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“Ponham-se a pau com o PPD e o CDS”, gritava a Pedro Marques um senhor à porta da estação do Cais do Sodré onde o candidato socialista distribuía panfletos como manifesto do PS às Europeias. Começou cedo a ação de campanha, depois do debate da noite anterior, com o socialista a apostar numa das medidas do Governo com maior impacto social. Mas os utentes de transporte público que por ele passaram não se mostraram especialmente recetivos aos argumentos. A manhã é de correria, até para a professora a quem Pedro Marques pediu para não se esquecer de votar e que, de volta, lhe atirou outro esquecimento, mas do Governo. Com duas arruadas num dia, uma em Lisboa e outra em Aveiro, o candidato também passou pelos barcos do porto aveirense e respondeu aos ataques do lado de lá da campanha.
A rota socialista entra agora em ritmo alucinante, com ações de campanha a multiplicarem-se no mesmo dia — coisa que não acontecia até aqui. A partir desta quarta-feira, o líder António Costa também vai estar todos os dias (pelo menos num momento) ao lado de Pedro Marques e o apelo ao voto é o que mais se ouve. O cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu pede às pessoas que não se esqueçam de votar no domingo e esta manhã ouviu em resposta: “Não se esqueça também dos professores porque esqueceram-se deles quase dez anos”.
Não é a primeira representante desta classe profissional com que o candidato socialista se cruza nestes dias de campanha oficial da Europeias e a insatisfação com a decisão do Governo em não recuperar a totalidade dos anos de carreiras congeladas está lá sempre. Pedro Marques garante que não: “Há muitos professores com quem temos contactado que também nos dizem que compreendem a situação e o facto de termos ido até ao limite do que era possível, em termos de responsabilidade orçamental, de que o Governo nunca abdicou.
A boleia dos transportes públicos
A manhã foi dedicada aos transportes públicos, onde o candidato tentou chamar a atenção para a medida do passe único, pela qual também foi responsável já que até fevereiro esteve à frente do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas. Mas se a governação ajuda em algumas matérias, há outras em que pesa às costas, como é o caso dos professores. O candidato socialista percebe “que haja descontentamento dessa classe profissional, mas no fim das contas é preciso governar com equilíbrio”. E aqui entra o disco das contas certas, com o PS a insistir na mensagem que quer que “todo o país compreenda”: é possível “criar empregos, reduzir despesa e manter as contas em ordem”.
Antes de entrar no metro para seguir para Moscavide, pelas linhas verde e vermelha do Metro de Lisboa, o candidato ainda ouve um aviso sobre o “PPD e o PSD”. É um senhor que quando vê o folheto socialista dispara com um “se metem lá o PPD e o CDS à frente estamos desgraçados da vida” e “ficamos sem transportes”. Há também quem prefira a ironia e apanhe o candidato a jeito para lhe dizer que pede o voto às pessoas para “acrescentar mais uns euros ao milionário”. Pedro Marques diz que não é nada disso, que o PS luta pelo “combate à pobreza” mas nem consegue seguir a linha de raciocínio já que do outro lado está alguém muito pouco recetivo à classe política: “A pobreza só dá contribuições para acrescentar aos zerinhos”.
Dois jovens turcos de manhã e outro à noite
Na iniciativa de campanha esteva acompanhado de Margarida Marques, a número quatro da lista do PS, por Duarte Cordeiro, líder do PS Lisboa e secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, e também pelo deputado e autarca do Lumiar Pedro Delgado Alves. Mas a manhã foi de rotação baixa, mesmo com Pedro Marques a ter do seu lado uma medida de bolso valiosa: o passe único e a redução dos preços dos transportes.
Diz que tem “muita experiência” nestes contactos de rua, mas que “desta vez” tem “uma vantagem: temos algo muito concreto para apresentar a estas pessoas que é a redução muito grande dos preços dos passes sociais”. O próprio candidato não tem passe social, mas sabe vendê-lo. Sublinha o quanto contribui “para a descarbonização” e, sobretudo, ter “melhorado muito a qualidade de vida das famílias”.
Aos jornalistas desvalorizou a pouca recetividade da manhã: “Há aqui pessoas que têm uma vida muito exigente”. E também diz que os próximos dias são de “trabalho intenso” para “esclarecer o número máximo de pessoas”. Desceu ao metro, entrou na carruagem em direção à Alameda para trocar para a linha vermelha e seguir para Moscavide, mas na viagem não falou com ninguém, apenas com a pequena comitiva socialista que o acompanhava. Esta noite, no comício de Aveiro, terá mais um dos jovens turcos do PS ao seu lado, o ministro do Planeamento Pedro Nuno Santos e também a secretária-geral Adjunta do PS, Ana Catarina Mendes.
“Estão reunidos extraordinários dirigentes do PS, estão aqui alguns dos melhores”, disse Pedro Marques, já no final da arruada de Aveiro — que faria ao fim da tarde — quando confrontado com a presença da nova geração socialista ao seu lado. Já sobre o número de governantes que passam pela sua caravana, o socialista garante que não se trata de “nacionalização” da campanha, já que se tratam de dirigentes socialistas. Depois olha para o outro lado, o do PSD, e diz que “Rui Rio parece que desapareceu da campanha do PSD nos últimos dias, mas tem de perguntar ao PSD se tem alguma coisa a ver com as sondagens”.
