Vencedores

André Ventura

CONGRESSO DO CHEGA: Chegada de André Ventura, líder do partido Chega ao 4º Congresso do partido em Viseu. 26 de Novembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

André Ventura chegou ao Congresso eleito com quase 95% dos votos (poucas pessoas nas urnas), num partido que tenta afastar-se da ideia de “um homem só” e onde a oposição começa a ganhar cada vez mais espaço — pelo menos nas críticas que vão surgindo, porque as vozes, essas, no Congresso não se fizeram ouvir. Mas o líder faz questão de mostrar unidade, continua a ter a palavra final (e muitas vezes até secreta para com os membros da direção) nas grandes decisões do partido — tomou a decisão de ir buscar José Pacheco para a direção — e conseguiu sair deste Congresso ainda com mais poderes depois da aprovação dos novos estatutos.

O líder do Chega é o homem que se mantém no palco durante todo o Congresso, aquele que todos fazem questão de cumprimentar após o discurso e o que levanta os congressistas sempre que entra na sala. O seu nome é referido praticamente em todas as intervenções políticas e nos ecrãs da Expocenter de Viseu as imagens tiveram só um protagonista e não é difícil de adivinhar o seu nome.

Por muito que aqui ou ali se comece a distribuir esse mesmo protagonismo dentro do partido, André Ventura continua a ser André Ventura e os militantes do Chega continuam a mostrar uma espécie de endeusamento pelo líder. E este Congresso não lhe tirou isso. É até caso para repetir: os congressistas do Chega deram (ainda) mais poderes ao presidente do partido.

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José Pacheco

O deputado da Assembleia Legislativa Regional do Chega/Açores José Pacheco, durante uma conferência de imprensa, para a apresentação das propostas do partido que irão constar do próximo Plano e Orçamento da Região Autónoma dos Açores e que será debatido este mês na Assembleia Legislativa Regional, em ponta delgada, ilha de São Miguel, Açores, 19 de novembro de 2021. EDUARDO COSTA/LUSA

Depois de semanas atribuladas nos Açores, José Pacheco marcou presença no Congresso do Chega e trouxe consigo uma comitiva do arquipélago, que fez questão que se levantasse e elevasse a bandeira açoriana durante o tempo que esteve no púlpito. Acabou por se transformar na grande surpresa deste Congresso. André Ventura tinha anunciado uma pequena mudança na direção e estava empenhado em dar mais poder ao Norte devido ao crescimento nesta zona do país, mas a crise nos Açores mudou-lhe os planos.

A entrada de Pacheco para direção do partido foi a forma arranjada por Ventura para colocar uma pedra sobre o assunto e para mostrar (para dentro e para fora) que José Pacheco tinha feito o certo — depois de ter desautorizado a indicação sobre a votação do orçamento regional e de o justificar com as cedências do PSD.

Apesar de o discurso não ter começado de forma efusiva, José Pacheco trouxe duas ideias que agradaram a quem o ouvia: ficou provado que “é possível governar Portugal com o Chega” e jurou fidelidade a Ventura, o seu “capitão”. E foi esse mesmo “capitão” que o colocou num dos cargos mais importantes do partido como uma forma de agradecimento pela forma como geriu o processo e como, segundo a visão do líder do Chega, “ganhou” nos Açores.

Jorge Valsassina Galveia

Jorge Valsassina Galveia recebeu mais um voto de confiança do presidente do partido. André Ventura apostou no coordenador autárquico do centro para ser o substituto de Luís Graça até ao Congresso, mas o apoio vai esrender-se. Depois de tudo o que aconteceu com Luís Graça — que se responsabilizou por um erro no envio de documentos para o Tribunal Constitucional, o que obrigou à realização do IV Congresso — o partido ficou sem responsável pela mesa. Após o episódio, o próprio líder do partido revelou que iria fazer uma lista “agregadora” e excluiu a hipótese Manuel Matias, que tinha sido opção na reunião magna de Coimbra. Com um dos elementos do núcleo duro fora da equação, Valsassina Galveia ganha um crédito dentro do partido (e logo num cargo de destaque). Certo é que, desta vez, na mesa do Chega a aposta é do próprio André Ventura.

