Índice
Índice
E se os avanços tecnológicos permitissem que um humano vivesse para sempre? E se aparecer um sistema de inteligência artificial (IA) que, “do dia para a noite”, desse a países como a Rússia o poder de controlar a internet? E se um dia acordasse e soubesse que a China andou a manipular geneticamente crianças para serem mais inteligentes? O futuro está cheio de “e se” e cada vez mais a ficção científica se aproxima da realidade. Prova disso é Zoltan Istvan, o norte-americano transumanista (quem defende uma maior simbiose entre o homem e a máquina) que levanta estas questões e quer que a humanidade aceite, sem rodeios, os avanços tecnológicos. Como vai conseguir? Talvez entrando noutra corrida à presidência norte-americana, desta vez em 2020.
“Quero fazer alguma coisa quanto às pessoas poderem escolher quando morrem ou se morrem, de todo”, afirma Zoltan, em entrevista ao Observador. O ativista formado em filosofia e religião pela Columbia University foi também jornalista do National Geographic, antes de enveredar pela política. Foi, em 2016, candidato a presidente dos EUA pelo partido transumanista e, dois anos depois, candidato a governador da Califórnia pelo partido Libertário, durante as eleições intercalares. Para o transumanista, o corpo humano tem defeitos. Os conceitos futuristas de que fala — como termos um terceiro braço biónico — podem vir a ajudar as pessoas no dia a dia, mas também vão ter implicações económicas na sociedade. Para Istvan, a solução passa por termos “líderes governamentais que pensem em termos de ciência e tecnologia” e “não como Trump”.
O transumanista vem a Portugal pela primeira vez no final de outubro para participar no Business Transformation Summit, em Lisboa, organizado pelo CEGOC. Em entrevista por Skype ao Observador, diretamente de Silicon Valley, onde vive, diz que podemos esperar para breve uma inteligência artificial omnisciente.
“Vamos ser capazes de fazer o download de partes das nossas memórias”
Define-se como transumanista. O que é ser transumanista e por que é um?
O transumanismo é um movimento internacional social em todo o mundo, com milhões de pessoas. Queremos melhorar o corpo humano com inovações tecnológicas e diferentes tipos de experiências, que advêm de uma tecnologia e ciências disruptivas. Queremos tomar as rédeas da evolução. Qualquer coisa, desde fatos exoesqueletos que permitam um dia, por exemplo, correr em cima da água, a implantes cerebrais que permitem trocar ações em Wall Street. Ou a manipulação genética para fazer crescer um terceiro braço, por exemplo. Queremos levar a evolução e direcioná-la para aquilo que sentimos que é a melhor. Se calhar nem precisa sempre de ser funcional, apenas precisa de ser divertida e entusiasmante. Mas é isso que o transumanismo é. É o movimento social de pessoas que querem mudar a forma dos seus corpos, da experiência humana e é sempre feito pela ciência e tecnologia.
Mas também há outro lado — o de as nossas mentes passarem a estar dentro de uma máquina. É a mesma coisa?
O transumanismo é uma designação abrangente para vários tipos de área cientificas. Biomecânica, biohacking, criogenia, singularidade, ciborguismo, extensão de vida. A extensão da vida é, na minha opinião, a mais importante. O objetivo principal da maioria dos transumanistas em todo o mundo é superar a morte através da ciência e da tecnologia. Depois, podemos passar o resto do tempo a mudar o nossos corpos, a ir para outros planetas e para outros sistemas solares. O que for. O mais importante, aquilo que a maioria dos transumanistas percebe, é que o ser humano é terminal. Quer dizer, que vai morrer passado 70/80 anos. O objetivo principal do movimento é superar isso. Quando vencermos a morte, podemo-nos preocupar em ser como a máquina do Star Wars ou tornarmo-nos numa espécie completamente diferente. A extensão da vida é aquilo, diria, em que a maioria dos transumanistas está a investir, incluindo eu. Passo a maior parte do tempo a escrever e a falar da necessidade de angariar mais dinheiro para, por exemplo, encontrarmos a cura para o cancro, acabar com o Alzheimer ou as doenças cardíacas. Achamos que o coração biológico não é um órgão muito bom, queremos mudá-lo para algo parecido com uma máquina, porque achamos que o coração mecânico vai durar milhares de anos e não só 80 anos.
