Enviada especial do Observador em Sevilha, Espanha
– Claro que farta acordar de manhã e ver ‘Renato não tem 18 anos’. Afinal tem 23 anos, 25 anos. Cresci em Portugal, estou há nove, dez anos no Benfica, como é que posso ter 25 anos? Não tem lógica aquilo que certas pessoas falam.
Numa entrevista publicada à revista Sábado durante o Campeonato da Europa de 2016, Renato Sanches não escondeu o incómodo no final de uma temporada que funcionou como rampa de lançamento para outros voos. Aliás, emoções não faltaram nessa época de 2015/16: estreou-se pela equipa principal do Benfica no final de outubro, foi opção duas semanas depois de início na Liga dos Campeões diante do Astana, entrou pela primeira vez no onze na Primeira Liga num encontro em Braga. Esse jogo, soube-se uns tempos depois, era uma espécie de teste à continuidade ou não de Rui Vitória no comando dos encarnados. O médio foi um dos melhores, não mais saiu da equipa, tornou-se uma coqueluche dos adeptos não só pelo estilo e pela intensidade que colocava em campo mas também por ser um produto da formação, entrou de vez na lista dos abençoados com um golo fantástico frente à Académica, num remate que entrou na baliza e no coração de todos os benfiquistas.
Foi esse o cartão de apresentação do médio no ano de estreia pelo Benfica, que nem mesmo aquele duplo cartão amarelo na Madeira frente ao Marítimo num jogo fundamental para o título logo aos 37 minutos abanou: jogar de forma intensa, ser vertical, arriscar, fazer de qualquer bola a última de uma final, tomar conta do meio-campo como se valesse por dois sem nunca descurar as chegadas à zona de finalização de meia distância. Foi a grande revelação, afirmação e confirmação num par de meses, tão poucos que ainda antes de ser convocado para o Europeu já tinha assinado pelo Bayern. No entanto, também conheceu o lado mau do sucesso.
Aquilo que se tornou apenas de uma falha, confirmada por fonte oficial do Benfica ao JN, tornou-se num caso capaz de gerar comentários dias após dias. Explicação: apesar de ter nascido às 15h25 do dia 18 de agosto de 1997, foi apenas registado apenas cinco anos e quatro dias depois na Conservatória do Registo Civil da Amadora com o dia, a hora e o local onde nascera. E isso aconteceu porque os pais de Renato Sanches se separaram quando tinha cinco meses, o pai foi para França e nessa altura voltou porque queria batizar o filho. No entanto, foi suficiente para incendiar a teoria de que teria mais cinco anos do que apresentava, algo que o próprio viria a admitir ter sido uma fase complicada não tanto pela “mentira” em si mas pelas reações que depois foi gerando.
“Certas pessoas faltaram ao respeito ao nosso grupo, ao nosso treinador. No Benfica toda gente tem contas nas redes sociais e televisão em casa e todos os jogadores vão aos sites. Fartei-me dos comentários, claro que sim. No futebol, nem tudo é bom. Há quem gosta do Ronaldo e outros não. Outros gostam do Messi e outros não. ‘O Messi não joga nada’, o ‘Ronaldo não joga nada’. É mentira, são gostos”, destacou na mesma entrevista.
O “Bulo”, alcunha colocada pela avó com quem vivia com a mãe no bairro da Musgueira, sentiu que estavam a tentar minimizar o caminho a pique que tinha feito ao longo de uma década, entre o Águias da Musgueira e a chegada ao Benfica, onde atravessou todos os escalões com sucesso. Aliás, começa logo por aí: apesar de andar uma equipa acima pela qualidade que apresentava, o médio fez parte de uma geração de 1997 que foi parar toda à formação dos encarnados por distração dos rivais e na sequência de treinos de captação que lançaram a rede mais cedo a todos os talentos que tinham essa idade. Renato, claro, deu nas vistas. Tão pequeno como os outros, tão franzino como os outros, com muito mais futebol do que os outros. E foi assim que subiu. Até à equipa B, até ao conjunto principal, até à Champions, até ao título nacional, até ao Bayern, até ao título europeu de seleções. Tudo em menos de um ano, quase como se fosse uma história escrita à medida de um predestinado.
