Índice
Índice
O Observador convidou nove líderes de startups a fazer uma introspeção a 2015, o ano que confirmou Lisboa como uma das principais startup city da Europa. Que levou a Bloomberg a considerá-la a São Francisco europeia. E a Forbes a falar do empreendedorismo como os novos Descobrimentos dos portugueses.
Foi o ano da mudança da Web Summit para Lisboa, da primeira empresa com origem portuguesa a atingir uma avaliação de mil milhões de dólares, a Farfetch, da estreia do Shark Tank e de uma Forbes em português. Foi o ano dos investimentos recorde, em que a BestTables foi comprada pela TripAdvisor e a Digisfera pela Google. Foi o ano em que a Uber foi proibida de operar e a discussão sobre o papel da inovação tecnológica no setor dos transportes se instalou.
2015 foi tudo isto, mas também foi errar. Crescer e aprender. Estas foram as aprendizagens de Miguel Santo Amaro, Filipa Neto, Carlos Silva, Álvaro Gomez, Jaime Jorge, Vasco Pedro, Paulo Trezentos, Cristina Fonseca e Miguel Pina Martins durante o último ano. Em 2016, querem mais foco, mais atenção ao recrutamento, ao espaço e ao detalhe. Menos mercados em simultâneo, menos tempo de espera para tomar decisões, menos irracionalidade. E querem continuar a crescer.
Miguel Santo Amaro (Uniplaces)
“Estivemos demasiado focados, também por necessidade, na captação de financiamento. E acabámos por desfocar no crescimento core da empresa. Muitas startups (e empreendedores) assumem que o investimento é um fator importante de sucesso para a empresa, e não apenas um componente necessário à gestão. Em 2016, a equipa vai estar focada no desenvolvimento de novas funcionalidades, na expansão e consolidação geográfica e em crescer nos vários departamentos.”
“2015 foi um ano fantástico. Em janeiro, a empresa tinha cerca de 40 pessoas e agora tem o triplo. Opera em 39 cidades, incluindo em várias capitais e em boa parte das cidades académicas mais importantes da Europa. Em novembro, a empresa angariou cerca de 22 milhões de euros em financiamento e este crescimento foi uma oportunidade que tivemos para aprender várias lições. Aprendemos, acima de tudo, o quão importante e necessário é fazer crescer a equipa a um ritmo sustentável e focar muita energia em recrutar os melhores. Para conseguirmos manter a cultura da Uniplaces enquanto continuamos a crescer a mais de 300% ao ano.”
Filipa Neto (Chic by Choice)
“É preciso ter em atenção o que é lançar um mercado, de cada vez. Quando lançámos o site, lançámos para várias línguas e começámos a fazer shipping [a expedir encomendas] para a Europa toda. O que podíamos ter feito de maneira diferente? Não termos apostado em tantos idiomas logo à partida. Se fosse hoje, teria demorado mais tempo a lançar o mercado francês, por exemplo. Porque a questão não é colocar a plataforma online, é gerir todos os recursos que precisamos quando lançamos uma campanha, por exemplo. Mas só sabemos isto, porque o fizemos.”
“A nível pessoal, arrependo-me de não ter ido mais ao ginásio, por exemplo. Os empreendedores vivem numa montanha russa de emoções, com objetivos muito apertados e desafiantes, e gerir pessoas – cada vez mais pessoas – faz com que isto se torne num monstro cada vez maior. Faz falta termos o nosso tempo. E esse é um dos pontos dos quais me arrependo. É preciso termos momentos nossos. É preciso criá-los, nem que seja à força. Arrependo-me de não ter criado mais momentos destes, à força, porque a nível criativo têm muito impacto. Distanciarmo-nos é muito importante para termos outros ângulos.”
Carlos Silva (Seedrs)
“Depois de termos levantado a nossa última ronda de financiamento, no segundo semestre de 2015, subestimei o esforço de recrutamento que era preciso para fazer crescer a nossa equipa. Da forma que precisávamos. Foi uma experiência que nos permitiu reformular o processo de recrutamento e que, certamente, não queremos repetir. Porque a capacidade de atrair e reter talento de qualidade é uma das nossas maiores vantagens competitivas. E queremos que continue a ser.”
“Penso que uma das principais lições que tivemos em 2015 (pelo menos para quem estiver menos atento ao ecossistema de empreendedorismo) é que temos, em Portugal, startups que estão entre as melhores do mundo, que criam produtos e serviços à escala global. Exemplo disso é o facto de várias terem angariado investimento de alguns do melhores fundos de investimento com capital e risco a nível mundial, como a Feedzai, Talkdesk, Uniplaces ou Seedrs.”
Álvaro Gomez (Tradiio)
“Aprendemos muitas coisas no último ano. Coisas que em 2016 queremos fazer de outra forma. Uma está relacionada com aquela ideia de ‘pôr água na fervura’, sermos mais racionais no meio da nossa maluqueira. Porque somos uma equipa de artistas, ligada à tecnologia, muito apaixonada e criativa. Às vezes, é preciso pôr um travão. Tomámos decisões muito motivadas pelo momento e o último ano requeria que nos movêssemos muito rápido, com muita dinâmica. Continua a requerer. Mas a maturidade que o projeto tem agora requer alguma racionalidade. Essa foi uma das principais aprendizagens deste ano: pensar duas vezes antes de decidir.”
