se a garantir, enquanto a irmã explica que já leu “um bocadinho do currículo dele” e pôde constatar que Raimundo, que não conheciam até ser anunciado como substituto de Jerónimo de Sousa, “tem andado na luta”.

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É uma avaliação frequente: de facto, o novo secretário-geral do PCP era pouco ou nada conhecido fora do partido, embora por dentro já fosse uma figura muito relevante – era funcionário comunista há décadas e já desempenhara as mais variadas funções dentro do partido, tendo sido responsável por distritais e pelas ligações a sindicatos de várias áreas, assim como a movimentos sociais de fora do PCP.

Quando Maria Encarnação diz que Raimundo “não é má pessoa” mas tem em mãos uma missão difícil – ocupar o lugar que o acarinhado Jerónimo desempenhou durante quase vinte anos, tornando-se uma figura de grande notoriedade e um símbolo para o PCP – está a fazer eco de muitas das opiniões que o Observador foi ouvindo, entre simpatizantes e militantes do PCP, na Quinta da Atalaia.

Que Raimundo – o primeiro nome é Paulo, embora haja quem se engane e lhe chame “Pedro” – parece um homem sério, íntegro e trabalhador, como mais um homem “do povo”, os frequentadores da Festa não parecem ter dúvidas. Falta-lhe o resto: aparecer, ganhar uma notoriedade que lhe permita destacar-se enquanto líder e impor-se, deixando de ser conhecido e acarinhado apenas no PCP para passar ao país, com provas eleitorais difíceis (a começar pela Madeira, este mês, e as europeias, no próximo ano) em vista.

Um líder “proletário” num partido que esperava um João

O problema também é provocado pela comunicação social, queixa-se, num banco de jardim ali próximo, Rosa Costa, de 72 anos, que é militante desde 1976 e anda a mostrar a Festa a uma amiga estreante. “Nunca vejo o PCP na televisão. Quando dá alguém do partido é dois minutos ou menos, até ficam com a frase ainda na boca…”.

É uma das explicações avançadas para a ainda pouca notoriedade de Raimundo, mas o que é certo é que Rosa também tem as suas dúvidas sobre o novo líder. “Para mim tanto me vale ser o Paulo Raimundo como outro. Mas uma coisa é certa: gostaria mesmo de que fosse o João Ferreira ou o João Oliveira. Raimundo é uma pessoa sociável, mas acho que o Oliveira ou o Ferreira são homens de maior garra nos discursos”.

João Oliveira e João Ferreira, ambos dirigentes do partido, faziam há anos parte do lote de nomes cimeiros do PCP e das bolsas de apostas para a sucessão de Jerónimo. Mas o partido fez as coisas à sua maneira e preferiu escolher o discreto dirigente de topo Raimundo, que pouco aparecia na televisão ou em intervenções públicas do partido.

A explicação que corria no PCP, e que é agora replicada por alguns militantes, é que se trata de um homem comum, a quem o partido paga pouco mais do que o salário mínimo – numa das primeiras entrevistas que deu, Raimundo dizia estar “de coração nas mãos” por causa da evolução do seu crédito à Habitação – e que está próximo da realidade dos trabalhadores que atravessam dificuldades.

Raimundo ladeado por dirigentes de topo do PCP

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Um pouco por toda a Quinta da Atalaia, seja no espaço internacional com mensagens de “paz” e promessas de “caipirinha revolucionária” a três euros seja por entre as bancas que vendem choco frito, o Observador ouve a mesma avaliação. “É mais um proletário, não há grande distanciamento das massas. Um tipo do povo”, resume um militante de 50 anos que se identifica apenas como João.

“Vejo-o mais um par para a sociedade, para os trabalhadores”, explica Francisco Navais, de 21 anos, logo acrescentando que uma missão como “ocupar o lugar de Jerónimo” é sempre difícil. Ao lado, Joana Batista, de 22 anos, fala na impressão positiva de alguém “profissional e íntegro” e explica a razão para verem Raimundo como um “par”: “o Jerónimo tinha um carisma diferente, muito paternal”. Ambos são simpatizantes do PCP e também simpatizam com o novo líder.

Já Rosa Costa, que conhece bem o partido – o marido era dirigente no Porto, a filha é funcionária – diz que os familiares que conhecem Raimundo “falam bem” do líder novo, contam-lhe que é uma pessoa que “fala bem para os trabalhadores” e “defende bem” a ideologia comunista. Só lhe falta a garra dos Joões mais conhecidos do PCP, mas de qualquer forma deseja que Raimundo se consiga impor – especialmente ao Governo “do partido do Mário Soares”, diz, abanando a cabeça.

“Pedro” Raimundo e o problema da guerra

A amiga de Joana Almeida, que nas orelhas traz dois brincos em forma de cravo, ouve a pergunta do Observador e aponta: “É para falar sobre o Pedro Raimundo”. “Não é Pedro, é Paulo”, responde Joana, indicada pelas amigas como a mais qualificada para responder a questões sobre o partido com que “simpatiza”.

A confusão da amiga pode dever-se ao facto de não ser assim tão ligada ao PCP – está a estrear-se na Festa este ano –, ou talvez tenha a ver com a ainda reduzida notoriedade do novo secretário-geral. Joana, enfermeira de 34 anos, é outra das pessoas que “estavam a contar que fosse o João Oliveira ou o João Ferreira”, mas acredita que quando se “pára para ouvir” Raimundo o secretário-geral transmite “calma e clareza”. 

Essa clareza é bem vinda: “Às vezes o PCP pode ser mal interpretado… ou não tem capacidade para explicar o que defende”, assume, recusando que o comunismo seja “um bicho papão” – pelo menos no caso português.

O problema principal nesta altura, vão defendendo militantes e simpatizantes, passa por explicar a posição do partido quanto à guerra – é compreendida dentro de portas, mas não tanto fora, embora o partido tenha esperança de que o cansaço da guerra e dos seus efeitos (aumento da inflação à cabeça) faça com que a sua posição ganhe terreno (na Quinta da Atalaia, Raimundo disse acreditar que se tornará “maioritária”).

Paulo Raimundo diz que posição do PCP sobre a guerra está a “ganhar espaço” e vai ser “maioritária”

“Quem achar que o comunismo é um bicho papão diz logo que eles branqueiam a Rússia… Podiam ser muito mais claros. O que eles dizem é que há um psicopata na Rússia, mas há todo um caminho para ativar a cabeça desse psicopata…”, explica Joana.

Um caminho, acredita o PCP, que foi trilhado pela NATO e pelos sucessivos alargamentos das suas fronteiras. Este ano, o partido só organizou um debate sobre o assunto — ao contrário do que aconteceu na edição anterior — embora no recinto se encontrasse um “espaço da paz”, que vendia rifas da paz por camisolas e pins em defesa da Venezuela ou da Palestina, e os habituais murais com pombas brancas e mensagens contra o “militarismo” e a “confrontação”.

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É uma das posições difíceis que ficam agora a cargo de Raimundo, o líder “do povo” que quem frequenta a Festa do Avante vê com dificuldades em ganhar terreno para o PCP. Podia ser pior: enquanto Maria Encarnação fala com a irmã, esta lembra-lhe que na sua avaliação dos líderes comunistas ficou por referir Carlos Carvalhas, que não coloca no ranking dos mais marcantes. A esperança do PCP é que o tempo prove que Raimundo joga nesse campeonato.

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