Quando é vamos poder fazer o download das nossa mentes para a cloud?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. A maioria dos peritos pensa que, provavelmente, daqui a 10 anos vamos ter a oportunidade de fazer o upload da maioria da nossa mente de uma forma que, pelo menos, faça sentido num computador. Vamos ser capazes de fazer perguntas a nós próprios num computador e de fazer o download de partes das nossas memórias e outras coisas como estas. Contudo, para se poder fazer um download completo, uma cópia exata de nós mesmos, isso pode ainda estar a 25, 35 anos de distância. Mas, atualmente, já temos tecnologia tão boa que podemos controlar drones numa pista utilizando apenas o poder da mente e um dispositivo. Em 10 anos vai ser possível ver utilizações comerciais disto. Em Wall Street, os consultores da bolsa vão comprar ações com a mente. Definitivamente, vai ser possível escrever um documento num computador utilizando apenas a mente.
Mas por que é que isso é uma boa coisa? O toque humano, a necessidade humana não vão ser necessários? Por que é que é bom fazermos o download da nossa mente para um servidor?
Há várias razões, mas as duas principais são: de forma a podermos competir com as máquinas inteligentes e os robôs pois, no futuro, vamos ter de convergir com eles. Esse é o primeiro ponto. Não há dúvida de que os robôs vão ficar mais sofisticados em praticamente todos os campos. Por isso, temos de ser mais como eles. A segunda razão é porque os humanos vão reagir negativamente aos robôs e à IA [porque têm medo que] lhes tirem os trabalhos e se tornem mais importantes do que eles. A forma de conter essa reação negativa é dizer: vamos conseguir combater os robôs tornando-nos como eles. Não há dúvida de que, atualmente, as máquinas já podem e conseguem fazer transações em Wall Street melhor do que os humanos, mas os corretores da bolsa — e há dezenas de milhares –, não gostam disso. Estas não são pessoas normais. Os corretores de Wall Street são algumas das pessoas mais inteligentes em matemática que temos no planeta. Muitos têm doutoramentos em engenharia aeroespacial e áreas assim. Por isso é que têm estes empregos que pagam tanto. Eles não querem perder os seus trabalhos e estão à procura de alternativas para manterem a sua profissão. A melhor maneira — segundo a ciência e cientistas, é o que parece agora o melhor — é começar a ter tecnologia robótica dentro do cérebro, para que se consiga tomar decisões tão rapidamente como uma máquina.
É muito cativante a tecnologia poder ajudar-nos, mas, por exemplo, o Facebook acabou de comprar uma startup que tem como objetivo deixar as pessoas controlarem a tecnologia com a sua mente. As críticas foram imensas porque o Facebook já nos mostrou em 2018, com o caso Cambridge Analytica, porque devemos temer a tecnologia e ter uma maior simbiose com ela. Não é prudente temer a tecnologia?
Compreendo. Podemos não ser sempre tão otimistas nem estar sempre a saltar para a frente e a testar novas coisas. Estamos com medo, verdade seja dita. Mas, mais importante do que ter medo, é perder dinheiro contra um concorrente que decide fazê-lo primeiro. O verdadeiro risco do capitalismo é que não faz perguntas sobre o que está certo ou errado. Apenas pergunta: tenho de chegar lá primeiro para ganhar a maior quantidade de dinheiro. É por isso que empresas como o Facebook têm de avançar nestas coisas. Podem não querer, pode não ser bom para o seu departamento de relações públicas, pode assustar as pessoas, mas se forem deixados de parte é o que é a natureza da competição. Penso muito que o que está a alavancar a tecnologia, atualmente, não é se estamos com medo ou não. Estamos é com mais medo se alguém chega lá primeiro e faz uma fortuna ou muda a forma como as empresas funcionam.
Facebook compra empresa que investiga controlo de computadores através da mente
Já viu a série de televisão “Years and Years”?
Ainda não, mas tenho lido vários artigos sobre ela, por isso estou familiarizado.
É sobre um futuro distópico. Há um exemplo de um humano melhorado: uma das crianças quer ser uma máquina e ter a mente no mundo digital. Contudo, vemos que o que essa tecnologia criou foi uma separação maior entre as pessoas com dinheiro e as sem. Com o capitalismo, estas tecnologias vão ser sempre uma coisa cara. Por que não proibir este melhoramento humano por poder criar os mesmos problemas éticos da eugenia?
