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Ativistas da Climáximo têm atirado tinta a ministros e bloqueado estradas

LUSA

Ativistas da Climáximo têm atirado tinta a ministros e bloqueado estradas

LUSA

Partidos e Climáximo de costas voltadas. Métodos "perigosos" afastam apoios políticos

Partidos que acenam com bandeira ecologista distanciam-se dos métodos da Climáximo. Estão preocupados com métodos "perigosos" e com risco de perder o apoio da opinião pública.

Os ativistas da Climáximo e os partidos que apostam na bandeira da ação climática têm um ponto em comum: têm cada vez menos interesse em aparecer na mesma fotografia. Os protestos, que assumem uma forma crescentemente radical, fizeram com que a relação entre ativistas e políticos ficasse cada vez mais deteriorada e obrigaram os partidos a demarcar-se: neste momento, nenhum quer ter nada a ver com a Climáximo — e todos fazem questão de criticar os seus métodos, mesmo que, no passado, já tenham contado com militantes nas fileiras do grupo ou apoiado, de forma subtil e q.b., as suas manifestações.

O caso mais evidente é o do Bloco de Esquerda: não só o portal de notícias do partido, o Esquerda.net, costumava publicitar com frequência ações da Climáximo como contava com um dirigente do partido, o investigador João Camargo, nas filas dianteiras do grupo ambientalista. No entanto, à medida que os últimos meses foram passando e as notícias de tinta atirada a ministros e de estradas cortadas por ambientalistas se foram acumulando, o portal começou a filtrar a atenção que atribuía ao movimento e as críticas veladas começaram a surgir.

Críticas que culminaram, esta semana, com a demarcação mais clara até à data, pela boca da coordenadora do partido, Mariana Mortágua. “A questão que se coloca é se este tipo de ações contribui ou não contribui para criar esse grande movimento transformador, esse grande movimento social que traz estas questões para o centro do debate público. Eu tenho grandes dúvidas que contribua para este tipo de atitude”, dizia Mortágua, no início da semana, questionada pelos jornalistas sobre as últimas ações do grupo, levadas a cabo contra ministros.

Os bloquistas querem que a resposta seja levada a sério: a crítica aplica-se a todas as ações mais radicais que o grupo tem escolhido como forma de protesto — algumas das quais configuram crimes —, num momento em que já não existem militantes do partido entre os elementos da Climáximo, ao contrário do que aconteceu no passado.

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A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, fala aos jornalistas durante a conferência de imprensa onde abordou o tema da fuga aos impostos no negócio da venda das barragens, em Lisboa, 13 de setembro de 2023. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Mariana Mortágua demarcou-se esta semana dos protestos da Climáximo

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Ativistas contra partidos: “Nenhum tem planos reais”

Neste momento, a arma de defesa do Bloco até acaba por ser fornecida pela Climáximo, ou não estivesse a própria organização apostada em criticar diretamente a esquerda “tradicional” e o que considera ser uma inação continuada, e sem remédio, dos partidos políticos. No Bloco, foi visto com bons olhos o artigo de opinião que Camargo publicava no Expresso esta semana, intitulado “Guerra”, que incluía passagens em que argumentava que ter programas políticos parciais ou setoriais de “pequenos ajustes”, num “sistema que declarou guerra à Humanidade”, seria “aceitar o colapso”.

“O capitalismo é a causa da crise climática e provou em todos os momentos que não vai resolvê-la, mas sim agravá-la”, escreve João Camargo, indo mais longe: “Sentar-se a falar com quem planeia ativamente o nosso colapso coletivo, quem publica os planos de guerra na imprensa e nos diários da República por esse mundo fora, é irracional”. Depois, responde à “conspiração paranóica” sobre a hipotética ligação da Climáximo a partidos políticos com críticas duras aos mesmos, e em particular à “esquerda institucional” — demarcação que serviu igualmente os propósitos do Bloco.

Nenhum partido em Portugal (aliás, em outros países tampouco)”, escreveu Camargo, “tem planos reais para travar a guerra que foi declarada à sociedade, mesmo os que se reivindicam materialistas mas rejeitam mudar as suas políticas, estratégias e táticas perante a maior crise material da história. Seria bom que os partidos políticos tivessem relações reais e não instrumentais com os movimentos sociais, mas infelizmente a aceitação de tentar tudo e correr todos os riscos assumida por movimentos pela justiça climática não tem ainda um correspondente na esquerda institucional. De momento, apenas podemos assistir a partidos que apresentam um menu narrativo de álibis para a sua inação perante a crise climática e a crise social do capitalismo global”.

Na mesma lógica, outro dirigente da Climáximo, Sinan Eden, publicava há dias um texto intitulado “Olá, esquerda, temos de falar”, no qual argumentava que as ações tradicionais — “sensibilizar”, “fazer agitação e propaganda”, “votar” ou “manifestar-se” — não chegam e quem opta por essa via “está a perder”, sendo a única via possível a da “disrupção”: “Estamos num estado de guerra. Estão a matar-nos, num ato de violência lenta, deliberado e coordenado”, lamentava.

