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O PISA é fácil ou difícil? Pusemos à prova um humorista, uma deputada e um jornalista

Tiago Dores, Ana Rita Bessa e José Manuel Fernandes responderam a 14 perguntas, todas de escolha múltipla e sem limite de tempo. Nem todos tiveram “Excelente”.

Se a preparação para um teste se medir pelo nível de nervosismo à entrada para a sala, é justo dizer que dois terços da turma nem devem ter passado os olhos pelos livros. É certo que, neste caso, dois terços são apenas duas pessoas, que esta turma só se fez com três. Ainda assim, à chegada ao Observador, Ana Rita Bessa e Tiago Dores não têm como esconder que estão preocupados. “Não faço um teste há anos!”, repete o humorista, que preferia que as perguntas fossem mais sobre ciência e matemática e menos exercícios de leitura — como, lamentavelmente, são.

O mesmo diz a deputada, coordenadora do CDS na Comissão Parlamentar de Educação, para quem nem o facto de ter tido sempre “a sorte de ser boa aluna” chega para deixar de temer o embaraço, até porque — confirma-se — confessa que não estudou (e até repetiu um clássico desesperado de véspera de teste: “Eu só precisava de mais dois dias!”), além de saber que há alguém muito mais atento que nós: “Preciso de dar um bom exemplo aos meus filhos, por isso, isto tem de correr bem”.

Só José Manuel Fernandes parece nem estar a pensar no assunto. “Se estou nervoso? Nervoso, nervoso, não.”

Talvez faça sentido deixar já uma garantia: o facto de o jornalista ser também publisher do Observador não lhe deu direito a qualquer ajuda ou vantagem em relação aos colegas que também aceitaram responder ao teste preparado com algumas das perguntas do PISA 2018. Os três tiveram mesmo de responder a 14 questões de escolha múltipla (a que também pode responder aqui), retiradas de dois dos cenários do Programa Internacional de Avaliação de Alunos mais recente, cujos resultados foram conhecidos esta terça-feira, e sem qualquer limite de tempo — uma vantagem em relação aos 600 mil alunos portugueses de 15 anos que responderam ao teste integral. Em relação a estes, houve diferenças também na forma: enquanto que os estudantes responderam ao teste informatizado num computador, humorista, deputada e jornalista só encontraram na mesa quatro folhas de papel, impressas dos dois lados, e uma esferográfica azul.

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As respostas também foram corrigidas sem automatismos, mas, para algumas, teria sido necessária uma caneta vermelha. É que, nervosismos à parte, o teste não correu muito bem a todos e houve quem não passasse de um ‘Bom menos’.

“Isto terá rasteiras?”

A primeira surpresa para quase todos foi a mancha de texto que ocupava a primeira página do teste, antes mesmo de qualquer pergunta. Ao longo de todo o exercício — com questões selecionadas do cenário “Rapa Nui”, que foi colocado aos alunos, e do cenário “Cow’s Milk” (“Leite de Vaca”), que foi usado antes apenas para validação dos vários países —, a lógica é sempre a mesma: a quem faz um teste é pedido que leia um texto  — uma entrada de um blog, um comunicado, uma crítica de livro — e depois responda a perguntas sobre o que acabou de ler.

O que se esperava era que os alunos fossem capazes de ler e compreender o que leram, para poderem responder a perguntas sobre o conteúdo, mas também sobre a entrelinhas. Determinadas afirmações eram factos ou opiniões? Ana Rita Bessa destaca o facto de essa ser uma das tarefas colocadas aos alunos, por considerar muito relevante que isso seja treinado numa idade em que a exposição à informação, sobretudo online, pode tornar essas diferenças menos claras: “Depende sempre da fonte de onde vem”, lembra a deputada, “e, às vezes, não é evidente”.

"Certamente não será tudo, mas [seria pior] se não tivéssemos instrumentos para medir como estamos a trabalhar. Acho fundamental perceber o que se está a fazer".
Tiago Dores, humorista

Provavelmente por “deformação” profissional, já que a palavra é instrumento de trabalho no Parlamento, Ana Rita Bessa vê na lógica de apenas ter de procurar e compreender a informação de forma correta o principal fator distintivo de um teste como este, a que alunos de todo o mundo são sujeitos: “A desconversa, às vezes não intencional, a incapacidade de estarmos a falar da mesma coisa, de não nos compreendermos, é um entrave enorme a chegarmos a conclusões úteis e, portanto, acho muito importante que se trabalhe com os alunos a compreensão do que está realmente a está a ser dito. Mesmo para desconversar, eu tenho de saber qual é o facto, qual é a conversa.”