Acho que no fim, a verdade é que vivemos num ambiente em que é o capitalismo que manda. É ter como garantido que se pudermos criar um produto, esse produto pode ser vendido e somos os primeiro no mercado [a vendê-lo]. Acabamos por ser a pessoa que faz isso bem e ganha mais dinheiro que outra pessoa. Desde que estejamos num sistema que faz este tipo de competição acérrima, estas tecnologias não vão ser decididas na medida de serem ou não boas para a humanidade, ou se são boas para os ricos, ou se são boas para os pobres. Ou até responder a perguntas como essa.
A única questão que o sistema faz é: posso fazer dinheiro para a pessoa que teve esta ideia? Esse é o problema. Enquanto chegamos ao ponto em que os robôs começam a roubar tantos empregos, esta vai ser a pergunta central para as sociedades em todo o mundo. Até onde é que devemos deixar a tecnologia ir? Sim, a tecnologia trouxe benefícios, mas também está a desafiar a natureza do capitalismo. Está a amamentar a desigualdade, está a fazer os mais pobres não terem tanto acesso a coisas. Por causa disso, o governo deve entrar e perguntar: toda esta tecnologia deve ser disponibilizada ou paramos com o capitalismo? Não tenho todas as respostas. Acho que ninguém tem. Esse é o perigo aqui. Estamos sempre a correr. Parece que só carregamos no play e, de repente, há estas forças a funcionar. Estamos a tentar alimentar os nossos filhos, temos de pagar o carro e a hipoteca. É muito difícil pensar se daqui a 100 anos queremos ter uma sociedade que é completamente decidida nesta competição acérrima. É algo para os filósofos e os governos resolverem. Sei que a tecnologia tem sido muito benéfica na minha vida e tenho aproveitado o capitalismo também, mas isso não significa que se funcionou no passado também vai funcionar no futuro.
“Temos de consertar o corpo humano. Queremos fazer com que o corpo humano dure muito mais tempo”
Por que razão alguém quer ser imortal? Pode parecer uma questão filosófica — a sua área de formação –, mas poder viver para sempre, ou mil anos, não é também uma maldição? Como humanos estamos presos às noções de espaço e de tempo. Muitas religiões falam disso: o benefício da morte é viver numa dimensão em que o tempo e espaço não existem.
A primeira coisa importante neste ponto é que a maioria dos transumanistas não acredita na vida depois da morte. Somos ateístas ou agnósticos. Somos muito seculares. Achamos que a religião não encaixa no conceito de transumanismo. Contudo, e para não ser mal interpretado, há cristãos transumanistas, transumanistas religiosos, budistas. Há muitos tipos de transumanistas. Digo vagamente, mas cerca de 85% não acredita num pós-vida. Com isto, não pensa naquilo que consideram natural, não têm um livro como uma bíblia que diz: isto é o que é natural. Pensam que tudo o que se possa fazer com o corpo humano, isso sim, é o mais funcional e o melhor. Os transumanistas têm a ideia de viver não de acordo com uma força exterior, mas de acordo com a sua criatividade e com o que podem construir com as mãos ao utilizarem a ciência e a tecnologia. A maioria dos transumanistas perderam familiares, perderam animais de estimação, veem-se a ficar mais velhos e dizem: temos de consertar o corpo humano. Queremos fazer com que o corpo humano dure muito mais tempo. Isto porque acreditam que a seguir à morte, o corpo humano é apenas cremado ou comido por minhocas.
Quer viver para sempre?
Sim, absolutamente. Agora, também quero a escolha de poder não viver para sempre. Neste momento, adoro a vida de tal forma que é difícil imaginar que queira parar com a minha vida.
É licenciado em filosofia e tem uma carreira como jornalista. Qual destes dois caminhos é que fez assumir-se mais como um transumanista?
Quando estava na faculdade, a estudar filosofia, fiz a minha tese no conceito de “cérebros numa cuba”, a ideia era [perceber] se estávamos ou não mesmo a falar ou se, por exemplo, somos cérebros num laboratório, noutro planeta, com elétrodos que estão a convecer-nos de que estamos a aqui a falar. Isso fez-me pensar muito na ideia do transumanismo. Mais tarde, quando estava a trabalhar como jornalista para a National Geographic, comecei a trabalhar em zonas de conflitos. Por isso, vi algumas guerras e coisas horríveis. Vítimas de violação, tortura, vários tiroteios. Foi o suficiente para me assustar. Tive um incidente em que quase pisei numa mina terrestre no Vietname e o meu guia puxou-me do caminho e mostrou-me onde é que podia ter explodido o meu corpo. Isso deixou-me mesmo a pensar: podia ter morrido. E era isso. Estava tudo acabado. Tudo o que havia de mim tinha desaparecido. E pensei: tenho de fazer alguma coisa quanto a isso. Há cerca de 150 mil pessoas por dia a morrer em todo o mundo. Para mim, isso é uma tragédia. Quero fazer alguma coisa quanto a isso, para as pessoas poderem escolher quando morrem ou se morrem, de todo. É a isso que os transumanistas se dedicam. Como tive a minha quota parte de experiências perigosas a cobrir zonas de conflito para a National Geographic estava mais inclinado para o transumanismo, porque já vi toda a morte que devia ter visto.