Por outras palavras: se os ativistas do grupo que tem conseguido abrir noticiários e recolher amplas críticas pelas ações radicais se demarcam da esquerda “tradicional”, a esquerda não vê razões para lamentar esse afastamento. Num assunto que queima e que colará com facilidade o rótulo de “radical” a quem se associar a estes protestos, o Bloco prefere afastar-se e concentrar os seus esforços pela ação climática no apoio a manifestações mais pacíficas, como foi o caso das greves e protestos nas escolas, que contaram com a solidariedade e a presença dos dirigentes bloquistas.

Mesmo que no passado não tenha sido assim: Camargo ainda era dirigente do Bloco em 2019, quando o grupo apareceu nas notícias por uma série de ações de protesto, incluindo a interrupção de um discurso de António Costa num evento do PS. Na altura, o partido foi questionado pelo Público sobre o Climáximo e disse “acompanhar o movimento por justiça climática”, recusando pronunciar-se sobre “os seus métodos de intervenção”.

"É preciso que os jovens voltem à verbalização através da cidadania ativa e participativa, mas de forma positiva, ao invés de se estarem a meter em risco e ao invés de se confundir a desobediência civil ou o direito de resistência com ataques que em nada valorizam a causa", avisa Inês Sousa Real

PAN diz que protestos são “um favor ao Governo”

A posição do Bloco será das mais delicadas, mas tem eco no resto dos partidos que se definem como os defensores mais empenhados da causa ambientalista: mesmo compreendendo as preocupações e ansiedades do grupo, e reconhecendo a necessidade de dar uma resposta às questões do ambiente e do clima, há mesmo setores que comparam a Climáximo a uma “seita” e, em surdina, tecem duras críticas às posições mais radicais do movimento.

No PAN, a demarcação das últimas iniciativas é clara, apesar de o partido perceber a preocupação “legítima” dos ativistas — o mesmo PAN que tem feito um esforço evidente para ultrapassar o rótulo de partido exclusivamente animalista e mostrar o seu foco mais transversal nas questões do Ambiente. Solidários com causa, o problema é de forma, explica ao Observador Inês Sousa Real: as iniciativas destes grupos, diz, “têm extravasado aquilo que é razoável“, pelo que “o PAN não se pode associar às mesmas”. “Representam um caminho perigoso e não credibilizam a causa do ativismo ambiental”.

Dando “o devido desconto” aos membros do grupo — assumindo que sofrem com a “ecoansiedade” provocada por más decisões políticas — Sousa Real concede que, muitas vezes, têm sido eles “o adulto na sala”. Ainda assim, Sousa Real deixa claro que não se revê nestas formas de protesto. “Vivemos tempos bastantes complexos. O caso do episódio com Fernando Medina podia ter corrido bastante mal, porque podia ter sido interpretado de forma errada, se algum dos seguranças tivesse achado que aquela arma fosse real a vida da jovem poderia ter ficado em risco”, exemplifica.

Mais: para o PAN, estas iniciativas chegam a ser um “favor ao Governo“: com uma sociedade civil que vê as ações da Climáximo com ceticismo e assim “não acompanha” as preocupações desses ativistas, o problema acabará por não ser encarado de forma séria, lamenta. “O nosso repto é para que voltemos a estar juntos na rua aos milhares, que lancem mãos das petições e das iniciativas legislativas dos cidadãos”, remata.

O caminho não é por aí, defende a líder do PAN. “Precisamos de harmonia e de rasgo, visão e de proteção ambiental. O Governo tem falhado redondamente, temos vivido numa total farsa ambiental, um total greenwashing com os quais também não podemos compactuar.” Sousa Real aponta para outro tipo de protestos, porventura mais eficazes, como o caso das greves climáticas nas escolas: “É preciso que os jovens voltem à verbalização através da cidadania ativa e participativa, mas de forma positiva, ao invés de se estarem a meter em risco e ao invés de se confundir a desobediência civil ou o direito de resistência com ataques que em nada valorizam a causa”.

PEV e Livre também se demarcam. “Gera antipatias”

Pelo Livre, que se apresenta como um partido ecossocialista, a posição é idêntica: a causa é “muito importante” e conta com a total solidariedade do partido; mas não é possível ignorar a importância da “adequação dos meios aos fins que prossegue”.

“Para nós o princípio da ação política é que os fins não justificam os meios, também porque os meios credibilizam os fins”, diz ao Observador o deputado Rui Tavares. Urge, por isso, encontrar uma forma de fazer esta “luta” de maneira a que “mobilize mais pessoas para lutarem connosco”. “É o velho princípio da luta pelos os direitos civis”, remata.

A ex-deputada Heloísa Apolónia, que durante anos representou no Parlamento Partido Ecologista “Os Verdes”, faz a mesma leitura. Mesmo considerando que a causa ambientalista é “uma emergência” e que as “atitudes ambientais” são “extraordinariamente relevantes”, o modus operandi da Climáximo merece-lhe dúvidas.

“São ações que não chamam mais gente a esta causa e que não alargam para esta causa. Acabam por ser fraturantes e, por isso mesmo, acabam por não gerar um alargamento da simpatia pela causa. É uma forma de protesto que acaba por gerar antipatias”, sentencia.

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