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O tenista de 35 anos vai despedir-se dos courts no Estoril Open ao longo da próxima semana
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O tenista de 35 anos vai despedir-se dos courts no Estoril Open ao longo da próxima semana

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O tenista de 35 anos vai despedir-se dos courts no Estoril Open ao longo da próxima semana

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O último capítulo de João Sousa, o melhor de sempre que podia ter sido tudo e escolheu ser tenista

Começou aos sete anos, foi a Barcelona atrás do sonho, voou na Malásia e brilhou em Valencia, no Estoril e em Pune. Esta semana, João Sousa despede-se e fecha a página mais bonita do ténis português.

Onze finais, 34 presenças em quadros principais de Grand Slam, quatro títulos, um 28.º lugar no ranking ATP. João Sousa é, sem sombra de dúvidas, o melhor tenista português de sempre: um dado irónico e até curioso, já que o mesmo João Sousa poderia ter sido jogador de futebol, médico ou qualquer outra coisa e escolheu tornar-se, precisamente, o melhor tenista português de sempre.

O fim do melhor português de todos os tempos: João Sousa vai terminar a carreira no Estoril Open aos 34 anos

De Guimarães a Barcelona, para onde se mudou ainda adolescente para investir na carreira, o vimaranense chegou onde nunca antes tinha chegado e encerra esta semana a página mais bonita do ténis português. No Estoril Open, aos 35 anos e na terra batida onde venceu em 2018, João Sousa vai terminar a carreira e despedir-se dos courts depois de anos marcados por lesões, dores diárias e muita frustração.

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Rodeado da família, dos amigos e do público português, o tenista vai fechar o capítulo que o levou a triunfos em Kuala Lumpur, Valencia, Estoril e Pune, que justificou os sacrifícios da família e que deixou claro que nunca se perdeu um jogador de futebol, um médico ou qualquer outra coisa. Ganhou-se um tenista.

No Estoril Open, em 2018, onde venceu Francis Tiafoe e conquistou o ATP 250 português

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Podia ter sido jogador de futebol, médico, praticamente tudo. Mas escolheu o ténis

Filho de Armando, juiz, e de Adelaide, bancária, João é também o irmão mais velho de Luís. Chegou a querer jogar futebol, uma linha de pensamento que estava diretamente ligada à paixão pelo Vitória de Guimarães que nunca desapareceu, mas o gosto do pai pelo ténis levou-o para os courts. Cresceu a admirar Juan Carlos Ferrero, Pete Sampras e Roger Federer e aos sete anos, sempre acompanhado pelo pai, começou a bater as primeiras bolas no Clube de Ténis de Guimarães.

Primeiras bolas que foram contra uma escadaria, enquanto o pai jogava com os amigos, mas que depressa conquistaram a atenção dos treinadores que por ali iam passando. Não demorou até ter os próprios treinos, os próprios jogos e as próprias aulas – e também não demorou até desenvolver um mau perder saudável que o deixava amuado quando não derrotava os adversários só com winners, sem que lhe devolvessem uma única bola.

Era educado, com o treinador e com todos, bom aluno a Matemática e a praticamente tudo, algo que chegou a abrir-lhe os horizontes para a Medicina antes de decidir que o ténis era o amor de uma vida inteira e não uma paixão fugaz de adolescência. Depressa deu prioridade ao desporto, com a família e os amigos a organizarem toda a vida à volta dos horários de João, e a escola nunca ficou para trás. Ganhou o Campeonato Nacional Sub-12 em 2001, derrotando Gastão Elias na final, esteve no Centro Nacional de Treino na Maia e aos 15 anos, já quase com uma década nos courts, encabeçou a decisão familiar de dar um passo de gigante e rumar a Barcelona.

Não demorou até ter os próprios treinos, os próprios jogos e as próprias aulas – e também não demorou até desenvolver um mau perder saudável que o deixava amuado quando não derrotava os adversários só com winners, sem que lhe devolvessem uma única bola.

Os Sousa contraíram um empréstimo e João chegou a Barcelona em setembro de 2004 para entrar na Federação Catalã de Ténis em regime de internato, mas sem ensino integrado – ou seja, para além de ser o único português na escola, era também o único aluno interno que tinha de ir à escola entre os treinos. Em Guimarães, os pais só tinham estabelecido uma condição: os estudos continuavam a ser uma prioridade e as negativas eram absolutamente proibidas. Ao primeiro chumbo, João voltava para Portugal.

Mas o chumbo nunca aconteceu. Um ano depois de chegar à Catalunha, mudou-se para a Academia BTT, Barcelona Total Tennis, e passou a treinar às ordens de Francisco Roig, o treinador suplente de Rafa Nadal. Aprendeu catalão, castelhano, francês e italiano e tornou-se profissional em 2005, conquistando o primeiro Torneio Futures em 2009, um ano depois de integrar o ATP Challenger Tour. Em 2012, continuou a seguir o plano delineado e entrou no top 100 do ranking ATP pela primeira vez. Mas o dia mais feliz da carreira até então ainda estava por chegar.

