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Cristiano Ronaldo is Officially Unveiled as Al Nassr Player
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Ronaldo na apresentação no Al Nassr.

Getty Images

Ronaldo na apresentação no Al Nassr.

Getty Images

O que vai encontrar Cristiano Ronaldo no campeonato saudita? "É impossível dizer que as condições são iguais às da Europa"

O Observador ouviu o jogador português Fábio Martins, e o treinador-adjunto do Al Hilal Paulo Nunes, para analisar o campeonato onde até os jovens adeptos dos rivais querem camisolas de CR7.

O destino escolhido por Cristiano Ronaldo para dar novo rumo à carreira não está no centro das atenções como os grandes palcos do futebol Mundial. O Al Nassr preparou uma vistosa cerimónia de apresentação para o internacional português. No dia anterior, o Al Hilal colocou à venda camisolas do clube com o nome de Messi. Para quem não saiba, o Al Hilal é um dos rivais do Al Nassr, ambos clubes de Riade. “A Arábia Saudita tem muitos fãs do Cristiano Ronaldo e também do Messi. Ouvi muitos jovens, que ainda não têm o sentido clubístico dos mais velhos, dizerem que gostavam muito do Al Hilal, mas que gostam tanto ou ainda mais do Cristiano Ronaldo e, por isso, não descansavam enquanto não tivessem uma camisola do português, mesmo que fosse do Al Nassr”, relata o treinador-adjunto português do Al Hilal, Paulo Nunes.

“Viram-se por toda a cidade painéis eletrónicos com publicidade sobre a vinda do Ronaldo, o que é muito bom para o país e em particular para o desenvolvimento do futebol”, descreve o técnico. A 500 quilómetros de Riade, em Saihat, Fábio Martins desfaz as malas. Aterrou na Arábia Saudita nos dias em que o país já se agitava com a chegada de Ronaldo para viver a sua segunda experiência em solo saudita, depois de, no ano de 2020/21, ter atuado no Al-Shabab. O atual clube do jogador português de 29 anos, o Al Khaleej, jogou contra o Al Nassr no dia 31 de dezembro de 2022. O antigo jogador de, entre outros clubes do futebol português, Braga e Famalicão ainda não estava em condições de jogar. Agora Fábio Martins já conta os dias para defrontar Cristiano Ronaldo. “Temos o jogo da segunda volta no dia 9 de maio. Já estive a ver o calendário. Não é para todos jogar contra o Cristiano. Estou muito entusiasmado. Vou tentar sacar a camisolinha para a minha coleção”.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a ida de Ronaldo para o Al-Nassr.

O que ganha Ronaldo com ida para o Al-Nassr?

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De português para português, de jogador para jogador, Fábio Martins deixa um conselho a Cristiano Ronaldo na sua adaptação à Arábia Saudita: “Cuidado na estrada”. O conselho resulta da experiência acumulada pelo extremo. “É muito complicado conduzir, não há regras, não há leis. É a lei do mais forte, é a lei do que chega primeiro, é uma loucura na estrada. Não é à toa que a maior causa de morte aqui são os acidentes de trânsito. Temos que andar sempre com mil olhos”.

Fábio já está habituado ao estilo de vida saudita, mas não se esquece do choque cultural que teve no primeiro contacto com o país. “Os sauditas rezam cinco vezes por dia e, durante essas rezas, que duram, normalmente, entre 20 e 25 minutos, eles param tudo. Imagina, estás dentro de um shopping e começa a reza. As lojas fecham”.

O campeonato saudita

Do ponto de vista desportivo, os dois portugueses admitem que o campeonato saudita tem particularidades. “Tens ali quatro equipas que normalmente lutam pelo título. O Al Hilal, o Al Nassr, o Al-Shabab e o Al-Ittihad Jeddah são as equipas mais organizadas. Depois, todas as outras estão ali muito juntas. Não há grande diferença entre as outras equipas”, aponta Fábio Martins. Paulo Nunes acompanha a opinião. “É um campeonato, ao contrário do que pensava, competitivo. Mesmo para os principais candidatos, não é fácil manter níveis de desempenho equilibrados durante vários jogos”, onde marcam presença “muitos espetadores, muitos mesmo”.