Rita Matias

Já se sabia que Rita Matias era uma estrela em ascensão dentro do Chega, mas o discurso feito quase à meia-noite de sábado confirmou-o, pela quantidade de aplausos que gerou mesmo entre os congressistas ensonados. A sala quase vazia é um clássico dos congressos a esta hora — depois de o líder já ter falado, muitos delegados desistem e só voltam no dia a seguir –, mas a jovem, que é vogal da direção do Chega e responsável por organizar a jota do partido que ainda está por nascer (a ideia está entregue a uma comissão instaladora), voltou a destacar-se e a arrancar aplausos à audiência. O discurso, “que não foi plagiado”, ironizou, depois de ser acusada de plágio no último Congresso — foi, isso sim, violento e muito adjetivado: Portugal está “amordaçado e aprisionado” por “teias marxistas”, esmagado pelo peso do Estado, com uma nova geração “complexada” e viciada numa “cultura de cancelamento” que faz de todos os “homens brancos e heterossexuais opressores”. Resumo: o país vive uma “miséria moral e social”. O Congresso gostou, Ventura aplaudiu, e Matias confirmou-se como um dos nomes a ter em atenção no futuro do Chega.

Vencidos

Críticos

Chamamos-lhes vencidos, mas, na verdade, poderiam ser desaparecidos. Na sexta-feira, ainda houve um momento de agitação protagonizado por Joana Guimarães, da distrital do Porto, que se desentendeu com o secretário-geral Tiago Sousa Dias a propósito do expediente da direção nacional, que transformou o que seriam moções ao congresso em recomendações — uma decisão que fez os membros do partido parecer “meninos que andam a brincar ao congresso” e a “cometer ilegalidades”, atacou a delegada. O problema resolveu-se rapidamente: não só as tais moções continuaram a chamar-se apenas recomendações como o congresso, numa votação dividida, decidiu nem sequer levá-las a debate, retirando qualquer tipo de voz aos militantes que tinham submetido propostas a pedir mais democracia interna no Chega. Mesmo no período das intervenções políticas, pouco ou nada se ouviu dos tais críticos, que passaram a tarde sob ataque, com vários dirigentes a convidarem quem critica ou “difama” membros do Chega a sair do partido. Em resumo: silêncio, propostas chumbadas, convites para sair… e nenhuma resposta. Os críticos existem, mas neste congresso estiveram desaparecidos ou, pelo menos, em silêncio.

Ana Motta Veiga

Foram seis meses de vice-presidência e uma saída prematura. Ana Motta Veiga já tinha estado no Chega nos primórdios do partido — quando foi a número três da lista de Hugo Ernano ao Porto nas legislativas de 2019 — depois saiu e regressou pouco tempo antes do Congresso de Coimbra em que Ventura prometeu apostar em mulheres e levou duas para a vice-presidência. Agora, deixa a direção e será substituída por José Pacheco. Ventura garante que se tratou de uma opção pacífica e que Ana Motta Veiga sai “perfeitamente satisfeita e de cabeça erguida”. A verdade é que a caminhada foi curta e que Motta Veiga não deu nas vistas no cargo.

Manuel Matias 

Saiu do Congresso de Coimbra como um dos vencidos, mas sai (muito) mais vencido em Viseu. Apesar de o antigo presidente do Partido Pró-Vida continuar a fazer parte do grupo de confiança de André Ventura, no momento em que o líder do partido podia ter apostado nele para presidir à Mesa do Congresso (desta vez sem a oposição de Luís Graça) não o fez. Ainda antes do Congresso, Ventura tinha dito ao Observador que “não era opção” neste momento e a decisão confirmou-se com a escolha a recair em Valsassina Gouveia. Mais ainda: Manuel Matias não subiu ao palco para fazer qualquer intervenção política durante os dias do Congresso do Chega, ao contrário dos dois filhos, que marcaram presença no púlpito.