“Estava num restaurante com os meus amigos. Jogava no Benfica e tinha acabado um jogo com a Académica nesse dia e… Ok, não foi um jogo qualquer. Marquei um golo bonito. Foi o meu primeiro no clube pelos seniores. Foi um momento fabuloso que resultou de muito trabalho feito pela minha família e por mim. Mas no campo, não sei… Senti como se fosse um golo qualquer. Havia adeptos no restaurante onde estava a comer a umas mesas de distância e penso que nos devem ter visto. Já jogava na formação do Benfica há alguns anos, as pessoas reconheciam-me. Por normal, eram muito simpáticas e motivadoras. E diziam sempre para continuarmos a trabalhar muito, como se fossem os nossos pais ou algo do género. Mas aqueles rapazes… Estavam loucos. Como se fosse o Messi. Olhei para os meus amigos a pensar ‘Ok, a partir de agora vai ser assim’”, contou no The Players’ Tribune, a propósito da noite de 4 de dezembro de 2015 em que percebeu que a sua vida tinha mudado.
O jantar a 4 de dezembro de 2015 onde Renato Sanches percebeu que a sua vida tinha mudado
A montanha-russa de emoções positivas tornou-se uma montanha-russa de emoções nem sempre boas (algumas longe disso) que volta agora quase a um ponto de partida, cinco anos depois. Teve uma experiência na Alemanha por um colosso do futebol europeu que só não foi para esquecer por tudo o que aprendeu e pelos quatro títulos, entre duas Bundesligas, uma Taça e uma Supertaça. Teve uma experiência em Inglaterra por uma equipa sem grandes aspirações que só não foi para esquecer por tudo o que se ouve agora de elogios entre os principais comentadores do país que não esquecem que andou na Premier League. Está a ter agora uma experiência por uma equipa capaz de bater o pé e conquistar o título francês contra o todo poderoso PSG que é tudo menos para esquecer. Voltamos à época em que tudo começou e a um Campeonato da Europa onde é do médio que se fala. Primeiro, para ser titular; agora, por ser um destaque na prova. Mas este Renato Sanches é o mesmo?
Em algumas coisas, sim. Na intensidade que empresta ao jogo, à equipa e a cada ação. Na procura de acelerar sempre que possível o jogo de forma vertical. Na tentativa de visar a baliza e pisar terrenos mais adiantados quando encontra defesas mais fundas ou adversários com blocos que não estejam muito juntos. Noutras coisas, não. Sem perder o lado selvagem que o torna diferente de todos os outros médios nacionais, está mais evoluído na perceção do que o jogo pede em cada um dos seus momentos, está mais inteligente na forma como cumpre as instruções pedidas (e esta partida com a França foi exemplo paradigmático disso mesmo, pela forma como foi colocando Kanté mais fora de jogo sem cair na tentação de arriscar incursões na frente que poderiam depois descompensar a equipa na transição) e, pasme-se, parece estar ainda melhor em termos físicos numa época em que fez cerca de 1.700 minutos em 29 jogos oficiais pelo Lille. E esta é a história dessa metamorfose.
Bayern Munique, o salto às cegas para dentro de um piscina de tubarões
Depois de se tornar o jogador mais jovem a conquistar o Campeonato da Europa, depois de ser eleito o Melhor Jogador Jovem do Euro 2016, depois daquele golo memorável e decisivo contra a Polónia, Renato Sanches fez as malas e rumou ao Bayern Munique. Afinal, é fácil esquecer que o médio português assinou pelos alemães ainda em maio, um mês antes do Europeu — ou seja, que o Bayern decidiu investir num jogador de 18 anos com base apenas e só na primeira temporada que este fez no futebol profissional, ao serviço do Benfica. Os bávaros pagaram desde logo 35 milhões de euros aos encarnados, Renato tornou-se o primeiro português a representar o Bayern Munique e a quarta contratação mais cara da história do clube e os alemães anunciaram que o negócio poderia chegar aos 80 milhões se o jogador ganhasse a Bola de Ouro ou integrasse a Equipa do Ano da FIFA.
Doze meses depois, Renato estava a ser descrito por Lothar Matthäus, uma lenda do Bayern Munique, como um dos maiores flops da época na Bundesliga. O jovem médio estreou-se em setembro, a titular contra o Schalke 04, mas cometeu vários erros até ser substituído por Kimmich e foi muito criticado pela comunicação social alemã. Phillip Lahm, que na altura ainda era o capitão do Bayern, saiu em defesa do jovem médio e garantiu que este era “um jogador muito, muito bom”. “Caso contrário não estaria aqui. É um campeão europeu e vai definitivamente ser um ativo para nós no futuro”, acrescentou o experiente lateral. Em outubro, o internacional português recebeu uma nova injeção de confiança: ganhou o Golden Boy, o prémio do Tuttosport que distingue o melhor jogador europeu com menos de 21 anos, e tornou-se o primeiro português a alcançá-lo (um feito que, entretanto, já foi igualado por João Félix).