Ao mesmo tempo, é politicamente ativo e candidatou-se pelo Partido Libertário ao congresso. Ainda se considera um libertário?
Concorri à presidência dos EUA pelo partido transumanista em 2016. O partido transumanista é um bocado centrista, não é de esquerda nem de direita, foca-se apenas nos valores da Ciência. Mas é um partido político pequeno. Depois, em 2018, concorri a Governador pelo partido libertário. O libertarismo significa menos governo, mais liberdade. Atualmente, já saí do partido Libertário, mas mantenho ainda raízes libertárias muito fortes. Acho que o governo tem de ficar fora da vida dos cidadãos e os cidadãos têm de fazer as suas próprias escolhas. Isso é a minha filosofia fundamental. Vi isso a cobrir zonas de guerras. As guerras são feitas por governos. Geralmente não são feitas porque as pessoas querem entrar em guerra. É porque os presidentes querem fazer uma coisa ou os governos querem fazer outra. Sinto muito que precisamos de tão pouco governo quanto possível, de forma a poder governar uma sociedade. Para mim, e para outros milhões nos EUA, isso é o que libertarismo significa. Atualmente, sinto que sou mais à direita, um pouco mais conservador. Contudo, o meu principal objetivo é a tecnologia e a ciência. Não gosto de ser demasiado vincado sobre quais são as minhas opiniões políticas porque, honestamente, as minhas convicções políticas acabam por ser bastante simples: quero fazer tudo para que eu e qualquer pessoa possa viver muito mais tempo.
Vai candidatar-se de novo à presidência dos EUA em 2020?
Sim, sim. Devo concorrer à presidência em 2020. Ainda é algo em que estou a pensar. Mas há tantos fatores tão voláteis na corrida atualmente. Às vezes, o Trump… Agora está a tentar ser destituído. Nunca sabemos todos os fatores. No entanto, se concorresse, concorria como fiz anteriormente. Concorri numa base científica e acredito que o mundo ficaria melhor se se seguir o método científico. A ideia de que temos de usar a matemática, lógica e a análise estatística para perceber a melhor forma para avançarmos. Não queremos utilizar o precedente histórico. Não queremos utilizar a ética. Não queremos utilizar exemplos religiosos. Nem queremos usar as diferentes personalidades das pessoas. Acho que o método científico — utilizar a lógica para descobrir qual o melhor bem para o maior número de pessoas — é a melhor maneira de governar um país.
Mas isso é quase uma ideologia Vulcana [da série Star Trek].
Sim, como os vulcanos.
“Se a era transumanista vai acontecer sem outra guerra mundial, então vai ser precisa muita abertura”
Não temos nenhum país no mundo que siga esses princípios à risca. Isso seria uma coisa nova. Não há muitos problemas que, por causa disso, possam surgir?
Sim, mas, o mais importante, há 100 anos, quando se falava em governar o país através da ciência… A ciência era poderosa, mas não como é atualmente. A humanidade está à beira de criar uma inteligência artificial, daqui a 10 anos, que vai ser mais poderosa do que qualquer ser humano no planeta Terra. Isto é um grande perigo. O que digo é que agora, mais do que nunca, precisamos de uma sociedade e de líderes governamentais que pensem em termos de ciência e tecnologia. Não só para nos levar avante, mas também para enfrentar os desafios que o microprocessador, a inteligência artificial ou que a edição genética trouxeram à humanidade.
Atualmente, temos o poder de potencialmente atualizar os nossos cérebros. E se a China decidir fazer isso nos próximos dois ou três anos? Uma geração inteira de bebés vai nascer com o dobro do QI de alguém em Portugal, na Europa ou nos EUA. Isto vai tornar-se um enorme problema de segurança nacional para o ocidente: os chineses serem, literalmente, duas vezes mais inteligentes do que o resto de nós. Temos de acompanhar isso. Temos de conseguir compreender uma forma de podermos continuar a ser competitivos. E posso prometer: a China quer fazer isto. Claro que quer fazer isto. Claro que querem fazer das suas crianças as mais inteligentes no planeta. Este tipo de novas ideias nem era possível há 30 anos. E, agora, de repente, é possível e precisamos que novos governantes se cheguem à frente e enfrentem as consequências da ciência com muitas destas ideias.
