Índice
Índice
Em dia de preparação de debate, o dia é light e o candidato socialista reserva a tarde toda para acertar a linha de argumentação perante os adversários. Só houve campanha por Sintra — vindo diretamente dos Açores, onde Pedro Marques esteve este domingo — e, tendo em conta quem apanhou pela frente, até podia ter começado logo por ali o treino. Foi encontrar-se com o presidente da Câmara Basílio Horta e cruzou-se “casualmente” com Ana Gomes que está a terminar o mandato em Bruxelas, no café saudade. Duas vozes com críticas — por motivos diferentes — para a governação PS que se mantiveram mais caladas.
Basílio Horta ainda chama Pedro Marques de “ministro” (e foi, das Infraestruturas) quando confrontado com o estado da linha de Sintra e as suas críticas por causa do material circulante parado que levou à supressão de comboios. Mas acaba por elogiá-lo: “O senhor ministro foi um grande ministro das infraestruturas, sabe porquê? Conseguiu fazer o que fez sem dinheiro. E isso é muito importante porque o grande problema de julgar as pessoas é julgá-las na sua globalidade e não apenas nos atos individuais que pratica. Isso é um julgamento errado e muito tendencioso”, afirmou.
Ainda há cinco dias, o autarca disse que “o que está a acontecer em Sintra em matéria de transporte ferroviário é intolerável”. Agora pede que o material circulante “seja reparado com urgência e posto a circular. Se assim for, a supressão de carreiras passa a ser menor e o problema começa a ser atenuado. E tem de ser feito com urgência”. O anterior ministro das Infraestruturas estava ao lado a ouvir e recusou comentar o assunto, fintou-o com a “certeza” de que é matéria que “está a ser diligenciada” pelo Governo.
Basílio confirmou que sim, que “o senhor ministro Pedro Santos está muito atento” (referindo-se a Pedro Nuno Santos, que sucedeu a Pedro Marques) e que está “muito solidário com ele que foi sempre o primeiro a assumir que é um problema que não se pode manter e neste momento está a tratar dele com a CP”. E por ali ficaram. Foi o segundo autarca que Pedro Marques visitou na campanha, o outro foi Rui Moreira — ambos independentes, mas Basílio eleito em lista do PS.
Ana Gomes no café Saudade a despedir-se de Bruxelas
A outra voz habitualmente exigente, a de Ana Gomes, apareceria pouco depois no café Saudade, mas também serena. Nos três mandatos como eurodeputada, a socialista foi sempre dura mesmo quando em causa estiveram decisões do seu próprio partido. Foi, por exemplo, muito crítica de José Sócrates e, mais recentemente, fez-se ouvir no Congresso do Partido Socialista Europeu, em Lisboa, quando não poupou o socialista maltês, Joseph Muscat, acusando de “bloquear a justiça sobre o assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia” e de estar a destruir a “credibilidade da família socialista”. Gritou mesmo “vergonha!” quando Muscat discursou. Mas ali, no café Saudade em Sintra, a conversa foi mesmo de circunstância. Sobre os regulamentos dos tuc tuc que também povoam o centro da cidade, sobre condecorações aos bombeiros da terra.
A referência às questões de “democracia” já tinha sido feita por Basílio Horta, que contornou, no entanto, os casos socialistas. Fixou-se em Viktor Órban, o primeiro-ministro da Hungria, nos que defendem o seu “modelo” e na importância de uma “Europa democrática”. Foi por isso que, à porta no município, Basílio apelou ao voto no PS: “Quem votar no PS vota na democracia na liberdade, no respeito pelos direitos liberdades e garantias. Quando o recebo aqui, recebo toda esta tradição do PS, todo este compromisso com a liberdade e a democracia”, disse a Pedro Marques.
Já o candidato socialista preferiu concentrar-se nas visitas que faria a seguir — o atraso matinal acabou por fazer com que fosse a apenas uma — e onde queria reforçar as questões “ambientais” e de “sustentabilidade energética” através da utilização de energias renováveis. Chutou para canto a questão da linha de Sintra e sacudiu rapidamente do capote o caso da deputada do PS que terá recebido fundos comunitários de forma irregular, disse apenas que “tudo tem de estar sempre em pratos limpos quanto à utilização regular dos fundos europeus”.
Voto útil no PSD? “Se é esse um voto útil, é um voto útil nas sanções e nos cortes”
Preferia apontar às críticas ao PPE, “a direita europeia que chumbou o aumento da ambição das metas europeias em matéria de emissões de carbono”. Mas também sobre qual é o voto útil — que o PSD reclama para si: “Se esse é um voto útil, é um voto útil nas sanções, é um voto útil nos cortes aqui em Portugal. Votar no PS é o voto das pessoas para o avanço no projeto europeu”, afirmou aos jornalistas.
Na agro-indústria Estêvão Luís Salvador, em Almargem do Bispo, Pedro Marques tentou voltar aos temas europeus, mas para um toca e foge, já que saiu rapidamente para se dedicar, na sede do PS, à preparação do debate a seis desta noite. Ainda conseguiu deixar, a propósito da visita, a mensagem da ambição que leva para Bruxelas “de passar dos 55 para 80% de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis já em 2030”.
Por entre legumes a serem cortados e embalados em salas com temperaturas a rondar os oito graus, de touca e bata, Pedro Marques ia perguntando a Francisco Salvador sobre a eficiência energética da fábrica, que tem paredes exteriores forradas com painéis fotovoltaicos. Representam agora 10% do consumo de energia, mas depois de forrada também a cobertura da fábrica a expetativa é chegar aos 50%. “Um exemplo do setor primário e da eficiência energética”, afirmou o socialista