Os clássicos do campeonato disputam-se entre as equipas de Riade, o Al Hilal, o Al Nassr, o Al-Shabab, e entre as equipas de Jeddah, o Al-Ittihad e o Al-Ahli, sendo que, na temporada passada, 2021/22, devido a problemas de financiamento que se refletiram na política desportiva e nos resultados, o Al-Ahli acabou por descer de divisão. Entre as equipas de Riade e Jeddah, por se tratarem das duas maiores cidades, o ambiente quente — não só o do ar, mas entre os adeptos — também se faz sentir.

O atleta do Al Khaleej diz que “a liga tem qualidade. Há muitos jogadores com qualidade. Não só os estrangeiros, mas também há muitos árabes com qualidade, como, aliás, deu para ver no Mundial com a seleção da Arábia Saudita a surpreender a Argentina e a fazer bons jogos”.  No entanto, “a nível tático, não é tão rico como o futebol na Europa. É um bocadinho um caos. A partir dos 60, 65 minutos, os jogos partem-se completamente, ou seja, fica um jogo de muitas transições. São jogos equilibrados, não consegues prever o resultado. O primeiro vai jogar contra o último e não é vitória garantida. São jogos sempre complicados e equilibrados”.

No que diz respeito à nova equipa de Cristiano Ronaldo, o Al Nassr é o segundo maior clube da Arábia Saudita. Já conquistou a Liga Saudita em oito ocasiões, mas atravessa uma sequência de três épocas sem levantar o troféu. Atualmente, o treinador da equipa é Rudi Garcia, mas no comando técnico já estiveram portugueses como Hélder Cristóvão, Rui Vitória ou Pedro Emanuel.

"Ouvi muitos jovens dizerem que gostavam muito do Al Hilal, mas que gostam tanto ou ainda mais do Cristiano Ronaldo e não descansavam enquanto não tivessem uma camisola do português, mesmo que fosse do Al Nassr"
Paulo Nunes

Fábio Martins assume a posição de que “é impossível dizer que as condições na Arábia Saudita são iguais às da Europa” e, por isso, “é curioso o Ronaldo ter vindo para a Arábia Saudita depois de, há umas semanas, ter dito que ficou desiludido com as condições do Manchester United. As condições que ele vai encontrar não vão ser iguais às que tinha em Manchester e que ele se queixava”. O extremo afirma que, no geral, as equipas do país do Médio Oriente “facilitam aqui um bocadinho” em alguns aspetos. “É importante teres um bom relvado, um bom departamento médico, relvado para treinares e para jogares ser top…”.

Com 11 jogos disputados, o Al-Nassr lidera a Liga Saudita com 26 pontos, fruto de oito vitórias, dois empates e uma derrota (diante do Al Taawon). A nova equipa de Ronaldo está um ponto à frente do Al-Shabab e a dois do Al-Ittihad Jeddah que fecha o pódio por agora. Inesperadamente, o Al Hilal, a equipa mais titulada do país com 18 campeonatos conquistados, encontra-se no quinto lugar.

Os nomes mais sonantes do plantel são Vincent Aboubakar e Anderson Talisca, jogadores que estiveram no FC Porto e no Benfica, respetivamente. No entanto, as ligações aos futebol nacional não se ficam por aí. Também o defesa-esquerdo, Ghislain Konan, realizou três épocas no Vitória SC, de Guimarães. Ao nível dos jogadores estrangeiros, o Al-Nassr conta com David Ospina (ex-Arsenal e Nápoles), Luiz Gustavo (ex-Bayen Munique, Marselha, Wolsburgo e Fenerbahçe), Álvaro González (ex-Marselha e Villarreal) Pity Martínez (internacional pela Argentina) e Masharipov (internacional pelo Usbequistão). No que diz respeito aos jogadores locais, de destacar Sultan Al-Ghanam, um dos seis jogadores do Al-Nassr que o selecionador da Arábia Saudita, Hervé Renard, chamou para o Mundial do Qatar.