“Eh pá, estas são tramadas…” Tiago Dores ainda não chegou às perguntas sobre facto e opinião, mas o teste, até agora, parece, pelo menos, estar a ser divertido. As primeiras questões estão relacionadas com o desaparecimento de plantas e grandes árvores de Rapa Nui, também conhecida como ilha de Páscoa? “Eia, pá! Afinal a culpa foi do rato… sacana do rato da Polinésia!”

"A desconversa, às vezes não intencional, a incapacidade de estarmos a falar da mesma coisa, de não nos compreendermos, é um entrave enorme a chegarmos a conclusões úteis e, portanto, acho muito importante que se trabalhe com os alunos a compreensão do que está realmente a está a ser dito."
Ana Rita Bessa, deputada do CDS

O humorista, que garante que “esta descontração nunca esteve presente” nos exames que fez durante os tempos de estudante, admite que o teste, “com as hormonas dos 15 anos aos saltos” será “com certeza mais difícil” para os alunos que tiveram de o fazer, mas admite que não encontra ali grandes dificuldades. “Se isto fosse uma coisa de interpretação literária, Fernando Pessoa, ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’…”

Ainda assim, concorda com rankings como os que saem do PISA e com testes como estes: “Certamente não será tudo, mas [seria pior] se não tivéssemos instrumentos para medir como estamos a trabalhar. Acho fundamental perceber o que se está a fazer”.

“Eu digo sempre isto aos meus filhos e já estava a fazer mal…”

A forma como as questões estão colocadas também não é uma coincidência. Aos alunos é pedido que consultem textos de fontes diferentes, com referências a pesquisas na internet, a partir dos seus smartphones. Ainda assim, mais uma vez, o segredo está na atenção com que todos os textos são lidos. Mesmo todos: entre os três “alunos” convidados pelo Observador, houve quem tivesse um X a vermelho numa questão por não ter lido, logo acima, que devia escolher apenas uma das hipóteses apresentadas — e não três, como foi o caso.

“O truque é ler bem”, diz José Manuel Fernandes enquanto preenche a prova, algo que Ana Rita Bessa chegou a confessar que, a dada altura, quase não fazia: “Eu digo sempre isto aos meus filhos e já estava a fazer mal: ‘Filhos, têm de ler sempre as perguntas!'”.

"Hoje em dia, uma das coisas mais difíceis, sobretudo nas pessoas mais novas, é a concentração. Disseste que eu estava aqui há 20 minutos e eu não tinha noção de que tinha estado aqui tanto tempo. E o tempo que dizem que as pessoas estão concentradas, nestes dias, é muito, muito menos."
José Manuel Fernandes, jornalista

Para não se distrair, a deputada chegou até a usar o truque de ir sublinhando o mais importante — “um karma” que, explica, “vem de ser boa aluna”, e que faz com que os livros lá em casa — “até os de ficção” — tenham tudo menos um aspeto novo.

Tiago Dores também optou por sublinhar um dos textos, José Manuel Fernandes deixou o enunciado quase intocado, mas ambos terminaram mais ou menos no mesmo espaço de tempo. Muito depressa? Um surpresa para o jornalista, que não deu pelo avançar do relógio e lembra que, hoje em dia, sobretudo para os jovens, não é fácil ficar focado mais do que 5, 10 ou 15 minutos. “Disseste que eu estava aqui há 20 minutos e eu não tinha noção que tinha estado aqui tanto tempo”, confessa, apontando uma possível dificuldade para quem faz o teste: “O tempo que dizem que as pessoas estão concentradas nestes dias é muito, muito menos”.

Com concentração, ainda assim, José Manuel Fernandes diz que basta “ler os textos para responder às perguntas”, que não são muito complicadas. “Não sei se respondi bem ou não, se me enganei nalguma, mas…”

Essa pergunta ficará sem resposta. Tal como no PISA, aqui ficam apenas dados estatísticos. A média desta turma foi de 83,3%. O “aluno” com mais falhas errou quatro perguntas, no conjunto das 14.

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