A subida aos céus, de Kuala Lumpur ao Estoril e passando por Valencia

Kuala Lumpur, setembro de 2013. João Sousa tinha 24 anos e Portugal nunca tinha visto um tenista português vencer um torneio ATP – mas isso estava prestes a mudar. O vimaranense começou por eliminar o norte-americano Ryan Harrison na primeira ronda, afastou o uruguaio Pablo Cuevas na fase seguinte, surpreendeu o mundo inteiro ao derrotar David Ferrer nos quartos de final, já que o espanhol era o número 4 do ranking mundial, e superou o austríaco Jürgen Melzer nas meias-finais.

Em 2013, em Kuala Lumpur, logo depois de vencer o primeiro título ATP da carreira

AFP via Getty Images

Na final, em três sets e depois de até ter perdido o primeiro, bateu Julien Benneteau, conquistou o ATP 250 de Kuala Lumpur e tornou-se o primeiro português de sempre a fazê-lo. “É excelente. Estou muito orgulhoso por ter alcançado este feito inédito, não só na minha carreira, mas também para o ténis português. Sinto-me honrado por poder estar aqui na elite do ténis e estou muito contente por ter alcançado este título. É óbvio que sou consciente de que nada disto é uma tarefa fácil e sou humilde o suficiente para saber que tenho de trabalhar muito para atingir estes feitos”, disse, na altura, logo depois do triunfo que lhe permitiu saltar para o top 50 do ranking.

João Sousa vence torneio de Valência

A história iria repetir-se dois anos depois. Já a ser treinado por Frederico Marques, antigo jogador com quem chegou a dividir apartamento na Academia BTT, decidiu que Valencia seria o próximo lugar para guardar no coração. Com a namorada, os pais e o irmão nas bancadas – Espanha não é a Malásia e o apoio foi mais consistente –, afastou Gilles Müller, Benoît Paire, Pablo Cuevas e Vasek Pospisil antes de marcar encontro com o espanhol Roberto Bautista Agut na final. Voltou a perder o primeiro set e voltou a ganhar os dois seguintes, alcançando o segundo torneio ATP 250 da carreira e deixando bem claro que Kuala Lumpur não tinha sido um acaso.

“Estou sem palavras para descrever a emoção de vencer o segundo título da minha carreira. Estou muito contente por acabar o ano desta forma. Um dos meus objetivos para este ano era vencer um torneio ATP e foi mesmo no último, depois de uma excelente época, a melhor da minha carreira. Acabar assim é algo fantástico, é impossível pedir mais”, disse o tenista depois da vitória em Espanha, sublinhando as “10 horas de carro” que a família tinha feito para o ver disputar a final. Meses depois, em maio de 2016, subiu ao 28.º lugar do ranking ATP – o seu melhor de sempre e o melhor de sempre do ténis português, ainda à espera de ser sequer igualado.

"É excelente. Estou muito orgulhoso por ter alcançado este feito inédito, não só na minha carreira, mas também para o ténis português. Sinto-me honrado por poder estar aqui na elite do ténis e estou muito contente por ter alcançado este título. É óbvio que sou consciente de que nada disto é uma tarefa fácil e sou humilde o suficiente para saber que tenho de trabalhar muito para atingir estes feitos."
João Sousa depois de conquistar o ATP de Kuala Lumpur, em 2013

Pelo meio, foi fazendo história nos Grand Slams. Ao todo, João Sousa participou nos quatro principais dos quatro Majors em 38 ocasiões, tendo chegado à quarta ronda do US Open e de Wimbledon em 2018 e ficando ainda três vezes na terceira ronda do Open da Austrália – parâmetro este ano superado por Nuno Borges, que chegou à quarta – e cinco na segunda ronda de Roland Garros. Foi nos pares, porém, que teve voos mais altos: chegou às meias-finais do Open da Austrália de 2019, ao lado do argentino Leonardo Mayer, esteve três vezes nos quartos de final do US Open e em 2018 disputou mesmo a final do Masters 1.000 de Roma em parceria com Pablo Carreño Busta, acabando por perder para os colombianos Juan Sebastián Cabal e Robert Farah.

Esse ano de 2018, porém, foi muito mais do que a quarta ronda do US Open e de Wimbledon e a final de pares do Masters 1.000 de Roma. Em Portugal, o sítio de onde João Sousa saiu para ir à procura de uma carreira internacional, o Estoril Open continuava sem um vencedor português – a final perdida de Frederico Gil em 2010, contra Albert Montañés, era ainda o melhor resultado de um tenista nacional na terra batida do ATP 250. A viver um dos melhores anos da carreira e já com dois títulos no bolso, porém, João Sousa apareceu no Estoril com vontade de dar uma alegria aos milhares de pessoas que foram alimentando esperança ao longo de uma semana.