O regresso de Renato a Munique, o sítio onde nunca conseguiu ser feliz
Nessa primeira época, em 2016/17, o Bayern Munique foi campeão alemão. Mas Renato Sanches só esteve em 25 jogos em todas as competições, só foi titular em quatro ocasiões na Bundesliga, só disputou uma única partida por inteiro e não registou qualquer golo ou assistência. Sem saber falar alemão, o jovem médio teve muitas dificuldades para se integrar num grupo mais velho e mais experiente e não conseguiu competir com a concorrência no setor intermédio, que incluía nomes como Thiago Alcântara, Arturo Vidal ou Xabi Alonso. O estilo de jogo do português, que se pautava por arrancadas com a bola no pé, numa combinação de força e ritmo, nunca conseguiu impor-se na Alemanha, onde existem poucos espaços para soltar o contra-ataque contra defesas que atuam recuadas e com as linhas muito juntas. Em privado, e de acordo com os rumores que circulavam na comunicação social local na altura, os colegas de equipa não confiavam nas decisões de Renato.
O comportamento do jogador português era interpretado como infantil, na maioria das vezes, e noutras ocasiões os elementos mais experientes do balneário duvidavam do nível de compromisso do médio: enquanto Robben ficava no ginásio a cumprir trabalho extra depois do treino, Renato abandonava o edifício com os headphones nos ouvidos. Anos mais tarde, em entrevista ao jornal Record, o médio acabou por revelar aquilo que toda a gente tinha percebido: que a justificação para o que aconteceu no Bayern, ou para o que não aconteceu no Bayern, passava por uma “questão de adaptação”. “Cheguei e as coisas não correram como eu esperava. Tinha 18 anos e estava sozinho num país estrangeiro. Em situações dessas, é bom ter uma equipa que te ajuda e te prepara, mas isso não aconteceu. Não estou a queixar-me, mas não aconteceu”, contou.
Ainda assim, no final dessa época, o treinador Carlo Ancelotti garantiu que Renato iria permanecer no Allianz Arena no ano seguinte. E permaneceu — mas só para efeitos contratuais. Renato olhava para um regresso ao Benfica com bons olhos, algo que ficou perto de acontecer tanto nessa altura como antes de assinar pelo Lille no verão de 2019, mas as circunstâncias dos meandros do futebol acabaram por levá-lo para o Swansea. Tudo ficou decidido durante uma conversa entre Ancelotti e Paul Clement, que tinha sido adjunto do italiano e era então o treinador do clube do País de Gales. Clement perguntou se Ancelotti tinha jogadores elegíveis para empréstimo e Ancelotti lembrou-se de Renato. Renato, a título individual, preferia ir para o Chelsea, para o PSG ou para o Manchester United, tudo clubes que tinham estado interessados na sua contratação antes do Euro 2016. Mas o Bayern tinha receios quanto à utilização do jogador num dos principais emblemas europeus e optou pelo Swansea. Um clube onde o médio português nunca quis estar.
Swansea, a aparente nota de rodapé que foi a gota de água
O empréstimo de Renato Sanches ao Swansea, em 2017/18, até pode parecer uma nota de rodapé na curta história do jogador. Mas a verdade é que, quando analisadas bem as circunstâncias, acaba por ser o período mais importante — e mais negativo — da carreira do médio formado no Benfica. Renato nunca quis ir para o País de Gales, nunca quis jogar no Swansea e estava profundamente infeliz. Algo que revelou meses depois, numa entrevista, mas que não precisou de dizer diretamente aos colegas de balneário.
Ao The Athletic, um jogador do Swansea que já estava no clube quando Renato Sanches passou por lá mas que não quis ser identificado, deu pormenores sobre a forma como o jovem médio não interagia com os colegas, com o staff ou com a equipa técnica. “Tenho de dizer que ele não queria estar lá e que isso ficava refletido nas atitudes que tinha, tanto no centro de treinos como no clube em si. Eu tentei esforçar-me com ele. Mas eram as pequenas coisas, como dizer “olá, companheiro, bom dia!” no corredor e receber uma espécie de grunhido como resposta. Acabei por desistir. Ele ia para a fisioterapia, receber tratamento, com os headphones nos ouvidos. É uma falta de respeito para com os fisioterapeutas, é uma falta de respeito para com toda a gente na sala de tratamentos. Pelo menos podia tentar interagir com as pessoas”, contou o jogador, que garantiu que acredita genuinamente que Renato nem sequer se recorda do seu nome.
