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ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

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PAN. "Tancos mancha a classe política e o sistema democrático", diz André Silva, no dia em que jogou em casa

André Silva passou a manhã em Lisboa. Visitou a associação Crescer e disse que é possível, por pouco mais de dois milhões de euros, atribuir casas a todos os sem-abrigo da capital portuguesa.

Reportagem atualizada ao longo do dia

O PAN continua a não querer — embora com pouco sucesso depois de conhecida a acusação contra o ex-ministro Azeredo Lopes — que a campanha eleitoral fique contaminada pelo caso de Tancos. “Para  o PAN a campanha faz-se de maneira construtiva, a falar do nosso programa, das nossas propostas, para esclarecer cada vez mais portugueses, para pedir mais confiança aos portugueses. Parece-me que este tema está a arredar destes dias aquilo que é essencial, que é o debate político sobre as propostas que cada um tem para os próximos quatro anos”, insistiu o deputado André Silva, cabeça-de-lista do partido por Lisboa, que na manhã desta segunda-feira visitou uma instituição social em Lisboa e que durante a tarde se juntou à greve climática global, acompanhando centenas de jovens entre o Cais do Sodré e o Rossio, também em Lisboa.

Perante as perguntas dos jornalistas durante a manhã, André Silva acrescentou que, do seu ponto de vista, “esta questão mancha o sistema democrático, mancha a classe política, na medida em que reiterada e consecutivamente há situações de opacidade, situações em que diversos governantes estão supostamente, eventualmente, alegadamente, envolvidos em matéria de corrupção”. Corrupção que, aliás, tem sido para o PAN “uma prioridade e uma linha vermelha para a próxima legislatura, em que é preciso adotar, fazer alterações legislativas, e adotar medidas para uma maior transparência, reforçar meios de combate à corrupção na PJ e no Ministério Público, alterar o regime de proteção de denunciantes e criar tribunais especializados em matéria de corrupção. Isso para nós é muito claro e muito evidente à margem de qualquer caso específico”, rematou André Silva.

André Silva a jogar em casa com jovens em greve pelo clima

Vítor Vidal é reformado, mas também é um empreendedor. Ganha uns rendimentos adicionais com uma atividade muito apreciada pelos turistas de Lisboa: vende-lhes águas frescas pelas ruas da cidade. Protestos e manifestações sob o sol são a mina de ouro para aquele vendedor ambulante, carregado com dois sacos — um de águas, outro de cervejas. Hoje, porém, escolheu mal o público-alvo. “Olha a garrafa de água, olha a cerveja”, apregoava pelo Cais do Sodré. Mas ninguém lhe comprou nada. A manifestação desta sexta-feira — a greve climática global organizada por estudantes de todo o mundo contra as alterações climáticas — não era dada a garrafas de plástico.

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“Não sabia”, lamenta Vítor. “Se fosse outra manifestação vendia mais.” O negócio foi “fraquinho” e o homem já sabe o que tem de fazer da próxima vez. “Vou ter de mudar para as de vidro para vender”, atira, para depois explicar onde é que costuma ter sucesso: no Parlamento. “Conheço os deputados um por um, pelo nome. Este é o André Silva, do PAN”, afirmou, enquanto ia lamentando o insucesso do negócio com o próprio cabeça-de-lista do partido.

André Silva dedicou toda a tarde desta sexta-feira a percorrer lentamente o curto caminho entre o Cais do Sodré e o Rossio, em Lisboa, no meio de centenas de jovens estudantes em greve pelo clima. Ao Observador, André Silva assegurou que “o ambiente é neste momento um campo político autónomo, que conseguiu ganhar espaço através das diversas manifestações e da consciencialização de cada vez mais pessoas, contra a indiferença, contra as políticas erradas da nossa classe política, internacional e nacional”.

E não poupou nas críticas aos outros partidos, acusando-os de aproveitamento eleitoral. “Os outros partidos que têm estado a aderir a esta narrativa fazem-no evidentemente porque também têm algumas preocupações, mas acima de tudo do nosso ponto de vista por mero aproveitamento eleitoral, na medida em que só nestas alturas é que falam de ambiente, só nestas alturas é que priorizam o ambiente”, disse André Silva.

“Durante o resto da legislatura não o fazem. Basta ver os acordos que foram feitos entre os partidos da esquerda e o Partido Socialista em que nas posições conjuntas não há uma única linha sobre ambiente, sobre alterações climáticas. Esta matéria nunca foi uma prioridade do Partido Socialista nem dos demais partidos. Depois, se olharmos para os programas que estão, no fundo, a escrutínio para estas eleições legislativas, o que verificamos é grandes omissões, por um lado, e depois por outro, paralelamente com um capítulo dedicado a este tema, há todo um continuar desenvolvimentista, um fomentar de produção sem regras, como é o caso, por exemplo, do transporte aéreo, do transporte de cruzeiros. Não há uma negação por parte de nenhum partido, não há uma evidência para terminar a exploração de petróleo e gás no nosso país”, acrescentou.