“A outra está relacionada com o foco. O ano de 2015 serviu para experimentarmos territórios novos, novas oportunidades. Em 2016 vamos continuar a fazê-lo, mas vamos focar-nos mais nas grandes oportunidades e em parcerias sólidas. Por último, precisamos de gerir o tempo de forma mais estrutural e racional.”
Jaime Jorge (Codacy)
“Às vezes, é fácil olharmos para a nossa empresa e concentrarmo-nos nos detalhes. Acho que o meu maior erro foi não ter dedicado tempo às perguntas que importam mesmo, às coisas mais macro. E ter dado muita atenção aos detalhes mínimos, que, na verdade, podem ser apenas detalhes de implementação. Acho que isso é algo muito importante, no qual estou a tentar focar-me. Depois, acho que tenho de me questionar sobre qual é o impacto maior que posso ter na empresa e o que estou a fazer para contribuir para os objetivos. Isto tem muito a ver com um livro que li, o “Managing Oneself”, de Peter Ferdinand Drucker.
“Outra coisa que percebi foi que às vezes tendemos a esperar muito quando temos de tomar decisões. Porque queremos que seja a certa. “Mas às vezes mais vale uma decisão errada do que uma não decisão. Mais vale agir do que esperar pela decisão certa. Mesmo que seja um erro, tens de aprender com eles. E no próximo ano, não vou pensar em todas as coisas que me causam ansiedade ao mesmo tempo. Vou tratar de uma coisa de cada vez, mas quando pegar nela levo-a até ao final. Não deixar nada a 50%.”
Vasco Pedro (Unbabel)
“Aprendi o impacto que recrutar as pessoas erradas pode ter na equipa. E o que custa depois corrigir esse erro. Por outro lado, também percebi o quão importante é ter as pessoas certas. E a diferença que isso faz. Porque não se trata apenas de recrutar, mas de ter pessoas que encaixem na empresa. Na prática, precisamos de investir mais no processo de recrutamento: não olhar só para os aspetos técnicos e certificarmo-nos que passamos algum tempo com estas pessoas em situações não profissionais, como ir fazer surf connosco. É preciso que haja uma ligação com o resto da equipa.”
“Outra coisa importante é não descurar o pormenor, aqueles aos quais nunca se liga. Temos de ter um momento no nosso calendário para olharmos para as pequenas coisas, porque senão elas passam despercebidas. E outra coisa que aprendi é a importância de estar no espaço físico certo, naquele que é o momento certo da empresa. O espaço onde estamos atualmente fazia sentido, mas as lacunas tornaram-se muito óbvias.”
Paulo Trezentos (Aptoide)
“Acho que houve dois erros que tiveram muito impacto. O primeiro foi que demorámos muito tempo a contratar alguém para trabalhar unicamente na retenção de utilizadores. Para que pudéssemos conhecer melhor o nosso utilizador, como é que ele utiliza a aplicação e saber como facilitar a sua retenção. Já estávamos com uma dimensão grande e ainda não tínhamos ninguém a trabalhar focado nisso. Contratámo-la muito recentemente.”
“O outro erro está relacionado com o financiamento. Passámos muito tempo a procurar investidores com um perfil tradicional e nas geografias tradicionais. E isso fez com que não os encontrássemos. Quando começámos a pensar fora da caixa quanto à localização e perfil dos investidores, conseguimos resultados melhores. Às vezes, há investidores com muita capacidade financeira, com muita rede, que não estão nos sítios ditos normais. Nos últimos quatro anos, temos conseguido duplicar o número de utilizadores únicos e gostaríamos que isso acontecesse em 2016. Vamos terminar 2015 com 100 milhões de utilizadores únicos e gostávamos de terminar o próximo com 200 milhões.”
Cristina Fonseca (Talkdesk)
“Manter o foco. Num negócio é necessário combinar ambição e visão com a disciplina necessária para executar um passo de cada vez. Às vezes tentamos fazer demais (porque achamos que conseguimos dar conta de tudo ao mesmo tempo) e acabamos por perder o foco. E por passar o tempo a tentarmos ser malabaristas, com demasiadas bolas no ar, tentando sempre apanhar a que está quase a cair. Se calhar é a isso que se chama ‘ser empreendedor’. É o desafio de combinar os diferentes papéis que temos de assumir.”
“Melhor equilíbrio. Quando estamos tão imersos em algo que gostamos de fazer, a trabalhar com pessoas que nos motivam e vendo os resultados positivos do nosso trabalho, é fácil esquecermo-nos de que há mundo além disso. A adrenalina leva nos a não estarmos tanto quanto queremos com quem nos é mais chegado. Melhorar este aspeto é uma das prioridades para 2016.”
Miguel Pina Martins (Science4you)
“Sete anos depois de termos lançado a Science4you, temos consciência de que vamos minimizando os nossos erros, como é óbvio. Sendo uma empresa que cresceu a ritmos de 100% ao ano, tivemos de nos adaptar a esse crescimento de uma forma muito rápida, e saber ultrapassar os erros com soluções rápidas e eficazes. Nesse sentido, e devido a esta evolução da empresa, não existe nenhum erro “crasso” de 2015 que possa ser identificado.”
“Mas nas ações e decisões que tomamos existe sempre, ou deveria existir, uma componente de aprendizagem. Na Science4you, tentamos aprimorar os processos de desenvolvimento, produção e comercialização dos brinquedos à medida que a empresa vai evoluindo e os processos se vão tornando mais complexos.”