Mas, segundo dizem peritos como Yann Le Cunn, um percursor da inteligência artificial, não estamos sequer perto de criar uma inteligência artificial que pense por ela mesma. Mesmo com estes pontos de vista de peritos, mantém as mesmas convicções? Se não se criar uma IA como essa, vamos continuar a precisar de ética, das humanidades, vamos precisar de políticos como os atuais, que possam olhar para os precedentes históricos para aprender com os erros da história.
Não sigo o trabalho dele, mas já ouvi falar. Quando falamos de inteligência artificial — vivo em Silicon Valley e conheço muitos engenheiros de IA —, algumas pessoas dizem que nunca vamos conseguir criar uma IA mais inteligente do que seres humanos. E outros dizem: “Hey, estamos a sete ou 13 anos de criar isso, seja de que ângulo se olhe”. Fiz alguma consultoria para o governo norte-americano e até o Putin disse recentemente que esta é a “corrida do século”. Quem chegar a isto primeiro vai ter um avanço tão grande de um ponto de vista de segurança nacional. Por isso é que milhares de milhões de dólares estão a ser investidos nisso.
É muito difícil dizer quando é que isto vai acontecer. Mas acho que é inevitável que isto aconteça. E, quando acontecer, vai ser um momento tão grande. Vai mudar países. Pode mudar o contexto geopolítico do dia para noite. Por exemplo, se um país como a Rússia tiver uma inteligência artificial toda poderosa, que possa pensar por si própria ou que nem sequer o possa fazer, mas consiga enviar vírus a todos os computadores na China e nos EUA e acabe com as estações de tratamento de água… Nem sequer vão matar pessoas, vão apenas tornar as suas vidas mais difíceis. Acho que é um momento novo e incrível que precisa de políticos que não [sejam] como o Trump, que só querem falar de imigrantes e de atacar os media. É um momento que precisa de pensadores racionais que digam: isto é muito provável que aconteça. Vamos juntar uma equipa de cientistas e engenheiros para pensarem como ajudar a humanidade neste cenário, para a sociedade progredir e melhorar. Não estamos a falar de imigrantes ou de perda de empregos, estamos a falar de fazer um novo paradigma para um mundo tecnodistópico ou tecnoutópico.
Falou de a China chegar primeiro a estes avanços tecnológicos como algo a temer. Mas e se os EUA chegarem lá primeiro? Devem partilhar estas tecnologias promissoras com a China, a Rússia ou a Europa?
Falando em termos genéricos, quando se fala, por exemplo, de tecnologia para prolongar a vida, é melhor partilhar a tecnologia com as pessoas. E se houver inventores para partilharem dentro do processo normal de patentes, no qual as pessoas têm de pagar e comprar e os inovadores pode ganhar bom dinheiro com isso, gosto desse sistema. O problema é que tecnologias como edição genética ou inteligência artificial têm tanto potencial que podem mudar a economia para sempre. Especialmente a inteligência artificial.
Se se tiver uma máquina que quer fechar a internet, temos um problema grave e vamos de novo para a idade da pedra. Nesse sentido, acho que uma coligação de países deve juntar-se e tentar dizer: vamos trabalhar juntos para resolver isto. Acho o mesmo para as alterações climáticas. O ambiente é um problema tão global que ter apenas um país a parar de contribuir com a emissão de gases para a atmosfera e outros a continuarem… Mais do que nunca, é pela segurança do mundo que os países [deviam] deixar de pensar por si mesmos em termos de América, China e Rússia, e mais em termos como “que tipo de alianças podemos ter”. Infelizmente, como se vê em todo o mundo, há muitos obstáculos como o Trump, Inglaterra e ,noutros lugares na Europa, há muitos conservadores a dizer: “Não, temos de continuar a preservar a nossa identidade”. Contudo, não penso nessa ideia de identidade. Acredito em união, fronteiras abertas para todos poderem ir onde querem e encontrarem trabalho. Acho que na idade da inteligência artificial, que pode controlar armas nucleares e edição genética, isso é o mais seguro. Se a era transumanista vai acontecer sem outra guerra mundial, então vai ser precisa muita abertura, transparência e muito trabalho conjunto.