Era quase um clássico no Estoril Open, quase tão clássico como aqueles episódios mais caricatos que traziam outra graça ao maior torneio de ténis do país quando jogadores de futebol tinham de dar meia volta e vestir umas calças para respeitarem o dress code da zona VIP do complexo: em cada edição do ATP, podia estar em Portugal um top 10 do mundo, a revelação do torneio ou algumas das maiores promessas mas era em João Sousa que recaíam todas as atenções. Havia algo diferente no vimaranense, que galvanizava as bancadas da mesma forma como ficava galvanizado. Era ele, ele e muito ele, enquanto maior jogador português de todos os tempos. Agora, em 2024, vai ser ainda mais ele: esta será a sua última prova como profissional.

O anúncio chegou esta terça-feira, com o tenista de 34 anos a explicar essa decisão numa conferência de imprensa que já deixava antever algo do género na altura da sua marcação. “Como sabem, os últimos tempos têm sido muito difíceis, ultimamente. Tive muitas lesões que me impedem de jogar ao mais alto nível. Tenho lutado contra isso mas o meu corpo e mente têm dado sinais de muito cansaço e dores diárias. Após muita consideração, decidi retirar-me do ténis profissional e o Estoril Open vai ser o meu último torneio como tenista profissional”, salientou o melhor jogador português de todos os tempos.

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O Estoril Open vai ser o derradeiro desafio da minha carreira. Este torneio que conquistei em 2018 é muito especial para mim e é o cenário ideal para me despedir do ténis. Pretendo-o fazer com a minha família, amigos, patrocinadores, com o público que sempre esteve comigo e todas aquelas pessoas que partilharam momentos de triunfos mas também de desaire”, destacou.

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João Sousa, que se tornou profissional em 2007, conseguiu chegar a 11 finais de torneios ATP (todos 250) e alcançou as quatro maiores vitórias da carreira: Kuala Lumpur em 2013 frente ao francês Julien Benneteau, Valência em 2015 diante do espanhol Roberto Bautista Agut, Estoril em 2018 com o norte-americano Frances Tiafoe e Pune em 2022 ante o finlandês Emil Ruusuvuori. O vimaranense é ainda hoje o único português a ganhar o título de singulares no Estoril e aquele que alcançou a melhor posição no ranking (28.º).

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O português fez história também em Grand Slams: além de ter participado por 38 ocasiões nos quadros principais dos quatro Majors, João Sousa conseguiu chegar à quarta ronda do US Open em 2018 e de Wimbledon em 2018, ficando ainda três vezes na terceira ronda do Open da Austrália (parâmetro onde foi “superado” este ano por Nuno Borges) e cinco na segunda ronda de Roland Garros. No entanto, o grande momento acabou por chegar nos pares, onde atingiu as meias-finais do Open da Austrália de 2019 jogando ao lado do argentino Leonardo Mayer (além das três idas aos quartos do US Open. Também em pares, o tenista nacional atingiu uma final do Masters 1.000 de Roma em 2018 com o espanhol Pablo Carreño Busta.

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Mais recentemente, as lesões tornaram-se o maior problema de João Sousa, que foi viver muito novo para Barcelona. A fissura no pé esquerdo quando estava num grande momento acabou por afastá-lo dos courts ao longo de vários meses em 2019, sendo que mais recentemente foram as costas que limitaram as prestações do jogador nacional. Esta época, Sousa participou em dois torneios challenger em Oeiras (derrota nos quartos em ambas) e fez a eliminatória de Portugal frente à Finlândia contar para a Taça Davis.

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“Durante este percurso, tive a oportunidade de representar Portugal [na Taça Davis]. Sinto um enorme e profundo orgulho por aquilo que atingi. Quero acreditar que contribuí para o desenvolvimento do ténis português”, salientou João Sousa, que na conferência organizada no Complexo de Ténis do Jamor viu um vídeo com mensagens de alguns dos maiores jogadores nacionais como Nuno Borges, Frederico Gil ou Gastão Elias, entre outros, além dos próprios pais que foram sempre apoiando o vimaranense na carreira.