Muito irregular e sem nunca conseguir conquistar um lugar no onze inicial, este período do jogador português acabou por ficar marcado por um lance contra o Chelsea, em Stamford Bridge. Renato recebeu a bola, totalmente sozinho, e passou-a diretamente para a linha final, contra um cartaz publicitário. A reação do treinador falou por si e, mais tarde, o médio desculpou-se com o facto de o cartaz ser vermelho e de o Swansea estar também a jogar de vermelho. Ao The Athletic, o mesmo jogador dos galeses detalhou essa noite — onde o português falhou mais de um terço dos passes e quase iniciou um contra-ataque do Chelsea com um erro que deixou a bola nos pés de Pedro.
“Já todos vimos o vídeo de Stamford Bridge, quando ele põe a bola fora e contra o cartaz publicitário que era vermelho e nós estávamos de vermelho. Mas, honestamente, eu via aquele tipo de coisas no treino todos os dias. Ele passava a bola três ou quatro metros ao lado e a coisa mais frustrante era que dizia que a culpa era minha. Acho que estava mesmo com falta de confiança. Nesse jogo contra o Chelsea, quando ele pôs a bola fora e foi substituído ao intervalo, lembro-me de o Paul [Clement] dizer no balneário à equipa toda que o Renato estava num sítio mau. E disse isto à frente de toda a gente. ‘Ele precisa de que nós, eu, equipa técnica e jogadores, estejamos ao lado dele. É um jogador brilhante, já mostrou isso antes, mas está num sítio mau e todos nós temos de estar lá para ele’, disse ele. Acho que o Paul percebeu, naquele momento, o quão baixa estava a confiança dele e estava a tentar protegê-lo”, contou o jogador.
No mês seguinte, Paul Clement foi despedido e substituído por Carlos Carvalhal — uma alteração que, em teoria, tinha tudo para ser benéfica para Renato Sanches. Mas só mesmo na teoria. O médio português marcou presença em apenas dois jogos com Carvalhal e depois lesionou-se, com o treinador a autorizar que passasse os três meses de recuperação em casa, na Alemanha. Quando voltou, com apenas quatro jornadas da Premier League por disputar e o Swansea à beira da despromoção, Renato foi sempre convocado mas nunca saiu do banco. No fim, com 703 minutos de liga inglesa, sem qualquer remate enquadrado e sem qualquer assistência, o jogador despediu-se de um Swansea despromovido ao Championship que gastou quase 10 milhões de euros com ele, entre salários e a comissão do empréstimo. Carvalhal, no fim da época, explicou que o português tinha feito “uma temporada muito má” e defendeu que “parou de aprender quando saiu do Benfica”.
Também ao The Athletic, Hélder Cristóvão, antigo jogador do Benfica que foi treinador de Renato Sanches na equipa B encarnada, explicou que o erro da carreira do médio não foi assinar pelo Bayern Munique — foi passar um ano emprestado ao Swansea. “Toda a gente acha que o Renato precisava de mais tempo no Benfica, no seu ambiente, que ele conhece muito bem e onde estão pessoas que se preocupam com eles. Mas acontece tudo tão rápido no futebol. Com esta proposta fantástica para o clube, assim como para ele e para a família, não podes dizer que não. O erro não foi ir para o Bayern Munique. O erro foi ir para o Swansea. Quando o Renato foi para o Swansea, e eu falei com ele nessa altura, toda a gente estava à espera de que ele fosse salvar o clube. Mas ele é um jogador jovem, não está completo, não é maturo o suficiente para salvar um clube. Foi um momento muito, muito mau. Ele fechou-se em casa e disse ao empresário que queria sair porque sentia mais pressão ali do que no Bayern Munique”, contou o antigo central.
No ano seguinte, já com Niko Kovac à frente da equipa, Renato voltou ao Bayern. E o novo treinador garantiu que contava com ele: “Vou tentar fazer com que se sinta bem aqui. Quando alguém se sente bem, é muito mais fácil jogar bem. Ele tem qualidades que não vemos todos os dias na Bundesliga e foi por isso que o Bayern Munique o contratou”, disse o técnico. O jovem médio estreou-se a marcar pelos alemães logo em setembro — e, curiosamente, contra o Benfica, num jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões — e até teve um bom início de época, sendo até considerado o melhor jogador do clube nesse mês. Globalmente, fez 24 jogos e marcou dois golos, com o segundo a aparecer na última jornada da Bundesliga, numa vitória contra o Eintracht Frankfurt que significou a revalidação do título.