Além dos oito títulos de campeão nacional, o Al-Nassr tem no seu palmarés três Taças da Arábia Saudita e duas Supertaças. A equipa nunca conseguiu vencer a Liga dos Campeões da Ásia.

O estádio onde o Al-Nassr disputa os jogos em casa é o Mrsool Par, com capacidade para 25 mil pessoas e localiza-se mesmo em Riade.

As estrelas da liga saudita

A chegada de Cristiano Ronaldo coloca o jogador português diretamente no topo dos jogadores de referência do campeonato do país do Médio Oriente, tal a distância a que o capitão da seleção nacional se encontra dos restantes concorrentes ao nível de experiência, palmarés e estatuto. É nesta lógica que o primeiro nome a colocar na lista de jogadores a ter em conta na competição é… Odion Ighalo. O avançado também tem, tal como Ronaldo, passado no Manchester United naquela que foi a sua segunda experiência em Inglaterra depois de se ter destacado no Watford. Ighalo já jogou em duas equipas sauditas, no Al-Shabab e, atualmente, no Al Hilal. Na temporada passada, o nigeriano foi o melhor marcador do campeonato, com 24 golos apontados ao serviço dos dois clubes. Esta temporada, no Al Hilal, o jogador de 33 anos leva já 7 golos no campeonato.

Só que Ronaldo não veio só arrebatar o protagonismo na Liga Saudita, mas também no seio na própria equipa passou a ocupar um lugar de destaque. No Al-Nassr, Anderson Talisca é o jogador em melhor forma. Com 9 golos no campeonato, o brasileiro que passou no Benfica é o melhor marcador do campeonato.

O campeonato da Arábia Saudita tem uma limitação de sete jogadores estrangeiros. Dessa forma, para Fábio Martins, os jogadores locais são importantes. “O que faz mais diferença é teres os melhores árabes, porque estrangeiros todos vão ter e vão conseguir contratar. As equipas que têm os melhores árabes são as equipas que conseguem ter mais qualidade no grupo”.

Em termos dos jogadores sauditas, Salem Al Dawsari tem sido atleta mais badalado e para o jogador português “é o melhor saudita, um extremo muito bom”. O atacante joga no Al Hilal e deu nas vistas no Mundial 2022 ao marcar dois golos na fase de grupos da prova. Yasser Al Shahrani também deu nas vista no Qatar após ter saído lesionado após um choque com o seu próprio guarda-redes, o que o impossibilitou de fazer mais minutos na prova. Ainda assim, o jogador, também ele do Al Hilal, é um dos mais internacionais de sempre pela Arábia Saudita. No que toca a jovens, Firas Al-Buraikan, de 22 anos, do Al Fateh, é o jogador a seguir.

Outros nomes de relevo do futebol internacional que atuam na Arábia Saudita são Éver Banega, Grzegorz Krychowiak, Santi Mina, Romarinho ou Robin Quaison aos quais se juntam jogadores portugueses ou com passado e em Portugal, como Fábio Martins (Al Khaleej), Matheus Pereira (Al Hilal), Hélder Costa (Al-Ittihad Jeddah), Gerson Rodrigues (Al-Wehda) e Alfa Semedo (Al-Tai).

"É curioso o Ronaldo ter vindo para a Arábia Saudita depois de, há umas semanas, ter dito que ficou desiludido com as condições do Manchester United".
Fábio Martins

Fábio Martins regressou ao país em janeiro para jogar no Al Khaleej, mas trata-se de um regresso visto que o jogador formado no FC Porto já tinha estado na Arábia Saudita, ao serviço do Al-Shabab, na época 2020/21. Matheus Pereira está na segunda época no Al Hilal e tem-se evidenciado no capítulo das assistências, sendo que, na primeira temporada no país, realizou 15. Apesar de continuar vinculado ao Leeds United, Hélder Costa, está emprestado e já fez oito jogos. Gerson Rodrigues é estreante no campeonato do Médio Oriente. Depois de experiências em Portugal, Espanha e Inglaterra, Alfa Semedo também faz a sua primeira época no país.