As notícias das 16h

O deputado único do PAN chegou atrasado ao ponto de encontro — culpa dos transportes públicos de Lisboa, única forma de transporte elegida pelo partido para as deslocações nesta sexta-feira. A propósito disso, reforçou que o PAN propõe, “nas áreas metropolitanas, alargar as linhas do metropolitano quer em Lisboa quer no Porto; expandir para outros concelhos, reforçar a intermobilidade no que diz respeito à mobilidade fluvial, neste caso para a outra margem, e aumentar as linhas suburbanas de comboio, que no fundo também fazem fronteira com as várias linhas de metro, e reforçar, evidentemente, os meios rodoviários de transporte coletivo, neste caso também por autocarros elétricos”.

Sobre os jovens ali reunidos em nome do clima, André Silva não escondeu que são as novas gerações que têm “uma consciência que a classe política adulta não tem”. “É preciso serem estes jovens a dizerem que um dos direitos humanos fundamentais é podermos habitar num planeta saudável. Algo que tem sido esquecido, que tem sido desprezado, pela classe política, e é de facto interessante ver como esta quantidade de pessoas tem uma consciência e um nível ambiental superior a tantos e tantos líderes políticos. Por isso é que para nós é tão importante também alargar, estender o direito de voto a cidadãos com 16 anos”, rematou, deixando também essa referência a outra das medidas mais célebres propostas pelo partido.

Depois do AN (animais e natureza), André Silva fala do P (as pessoas)

Ao terceiro dia, a campanha do PAN subiu até Lisboa para ouvir um elogio a que o partido não está propriamente habituado: o de que é o único a não esquecer as pessoas, “cada vez mais invisíveis para a sociedade”. Aliás, basta revisitar a história do próprio nome do partido para perceber o caminho que o PAN tem tentado fazer: criado em 2009 como Partido Pelos Animais (PPA), mudaria o nome no ano seguinte para Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) e em 2014 viria a manter a sigla, mas alterando o significado do P para passar a incluir as pessoas. O que é certo é que o Pessoas-Animais-Natureza tem sido criticado por dar mais atenção às duas últimas letras da sigla do que à primeira — embora se tente descolar, incluindo na campanha, do facto de ser conhecido como “o partido dos animais”.

André Silva durante a visita à associação Crescer

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Depois de dois dias passados no Alentejo e no Algarve em que os animais e a natureza estiveram no centro da maioria das ações de campanha, o PAN visitou durante a manhã desta sexta-feira a associação Crescer, em Lisboa, responsável por programas de acompanhamento de toxicodependentes, sem-abrigo e migrantes. Da boca de Francisca Barreiros, uma das coordenadoras da associação, os três primeiros nomes da lista do PAN por Lisboa (André Silva, Inês Sousa Real e Nélson Silva) ouviram detalhes sobre os projetos desenvolvidos pela Crescer — em especial sobre o projeto Housing First, uma iniciativa de reintegração social de pessoas sem-abrigo que começa com a atribuição de uma casa —, mas também queixas sobre as dificuldades em levar a cabo as iniciativas sociais, provocadas pela falta de financiamento e pelo excesso de burocracia.

Américo Nave, o fundador da Crescer, alertou inclusivamente para “os custos para o erário público” provocados pelos sem-abrigo e informou os candidatos do PAN da realização de um estudo que procura perceber a quantidade de vezes que os sem-abrigo vão às urgências enquanto vivem na rua e em que medida esse número é reduzido a partir do momento que obtêm uma casa. Neste momento, acrescentou Américo Nave, existem na cidade de Lisboa 361 pessoas identificadas em situação de sem-abrigo e mais de duas mil a viver precariamente em abrigos temporários — e agradeceu ao PAN por ser o partido que se preocupa com “as pessoas, que são cada vez mais invisíveis para a sociedade”.

As palavras do fundador da associação deram o mote para que André Silva evidenciasse o P do PAN em declarações aos jornalistas que acompanham a caravana do partido. “Num país em que se fala tanto do desempenho económico, em que temos o Cristiano Ronaldo das Finanças, em que o país está em franco crescimento económico, gostaríamos de evidenciar pessoas reais, que existem, e que tantas vezes são invisíveis, pessoas que estão muitas vezes em fim da linha, que estão em situação de sem-abrigo. E é importante falar nestas medidas, nestas pessoas, para que Portugal seja um país verdadeiramente inclusivo, que não está a ser”, disse André Silva.

O deputado único do PAN e cabeça-de-lista por Lisboa sublinhou que o partido tem “várias propostas que convergem com o melhor que se está a fazer” nesta área e anunciou que, segundo as contas do partido, é possível “dar casa a 361 pessoas em situação de sem abrigo por pouco mais de dois milhões de euros”. “Na Crescer, eles estão a conseguir fazer já com algumas dezenas de pessoas a um custo médio de 21 euros por dia por pessoa que inclui alojamento, gastos com água, luz e a própria equipa de apoio, e isso de facto é possível. Existe muito espaço público, existem muitos edifícios públicos que podem ser utilizados para este fim”, acrescentou André Silva.

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