Marta Temido e Sebastião Bugalho estrearam-se esta semana como eurodeputados no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. Foi a primeira vez que entraram no hemiciclo. E também a primeira que ambos estiveram naquela cidade francesa. O Observador acompanhou os bastidores dos primeiros dias dos cabeças de lista dos dois maiores partidos que concorreram nas europeias de 9 de junho e que deram a vitória a Marta Temido e ao PS.
Bugalho e Temido apanharam o mesmo voo saído de Lisboa às 7h30 de segunda-feira, dia 15, até Frankfurt, onde fizeram escala, seguindo só depois para Estrasburgo. No mesmo avião viajaram também vários deputados do PS, entre eles Ana Catarina Mendes, e também do PSD, como Lídia Pereira. A deputada do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o deputado do PCP, João Oliveira, também iam a bordo.
Bugalho saiu de Lisboa sem gravata, só de blazer e camisa, mas no voo de ligação a Estrasburgo resolveu usar uma gravata roxa.
A viagem teve um pequeno percalço: Marta Temido, que tinha reuniões marcadas nessa mesma segunda no Parlamento Europeu com deputados socialistas de outras delegações, teve de adiar esses encontros devido a um atraso de mais de uma hora na escala de Frankfurt para Estrasburgo.
Sebastião Bugalho teve também um imprevisto de última hora e também fora de horas: o hotel onde iria dormir na primeira noite atribuiu o quarto da sua reserva a outra pessoa e fez com que, já depois da meia-noite, tivesse de procurar um novo local para dormir. A revelação foi feita pelo próprio Sebastião Bugalho, já no seu (novo) quarto de hotel, na manhã em que faria a sua estreia como eurodeputado.
Sebastião abriu a porta do quarto de hotel ao Observador na manhã em que tomou posse como eurodeputado. Tudo foi preparado ao milímetro: gravata a estrear com a que diz ser a sua “cor da sorte” (azul marinho) e, numa escolha mais sentimental, o relógio de pulso que era do avô, e que este lhe ofereceu. Já preparado, sentou-se na mesa do pequeno quarto de hotel e começou a escrever num bloco de notas: “16 de julho de 2024. Estrasburgo”. Desde que recebeu o convite para encabeçar a lista da AD para as Europeias que escreve tudo naquele bloco. O que pode ou não dizer nos discursos e até detalhes sem qualquer relevância.
Nessa manhã, Bugalho tinha ainda um pequeno-almoço importante com Carlos Coelho, um grande amigo que deixou o Parlamento Europeu no dia em que Bugalho entrou. Os dois encararam o momento como uma informal passagem de testemunho e durante o pequeno-almoço Coelho foi dando várias dicas a Sebastião Bugalho, desde dúvidas mais práticas sobre o funcionamento do Parlamento Europeu até aos diplomas mais complexos. Coelho respondeu a tudo enquanto ambos comiam ovos mexidos, sumo de laranja e bebiam uma chávena de café.
Os eurodeputados, chegados a Estrasburgo, ainda durante a tarde e pela noite dentro, tiveram vários encontros com os seus pares dos outros 27 países. Era preciso organizar as votações que iam ter lugar no primeiro dia nas novas funções, em particular a reeleição de Roberta Metsola como presidente do Parlamento Europeu.
Tanto Marta Temido como Sebastião Bugalho são estreantes nos corredores da Europa e por isso foi preciso a ajuda dos assessores e dos assistentes para que conseguissem encontrar o bar, o refeitório ou até mesmo os respetivos gabinetes.
Cada gabinete de um eurodeputado tem as condições necessárias para ser um prático local de trabalho durante uma semana por mês: uma secretária fixa e outra amovível, um sofá que na realidade também se consegue transformar em cama, uma estante para livros e documentos e uma casa de banho (quase) completa. Já lá vai o tempo em que os chuveiros dos gabinetes dos deputados funcionavam: neste momento as torneiras dos chuveiros do Parlamento Europeu foram retiradas. Um pormenor que ambos assinalaram quando entraram pela primeira vez naquele espaço.
Nem todos os gabinetes dos eudeputados têm vista privilegiada para a cidade e nisso Marta Temido tem bem mais sorte que Sebastião Bugalho, cuja janela dá para o pátio interior do Parlamento Europeu.
Os gabinetes de Temido e Bugalho estão ainda muito despidos de qualquer pormenor que os caracterize, têm apenas alguns documentos sobre as primeiras votações e sobre o modo de funcionamento das comissões onde pertencem. Quem conhece Marta Temido sabe, no entanto, que há uma coisa que é a sua imagem de marca e que tem sempre na sua secretária: uma banana para comer quando não consegue almoçar ou jantar, explica a própria ao Observador na primeira vez que entrou no seu gabinete com vista para a Petite France.
Apesar da campanha disputada e com trocas de acusações, a relação que existe entre os eurodeputados portugueses é cordial e, até, bem-disposta. Marta Temido e Sebastião Bugalho no fim de uma entrevista conjunta à RTP, em forma de reação à reeleição de Roberta Metsola, e durante um compasso de espera para novas reações aos restantes jornalistas, ficaram nos corredores do Parlamento Europeu largos minutos a conversarem… sobre os gostos musicais um do outro. E que não são tão diferentes como se podia imaginar.
A primeira semana dos novos eurodeputados foi especialmente intensa com a tomada de posse, as votações para a eleição de Roberta Metsola e Ursula von der Leyen e ainda uma votação sobre a Guerra da Ucrânia.
Marta Temido esteve numa reunião do grupo dos socialistas com António Costa, o presidente do Conselho Europeu eleito. Costa aproveitou aquela reunião com todos os deputados dos socialistas para lembrar que era importante votar favorável na reeleição de Von der Leyen para cumprir um acordo que devia ser honrado.
Já Sebastião Bugalho teve um curto encontro com a reeleita presidente da Comissão Europeia e aproveitou para expressar a sua convicção de que a alemã fosse novamente eleita com uma votação expressiva da bancada do PPE e dos restantes grupos europeístas.
Esta semana foi a primeira semana dos próximos cinco anos na vida destes dois eurodeputados portugueses, dois dos 21 que representam Portugal no Parlamento Europeu.