No sentido inverso, o futebol saudita está repleto de jogadores cujo passado teve ligações a Portugal. Marega (FC Porto), Luciano Vietto (Sporting), Carlos Júnior (Santa Clara), André Carrillo (Sporting e Benfica), Bruno Duarte (Vitória SC), Felipe Caicedo (Sporting) e Iago Santos (Académica e Moreirense).

Se os treinadores portugueses estão um pouco por todo o lado, seria estranho que não tivesse lugar na Arábia Saudita. Ao nível da Primeira Liga saudita, Nuno Espírito Santo, no Al-Ittihad Jeddah, Pepa, no Al-Tai, e Pedro Emanuel, no Al Khaleej, ocupam lugar no banco de suplentes.

A candidatura à organização do Mundial

A Arábia Saudita, em conjunto com o Egito e a Grécia, prepara-se para fazer oposição à candidatura de Portugal, Espanha e Ucrânia à realização do Mundial 2030. Quando Cristiano Ronaldo começou a ser associado ao Al Nassr, a informação divulgada era de que seria embaixador da candidatura do país do Médio Oriente, assinando um contrato válido até 2030 que incluía dois anos e meio como jogador e, nos restantes, dedicar-se-ia à promoção da maior competição de seleções do mundo. No entanto, as mais recentes atualizações dizem que Ronaldo vai permanecer em território saudita apenas durante o período em jogará no Al Nassr ou que o jogador apenas será embaixador da candidatura da Arábia Saudita ao Mundial 2034, no qual Portugal não é parte interessada.

De qualquer modo, é inevitável considerar que a chegada de Cristiano Ronaldo deu ao campeonato saudita e ao futebol do país uma visibilidade sem precedentes. Além disso, a chegada do capitão da seleção nacional portuguesa pode não ser a única contratação mediática. Sergio RamosKanté e Sergio Busquets também têm sido associados ao Al Nassr, o que juntaria em Riade uma constelação de estrelas com valor para atrair a atenção para o campeonato periférico.

O desporto e o entretenimento são dois pilares essenciais na estratégia da Arábia Saudita para dinamizar a economia através de outros setores que não o do petróleo e que tem levado o país a abrir-se a eventos desportivos de grande escala. No que ao futebol diz respeito, a maior demonstração de interesse foi a aquisição do Newcastle, da I Liga Inglesa. Um fundo de investimento público do Estado saudita, encabeçado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, comprou a equipa pelo valor de 353,5 milhões de euros.

Para os portugueses é certo que “Ronaldo vai trazer atenção”, diz Paulo Nunes, e “vai trazer um marketing incrível para o Al Nassr e, depois, para a liga em si e para o país”. O treinador-adjunto do Al Hilal alerta que “nem o próprio Cristiano Ronaldo imagina a importância e a responsabilidade que, neste momento, tem às costas. As expectativas em relação à vinda dele são enormes. Não é só ao nível do desempenho desportivo, é a influência que pode ter nos mais novos — no feminino e no masculino, porque o futebol feminino está a crescer exponencialmente aqui no país”.

Para os que andam dentro de campo, Fábio Martins admite que “vai ser muito bom para todos os outros jogadores, porque a visibilidade vai ser enorme, principalmente quando fores jogar com o Al Nassr. Todos os jogadores vão ter esse boost de vontade, porque sabem que os olhos vão estar postos neles. O Ronaldo leva multidões aos estádio, tem milhões de seguidores, então as pessoas vão sempre ver os jogos do Al Nassr e, consequentemente, os jogos das outras equipas”.

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