João Sousa, o Conquistador: Estoril Open tem pela primeira vez um vencedor português

Começou por deixar para trás Daniil Medvedev, eliminando depois o compatriota Pedro Sousa antes de ultrapassar Kyle Edmund e Stefanos Tsitsipas. Na final, enfrentava Frances Tiafoe, presença habitual no Estoril Open e tido como rapaz da casa apesar de ser natural do longínquo Maryland nos EUA. Venceu o norte-americano em dois sets, tornou-se o primeiro e único português a ganhar o ATP 250 nacional e deixou três mil pessoas a cantar o hino nacional em pleno Estoril. Cinco anos depois de Kuala Lumpur, três depois de Valencia, João Sousa vivia o dia mais bonito da carreira a pouco mais de 300 quilómetros de casa.

Em Wimbledon, onde em 2018 chegou à quarta ronda

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“Foi incrível. É um sonho tornado realidade. Sempre quis vencer em Portugal e é incrível depois de tanto esforço durante tantos anos. Quero agradecer à minha família e à minha equipa técnica, que estiveram ao meu lado nos bons e maus momentos e sempre acreditaram em mim. Não tenho palavras para descrever tudo isto. Obrigado a todos”, explicou o tenista, que conquistou o torneio no Dia da Mãe e o dedicou, de forma natural, à própria mãe.

Pune, a luz ao fundo de um túnel de “frustração”

Existe um antes e depois do Estoril Open na carreira de João Sousa. Nos anos que se seguiram, o tenista entrou numa espiral de várias lesões, resultados incertos, ausência de competitividade e queda prolongada no ranking. Em 2020, ano da pandemia, não ganhou qualquer encontro dos quadro principais de torneios ATP e nem sequer conseguiu derrotar um adversário de top 100 ao longo de toda a temporada. Depois de ser afastado na primeira ronda de Roland Garros, decidiu abrir o coração e confessar-se.

“Houve uma altura em que estava bastante desanimado com toda a situação. É normal, ninguém gosta de perder. Ter tantas derrotas e depois com a Covid… Desmoraliza e desmotiva. E Roland Garros foi o pico da minha deceção com toda a situação que estava a viver, daí alguns comentários que fiz durante e depois do jogo. Senti-me um bocadinho inútil e frustrado, não estava feliz a jogar. Não era aquilo que queria, que queríamos”, explicou em entrevista ao jornal Expresso, numa altura em que até revelou que nem sequer sabia que lugar ocupava no ranking.

Na final, enfrentava Frances Tiafoe, presença habitual no Estoril Open e tido como rapaz da casa apesar de ser natural do longínquo Maryland nos EUA. Venceu o norte-americano em dois sets, tornou-se o primeiro e único português a ganhar o ATP 250 nacional e deixou três mil pessoas a cantar o hino nacional em pleno Estoril.

A vida ensina-nos, porém, que é preciso descer aos lugares mais obscuros do universo para conseguirmos voltar a ver a luz. Em fevereiro de 2022, numa altura em que já estava fora do top 130, João Sousa seria o único a acreditar que duas horas e 45 minutos em Pune, na Índia, seriam o palco da possível última grande vitória da carreira. No ATP 250 indiano, venceu o finlandês Emil Ruusuvuori em três sets e conquistou o quarto título da carreira depois de anos marcados por lesões e frustração.

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“Foi uma grande semana para mim. Como já tinha dito, passei por alguns momentos difíceis nos últimos dois anos e conquistar o título hoje foi um sonho tornado realidade. Se me tivessem perguntado há seis meses se iria estar na final, teria dito que não”, referiu o tenista português. Os quase dois anos que se seguiram foram de altos e baixos, entre entrevistas em que assumia a certeza de que já não teria muitos desafios pela frente e outras em que até revelava vontade de estar nos Jogos Olímpicos de Paris. Pelo meio, e tendo já confessado que quer abrir a própria academia, inaugurou um hotel em Guimarães.

O anunciado dia em que o capítulo mais bonito do ténis português começou a chegar ao fim apareceu há cerca de um mês, no fim de fevereiro. Numa conferência de imprensa previamente comunicada, João Sousa anunciou que irá terminar a carreira depois do Estoril Open que arrancou este sábado e onde vai defrontar o francês Arthur Fils na primeira ronda. Lembrou o “cansaço e as dores diárias” dos últimos anos, sublinhou a importância de deixar os courts junto “da família, dos amigos, dos patrocinadores e do público” e definiu o último desafio.

Já este sábado, dia em que celebrou 35 anos e teve honras de bolo e parabéns cantados no Clube de Ténis do Estoril, assumiu que a melhor prenda de aniversário seria voltar a conquistar o Estoril Open e despedir-se da carreira da melhor maneira. Afinal, é o último capítulo de quem poderia ter sido praticamente tudo e escolheu ser tenista.

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