Também aproveitou para responder a Manuela Ferreira Leite e à falta de investimento público, lembrando que no seu tempo como ministro das Finanças a ex-líder do PSD “desclassificou a importância” desse mesmo investimento. E recusa entrar “nos ataques pessoais”, que diz ver o PSD.
Aula de Europa na esplanada da faculdade
Ao fim da manhã, o palco tinha sido outro: um debate, com alguma dose de improviso, na faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova, em Lisboa. Improviso porque a organização chegou com dois cartazes, um do PS e outro da JS, e foram os jotinhas que andaram na esplanada da faculdade a recrutar participantes para a conversa com Pedro Marques. No final, entre militantes da JS e não militantes, eram cerca de 30 os jovens a compor o quadro e com perguntas que foram desde os problemas da habitação ou a questão da emergência dos populismos ou ainda o fim da unanimidade na União Europeia na votação de algumas questões concretas.
Na habitação, o candidato socialista deteve-se com mais detalhe do que tem sido costume nesta campanha, explicando que a proposta do PS passa por “lançar o desafio às cidades europeias” de renovarem o parque habitacional destinando parte a casas de rendas acessíveis. Em troca, teriam acesso a fundos europeus. Pedro Marques diz que “consolidou” a ideia com Frans Timmermans, o nome que os socialistas apoiam para presidir à Comissão Europeia.
A direita Europeia “está a ceder às prioridades da extrema-direita”
Sobre a questão dos populismos, Pedro Marques aproveitou para repetir um argumento que usara no debate do dia anterior sobre os tiques de extrema direita da direita europeia do PPE. “O manifesto do PPE é securitário e perigoso”, é “mais típico da extrema direita” e ainda que “estão a ceder às prioridades da extrema-direita”, estabelecendo as diferenças face aos socialistas: “A distância entre nós nestas matérias é do tamanho do Mar Mediterrâneo”. O candidato diz que a questão é valorizada pelo PPE aparecendo no seu programa de campanha e que se traduz na defesa da existência de uma “polícia de choque contra os refugiados” — o argumento tinha sido atirado contra Rangel no debate da RTP da noite anterior e irritou o adversário social-democrata.
Os temas europeus sucederam-se nesta iniciativa com jovens. Por exemplo, foi possível falar do fim da unanimidade em decisões concretas na União, como os casos de política fiscal. O PS defende a maioria simples e o seu candidato avançou como exemplo “o fim da unanimidade nas medidas de combate à evasão”fiscal, considerando que a “Europa pode avançar em várias áreas não como unânime mas como um clube de países interessados numa questão concreta”.
Também foi confrontado com a disciplina face às regras do tratado orçamental europeu, dizendo que os limites que lá constam para o défice e a dívida “ninguém consegue explicar como se chegou àqueles valores”. Nesta matéria defende a flexibilização do tratado e ainda que não passem para a legislação comunitária termos como “défice estrutural” ou “PIB potencial”. “Costumo dizer que o défice estrutural é o que um homem quiser”, ironizou para defender o abandono destes conceitos que “estão sujeitos a muitas revisões”. Mas o socialista não quer com isto dizer que é a favor de uma “alteração significativa da governança da União Europeia”, ou seja, dentro do quadro dos tratados Europeus: “Sou sobretudo um executivo, tento ser pragmático na ação política”, disse para afastar discussões teóricas sobre esta matéria.
O “risco” dos homens do mar
Em Aveiro juntou-se à caravana — onde seguia Pedro Marques e uma série de candidatas do partidos, entre elas Margarida Marques e Maria Manuel Leitão Marques — o ministro Pedro Nuno Santos. Estiveram no porto de pesca de Aveiro a ouvir os pedidos das associações de pesca, a Pro-Maior e a APARA (pesca artesanal), e correu a doca até aos barcos mais pequenos onde o mestre José Miguel insistia que o candidato fosse, afinal é com eles que trabalham na ria de Aveiro, representam 90% do trabalho que fazem.
É lá que aponta a Pedro Marques o estado das embarcações e pede segurança para os homens que vão para o mar ou para a ria. “O homem avia-se em terra”, diz ao grupo de socialistas que ali aterram numa tarde ventosa. O mestre Festas, da Pro-Maior, já tinha apontado o “risco” de embarcações envelhecidas. “Se formos para uma embarcação má, aí o risco é de morte”, diz quando pede aos governantes — e há um na mesa, Pedro Nuno Santos — que “repensem a nossa pesca”. Só ouve resposta do candidato às Europeias que aproveita a deixa para criticar a direita dizendo que “há muita gente que passeia de barco” (Rangel e Melo fizeram-no), mas o que “é importante é ter aqui os pescadores e dar-lhes uma palavra de estímulo”.
Depois do porto, a caravana seguiu para uma arruada em Aveiro que, mesmo com concertina e muitos braços a apoiar (Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes, os deputados Filiple Neto Brandão e Rocha Andrade, e ainda os autarcas socialistas locais), não surtiu grande efeito. Muitas lojas fechadas no centro de Aveiro e quase ninguém na rua, o que levou a uma arruada feita de entra e sai de lojas onde Pedro Marques ia sempre apelando ao voto e apontando a importância do que se decide em Bruxelas: “Até o tamanho das frutas se decide em Bruxelas”, disse em duas frutarias.