Em 2019/20, não foi preciso esperar muito para perceber que Renato Sanches continuava muito desconfortável no Bayern Munique. Logo em agosto, depois de entrar em campo já nos últimos instantes para substituir Müller num jogo contra o Hertha Berlim, o médio deixou claro na flash interview que queria deixar o clube para jogar mais e mais regularmente. Em seguida, falhou o treino pós-jogo e saiu do Allianz Arena diretamente para casa, acabando por ser multado pelo clube em 10 mil euros. “Não é apropriado sair a correr e irritado depois do primeiro ou do segundo jogo. Ele faria melhor se mantivesse a calma. Vai ter as oportunidades dele”, disse, na altura, Karl-Heinz Rummenigge, o anterior CEO dos alemães. Renato, porém, não quis esperar pelas oportunidades: uma semana depois da partida contra o Hertha Berlim, o Bayern anunciou que o médio português ia rumar ao Lille a título definitivo.
Lille, o regresso do velho novo Renato — pela mão de José Fonte
A abordagem do Lille começou através de Luís Campos, o diretor desportivo dos franceses na altura, que se encontrou com Renato Sanches em Lisboa. Gerárd Lopez, antigo presidente do clube, e José Fonte, capitão de equipa, também falaram com o médio. A presença do central português no plantel, assim como de Xeka e Tiago Djaló, acabou por facilitar na desmistificação do receio de voltar a ficar isolado num país estrangeiro.
No final de 2019, já existia a sensação de que o médio português estava a recuperar a confiança. Foi nomeado para o prémio de Jogador do Mês da Ligue 1 em março de 2020, em conjunto com Mbappé e Savanier (do Montpellier), e marcou três golos em nove jogos — um número superior ao que tinha registado em dois anos no Bayern Munique. A liga francesa foi cancelada devido à pandemia, com o Euro 2020 a ser adiado para 2021, mas a subida de rendimento garantiu-lhe o regresso às opções de Fernando Santos, com Renato a cumprir os 90 minutos do particular contra Espanha em outubro do ano passado, a primeira internacionalização em quase dois anos.
Renato diz que Portugal teve uma atitude diferente e lembra que futebol é o momento
No passado mês de novembro, na goleada por 7-0 que Portugal aplicou num particular contra Andorra, Renato Sanches fez um dos sete golos e voltou a marcar pela Seleção quase 1600 dias depois — ou seja, desde o golo contra a Polónia nos quartos de final do Euro 2016. Ainda assim, nesse mesmo jogo, o médio lesionou-se e só voltou a estar disponível em fevereiro. Na verdade, ao longo da temporada passada, Renato só foi titular em 14 jogos do Lille e só cumpriu os 90 minutos em quatro ocasiões. Contudo, o treinador Christophe Galtier considera-o uma parte muito importante na conquista da Ligue 1, a primeira do clube numa década que se torna particularmente relevante quando incluída no contexto da hegemonia interna do PSG.
“Claro que ele foi importante para o título. Jogou sempre em posições diferentes, tanto ao meio como à direita do meio-campo. Lembro-me, por exemplo, de um jogo contra o PSG em que ele foi muito, muito bom. E no jogo seguinte, contra o Metz, também”, explicou Olivier Létang, atual presidente do Lille, ao The Athletic. Na mesma entrevista, Létang reconheceu que ainda não sabe se Renato vai ficar no clube francês, sendo que os principais interessados no jogador serão o Liverpool, o Wolverhampton e alguns conjuntos italianos.
Cinco anos depois de se ter mostrado ao mundo, tanto no Benfica como no Euro 2016, Renato Sanches renasceu no Lille e está a dar provas disso mesmo no Euro 2020. Mexeu com o jogo contra a Hungria, estabilizou o meio-campo contra a Alemanha e ainda acertou no poste e foi finalmente titular contra França, tendo demonstrado todo o poderio físico nos duelos contra Kanté e Pogba. Contra a Bélgica, o mais provável é que volte a estar no onze inicial — até porque os níveis de confiança de Renato parecem ter voltado a um período pré-Bayern e Swansea.